Sem Forma - Capítulo 36
—M-mas eu fui sincero agora pouco…
—Sim. E se não tivesse sido, você nem seria capaz de implorar agora.
Sua voz baixa era assustadora. Kangwoo, que tinha estado observando o rosto de Heewoon por um tempo, soltou o cabelo e continuou falando.
—Eu não sabia que meu sunbae gostava tanto de álcool.
Heewoon olhou ansiosamente para os movimentos de Kangwoo que pegou a garrafa de bebida que estava na mesa e abriu a tampa. Então ele ofereceu para Heewoon.
—É uma espécie de aviso prévio.
Heewoon pegou a garrafa pesada, olhando para ele ainda atordoado.
—Beba. Tem mais uma garrafa, então não fique desapontado.
—K-Kangwoo…
Era uma bebida forte, com o teor acima dos 40. Heewoon olhou para Kangwoo com medo, o homem franziu a testa levemente, como se desse um aviso:
—Não me faça repetir.
—Sim, certo.
Heewoon encostou lentamente os lábios na garrafa de bebida, a garrafa quase cheia inclinou-se ligeiramente. Kangwoo observou ele engolindo, então se sentou novamente na cadeira.
—Gluu…
Assim que a bebida desceu pela garganta, seu nariz ardeu. Heewoon manteve os lábios pressionados na boca da garrafa e expirou com força pelo nariz. Ele sentiu a sensação do álcool descendo por sua garganta até chegar ao estômago.
—Não pare de beber, continue. Você gosta disso, não é?
Uma voz misturada com risos agudos foi ouvida. Heewoon apertou os olhos com força e moveu sua garganta com dificuldade, o líquido amargo e forte arranhou suas entranhas.
—Uuugh…
A ânsia de vômito começou a surgir. Sua mão tremia tanto que segurar a garrafa era visivelmente difícil, o álcool que ele não conseguiu engolir escorreu por seu queixo.
Gulp
Ele tomou mais um gole da bebida. Uma sensação picante subiu pelo seu nariz. Parecia que ele poderia vomitar a qualquer momento.
Engolir estava se tornando cada vez mais difícil, seu estômago estava tão quente que parecia estar pegando fogo. Kangwoo, que o observava com um olhar frio, ainda não tinha dito para parar. Heewoon fechou os olhos com força e engoliu todo o álcool em sua boca.
—Cof-cof! Cof, c-chhh… ugh…
Ele começou a tossir violentamente, com a garganta ardendo. O álcool escorreu pelo seu queixo enquanto tossia, sua visão já estava turva por causa do álcool. Sua cabeça ficava mais pesada a cada respiração, e o cheiro forte de álcool estava em todo lugar.
Foi assustador. Beber algo tão forte direto da boca da garrafa e ficar bêbado tão rápido era algo novo para ele. Uma dor aguda surgiu em seu peito, talvez por ter engolido à força, ou talvez por seu coração estar batendo tão rápido. Heewoon apertou seu próprio peito.
—Eu, eu não consigo mais beber.
Um pequeno murmúrio escapou de Heewoon, que agora estava deitado de bruços. Quando ele ouvir o som dos chinelos se aproximando, Heewoon abaixou a cabeça e tremendo.
—Ah-.
De repente, seu cabelo foi agarrado e sua cabeça foi levantada. O rosto de Kangwoo estava sem expressão, Heewoon chorou miseravelmente, mas o homem falou indiferente, como se não se importasse.
—Engula isso.
—Uuh…
Os olhos de Heewoon se encheram de medo. Kangwoo, percebendo que ele estava trincando os dentes com muita força, deu um tapa forte com a palma da mão na bochecha branca. Um som ameaçador, como se não fosse um tapa comum, ressoou.
—Uuh……!
Enquanto ele cerrava os dentes, um som reprimido saiu de sua boca. Heewoon desabou de lado e não conseguiu recuperar o juízo. Kangwoo olhou fixamente para o cambaleante Heewoon e disse:
—Sente-se imediatamente.
Então ouviu aquela voz arrepiante enquanto sua cabeça zumbia alto. Ele se levantou com dificuldade, segurando-se nas coisas ao redor, sua visão estava toda distorcida.
—Eu vou bater do outro lado.
—S-sim, sim, sim….
Naquele momento, Heewoon percebeu que o tapa que tinha levado antes era quase um afago suave em comparação com isso.
Kangwoo instalou a língua enquanto observava Heewoon responder meio trêmulo. —Você precisa beber direito. —Kangwoo deu um pequeno tapa no queixo de Heewoon, molhado de lágrimas e álcool.
Só então Heewoon apertou os lábios com força e fechou os olhos firmemente. Seu rosto tenso tremia como se estivesse tendo um espasmo. Kangwoo levantou a outra mão e deu mais um tapa na bochecha pequena.
—Huuh…
Desta vez, Heewoon não caiu para o lado, apenas vacilou enquanto segurava-se nele. Sua cabeça estava terrivelmente tonta, e ele não sabia se era por causa do álcool ou do golpe que recebeu. Ambas as coisas o estava deixando desnorteado.
—Levante a cabeça.
Heewoon respirou ofegante e levantou a cabeça. Ele fechou os olhos outra vez com força e trincou os dentes.
Ele pensou que fosse receber outro tapa forte na bochecha, mas a mão tocou suavemente em seu queixo. Heewoon hesitou várias vezes antes de finalmente abrir os olhos.
—Huug…!
Os olhos de Heewoon se encontraram com os de Kangwoo e ele estremeceu. Kangwoo, que estava apertando o queixo tenso, soltou um suspiro audível —Ahh… —enquanto pressionava seu lábio inferior.
Com os olhos arregalados de medo e os lábios ligeiramente abertos, os dedos de Kangwoo penetraram em sua mucosa. Sem entender o que estava acontecendo, Heewoon não conseguia desviar o olhar do belo rosto do homem.
Os dedos pressionaram seus lábios, tocaram a pele interna da bochecha e depois deslizaram suavemente para fora. Heewoon teve a sensação de que Kangwoo estava procurando por algo para arrancar.
—K-Kang… uug, woo-ya. Ugh…
Kangwoo olhou para Heewoon choramingando e depois desviou o olhar para debaixo da cama. O que tinha caído da mão quando ele levou o tapa pela primeira vez era uma garrafa de álcool. Até mesmo os lençóis brancos da cama estavam encharcados com álcool. Então, enquanto observava as gotas de álcool pingando, ele pegou a outra garrafa que estava sobre a mesa.
—Bebe de novo.
Kangwoo abriu a tampa e estendeu a garrafa para Heewoon. A mão de Heewoon tremia enquanto ele segurava a garrafa.
Ele segurou a garrafa pesada e a colocou lentamente nos lábios. Virar a garrafa foi assustador. O álcool começou a escorrer lentamente entre seus lábios, um cheiro forte se espalhou pelo seu nariz. Sua cabeça começou a girar, talvez tenha sido por causa do tapa que havia levado.
Seo Kangwoo estava de pé bem na frente da cama, olhando para ele. Se não bebesse, levaria outro tapa. A ideia de levar outro tapa naquela bochecha ainda dolorida era horrível, então Heewoon fechou os olhos e engoliu o álcool.
Ele conseguiu dar por cerca de três goles, mas depois disso, era impossível engolir.
A dor no peito que ele estava sentindo desde antes só piorou. Sua visão estava embaçada e ele estava assustado.
—Huu… humm…
Kangwoo olhou fixamente para Heewoon, que tremia enquanto segurava a garrafa, incapaz de engolir. Ambas as bochechas estavam vermelhas e seu peito branco estava ruborizado. Ele observou em silêncio enquanto Heewoon abaixava a garrafa.
—Eu, eu não consigo mais beber.
Kangwoo deu um tapa leve na bochecha de Heewoon. Um som de estalo foi ouvido.
—Ugh…
Heewoon, de olhos fechados, soluçou. Ele estava segurando a garrafa, mas não conseguia colocá-la na boca.
—É a sua bebida favorita. Por que você não pode beber?
As palavras de Kangwoo fizeram Heewoon começar a chorar.
—Se eu beber mais, acho que vou… morrer.
Heewoon, chorando com os ombros tremendo, apontou para o próprio peito enquanto olhava para Kangwoo.
—Kangwoo, estou sentindo dor aqui…
Minha cabeça está girando demais, e sinto que não consigo enxergar com clareza. Olhe para mim apenas mais uma vez, apenas uma vez, por favor. O que vai acontecer se eu realmente morrer?
Olhando silenciosamente para ele, Kangwoo tirou a garrafa de suas mãos.
—Devo ser bonzinho com o meu sunbae toda vez que age de maneira tola?
—Isso, não é isso. Eu realmente estou com dor aqui… Huuh…
Heewoon fechou os olhos com força quando sentiu o líquido frio de repente escorrer pelo seu rosto. Kangwoo tinha derramando álcool sobre a cabeça de Heewoon.
O líquido âmbar escorreu pelo rosto, passando pela testa e pelas laterais do nariz. Assim que o álcool tocou os lábios ligeiramente entreabertos de Heewoon, ele finalmente os fechou. Cada vez mais álcool cobriu seu rosto.
—Huuh… Hhuu…
Ele estava com falta de ar, então respirou levemente pelo nariz, o que fez com que um pouco de álcool entrasse nas narinas. Ardeu muito até sua pele parecia queimar.
O álcool continuou a escorrer do seu rosto até o corpo. O líquido que banhava o corpo febril parecia relativamente frio.
—Sempre fazendo drama mesmo estando bem, isso é um grande problema.
—Ah, não… Cof, Huuh…
—Eu sou um idiota por sempre querer cuidar de você quando vejo isso.
Derramando até a última gota sobre a cabeça dele, Kangwoo murmurou baixinho, então jogou a garrafa de álcool de qualquer jeito sobre a cama. Heewoon, que estava com o rosto completamente encharcado, mal conseguia abrir os olhos enquanto chorava. Sentia que estava ficando mais bêbado por causa do cheiro do álcool.
—Cof, cof. Kangwoo…
Heewoon agitou a mão no ar. Kangwoo acariciou a bochecha dele, a carne branca, fria e úmida foi levemente enxugada pela palma da mão grande. Heewoon lutou para abrir os olhos quando Kangwoo gentilmente passou o dedo sobre suas pálpebras.
Olhando para os olhos de Kangwoo, cujos pensamentos eram um mistério, Heewoon choramingou enquanto colocava a mão sobre o dorso da mão do homem.
—Eu.. eu me sinto tonto, está frio. Kangwoo por favor.
Com uma expressão desesperada, semelhante a de um ratinho encurralado, Heewoon pressionou sua bochecha contra a mão de Kangwoo, dizendo com angústia. Kangwoo torceu os lábios ao vê-lo pressionando sua bochecha contra a mão dele.
—Você também se comportou assim ontem?
—Kangwoo… —Heewoon estava tão desorientado que apenas murmurou. Enquanto isso continuou segurando a mão de Kangwoo com força.
—Diga-me, Woo Heewoon. Você também fez isso com aqueles desgraçados? Hein?
Kangwoo segurou o rosto de Heewoon com força. A mão de Heewoon que segurava o dorso da mão dele também ganhou força.
—Eu… eu não sei do que você está falando…
Os olhos escuros de Kangwoo encaravam intensamente o rosto de Heewoon. Como o aperto da mão não diminuía, o rosto de Heewoon começou a se enrugar gradualmente.
—Parece que estou prestes a explodir. Às vezes sinto uma raiva tão intensa que vai e volta como uma maré… E só de pensar que você ficou assim na frente daqueles idiotas, só me deixa ainda mais irritado.
—Ugh, está doendo…
Sentia como se seu maxilar fosse ser despedaçado. Heewoon segurou a mão de Kangwoo com ambas as mãos, sem saber o que fazer. Ao ver o rosto contorcido de dor, Kangwoo lentamente afrouxou o aperto, Heewoon segurou o queixo dolorido e chorou.
—O que devo fazer com você?
Heewoon ergueu a cabeça. Encarando o olhar frio e cortante, ele foi subitamente tomado por um momento de reflexão, então cambaleando, abraçou a cintura de Kangwoo.
—…
Kangwoo olhou para a cabeça de Heewoon, e a bochecha pressionada contra sua cintura. Por causa do corpo, completamente molhado da cabeça aos pés, o roupão de Kangwoo logo ficou úmido.
—Por favor, não me bata, Kangwoo. Eu… ainda estou com muita dor.
Seus olhos bem fechados estavam quentes. De repente, Heewoon percebeu algo. Ele não estava implorando a Kangwoo para não matá-lo. Parecia quase como se ele estivesse certo de que, mesmo Kangwoo podendo matar pessoas tão facilmente, ele não o mataria.
Mas havia uma coisa que ele tinha certeza. Kangwoo, poderia machucá-lo.
Ainda não havia nenhum som vindo de Kangwoo. Heewoon com muito medo, não apenas era assustador não conseguir controlar seu corpo e sentir tontura, mas o mais assustador era o silêncio vindo de Kangwoo.
Suas costas brancas tremiam lamentavelmente. Observando o álcool que escorria de seus cabelos até suas costas, Kangwoo finalmente falou.
—O que eu devo fazer?
Heewoon ergueu a cabeça com cautela e disse: —…Apenas me dê uma chance..
—Eu quero matar todos os bastardos que estiveram com você. Mesmo assim, você me daria uma chance?
Heewoon assentiu enquanto fazia contato visual com Kangwoo. Kangwoo, franzindo levemente a testa por um momento, falou como se o estivesse repreendendo:
—Heewoon, você está sendo mal.
No entanto, Heewoon percebeu que Kangwoo gostou da sua resposta. Isso porque, ao notar os cabelos bagunçados e molhados grudados em sua testa, ele os afastou delicadamente. Com lágrimas escorrendo dos olhos de Heewoon, Kangwoo olhou atentamente para ele e disse:
—Ultimamente, só de ver o sunbae chorando, eu me sinto desconfortável.
Heewoon apertou os lábios.
—Não sei se é por causa da minha cabeça ou se todo mundo se sente assim ao ver o sunbae chorando?
—…
Os cílios de Heewoon estavam molhados quando ele fechou os olhos. Kangwoo passou suavemente seus dedos sobre eles.
—Sunbae, me diga. Os outros também se sentem assim?
—…Eu, eu não sei. Eu não choro na frente de outras pessoas.
Kangwoo observou em silêncio por um momento enquanto seus cílios tremulantes se erguiam e seus olhos úmidos eram revelados. Ele perguntou pressionando suavemente a área ao redor dos olhos de Heewoon:
—Você não chora na frente das outras pessoas, só na minha?
Ele falou lentamente, como se estivesse ponderando consigo mesmo. —Sim.
Kangwoo encontrou o olhar vazio dele e ergueu levemente o canto da boca em um sorriso. Bem, pelo menos isso parece bom.
—Os outros riem quando adultos choram.
—Sim.