Sem Forma - Capítulo 31
Heewoon abriu os olhos. Sua cabeça doía intensamente, como se estivesse prestes a explodir. Seu corpo deitado na cama não conseguia mover nem um dedo. Ele nem conseguia lembrar como vestiu o roupão de banho que estava usando agora. Provavelmente, quase desmaiou enquanto se trocava.
Heewoon esfregou os olhos e olhou para o relógio. Cinco horas… parecia ser cinco da manhã. Ele havia dito à mãe que iria para a cerimônia de encerramento do ano, mas mesmo que tivesse se atrasado, ela provavelmente pensou que ele chegaria por volta das duas ou três da madrugada.
Ao sentir a movimentação em busca do celular, Kangwoo virou-se na cama.
— …O que você está fazendo?
A voz baixa e abafada fez com que Heewoon virasse a cabeça.
— Estou procurando meu telefone….
Quando os olhos arregalados se encontraram com os do homem, Heewoon explicou que não conseguiu entrar em contato com a mãe. — Ah,— Kanwoo acenou levemente com a cabeça e puxou o braço de Heewoon. — Eu mandei uma mensagem, dizendo que você estava bêbado e que iria dormir na minha casa.
— Ah… sim.
Colocando o braço em volta da cintura de Heewoon, os olhos de Kangwoo se fecharam novamente. Heewoon seguiu o exemplo e fechou os olhos também. O calor do corpo que tocava sua bochecha era reconfortante.
Ele voltou a dormir rapidamente, mas sua cabeça doía e ele gemia ocasionalmente, e quando o fazia, sentia uma mão gentil acariciar sua testa.
Ele acordou com uma luz forte. Sua cabeça estava um pouco tonta, mas ele se sentia bem e conseguia mexer o corpo. Seo Kangwoo não estava ao lado dele.
Heewoon colocou os pés no chão e se sentou atordoado.
Lembrava-se vividamente da noite anterior. O que disse enquanto estava bêbado não estava muito claro, mas todo o resto era nítido. Ou seja, ele havia provocado Kangwoo por causa da bebida ontem.
— Você já acordou? — Kangwoo entrou no quarto, vestindo um terno diferente do dia anterior.
— Não consegui encontrar nada que fosse bom para uma ressaca, então só pedi um pouco de mingau de arroz.
— Uh-hum
Heewoon assentiu com a cabeça. Mas Kangwoo permaneceu parado ali, olhando para o rosto dele.
— …. O que?
Kangwoo riu e balançou a cabeça diante da pergunta cautelosa.
— Se lave e saia.
Quando ele saiu, Heewoon soltou um suspiro. Antes, ele costumava dizer que não ficaria quieto se Heewoon se embriagasse, mas ontem ele foi muito tolerante. Certamente, deve ter ficado irritado, mas não disse nada sobre ele estar bêbado.
Heewoon levantou-se com dificuldade e foi para o banheiro. Ao tentar lavar as mãos, percebeu que tinha hematomas nos pulsos. As palavras de Seo Kangwoo de ontem ecoaram em sua mente, arrepiando sua espinha. Heewoon pegou água com as duas mãos e a esfregou repetidamente no rosto.
Enquanto se lavava, notou que a parte de trás do pescoço e os ombros marcados com pequenos hematomas. Graças a Deus, é inverno.
Ele se secou e foi para a sala de estar. Havia não apenas mingau na mesa, mas também café, sanduíches e omelete. Era um grande café da manhã.
— Pare de olhar e venha se sentar.
— Está bem.
Heewoon se sentou no sofá a uma pequena distância de Kangwoo e ficou olhando para a mesa distraído. Kangwoo, que estava olhando para o tablet, olhou para ele e a colher. Ao dar uma bocada no mingau, Heewoon de repente sentiu fome. Então, ele começou a comer com grande entusiasmo.
De vez em quando, Kangwoo lançava olhares para Heewoon. Depois de suspirar um pouco, o homem finalmente deixou o tablet de lado e estendeu a mão para Heewoon. Com um croissant na mão, Heewoon foi imediatamente agarrado pelo braço de Kangwoo.
— Porque você está comendo assim?
— Ah….
A mão de Kangwoo, que tirou as migalhas de pão da boca de Heewoon, não saiu dali e continuou tocando em sua bochecha. Kangwoo olhou de maneira fixa para os lábios fechados.
— Ontem, você estava falando bastante.
— Isso é….
Os lábios que se abriram por um momento se fecharam novamente. Os olhos um pouco inchados olharam fixamente nos de Kangwoo. Kangwoo deu um pequeno sorriso.
— Vejo que você está comendo bem, então acho que está se sentindo melhor.
— Sim. Estou bem melhor.
— Você não está machucado, está?
— …Não.
— Ótimo.
Kangwoo levantou a cabeça, tirou a mão que estava tocando a bochecha dele e se recostou no sofá.
Eles terminaram a refeição e estavam bebendo água quando, de repente, Kangwoo estendeu algo. Heewoon pegou o objeto sem pensar.
— É o meu cartão de visitas.
Os olhos de Heewoon se estreitaram. Era um cartão de visita de uma empresa cujo nome era muito conhecido. Finanças. Heewoon olhou fixamente para o cartão que dizia “Funcionário Seo Kangwoo” e perguntou:
— Você conseguiu um emprego?
— Não é exatamente um emprego….. É apenas um trabalho temporário e depois vou me demitir.
— Aqui?
Heewoon olhou para ele rapidamente, e Kangwoo levantou uma sobrancelha.
— Esta é uma empresa muito boa….
— Oh, entendi. O Sunbae gosta desse tipo de coisa.
Kangwoo olhou para o vazio como se estivesse pensando em algo. Seus olhos piscaram lentamente.
— …….
Heewoon mordeu o lábio, com medo do que ele poderia dizer depois de ficar tão perdido em pensamentos. De repente, Kangwoo virou a cabeça para olhar para ele.
— Então, deveria levá-lo a este lugar?
Seu tom era leve e seus olhos estavam sorrindo um pouco, então Heewoon não sabia como reagir. Mesmo depois de pensar rápido, as palavras certas não vieram à mente, então ele abriu a boca impulsivamente e deixou escapar.
— Então, o que você costuma fazer….?
Heewoon ficou atônito depois de fazer a pergunta inconscientemente. Ele realmente não queria saber o que Seo Kangwoo estava fazendo, toda vez que um tópico assim surgia, ele costumava manter a boca fechada.
— Estou aprendendo o ofício com meu avô.
Kangwoo respondeu de maneira casual.
Heewoon achou bom o fato de ser uma resposta normal, de modo que a curiosidade sombria que havia superado brevemente seu medo foi rapidamente esquecida.
Ele tocou a borda afiada do cartão de visita e pensou. Seo Kangwoo havia mencionado antes que aprenderia o trabalho com o pai.
Olhando para a casa de Kangwoo, seu comportamento habitual e o dinheiro que ele distribuía facilmente, era fácil deduzir que a família dele não era comum. Não era surpreendente que ele tivesse o cartão de uma empresa respeitável. Agora, ele apenas tinha informações mais detalhadas sobre o homem.
— Eu tenho dois irmãos mais velhos, então é um pouco complicado….
Dois irmãos mais velhos.
Quando Kangwoo percebeu que Heewoon o estava observando, ele sorriu de forma maliciosa. E então, disse brincando:
— Eu deveria simplesmente matar todos eles? — Os olhos de Heewoon se arregalaram. Kangwoo deu uma risadinha ao vê-lo, então bagunçou levemente o cabelo de Heewoon. — Estou brincando.
Kangwoo murmurou em uma voz risonha. O corpo de Heewoon ficou todo arrepiado. Como ele podia falar sobre a morte dos irmãos de forma tão casual?
Ele de repente percebeu com quem estava sentado tranquilamente tomando café da manhã. Como ele podia estar pensando em comer um omelete ao lado de uma pessoa tão assustadora?
Olhando para o rosto ligeiramente pálido de Heewoon, Kangwoo sussurrou suavemente.
— Esta é a primeira vez que dou um cartão de visita para um Sunbae.
— …Primeira vez?
O olhar de Heewoon desviou-se para o cartão de visita e ele piscou uma vez. Ao mesmo tempo, o medo em seu rosto diminuiu lentamente.
— Essa é a empresa do seu pai… Quem mais sabe?
O olhar de Heewoon estava fixo no cartão de visita. A cabeça de Kangwoo inclinou-se ligeiramente.
— De quem você está falando? As pessoas na empresa não sabem.
— …Ninguém na escola sabe também.
Heewoon murmurou baixinho. Kangwoo olhou atentamente para os olhos de Heewoon que não piscavam e para os dedos que seguravam o cartão. O canto de sua boca se ergueu e ele disse com doçura.
— Bem, então, além do Sunbae, ninguém mais sabe.
Ele puxou Heewoon para seus braços e o beijou.
***
— Eu já estou indo.
— Huh, vá e volte logo.
Heewoon olhou para sua mãe em frente à TV. O médico havia dito que ela precisava caminhar bastante para se recuperar, então sua mãe havia saído com frequência nos primeiros dias. E já que mais de um mês havia se passado, seu corpo deveria estar totalmente recuperado.
Mas, por alguma razão, sua mãe parecia mais cansada.
Heewoon olhou para sua mãe por mais um momento. Quando seus olhos se encontraram, sua mãe sorriu, então ele sorriu de volta e fechou silenciosamente a porta de correr.
Às vezes, Heewoon sentia uma pontada no peito. Toda vez que fingia ir à aula particular de forma muito casual, quando sua mãe dizia “bom trabalho,” sempre que via o saldo de sua conta bancária aumentando e ele não podia contar à sua mãe.
Mesmo assim, não havia nada que ele pudesse fazer a respeito.
Heewoon respirou fundo e colocou o cachecol no pescoço. Estava muito frio à noite e ele caminhou rapidamente pelo beco até a livraria do outro lado da rua. Ele queria estudar um pouco antes do início de sua aula de TOEIC.
Na livraria, Heewoon examinou cuidadosamente a apostila. Se quisesse terminar em uma semana, pensou que um livro fino seria melhor, então escolheu um adequado e pagou por ele.
— Oh, está frio….
Ele puxou o cachecol e cobriu as orelhas congeladas. Deveria ir a uma cafeteria para matar o tempo. Quando pegou o celular para verificar a hora, viu uma mensagem de Seo Kangwoo. Era de cinco minutos atrás.
<Onde você está?>
Droga…
Doente em casa.
Embora suas mãos estivessem fora de seu bolso há pouco tempo, seus dedos estavam gelados e ele continuou cometendo erros de digitação. Então Heewoon resolveu ligar para Kangwoo.
— Kangwoo.
A respiração branca se dispersou diante dele. Após um breve silêncio, uma voz foi ouvida.
[… Sim, Sunbae.]
Era muito doce.
— Estou indo para a cafeteria em frente à minha casa.
[Estou quase chegando, você pode ficar lá por um tempo?]
— Uh-huh.
[Não desligue.]
— …Sim.
Suas mãos estavam tão frias. Mesmo que já estivesse quase chegando, Kangwoo continuou fazendo perguntas bobas de novo; o que ele estava fazendo, se tinha jantado, o que tinha feito ontem.
[Estou vendo o Sunbae.]
Heewoon ficou satisfeito ao ouvir essas palavras.
— Entre no carro!
Quando o carro de Kangwoo parou, Heewoon entrou rapidamente no carro. Suspirou aliviado ao sentir o ar quente, como se finalmente pudesse relaxar um pouco.
— Você sentiu tanto a minha falta assim?
Kangwoo sorriu. Heewoon tentou não franzir a testa e simplesmente respondeu vagamente com um aceno de cabeça.
— Você pode me ligar se quiser me ver.
— …Sim.
Kangwoo estendeu a mão e tocou a bochecha de Heewoon. Estava muito frio. Murmurando, ele colocou as duas mãos em volta das bochechas dele e as esfregou gentilmente. Ele colocou as mãos em volta de suas orelhas e as esfregou também, e então soltou um — ah, — como se de repente tivesse se lembrado de algo.
— Quero que você se levante por um segundo.
— Assim?
Heewoon inclinou o corpo e se levantou, e Kangwoo passou os braços em volta da cintura dele. Uma mão escorregou para dentro do casaco que cobria a parte superior de seus quadris e, sem aviso, enfiou-se em sua calça.
— Ah!
Heewoon agarrou os ombros de Kangwoo surpreso. Kangwoo esfregou casualmente a bunda dele. — Mmm…. — Ele gemeu, então quando o homem tirou a mão da bunda dele, Heewoon rapidamente se sentou na cadeira, com medo de que a mão de Kangwoo voltasse a pressionar seus quadris.
— Está muito frio, você também ficou chateado hoje? — perguntou Kangwoo, inclinando a cabeça.
Heewoon pensou por um momento, depois se lembrou do que eu havia dito e corou. Ele balançou a cabeça, e Kangwoo soltou uma pequena risada.
— Se você se sentir mal, me diga. Eu o manterei aquecido.
Heewoon assentiu asperamente e apertou o cinto de segurança, com os olhos se estreitando com ferocidade. Ele estava tentando evitar o contato visual.
— Você não precisa colocar o cinto. Vim só para ver seu rosto por um momento.
— Oh.
Quando ele abaixou a cabeça para desafivelar o cinto, a mão de Kangwoo se moveu e levantou seu queixo. Kangwoo olhou para o rosto de Heewoon por um longo momento.
Heewoon também olhou para seu rosto. Ele parecia um pouco cansado. Talvez sua vida na empresa fosse um pouco agitada. Como as pessoas na empresa não sabiam quem é Seo Kangwoo, podem estar sobrecarregando o funcionário novo.
Recentemente, Heewoon ouviu no chat de mensagens do KakaoTalk dos colegas que Hyukjin estava indo para o exterior com a família. Com a notícia abrupta, os colegas de classe começaram a reclamar, resmungando sobre como ele poderia partir sem se despedir e começando a especular: Dada a pressa em ir embora, ele devia estar devendo muito dinheiro para ir embora tão rapidamente, ou estava mais machucado do que eles pensavam e estava indo para os EUA para fazer uma cirurgia, ou talvez, a imigração já estivesse planejada, entre outras coisas. Rumores sem fonte clara se espalharam rapidamente.
Heewoon especulou que a mudança de Hyukjin também estava relacionada a Kangwoo, e ele tinha certeza de que seu palpite era o mais próximo da resposta correta.
Em outras palavras, se seus colegas de trabalho tratassem Kangwoo de maneira descuidada, mesmo que não soubessem quem ele é, poderiam ter o mesmo destino.
Kangwoo acariciou a bochecha de Heewoon preguiçosamente, depois sorriu levemente quando seus olhos encontraram os dele, que estava olhando para o rosto do homem sem expressão. Ele disse de maneira provocativa.
— Por que você não está me seguindo esses dias? — Para Heewoon, essas palavras foram bastante desconcertantes, e ele ficou um pouco preocupado com a possibilidade de Kangwoo pedir para que ele o seguisse. Ao ver que Heewoon estava corando, ele disse de forma bem-humorada. — Se você quiser me seguir mais tarde, está tudo bem.
— … huh.
Está falando sério? Heewoon pensou sobre isso. Isso deve ser brincadeira.
… provavelmente.
Seo Kangwoo o levou até a frente da cafeteria, ele parecia estar realmente ocupado. Quando abriu a porta da cafeteria, Heewoon olhou para a caixa de bolo em sua.
‘É véspera de Natal.’
Foi algo que Kangwoo tirou do banco de trás e lhe deu quando ele saiu do carro. Nos últimos anos, Heewoon não se preocupava muito com o Natal ou o Ano Novo, já que o inverno sempre parecia frio e assustador.
A cafeteria estava vazia, pois todos tinham ido para a cidade. Heewoon pediu um café com leite quente e se sentou para estudar, olhando de vez em quando para a caixa de bolo.
Depois de cerca de três horas de estudo, ele saiu da cafeteria. O bolo em sua mão parecia estranhamente pesado, então caminhou com cautela.
— Estou de volta.
— De onde saiu esse bolo?
Os olhos de sua mãe se arregalaram.
— É Natal.
Até o ensino médio, costumavam comemorar ocasionalmente. Bem, isso foi quando toda a família estava reunida.
Certa vez até montamos uma árvore de Natal. Seu irmão costumava reclamar dizendo porque eles precisavam fazer algo assim, mas naquela época, pelo menos, a família estava completa.
Heewoon e sua mãe se sentaram um em frente ao outro e pegaram o bolo. O chão estava quente e o bolo decorado com chocolate em forma de Rudolph era bonito.
— Esse bolo é tão lindo que não sei como cortá-lo. — Sua mãe olhou fixamente para o bolo com uma faca na mão. A boca dela se moveu lentamente. — Ele me faz lembrar dos velhos tempos. Seu pai adorava comemorar os aniversários.
Os olhos de minha mãe não piscaram. De repente, Heewoon se perguntou. Sua mãe costumava chorar quando ele não estava por perto?
Heewoon constantemente chorava depois de se envolver com Seo Kangwoo. Na frente do homem ele facilmente desatava a chorar ao menor medo, talvez porque ele sempre sentiu vontade de chorar desse jeito.
Então sua mãe queria chorar o tempo todo como ele?
Ultimamente, ele não sentia mais tanta vontade de chorar pelo que tinha acontecido antes, mesmo assim, se perguntava se sua mãe ainda sentia isso?
— Hmmm. Argh, parece que peguei um resfriado. Por que minha garganta está tão irritada? — A mãe virou a cabeça na direção oposta de Heewoon e tossiu falsamente. Seus olhos brilharam com umidade. Ela se levantou vagarosamente, falando com uma voz alegre: — Eu vou pegar algo para beber. O que você gostaria de beber, Heewoon?
— Eu quero leite.
Heewoon olhou para o bolo de Natal e depois para o calendário.
Em alguns dias, seria o Ano Novo. Seu irmão disse que voltaria em três anos. Não tenho certeza se ele realmente voltará ou não porque não consigo manter contato com ele, mas…….
Se ele mantiver sua palavra, voltará em breve.