Sem Forma - Capítulo 28
Heewoon sorriu timidamente ao encontrar os olhares brilhantes.
O ambiente era mais descontraído do que o esperado. A presença de um dos seus antigos colegas ao seu lado, além do apoio caloroso dos calouros à sua frente, contribuíam para isso.
À medida que mais garrafas de soju eram consumidas, Heewoon cumprimentou os outros colegas no restaurante. Alguns deles se juntaram à mesa onde Heewoon estava para compartilhar um um copo de soju.
Cerca de uma hora se passou, e a atmosfera barulhenta do restaurante começou a se acalmar. Com a ingestão de álcool, a fome repentina chegou, e Heewoon, que estava montando um ssam (envolvendo carne com folhas de alface), notou os hoobaes se movendo agitadamente perto da porta.
Ele virou a cabeça na direção deles e ficou surpreso ao ver alguém. Uma pessoa que não se encaixava no pequeno restaurante tão lotado e cheio de fumaça, estava parada na porta, olhando em volta como se estivesse procurando alguém.
— Caramba, o que ele está fazendo aqui?
Jihwan murmurou ao lado dele, o nome “Seo Kangwoo” foi ouvido em sussurros por toda parte. Heewoon ficou em silêncio por um momento e ergueu a mão quando os olhos de Kangwoo se encontraram com os seus.
Kangwoo pareceu estar tentando ignorar o fato de que Heewoon estava agindo como se não o tivesse visto.
— Sunbae, você estava aqui?
— Sim.
Kangwoo se aproximou, ficou atrás de Heewoon e amigavelmente colocou o braço em volta do ombro dele. Ele cumprimentou Jihwan educadamente, que estava olhando para os dois alternadamente com os olhos confusos.
O que Kangwoo está fazendo aqui? Ele definitivamente me disse ontem que eu podia vir. Heewoon piscou os olhos e disse cuidadosamente.
— Ei… Hmm, você quer ir embora agora?
Quando Heewoon levantou ligeiramente os quadris, Kangwoo colocou as mãos nos ombros dele e o empurrou novamente para a cadeira, os olhos do homem passaram casualmente pelo prato à frente dele. Uma fatia de barriga de porco estava em cima das folhas de alface, como se ele tivesse parado de montar o ssam abruptamente.
Kangwoo falou com um sorriso no rosto.
— Não. Mas vamos sair antes da segunda rodada.
— Ok. Aqui está um assento….
— Ah vou me sentar com meus amigos, até mais tarde.
Uma mão grande acariciou seu ombro e costas algumas vezes. As costas de Heewoon enrijeceram quando os dedos roçaram preguiçosamente a parte interna de suas omoplatas. Kangwoo soltou uma risada abafada atrás dele.
Houve um momento de silêncio na mesa até que Kangwoo se aproximou dos seus colegas, que pareciam surpresos, e se sentou. As costas de Heewoon ficaram ainda mais tensas enquanto ele mantinha os olhos focados na grelha. Mesmo que estivesse curioso e quisesse virar a cabeça, também não queria fazê-lo por medo de fazer contato visual Kangwoo.
Com uma taça de soju nas mãos, Kangwoo observou atentamente as costas rígidas de Heewoon. A distância era tão grande que não se ouvia a conversa, e o rosto assustado não podia ser visto. Kangwoo imaginou que expressão Heewoon poderia estar fazendo. Talvez estivesse desconcertado, movendo os olhos para lá e para cá. A expressão de Kangwoo relaxou, imaginar o rosto de Heewoon que era algo muito divertido para ele.
— O que está acontecendo, Heewoon? Você está andando com Seo Kang-woo?
Jihwan olhou na direção de Kangwoo e perguntou.
Heewoon acenou com a cabeça e mexeu a carne cozida. Um dos hoobaes deu uma olhada para Kangwoo, que estava sentado bem atrás dele, e entrou na conversa.
— É por isso que estamos nos divertindo.
— É divertido.
Os hoobaes riram novamente. Heewoon tomou um gole de soju e colocou a carne na boca. Seu coração batia em um ritmo estranho.
— Por que está bebendo sozinho?
Heewoon brindou seu copo com o de Jihwan e despejou a outra metade do líquido em sua boca.
— Ugh. Mas e quanto a Seo Kangwoo?
— O quê?
— Bem, há muita fofoca sobre ele, não sei como, mas até mesmo seus colegas não o conhecem bem. — Jihwan murmurou olhando para o lado e os olhos do hoobaes à sua frente se iluminaram.
— É isso mesmo, Sunbae, e quanto a Seo Kangwoo?
Os três pares de olhos estavam cheios de curiosidade. Heewoon conhecia o verdadeiro Kangwoo há cerca de três meses. As lembranças passaram rapidamente pela sua mente.
— Por que você não diz nada?
Jihwan resmungou frustrado. Os hoobaes ainda estavam esperando que ele abrisse a boca.
Todo mundo estava curioso sobre a vida de Kangwoo.
Menos ele.
— Ele é apenas assim.
Heewoon respondeu casualmente, segurando seus pauzinhos.
— Ora, ele é mesmo uma aspirante a celebridade?
Heewoon apenas riu. E não respondeu. — Que diabos, porque você não está me dizendo nada. — Jihwan murmurou incrédulo.
Se ele não quer não sou eu que vou contar nada sobre Seo Kangwoo, pensou Heewoon.
Mas ….
Por que ele não está disposto a compartilhar nem mesmo detalhes triviais sobre si?
— Ele é rico, mesmo?
— Não sei.
Isso é realmente estranho. Ele poderia pelo menos ter contato algo sobre isso.
Seu coração bateu forte no peito. O sangue correu rapidamente por suas veias e a respiração ficou um pouco mais lenta. Sua visão ficou muito clara. Assim, os rostos dos colegas misturados com curiosidade e decepção se destacaram nitidamente.
— …Eu também não sei muito.
Heewoon balançou a cabeça e pegou a garrafa de soju. Ele serviu um pouco para seus hoobaes e para Jihwan. Quando estava prestes a colocar a garrafa na mesa, Jihwan o impediu, segurou a garrafa de soju e encheu seu copo.
— Vamos lá, vamos tomar uma bebida.
Trinn-
Quatro copos de soju tilintaram perto de uma chapa com alguns pedaços de carne. Heewoon pensou consigo enquanto engolia o soju.
As coisas podiam ficar complicadas se essas crianças se envolvessem com Seo Kangwoo. Posso dizer que estou apenas ajudando esses caras.
As emoções que sentia agora eram semelhantes a uma mistura de satisfação e pena, porque eles eram tão ignorantes e inocentes.
***
Depois de cerca de uma hora, a primeira rodada foi encerrada.
Toda a loja se tornou uma bagunça quando todos se levantaram ao mesmo tempo. Heewoon se levantou da cadeira redonda e a empurrou. Ele cambaleou um pouco ao se abaixar para pegar a bolsa e o casaco que havia colocado na outra cadeira.
Jihwan bebia rápido, então, em pouco tempo, Heewoon estava bastante bêbado. Ignorando o insistente pedido de Jihwan para que fossem para uma segunda rodada, Heewoon colocou o casaco e o cachecol novo que acabara de comprar.
E então, quando estava se movendo entre as pessoas que saíam apressadas, alguém puxou sua mochila por trás.
Heewoon tropeçou para trás. Algo duro tocou sua nuca e um cheiro familiar invadiu suas narinas. Uma mão suave apoiou seu ombro e o endireitou.
— Você bebeu demais? — Kangwoo perguntou suavemente.
— Não.
— Não? Parece que você bebeu bastante.
Não sei por que ele perguntou, se já sabe a resposta.
— Vamos sair depois.
Kangwoo empurrou suavemente Heewoon para uma cadeira. Heewoon concordou com a cabeça e, quando Jihwan enviou olhares sugestivos o chamando para irem para a segunda rodada, ele acenou vagamente com a mão.
Então ele piscou os olhos em confusão.
Em meio a sua visão turva, um ensopado de missô apareceu, Heewoon pegou a colher que conseguiu alcançar e a enfiou na tigela.
No meio do processo de trazer a comida até a boca, a mão de Kangwoo agarrou a colher.
— Ah, por que…
— Não é a sua colher.
Kangwoo franzindo ligeiramente a testa, jogou a colher desdenhosamente sobre a mesa, como se estivesse suja. Os olhos de Heewoon se arregalaram com o barulho, mas logo se estreitaram novamente. Estava frio. Ele também parecia estar com um pouco de fome. Mas Seo Kangwoo não ia deixá-lo comer o ensopado de missô.
— Quero comer sopa. — Kangwoo riu ao ver Heewoon cambalear na cadeira sem encosto. Sem forças Heewoon abaixou a cabeça e ficou com metade do rosto enterrado no cachecol. Com uma voz abafada ele murmurou. — O lámen de frutos do mar era tão gostoso…
Heewoon lembrou-se de repente do sabor do lámen que havia comido antes. Era um prato extremamente extravagante. A voz de Kangwoo chegou aos seus ouvidos, o homem parecia estar falando ao telefone.
Heewoon olhou para cima e encarou Kangwoo, que estava ao telefone. Kangwoo acariciou as bochechas vermelhas dele com as pontas dos dedos.
— …cerca de 30 minutos….
Seo Kangwoo estava murmurando alguma coisa, mas era difícil de entender, então, quando Heewoon franziu a testa, Kangwoo acariciou sua pele de leve.
— Vamos lá.
Kangwoo encerrou a chamada e agarrou o braço de Heewoon, puxando-o para se levantar. Seu aperto no braço dele se intensificou à medida que as pessoas passavam por eles.
Depois de sair da loja de carnes, eles caminharam uma pequena distância e entraram em um beco. Um carro importado estava estacionado lá.
— Uh… um carro….
— Provavelmente não é uma bicicleta.
Kangwoo respondeu de maneira casual, abrindo a porta traseira e conduzindo Heewoon para dentro antes de entrar também. Heewoon olhou fixamente para a nuca do motorista por um tempo e depois fechou os olhos.
Quando abriu os olhos novamente, estava apoiado nos ombros sólidos do outro. O casaco acolchoado, o cachecol e o calor de alguém ao seu lado fizeram Heewoon fechar os olhos novamente.
— Acorde, estamos quase lá.
Um leve sacudir em seu ombro o fez abrir os olhos. Ele esfregou os olhos turvos e Kangwoo pegou sua mão. Heewoon caminhou ao lado do homem, ainda meio grogue. Ele não sabia para onde estavam indo.
Quando se deu conta, estava em um quarto de hotel.
Heewoon olhou em volta sem acreditar e, quando levantou a mão para esfregar os olhos, percebeu que ainda estava segurando a mão de Kangwoo. Levantou a cabeça para encarar Kangwoo, os dois ficaram em silêncio por um momento, apenas se olhando, até que bateram na porta.
Quando Kangwoo soltou a mão dele e foi até a porta, Heewoon ficou imóvel e piscou. Ele permaneceu ali até que o funcionário deixou a bandeja sobre a mesa.
Observando Heewoon de pé, Kangwoo sorriu levemente, pegou a mão dele novamente e o fez sentar à mesa. Os olhos dele se arregalaram ao ver a tigela, era o mesmo lámen extravagante do outro dia.
Enquanto observava, Seo Kangwoo desamarrou seu cachecol e abriu o zíper do seu casaco, em seguida retirou.
— Uh… isso é meu…
Quando Heewoon apertou sua manga, Kangwoo disse em voz baixa: —Eu sei — , e afastou a mão dele sem esforço.
Ele estava preocupado que alguém pudesse pegar a roupa que acabara de comprar.
Enquanto ele continuava a murmurar, Kangwoo riu como se estivesse surpreso e virou a cabeça de Heewoon.
— Vamos coma.
O lámen apareceu diante dos olhos dele, parecia delicioso. Heewoon murmurou enquanto segurava os pauzinhos. O movimento dos pauzinhos continuou sem parar, era muito mais gostoso do que o ensopado de missô.
— Os caras da associação estudantil estão trapaceando, ganhando dinheiro por fora.
De repente, Heewoon se deu conta de que estava falando com Kangwoo. Sentado ao lado dela, Kang-woo o encarou com a mão no queixo.
— É mesmo?
— Sim. Cobraram 15 mil wons de cada um, mas se você reservar em grupo, dão um desconto enorme.
— São uns canalhas.
Uma voz suave retrucou, e outra sequência de palavras inúteis saiu. — Tem feito muito frio ultimamente, mas se eu usar esse casaco não sinto frio algum, mas minha bunda continua congelando……
Depois de terminar o lámen e beber uma garrafa de água, Heewoon olhou para o prato vazio. Seo Kangwoo se levantou e acariciou sua cabeça.
— Estou cheirando a comida barata, vou tomar um banho.
Heewoon puxou sua camiseta e cheirou. Não parecia haver nenhum cheiro. Então ele continuou imóvel em sua cadeira.
— Você não vem?
Foi só quando Kangwoo que estava parado na porta do banheiro olhou para trás, que Heewoon, se levantou tardiamente.
Era a primeira vez que tomariam banho juntos.