Sem Forma - Capítulo 18
Heewoon segurou o óleo de cozinha, o amaciante de roupas em seus braços e os colocou no balcão do caixa. Também viu chocolates que pareciam deliciosos e pegou um.
— São 15.800 won. — disse o atendente.
Heewoon abriu sua carteira e pegou o cartão. Apenas esse simples ato fez seu coração bater mais rápido.
— Aqui.
Ele o observou enquanto passava o cartão na máquina. No entanto, após várias tentativas, o atendente olhou para ele constrangido e disse:
— Este cartão parece estar bloqueado.
— … O quê?
Heewoon estreitou os olhos e perguntou.
— Pensei que a máquina estava com defeito, mas parece que não. Você tem outro cartão?
Heewoon ficou em silêncio, parecendo congelado, enquanto o atendente o olhava com uma expressão confusa. Nesse momento, outro cliente chegou atrás de Heewoon e o atendente o pressionou: — Ei, tem um cliente atrás de você, pode ser mais rápido? — E o apressou.
— Ah… vou pagar em dinheiro.
Herwoon inseriu o cartão novamente na carteira. Em sua carteira, ele encontrou duas notas de 10.000 won e uma nota de 1.000 won. Esse era todo o dinheiro que ele tinha.
— Está bem. Vejamos… 20.000 won.
— … com licença. Vou tirar esse aqui.
Heewoon devolveu o chocolate que ele tinha pego anteriormente ao seu lugar. O atendente não parecia se importar muito, mas o rosto de Heewoon ficou vermelho de constrangimento.
— São 14.800 won, e aqui estão 5.200 won de troco.
— Obrigado.
Com o troco em mãos, Heewoon saiu da loja como se estivesse fugindo.
O que está acontecendo? Por que o cartão não está funcionando? Será que só não funciona nesta loja? Ele estava perplexo enquanto caminhava de volta para casa.
— Obrigado, filho.
— Por nada.
— A propósito, Heewoon, você já enviou o dinheiro?
— … Hã?
Heewoon respondeu um pouco tarde, perdido em seus pensamentos.
— Ah, sim, você se esqueceu, né? Deveria ter enviado para mim no dia 1º.
— Ah, isso. Sabe como é… Envio no dia 5. — Heewoon rapidamente respondeu antes que sua mãe pudesse expressar preocupação. — A mãe da aluna me perguntou se eu poderia me pagar no dia 5. Esqueci de te dizer, desculpe.
— Tudo bem, mamãe vai dizer a eles.
Heewoon se virou ao ver sua mãe sorrindo. Ele entrou em seu quarto e se encostou na cômoda. Tirou o cartão da carteira e o examinou de perto para ver se o ímã estava danificado, mas não conseguiu perceber nada de errado.
Talvez a máquina do supermercado estivesse com problemas.
Heewoon não parava de pensar no motivo pelo qual o cartão não funcionava. Mesmo quando comeu o arroz frito com kimchi, ele estava com uma expressão séria e sua mãe lhe perguntou com pesar se ele não havia gostado, mas depois que ele lhe disse três vezes que estava muito bom e então ela pareceu relaxar.
Ele arrumou a mesa e colocou a louça. Sentou-se ao lado de sua mãe, que estava assistindo TV, olhando distraidamente até a hora do jantar. Após comer, ele se levantou, pois era hora de ir para a aula particular.
— Tchau, já vou.
— Está bem. Tchau, filho.
Heewoon agarrou as alças de sua mochila. Seu coração batia desconfortavelmente.
***
Heewoon, mesmo sentindo vergonha, tentou mais algumas vezes. No entanto, sempre ouvia que o cartão estava suspenso.
Ele não podia ir para casa com medo de que sua mãe desconfiasse, então ficou na biblioteca até a hora de terminar sua sessão de tutoria. Por um breve momento, ponderou ir até a casa dos seus alunos, mas seria muito inconveniente.
Ele trouxe o material de estudo, mas não conseguiu se concentrar. Em vez disso, ficou mexendo no celular, decidindo se deveria ou não enviar uma mensagem. Se perguntava se Seo Kangwoo sabia ou se havia algum engano.
No final, ele não conseguiu enviar a mensagem. Quando finalmente pensou nisso, já era tarde e ele estava com medo de que Seo Kangwoo ficasse bravo por ele entrar em contato tarde da noite. Na verdade, mesmo que não fosse tarde, ele estava com medo de entrar em contato com o homem.
Achou que seria melhor perguntar a ele em um lugar lotado. Não ia precisar esperar muito, afinal eles tinham aula no dia seguinte juntos.
Depois de uma noite sem dormir, Heewoon acordou de manhã cedo com apenas 6.200 won restantes em sua conta bancária que ele havia sacado para cobrir as contas de transporte e do celular. Enquanto caminhava para a escola, cerca de duas horas mais cedo, recebeu uma ligação de Seo Kangwoo.
Heewoon pegou o telefone assim que ele vibrou.
— Alô.
Houve um momento de silêncio do outro lado, como se ele estivesse surpreso por ter sido atendido tão rapidamente.
[Sunbae?]
— Sim.
Heewoon parou de andar e se concentrou no telefone. Foi um momento em que ele pensou o tempo todo enquanto estava deitado antes de dormir. Enquanto ela ainda estava tentando descobrir o que dizer para não irritar Seo Kangwoo, ouviu algo indesejável.
[Não vou à aula hoje porque tenho que trabalhar, então não poderei almoçar com você, portanto, certifique-se de comer bem.]
— Oh…
Heewoon fez um som parecido com um suspiro.
[O que foi? Você sente minha falta?]
A voz risonha no receptor parecia estar de bom humor, então Heewoon franziu os lábios.
[Ah! Tenho que ir. Ligo para você mais tarde.]
E então a chamada foi encerrada. Heewoon ficou olhando fixamente para o telefone. Se ele ligasse de volta, Seo Kangwoo ficaria irritado. Mas ele precisava depositar o dinheiro amanhã.
Normalmente, ele teria esperado que Seo Kangwoo não entrasse em contato, mas hoje ele esperou ansiosamente. Ele não conseguiu se concentrar durante a aula e continuou procurando por empregos em tempo parcial online. No entanto, não importa o quanto ele procurasse, não havia lugares que aceitassem um pagamento antecipado tão grande. Ele postou uma mensagem em um site de tutoria, mas isso não resolveria o problema de imediato.
A chamada que ele estava esperando veio quando Heewoon já estava exausto. Enquanto ele se preparava para sair novamente após o jantar e fingir que ia dar aulas particulares, seus olhos se arregalaram de repente.
[Venha aqui agora.]
O endereço que Seo Kangwoo havia enviado era de um hotel em Gangnam.
Para ir daqui até Gangnam… É preciso pegar dois ônibus. São 2.600 won na ida e 2.600 won na volta.
— Mamãe, estou indo para a aula.
— Sim. Tome cuidado.
Sua mãe acenou com a mão. Heewoon saiu de casa e foi para o ponto de ônibus.
Era o cartão que Seo Kangwoo havia lhe dito para usar. Então, bastava conversar com ele e tudo seria resolvido rapidamente.
***
— Por que você demorou tanto?
Kangwoo franziu ligeiramente a testa ao abrir a porta. Ele segurou o braço de Heewoon, que estava nervoso, e o puxou para um abraço. A mão de Kangwoo passou sobre a cabeça rígida de Heewoon algumas vezes.
— Você sentiu minha falta de manhã?
Uma voz suave chegou ao seu ouvido. Heewoon se remexeu com a mão que estava entre o corpo de Kangwoo e o seu. Será que eu deveria dizer a ele que sim? Isso o faria se sentir melhor? Enquanto estava pensando nisso, Seo Kangwoo perguntou sem rodeios.
— Tem algo a dizer?
Os olhos de Heewoon se arregalaram. Kangwoo, que riu levemente, soltou Heewoon e foi na direção do sofá. Ele estava usando um roupão, como se tivesse acabado de sair do chuveiro.
— Sunbae, você quer comer alguma coisa?
Ele perguntou, abrindo o cardápio sobre a mesa. Heewoon, que estava parado na porta, se aproximou lentamente.
— Eu já jantei.
— Ah, então vou pedir algo para mim. Está tudo bem?
— Sim.
Heewoon cerrou e soltou os punhos enquanto observava Kangwoo pedir o serviço de quarto. Seus olhos mal conseguiram examinar a espaçosa suíte.
A ligação se arrastou enquanto ele se perguntava o que o homem tanto fazia. Heewoon abriu a boca, assim que ele desligou o telefone.
— É sobre…
Mesmo que fosse uma voz suave, era suficientemente audível, mas Kangwoo, como se não tivesse ouvido, virou a cabeça para olhar a vista noturna. Então Heewoon se aproximou do sofá, em forma de “L”.
— Você sabe…
Desta vez, Kangwoo não respondeu novamente.
Após ser ignorado duas vezes, sua coragem se esvaiu. Heewoon franziu os lábios enquanto olhava para o encosto do sofá.
— Ah.
Heewoon fez um pequeno ruído ao perceber algo.
— Kangwoo.
— Sim.
Desta vez, uma resposta veio. Ele não hesitou em falar com pressa, sem pensar no quão constrangedor era.
— Kangwoo, ontem…
Virando a cabeça para olhar para Heewoon, Kangwoo fez um gesto para que ele se sentasse. Heewoon, que se sentou no sofá desconfortavelmente, começou a falar.
— Eu usei o cartão que você me deu ontem e…
Heewoon parou abruptamente. Estava preocupado de que Kangwoo pudesse interpretar mal e ficar com raiva ao ouvir que o cartão estava bloqueado.
Ele nem sabia se deveria mesmo questionar o homem sobre o cartão estar bloqueado, talvez ele ficasse ofendido e simplesmente atacasse.
— Sim?
Kangwoo murmurou suavemente, como se estivesse ouvindo.
— É que… me disseram que o cartão estava bloqueado…
Ele gaguejou um pouco enquanto falava, o fazendo parecer ridículo. Kangwoo, que olhava diretamente para Heewoon, levantou a sobrancelha.
— Ah, o que eu posso dizer…
Heewoon se sentiu aliviado ao ouvir Kangwoo falar casualmente, como se não fosse nada. No entanto, sua expressão ficou tensa quando ele continuou a falar.
— Está bloqueado.
— … Por quê?
A pergunta passou por seus lábios pequenos e entreabertos.
Kangwoo se recostou no sofá e observou Heewoon. Cruzando lentamente as pernas, ele falou sem se importar.
— Eu dei o cartão para você para que você parasse de trabalhar, certo?
— Mas eu parei de trabalhar.
A voz de Heewoon ficou um pouco mais alta. Kangwoo, que estava observando ele, levantou-se do sofá e fez um comentário casual.
— Você não parou, foi demitido.
Heewoon olhou fixamente para Kangwoo quando o homem saiu do sofá e se dirigiu para a porta da frente. Ele pegou os chinelos na porta da frente e os colocou aos seus pés.
— Você deveria tê-los usado.
— …
— Vai calçá-los?
Com a cabeça inclinada, Kangwoo fez uma pergunta brincalhona. Pelo jeito, para aquele homem, o assunto em que Heewoon tinha pensado tanto ontem quanto hoje parecia irrelevante.
Heewoon olhou para os chinelos ao lado de seus pés com uma expressão rígida. Depois de calçar os chinelos, Seo Kangwoo voltou ao seu lugar.
Kangwoo se enterrou no sofá e relaxou, enquanto Heewoon olhava para os dedos dos pés, que se projetavam levemente para fora dos chinelos. Tentou, então, acalmar sua respiração irregular.
Nenhum dos dois se moveu até que uma batida na porta foi ouvida.
— Sente-se.
Heewoon ergueu o corpo reflexivamente, então Kangwoo disse foi até a porta. O sofá estava de costas para a porta, então ele se sentou imóvel enquanto o funcionário entrava e colocava a comida na mesa.
— Obrigado.
A voz do funcionário soou como se ele tivesse recebido uma gorjeta e a porta se fechou. O som de chinelos sendo arrastados se aproximou e Kangwoo passou, deixando um cheiro diferente do habitual.
— Eu pedi um lanche.
Kangwoo movimentou um vistoso cheesecake na frente de Heewoon. Ele colocou as frutas à sua frente e uma bebida que parecia ser suco de laranja ao seu alcance.
Heewoon encarou aquelas coisas com os lábios firmemente fechados. Kangwoo perguntou, enquanto colocava gelo em um copo de whisky.
— Você também quer um drinque?
— Sim.
A resposta de Heewoon fez com que Kangwoo sorrisse ligeiramente e, com isso, ele derramou um whisky âmbar no copo. Heewoon aceitou o copo e bebeu rapidamente a bebida, fazendo uma careta quando sentiu sua garganta arder.
Ele não demorou a esvaziar o copo. Nesse momento, Kangwoo franziu o cenho levemente e disse:
— Se você ficar bêbado, eu vou te jogar pela janela.
Heewoon assentiu em silêncio. Após dar uma olhada na cor do rosto de Heewoon, Kangwoo encheu outro copo e começou a comer.
Os únicos sons no espaçoso quarto de hotel eram os cortes suaves das facas e o tilintar do gelo. Tudo, feito por Kangwoo.
Heewoon, que havia mantido a cabeça baixa, falou depois de um longo tempo.
— Você…
Uma voz suave foi ouvida.
— Você fez com que eu fosse demitido.
Talvez eu não devesse ter feito isso.
O som de cortar parou. Sangue escorreu da carne cortada pela faca. Kangwoo levantou a cabeça e encarou Heewoon antes de perguntar suavemente:
— E então?
Heewoon mordeu o lábio com força enquanto olhava para Kangwoo, que não negou em nenhum momento.
— Isso aconteceu por sua causa. Você tem que se responsabilizar.
Olhando para Heewoon, que falava com tanta firmeza, Kangwoo bebeu seu whisky. Sem tirar a boca do copo, ele bebeu tudo lentamente, colocou o copo vazio na mesa fazendo um som nítido.
Tum.
Heewoon cerrou os punhos ao ouvir o som do fundo do copo batendo na mesa. Seo Kangwoo encheu o copo novamente. Uma mão grande sacudiu o copo, e o líquido âmbar dançou suavemente.
— Acho que está pensando em algo errado… — uma voz lenta falou. — Você está usando o método errado para falar.
Kangwoo olhou para cima. Seus olhos eram frios, causando arrepios na espinha de Heewoon. Com um olhar e um tom semelhante ao daqueles olhos, Kangwoo falou.
— Você não está na posição de me pedir um favor.
Heewoon respirou fundo.
Kangwoo pegou o garfo e a faca, deixando Heewoon imóvel como uma pedra. Ele voltou a comer com calma.
Não demorou muito para que Heewoon se levantasse de seu assento, olhando fixamente para a mesa. Kangwoo nem sequer deu atenção. Heewoon cerrou os punhos.
Caminhando pesadamente, ele se ajoelhou ao lado da mesa. Kangwoo, que finalmente olhou para Heewoon, não mostrou muito interesse, continuando a comer como se nada tivesse acontecido.
Até Kangwoo terminar sua refeição, Heewoon permaneceu ajoelhado. Suas pernas começaram a ficar dormentes. O punho em sua coxa continuava tremendo.
Kangwoo jogou o guardanapo sobre a mesa. O vento gerado pelo tecido grosso espalhou levemente a franja de Heewoon.
— Você acha que isso vai funcionar comigo agora?
Foi patético.
Heewoon baixou a cabeça pesadamente. Seus punhos cerrados tremiam.
Sua vida, que já estava uma bagunça, se tornou gravemente caótica nos últimos tempos. Ele havia pensado que tudo o que havia acontecido há três anos e todas as dificuldades subsequentes eram o fundo do poço de sua vida e que a única direção possível era para cima.
Mas ele estava errado.
O que ele pensava ser o fundo do poço era, na verdade, o vazio, e ele estava caindo rapidamente. Ele estava caindo tão rápido que nem podia mais esperar que as coisas não piorassem.
Mordendo o lábio, Heewoon olhou para cima. Um rosto presunçoso, sombreado pela luz laranja, o observava como se o estivesse examinando. Ele abriu a boca para falar.
— Eu tenho despesas mensais para pagar… — ele tossiu quando sua garganta ficou seca e continuou. — … Se eu não pagar, eles vão vir até a minha casa. Minha mãe está doente, então ela pode entrar em choque novamente e desmaiar. Eu realmente preciso desse dinheiro porque tenho que pagar as despesas de vida da minha mãe.
A voz de Heewoon se partiu no final. Ele tentou falar com força, mas sua voz tremia miseravelmente no final.
— Ahhhh… — Kangwoo suspirou profundamente.
— Quem disse que eu queria ouvir isso?
Heewoon mordeu o lábio. Ele realmente não tinha ideia do que Kangwoo queria.
O tempo estava se esgotando e amanhã era o dia. Ele não conseguiu encontrar uma maneira de obter o dinheiro de que precisava. As imagens de sua mãe desmaiando devido ao choque e tendo todos os móveis quebrados por aqueles homens passaram repetidas vezes diante dos seus olhos. Sua cabeça começou a latejar.
— Bem, então… O que você quer ouvir?
Heewoon olhou para o rosto impassível de Kangwoo. Sua silhueta se tornaram duas por um momento, depois voltaram a ser uma. Heewoon esfregou os olhos. As costas de sua mão estavam úmidas.
— Isso é algo que você deve pensar, Sunbae.
°
°
Continua…
Tradução Rize
Revisão MiMi