Sem Forma - Capítulo 17
— Lave-se. O banheiro fica ali.
Kangwoo falou calmamente, antes de entrar em outro quarto, e logo o som da água correndo pode ser ouvido.
Heewoon não conseguiu se levantar por um longo tempo e só depois que o som da água no quarto parou foi que ele conseguiu se mover.
A cada passo, um gemido escapava de seus lábios. Ao andar, percebeu que havia pisado nas roupas que havia jogado no chão. A mancha em sua calça agora parecia um pouco menor.
Heewoon fechou os olhos e soltou um suspiro trêmulo antes de se mover novamente. Sua mão tremia quando ele fechou a porta do banheiro, seu reflexo no espelho era terrível. Ele estava assustado, pálido e parecia que iria desmaiar a qualquer momento.
Ele lavou o rosto com água fria e pegou uma escova de dentes que parecia nova. Teria gostado de escovar os dentes algumas vezes, mas não tinha forças para levantar os braços.
Mesmo durante o banho, ele deixou cair as coisas várias vezes e quase desabou devido a fraqueza nas pernas. Heewoon só conseguiu sair debaixo d’água quando suas mãos e pés estavam enrugados.
Ele se secou com dificuldade e enrolou uma toalha grande em volta de si. No entanto, Kangwoo estava parado na porta como um fantasma, e Heewoon ficou surpreso quando o viu. Ele havia tirado o terno, estava vestido confortavelmente e, a julgar pelas roupas, essa poderia ser uma casa que ele usava ocasionalmente.
— Por que está demorando tanto?
— Desculpe….
Kangwoo fez apenas um comentário, mas Heewoon estava assustado e abaixou a cabeça. Seja porque gritou muito ou porque por ter passado muitas horas chupando o pau do homem, sua voz estava rouca. Kangwoo olhou para os cabelos molhados que caíam em sua testa e disse suavemente:
— Venha jantar.
Heewoon respondeu com um “sim” e seguiu Kangwoo. Ele estava se movendo tão devagar que Kangwoo se sentou à mesa primeiro e apoiou o queixo em sua mão enquanto olhava para ele.
Quando puxou uma cadeira para se sentar em frente a ele, Seo Kangwoo falou.
— Aí não. Sente-se ao meu lado.
— Uh-hm.
Heewoon se moveu lentamente e se sentou ao lado de Kangwoo. Havia uma grande grelha sobre a mesa, com camarão e carne de porco dispostos sobre ela. Parecia ter sido encomendado do mesmo restaurante que eles planejavam ir antes. Não parecia que Kangwoo tinha ido buscar, então alguém deveria ter trazido isso.
— Coma.
Heewoon assentiu automaticamente, depois disse que “Sim” ao perceber o que havia feito. Kangwoo soltou uma pequena risada. Heewoon piscou os olhos e olhou para ele, confuso.
— Você costuma usar palavras respeitosas quando está com medo. Está com medo agora, sunbae?
— …Sim.
— Por quê?
Kangwoo suavemente acariciou sua bochecha com a mão. Seus dedos tocaram abaixo do queixo e atrás do pescoço. Os olhos de Kangwoo haviam se suavizado. Olhando para o rosto dele agora, parecia que tudo o que havia acontecido há pouco tinha sido um pesadelo ruim.
— Pensei que você estivesse chateado.
— Não estou com raiva.
Enquanto dizia isso, ele passou suavemente o dedo pela borda rasgada do lábio de Heewoon. Ele pressionou o lábio rasgado, depois levantou a franja úmida e examinou sua testa. O silêncio afetuoso foi constrangedor. Heewoon prendeu a respiração e olhou para Kangwoo. Quando o homem percebeu que ele o estava observando, sorriu.
— Agora você vai me ouvir muito bem, certo?
— Vou… vou te ouvir.
Kangwoo riu levemente com as palavras estóicas de Heewoon. Acariciando gentilmente a bochecha dele, ele se perdeu em pensamentos antes de abrir lentamente a boca.
— O dinheiro é bom, mas a violência é a melhor maneira de lidar com as pessoas. Até os bastardos arrogantes aprendem quando levam uma surra.
A expressão de Kangwoo mudou de uma cara sorridente para uma expressão mais séria enquanto ele continuava acariciando as bochechas de Heewoon. Quando ele afastou a mão, Heewon piscou temendo ser acertado novamente no rosto.
Seus olhos estavam inchados e vermelhos.
— Mas o Sunbae começou a chorar logo depois de ser atingido apenas algumas vezes, então é bem conveniente.
Ele deu um tapinha de leve na bochecha dele e a garganta de Heewoon ficou tensa. Quando a mão que estava acariciando sua bochecha se moveu suavemente para acariciar seu cabelo, ele fechou os olhos de repente e um riso suave escapou dos lábios do homem.
— É um elogio.
A voz comentou, com um sorriso presunçoso. Heewoon mordeu a parte interna do lábio e levantou as pálpebras. Seus olhos se encontraram.
Kangwoo sorriu alegremente.
— Oh.
Como se algo tivesse acabado de cruzar sua mente, ele arregalou os olhos. Heewoon, nervoso, começou a brincar com a toalha que envolvia suas pernas.
— Sunbae, você fez xixi igual um bebê.
O rosto de Heewoon ficou vermelho. A mão em sua coxa vagava sem rumo. Seu rosto ficou cada vez mais quente.
— Você não consegue nem fazer xixi. Devo te ajudar a ir ao banheiro também?
— …Não.
Heewoon mal conseguiu sussurrar. Kangwoo curvou os cantos de sua boca enquanto olhava para o rosto dele, vermelho como se estivesse prestes a explodir. Ele bagunçou levemente o cabelo de Heewoon.
— As roupas foram todas enviadas para a lavanderia, então não se preocupe.
— Sim. — Heewoon mal engoliu o nó em sua garganta.
Seguindo os passos de Kangwoo, Heewoon pegou seus talheres, mas seus dedos pareciam fracos e os jeotgarak pareciam não querer colaborar. Eles continuavam a escorregar e ele quase os deixou cair algumas vezes. Ficou ainda pior depois que Kangwoo começou a observá-lo com atenção.
Lançando olhares furtivos para o lado, percebeu quando Kangwoo estendeu a mão de repente. Heewoon mordeu o lábio e fechou os olhos. Inadvertidamente, os talheres escorregaram de suas mãos e caíram no chão com um som estrondoso.
Heewoon ficou surpreso e olhou para o homem em busca de qualquer reação. Kangwoo, no entanto, estava colocando camarões na chapa com calma. Heewoon olhou ao redor brevemente e pegou uma colher.
Ele pegou um pedaço de omelete que estava na frente deles e comeu, seguido por um pedaço de tofu. Toda vez que engolia algo, sentia uma dor na garganta e sua testa se enrugava
Um camarão descascado foi colocado sobre seu prato de arroz.
— Os camarões são deliciosos.
— … Obrigado.
Heewoon moveu a colher com cuidado, sentindo o olhar de Kangwoo sobre ele, mas o camarão escorregou da colher. Eles eram tão grandes que era difícil pegá-los com uma colher. Enquanto tentava desesperadamente pegar a comida, ouviu um suspiro ao seu lado.
— Uhhh.
Kangwoo, que pegou o camarão facilmente, o aproximou do canto da boca de Heewoon com os jeotgarak e ele o aceitou de forma desajeitada. Ele deu uma mordida e o resto do camarão foi colocado de volta no prato de arroz.
Estava fresco e saboroso, mas, se o pedaço fosse grande, doeria para engolir, então ele mastigou por um tempo.
— Você quer carne também?
— Sim.
Desta vez, a carne temperada com pimenta e especiarias entrou em sua boca. Heewoon havia compartilhado tantas refeições com Kangwoo até agora que já tinha perdido as contas e era estranho, constrangedor, poder sentir o gosto da comida agora. Enquanto mastigava, sentiu os olhos sobre ele.
—… O que?
— Talvez eu devesse ter pedido mingau de arroz.
Seu tom era indiferente, mas falava como se ele estivesse preocupado com Heewoon.
Se fosse se arrepender, não deveria se arrepender de suas ações anteriores e não de suas escolhas para o cardápio?
— Mastigue devagar, com cuidado.
Kangwoo, que descascou outro camarão, ergueu a mão para Heewoon e o entregou.
— Não está quente, então não tem problema segurá-lo em sua mão.
Ele assentiu e abriu a boca, mas a sensação de ardência em seus lábios fez seu rosto enrugar.
Na verdade, não havia nenhum lugar que não doesse. Seu corpo inteiro latejava como se tivesse sido espancado. A sensação dura do alicate universal tinha gosto de ferro e o sêmen que ele havia engolido à força ainda estavam presentes em sua boca.
De repente, o dia pareceu longo.
Seo Kangwoo realmente tentou arrancar seu dente. Ele não conseguia imaginar como seria doloroso, mas, pelo que tinha ouvido Kangwoo, já havia feito isso muitas vezes.
Por causa disso, ele chupou o pênis de seu algoz até ficar sem fôlego e fez sexo violento.
Heewoon olhou para a toalha branca em volta do seu quadril. Não há nada de sujo ou vergonhoso em lutar por sua vida.
Kangwoo virou a cabeça para seguir o olhar de Heewoon.
— O que? Está envergonhado por fazer xixi? — Sua voz era suave.
Heewoon mordeu o lábio com força. Os eventos do último mês passaram rapidamente por sua mente. Perseguir alguém era obviamente um crime, mas a punição parecia estar indo longe demais.
O mesmo aconteceu hoje: disse a ele para parar de dar aulas e depois o puniu por não fazer isso. Não importa o quanto ele pensasse sobre, não parecia que ele tinha feito algo tão terrível para merecer isso.
E era ainda mais doloroso e triste que ele não pudesse expressar esses pensamentos.
— Mmm… — Kangwoo, que fez um som, inclinou a cabeça e perguntou — Você vai chorar?
— …Não.
Heewoon respondeu com uma voz suave. Ele abriu a boca para morder um camarão, mas os cantos de sua boca tremeram. Sentiu que poderia explodir em lágrimas se baixasse a guarda. Tentando se controlar, ele tomou um gole de água.
Kangwoo o observava em silêncio. O rosto dele, enquanto lutava contra as lágrimas, atraía o olhar do outro homem.
Kangwoo riu baixinho, se lembrando de como tinha corrido para o aeroporto sem nem mesmo trocar de roupa.
Ele teve que admitir: os sentimentos que tinha em relação a Woo Heewoon iam além do simples interesse momentâneo. Não se tratava apenas de brincar com ele por um tempo e depois descartá-lo.
Então, o que precisava ser feito estava claro: montar uma armadilha mais sólida e durável.
— O Sunbae pode dar aulas particulares se quiser.
Kangwoo disse casualmente, enquanto movia um camarão do tamanho da palma da mão para o prato de Heewoon.
— Hã?
— Se você suportou tudo mesmo tendo tanto medo é porque realmente não queria parar, não é?
Com facilidade, ele removeu a cabeça do camarão e retirou a casca. Ele colocou a carne branca exposta no prato de Heewoon e tirou outro camarão.
— … Sério?
A expressão cuidadosa de Heewoon ao fazer a pergunta era intrigante. Parecia que ele estava tendo dificuldade em acreditar nas palavras de Kangwoo. Havia claramente outras emoções escondidas nesse ato.
— Sim.
Kangwoo respondeu com um sorriso.
***
Depois de terminarem a refeição, Kangwoo trouxe algumas roupas para ele. A camiseta era do tamanho certo em comprimento, mas estava muito folgada. Enquanto vestia as roupas, Kangwoo acariciou a cabeça dele e disse.
— Ligue para sua mãe e diga que vai dormir aqui.
Seu tom era muito doce.
— Está bem.
Já era tarde da noite e seu rosto estava uma bagunça. O melhor era, realmente, não ir para casa. Mas a ideia de dormir com Kangwoo era assustadora. Ele tinha certeza de que não conseguiria dormir esta noite.
Heewoon olhou em volta. Ele não conseguia se lembrar onde colocou seu celular. Talvez ele o tivesse colocado no bolso das calças antes de ser empurrado contra a parede.
— Onde está o meu celular?
— Aqui.
Kangwoo gentilmente pegou o celular que estava em frente à TV na sala de estar.
— Obrigado.
Heewoon pegou o celular e desbloqueou a tela. Ele tinha algumas mensagens no KakaoTalk. São da minha mãe. Pelo menos foi o que ele pensou ao abrir o aplicativo.
Mas não havia mensagens de sua mãe: eram todas de mães de alunos.
[Estou desistindo das aulas particulares.]
[Professor, você não precisa vir na próxima semana.]
[Agora não precisa mais vir.]
Os olhos de Heewoon se arregalaram. Todas as mensagens eram sobre desistir das aulas particulares, sendo que as mensagens eram a partir das 17hrs.
Uma nova mensagem do KakaoTalk chegou. Sua mão tremia quando ele tocou na notificação.
[Eu estava prestes a chamar a polícia, mas me segurei por causa das circunstâncias do professor. Mesmo assim, por favor, não prejudique mais ninguém. Você não precisa mais vir a partir de amanhã.]
Ele não conseguia entender o que a mensagem dizia. Heewoon levou a mão à testa e olhou para o texto que tinha enviado para os alunos mais cedo.
Um deles tinha lido, mas não tinha respondido e, em outra mensagem havia:
[Você está sendo perseguido?]
Enviou uma mensagem dizendo: [O que isso significa?] e, imediatamente, o aluno respondeu e bloqueou seu número.
[Bandidos vieram até minha casa e queriam o dinheiro do professor particular para eles. Por isso, minha mãe disse que não vou mais precisar das suas aulas particulares. Minha mãe está muito brava agora ㅜㅜ acho que não vou mais poder ter aulas particulares com você ㅠㅠ]
— …….
Heewoon olhou para a tela do seu celular, atordoado.
Os agiotas foram até lá? Estou pagando direito, então por que…
— Há algo errado?
Kangwoo perguntou, colocando suavemente a mão no ombro de Heewoon.
— Não… As mães dos alunos entraram em contato comigo…
Heewoon gaguejou e olhou para cima.
— É sério?
Kangwoo estava sorrindo, com os cantos da boca levemente levantados. Heewoon olhou para o rosto dele como se estivesse perdido em pensamentos.
Naquele momento, ele entendeu.
Não foram os agiotas os responsáveis por isso, e sim Seo Kangwoo.
— Por que está me olhando assim? Entre em contato com sua mãe logo.
Kangwoo riu e digitou rapidamente uma mensagem no celular. Heewoon, como se estivesse em transe, enviou a mensagem para sua mãe.
— Você está com frio, Sunbae? Está todo arrepiado.
Kangwoo disse casualmente, apertando o braço de Heewoon.
Eles se deitaram lado a lado na cama. Foi uma sorte para Heewoon que a cama fosse grande o suficiente para que não precisassem se tocar.
Heewoon piscou os olhos quando se sentou. A luz azul da janela criava formas no teto e ele fixou o olhar ali, como se estivesse em transe.
Ele havia ligado e deixado mensagens para as mães dos alunos várias vezes, mas nenhuma delas retornou a ele. Os alunos também. A aluna que costumava responder suas mensagens foi descoberta por sua mãe e bloqueou Heewoon, de modo que não houve mais contato.
Ele perdeu seu emprego da noite para o dia.
Não conseguia acreditar.
Heewoon juntou as mãos em seu estômago. Desde que ele testemunhou o assassinato, as coisas pareciam estar indo de mal a pior. Ele havia tocado em algo que não deveria ter sido tocado, algo enorme e sombrio.
Ou talvez ele tenha mergulhado profundamente dentro disso.
— Você está dormindo?
Uma voz suave veio de lado. Heewoon engoliu em seco nervosamente e respondeu.
— Não.
Um som de movimento foi ouvido e Kangwoo se levantou. Ele se sentou à luz da lua. Heewoon ficou tão assustado que se moveu para a beira da cama. No entanto, quando puxou o cobertor, o braço de Kangwoo o seguiu e ele fechou os olhos com força.
Seu pulso foi gentilmente agarrado. Ele abriu os olhos e olhou para Kangwoo, embora não conseguisse ver seu rosto nas sombras.
— Me dê sua mão.
Kangwoo disse, acariciando gentilmente as costas da mão que segurava o lençol. À medida que a tensão na mão de Heewoon se desfez, Kangwoo trouxe a mão em direção a si mesmo e começou a massagear suavemente. Ele pressionou e acariciou com o polegar o pulso e o braço de Heewoon com delicadeza.
— Mão direita.
A mão de Kangwoo deslizou por entre seus dedos cerrados, se movendo levemente para frente e para trás. As pontas dos dedos roçaram seu polegar e tocaram a palma da mão.
Kangwoo colocou a mão direita em cima da esquerda, acariciou as costas da mão dele e logo arrumou os lençóis. Heewoon o observou por mais um momento enquanto ele voltava para a cama e , finalmente, fechou os olhos.
***
Heewoon abriu os olhos. O canto de sua boca estava úmido por causa da saliva, então ele a limpou com as costas da mão. Heewoon baixou o olhar e fez um som atordoado.
Uh….
O dorso de sua mão estava vermelho. Ele tateou em volta da boca e olhou para a mão novamente. Sangue. Sangue de cor carmesim encharcou suas mãos. Isso é estranho. Por que isso está acontecendo?
Ele esfregou a área ao redor de sua boca freneticamente. Suas mãos ficaram cada vez mais vermelhas. Com um suspiro, ele finalmente se sentou. Quando abaixou a cabeça e olhou para as mãos avermelhadas, o sangue escorria de sua boca.
Deve estar vindo de dentro da minha boca.
Heewoon abriu a boca e enfiou os dedos. Logo, sentiu a língua macia. Ele procurou uma ferida em sua boca, mas os dedos não sentiram nada além de maciez. Estranho. Muito estranho.
Por que….
Não tem dentes?
— Ahhhh.
Heewoon inalou bruscamente e abriu os olhos. Ele ofegou e colocou a mão sobre a boca.
— O que há de errado, Heewoon.
Ele ouviu a voz de sua mãe ao seu lado. Ela estava deitada de costas em frente à TV, olhando para ele com preocupação.
— Oh… eu tive um sonho.
— Teve um pesadelo?
— … Sim.
Heewoon deitou novamente, levantando as costas da mão sobre os olhos. Ele esfregou a mão contra as calças debaixo do cobertor, como se estivesse tentando limpar alguma coisa.
Sua mãe passou os canais de TV e disse.
— Meu filho está dormindo até tarde por algum motivo.
— Ah… que horas são?
Sua voz ficou trêmula. A garganta ainda estava um pouco dolorida, mas ele não sabia dizer se era por causa do sexo oral ou de um resfriado.
— Está quase na hora do almoço. Levante, filho.
Ele sentiu seu corpo todo dolorido e estava com vontade de continuar deitado, mas temia que, se o fizesse, cairia no sono e teria outro pesadelo.
Por isso, ele se levantou com dificuldade. Heewoon olhou ao seu redor: havia um guarda-roupa desgastado, uma velha penteadeira de madrepérola, uma pequena TV e sua mãe estava deitada na mesma posição de sempre, em frente à TV.
Era sua casa. A casa, onde podia sentir o cheiro da sua mãe, onde poderia estar em qualquer lugar com três passos.
Ele bocejou para disfarçar um suspiro repentino.
Na manhã de ontem, Seo Kangwoo o havia levado para casa. Não era surpreendente que ele soubesse o endereço de sua casa, mesmo que Heewoon nunca tenha dito. Afinal, ele mesmo tinha descoberto por conta própria o endereço de Kangwoo.
Ele ainda não tinha conseguido entrar em contato com as mães dos alunos. Heewoon lançou um olhar rápido para sua mãe e depois para a carteira que estava sobre a penteadeira, cheia de bugigangas. Ele estava olhando para a carteira constantemente desde ontem.
Kangwoo o havia feito perder o emprego de forma muito drástica. Quando Heewoon descobriu, ficou tão atordoado e atônito que não soube o que fazer. Mas, depois de voltar para casa e pensar sobre isso, ele ficou com raiva.
E então sentiu medo.
Ninguém sabia que uma pessoa havia morrido. Não havia notícias sobre isso em nenhum lugar. E o que ele havia feito com Hyukjin, além de arquitetar que ele havia sofrido um acidente de trânsito? Como Kangwoo encontrou Heewoon no aeroporto? Como ele foi até as casas dos alunos, mesmo sem saber a direção?
Era como se Kangwoo pudesse fazer qualquer coisa. Heewoon estava com medo de até onde ele poderia ir. Agora, pensando bem, parecia que o melhor que ele poderia fazer era seguir as instruções de Kangwoo.
Heewoon cerrou os dentes para não emitir um som de dor e se levantou para arrumar o lençol. Quando ele estava colocando a roupa de cama no armário, sua mãe se levantou e disse:
— Você quer arroz frito com kimchi?
— Sim. Parece bom.
Sorrindo levemente, Heewoon pegou o futon de sua mãe, colocou-o no armário e foi para o banheiro. Após lavar o rosto, ele olhou para a testa machucada. Um calafrio percorreu sua espinha quando ele se lembrou de como Seo Kangwoo não hesitou.
Secou o rosto e cobriu cuidadosamente a testa com a franja. Não conseguiu esconder o hematoma em seu lábio, mas sua mãe pareceu acreditar quando ele disse que estava tão cansado que dormiu e bateu com a boca na mesa. Ela provavelmente pensou que ele estava muito ocupado estudando para seus exames.
Quando abriu a porta do banheiro, viu sua mãe cortando kimchi.
— Heewoon, você poderia comprar um pouco de óleo de cozinha? — Ela comentou — Acabou tudo.
Heewoon virou a cabeça e olhou para a penteadeira através da porta deslizante aberta. Tap, tap, tap. Ele olhou para sua mãe, que estava cortando o kimchi com um som ritmado, antes de voltar a olhar para o móvel.
Todo dia 5 do mês, eles corriam desesperados se não enviassem aos agiotas uma quantia fixa de dinheiro. Além disso, não tinham dinheiro para as despesas diárias. Nessa situação, não havia outra opção.
Heewoon disse:
— Eu vou comprar. Precisa de mais alguma coisa?
— Hmm… Ah, amaciante de roupas. Compre um grande de 3 litros.
— Ok.
Heewoon segurou a carteira firmemente e vestiu um moletom com capuz. Observou sua mãe cortando o presunto enquanto estava na entrada. Depois, calçou o par de tênis um pouco gastos.
— Volto logo.
— Certo.
A porta da frente se abriu com um rangido.
O tempo estava ficando frio. O vento que tocava suas bochechas estava começando a congelar. Logo vou ter que usar meu casaco de inverno. Ele pensou, enquanto caminhava até o pequeno supermercado a apenas 5 minutos de distância.
Na verdade, era um pouco estranho. Ele havia hesitado tanto em usar o cartão, com medo, mas agora seus passos em direção ao uso do cartão eram apressados, como se ele estivesse esperando por isso o tempo todo.
°
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Continua…
Tradução: Rize
Revisão: MiMi