Sem Forma - Capítulo 13

 Ao levantar a cabeça, Heewoon notou que Kangwoo estava olhando para ele com uma expressão carinhosa.

   — Dez minutos.— Heewoon murmurou e esfregou sua bochecha no ombro de Kangwoo, meio sonolento.

   — Você está com frio?

   — Sim.

   Kangwoo puxou a colcha ao redor de sua cintura e se aconchegou um pouco mais perto do corpo de Heewoon, que piscou preguiçosamente. Kangwoo olhou para o rosto de Heewoon e sorriu levemente.

   — Isso não é tão ruim.

   Diante das palavras murmuradas de Kangwoo, Heewoon fez um som afirmativo, fingindo reagir. Kangwoo afastou delicadamente os cabelos que estavam grudados na testa de Heewoon e acariciou sua cabeça.

   Dez minutos depois, Heewoon olhou para o relógio e estava prestes a se levantar quando Kangwoo o puxou para baixo de brincadeira. Ele beijou o topo da cabeça de Heewoon e murmurou: 

   — Eu gostaria que você não tivesse que ir. 

   — Eu também não quero ir.

   Heewoon estava excepcionalmente cansado hoje, fazendo com que as palavras saíssem sem que ele se desse conta. Também foi devido ao ar suave e aconchegante que pairava ao redor. 

   — Sério? Então, não vá. — Kangwoo disse de forma casual.

   — … se fizer isso vou ser demitido.

   Havia um tom de melancolia na voz de Heewoon. Se outro aluno desistisse, ele teria problemas para pagar o dinheiro no próximo mês. Era necessário encontrar outro aluno o mais rápido possível. Primeiro, ele teria que passar pelos exames intermediários e depois encontrar alguém. Talvez devesse perguntar aos alunos sobre aulas em grupo, exceto para aqueles que ficariam ofendidos… e talvez Jiyeon ou Seunghyun…

   Enquanto Kangwoo observava Heewoon fixamente, ele se levantou da cama. Heewoon observou enquanto ele pegava sua carteira na escrivaninha.

   Kangwoo se sentou na cama e Heewoon fez o mesmo.

   — Aqui.

   Heewoon olhou confuso para o cartão que Kangwoo tirou da carteira. O homem sorriu de maneira misteriosa ao ver o olhar de Heewoon.

   — Com isso, você pode comprar os doces que o sunbae tanto gosta.

   Hmm? Ele provavelmente estava se referindo aos macarons. A falta de respeito de Seo Kangwoo era inacreditável.

   Enquanto ele olhava para o cartão, Kangwoo gentilmente endireitou a mão de Heewoon e o colocou o cartão em cima dela.

   — … Você quer que eu use isso?

   Ao fazer essa pergunta, Heewoon viu Kangwoo acenar com a cabeça. Ele olhou alternadamente para o cartão e Kangwoo, e falou cuidadosamente:

   — Uh… obrigado, mas eu não tenho como pagar de volta.

   — Quem disse que você precisa pagar?

   Heewoon ficou olhando para a expressão indiferente de Kangwoo. Ele não conseguia ler nada no rosto daquele homem, por mais que tentasse descobrir se ele estava brincando ou se tinha algo mais na manga.

   — … Por quê?

   — É… só que isso me irrita, então pare o que estiver fazendo.

   Kangwoo beliscou a bochecha de Heewoon com o polegar. Embora sua aparência tenha melhorado depois de um pouco de sono, Heewoon ainda olhava para Kangwoo com olhos sonolentos e confusos.

   Nada é de graça neste mundo. Se ele usasse o dinheiro de Seo Kangwoo, ele se envolveria ainda mais com esse homem do que está agora.

   Então ele balançou a cabeça.

   — Você não quer?

   As sobrancelhas grossas de Kangwoo se franziram levemente.

   Heewoon respondeu com um tom um pouco assustado, “Sim”, e se levantou. Parecia melhor manter uma certa distância de Seo Kangwoo.

   — Por quê? Isso fere o seu orgulho?

   — Não.

   Não havia mais orgulho.

   A boca de Kangwoo se contorceu enquanto ele observava Heewoon pegando sua bolsa no chão.

   — Isso não foi uma sugestão. Eu disse para você fazer isso. Pare com tudo até o final desta semana, entendeu?

   Com o olhar fixo em Kangwoo, Heewoon mexeu nas alças da mochila que estava segurando.

   O dinheiro é realmente algo assustador. Não importa o quanto Seo Kangwoo tenha dinheiro, não há garantia de que ele não pedirá de volta mais tarde. Heewoon tinha visto claramente como as pessoas se tornavam cruéis e desprezíveis quando se tratava de dinheiro.

   Estou aqui sem sequer questionar Seo Kangwoo, esperando silenciosamente até que o interesse dele diminua. Quando esse momento chegar, vou poder desaparecer sem problemas.

   Não deve demorar muito.

   Heewoon, considerando isso, abriu a boca.

   — Não quero.

   E então, ele saiu do quarto como se estivesse fugindo.

   Seu coração batia descontroladamente com medo de que Kangwoo o seguisse. Se perguntou se Kangwoo havia proposto isso porque estava de muito bom humor hoje.

   Só depois de sair da mansão, ele percebeu que ainda estava segurando o cartão. Ele riu sem motivo enquanto olhava para o cartão.

   Naquele momento, seu celular vibrou.

   [O que você vai fazer amanhã?]

   Seu coração afundou instantaneamente ao ler a mensagem.

   ***

   No dia seguinte, Heewoon entrou cautelosamente na sala de aula. Como ele chegou um pouco mais cedo, Kangwoo ainda não havia chegado. Heewoon desejou que o homem não tivesse ido à escola hoje.

   Dez minutos antes do início da aula, Heewoon olhou ao redor da sala de aula meio cheia e tirou um livro da mochila. Hoje, a aula seria conduzida de forma diferente, apenas com perguntas e respostas.

   Ele abriu as páginas dobradas e releu as partes marcadas com um marcador, organizando as perguntas. Por ter dormido um pouco, ele conseguiu estudar até altas horas da madrugada.

   Foi quando Kangwoo se sentou casualmente ao seu lado.

   — Olá, sunbae.

   — Ugh. — Heewoon ficou surpreso e soltou um gemido ao ver Kangwoo.

   — Você não vai me cumprimentar?

   — Oh… oi.

   Heewoon olhou fixamente para o espaço, incapaz de olhar para Kangwoo. Kangwoo inclinou a cabeça e olhou para o rosto de Heewoon.

   — Achei que você tivesse perdido a língua.

   — ……

   Heewoon franziu os lábios e abaixou os olhos. Ter tantos olhou neles ajudou um pouco.

   — Você tomou café da manhã?

   — Sim.

   O olhar de Heewoon pousou no canto do livro dobrado. Espero que o professor chegue logo.

   — Acho que o sunbae está sendo um pouco estúpido.  

   Uma voz baixa como um sussurro veio do lado. Heewoon apertou o punho sob a mesa e ficou alerta.

   — Quantas vezes eu tenho que te dizer a ele para não desviar o olhar?

   Heewoon virou a cabeça rapidamente, seus olhos se fixaram nos de Kangwoo enquanto ele falava.

   — Quando você está conversando, é básico olhar nos olhos. Entendido?

   — Sim.

   Heewoon acenou com a cabeça algumas vezes e o canto da boca de Kangwoo se curvou ligeiramente.

   — O que você comeu no café da manhã?

   Kangwoo levantou o queixo e perguntou.

   — Comi lamen.

   Enquanto Kangwoo olhava fixamente para Heewoon, o homem pressionou suavemente a parte inferior do pescoço dele com o dedo. Heewoon arregalou os olhos e abaixou a cabeça.

   — Você queria que eu notasse o que você comeu?

   — Não, eu não…

   Onde o dedo passara, havia respingos do caldo de lamen. Enquanto Heewoon tentava limpar a mancha no seu uniforme branco, Kangwoo riu silenciosamente.

   — Você prefere lamen do que arroz?

   O respingo de sopa de lamen onde o dedo tocara desapareceu. Kangwoo deu uma risadinha enquanto Heewoon, envergonhado, tocava a mancha em sua camiseta branca.

   — Só é mais fácil.

   Franzindo a testa, Kangwoo endireitou sua postura quando o professor entrou na sala.

***

   — Não posso almoçar com você hoje. Você pode se cuidar?

   Kangwoo disse ao saírem da aula. Ele falou como se Heewoon fosse uma criança e como se fosse seu cuidador pessoal.

   — Hm…

   No último semestre do quarto ano, havia dias em que Seo Kangwoo tinha apenas aulas de manhã. Mas não parecia que ele estivesse livre após o almoço, já que sempre saíam para algum lugar após almoçar juntos. Quando Heewon pensou na possibilidade de Kangwoo estar fazendo isso para assassinar ou ameaçar alguém, seu corpo inteiro se arrepiou, tenso.

   — E as aulas particulares.

   — Hã?

   — Você disse a eles que desistiu?

   Eles estavam prestes a sair do prédio da faculdade. Heewoon olhou para o céu nublado e engoliu em seco. Quando a resposta demorou, Kangwoo virou a cabeça.

   — Não, ainda não.

   A resposta havia escapado.

   — Ainda não?

   Quando ele perguntou, o coração de Heewoon bateu forte e ele começou a explicar. — Bem… é que a época dos exames intermediários está chegando para os outros estudantes e eu estou auxiliando esses alunos em um momento importante. Parar abruptamente seria ruim…

   Seo Kangwoo não disse nada. Os passos acelerados fizeram seu coração bater mais rápido e Heewoon se sentiu ridículo. Por que eu estou tão assustado com isso? Como não ouvir o que Seo Kangwoo está dizendo?

   Kangwoo parou.

   — Sunbae.

   — Hã?

   Heewoon olhou para cima, tenso. Kangwoo, com seu rosto inexpressivo, passou o polegar sobre sua sobrancelha.

   — Há algo em que estou pensando neste momento… e tenho duas opções.

   — …….

   A mão de Kangwoo pousou lentamente no ombro de Heewon. Ele apertou o ombro levemente antes de acariciá-lo, descendo suavemente pelo pescoço até o peito.

   — Posso fazer o sunbae me ouvir sendo incisivo… 

   Seu polegar pressionou suavemente o pescoço de Heewoon. Seu corpo estremeceu. O olhar de Kangwoo percorreu o pescoço de Heewoon e depois se fixou no rosto dele.

   — Ou posso cuidar de você e ser fofo.

   — …….

   O rosto de Heewoon ficou pálido.

   — O que você acha? — Kangwoo sussurrou, inclinando a cabeça para o lado.

   — Se você agir assim, acho que não vou conseguir me controlar.

   Kangwoo riu baixinho enquanto lembrava de Heewoon correndo para longe no dia anterior. Ele acariciou o ombro magro lentamente.

   — O que devo fazer, hein?

   Heewoon, que estava tão rígido quanto uma pedra, abriu a boca. Uma pequena voz se arrastou para fora, como o som do vento.

   — Cuide de mim…

   — O quê?

   Kangwoo inclinou a cabeça. Heewoon mordeu o lábio e levantou a voz.

   — Eu preciso que você cuide de mim, que seja fofo.

   Enquanto observava Heewoon corar de vergonha, Kangwoo de repente começou a rir. Ele bagunçou o cabelo de Heewoon com força.

   — Bem, acho que isso é o melhor.

   Os olhos de Kangwoo, que olhavam para o pequeno rosto, se suavizaram. Ele se curvou um pouco para baixo, encontrando o olhar de Heewoon.

   — Termine seu serviço até o final deste mês, está bem? Só faltam duas semanas, então não vai ser nenhum problema.

   Heewoon assentiu levemente com a cabeça. Por dentro, ele pensou: então, você quer dizer brincar comigo por mais duas semanas ou mais. A ideia de que essa vida continuaria por um bom tempo fez com que sua garganta ficasse apertada.

   — O… cartão é…

   — Eu te dei o cartão sunbae. Use-o se precisar.

   — …….

   Heewoon abriu a boca, mas não disse nada.

   Como ele estava com medo de se envolver em problemas devido a dinheiro, deveria ter dado o cartão para Seo Kangwoo, mas Heewoon apenas assentiu.

   Se ele devolvesse o cartão, Seo Kangwoo provavelmente não deixaria isso passar. Não o use, pensou Hee-woon, como se estivesse falando com alguém.

   Kangwoo endireitou a postura e perguntou sobre o almoço casualmente. Heewoon murmurou algo sobre comida do refeitório enquanto seguia os passos de Kangwoo.

   — Comida do refeitório… hm… bom, é melhor do que só comer pão. — Ele murmurou enquanto se afastava — Vejo você amanhã — e foi em direção ao estacionamento. Heewoon acenou com a mão de forma desajeitada, se virou e seguiu em direção à biblioteca central.

   Eu preparei um onigiri para o jantar. Terei que comer isso no almoço. No jantar, farei um lanche quando estiver dando aulas particulares. Pensou ele.

   Mas não houve lanches na sessão de tutoria das 8h30 naquele dia. Parece que o aluno que não gostava que Heewoon comesse durante a aula havia contado à sua mãe.

   Heewoon olhou para seu copo de suco de uva já vazio e olhou para o relógio. 9:45. Ainda falta um pouco. Provavelmente haveria lanche em sua aula das 11:00hrs. Seu estômago roncou novamente.

   — Cof, cof. Você já terminou?

   Ele limpou a garganta e segurou a caneta enquanto disfarçadamente cobria o estômago.

   — Sim.

   — Isso mesmo. Aqui é um espaço para os adjetivos, então os adjetivos devem vir… 

   — Ah, eu entendi.

   O estudante interrompeu as palavras de Heewoon. O olhar sob os óculos redondos encontrou o braço dele, que estava levemente sobre o estômago. O aluno olhou diretamente para Hee-won e falou.

   — Professor, porque você não sai pra jantar e depois volta. Não consigo me concentrar por causa do som de roncos do seu estômago.

   Heewoon ficou sem palavras enquanto olhava para o prazer malicioso que surgia no rosto sério do aluno. Seu rosto ficou vermelho.

   Ele se lembrou do cartão que estava em sua carteira.

   ***

   Os exames terminaram. No entanto, isso não significava que Heewoon podia descansar. Os exames intermediários para alunos do ensino médio seriam na próxima semana, então ele tinha que criar 100 questões de previsão para cada escola. Ele ainda só conseguia dormir de 3 a 4 horas por dia.

   — E se tirássemos nosso passaporte?

   — Hein?

   — É bom ter um só para o caso de, você sabe, viajarmos e…

   Enquanto bebia água, ele desviou o olhar para a mãe.

   — O que você faria se essas pessoas descobrissem algo sobre fazermos passaporte?

   Sua mãe tinha muitos medos. Parecia que ele herdara a personalidade medrosa dela.

   Ele sequer devolveu o cartão que Kangwoo lhe deu, nem o usou.

   O rapaz tomou um gole de água, evitando o olhar de sua mãe.

   Às vezes, quando estava muito cansado e estressado, ele se lembrava da existência do cartão. Por que eu não deveria gastar o dinheiro de Kangwoo enquanto passo por todo esse sofrimento? Era como uma recompensa pelos problemas que ele estava passando. Mas, mesmo enquanto tentava se convencer disso, várias perguntas inundavam sua mente.

   E se ele exigir que eu o pague de volta? Embora os agiotas ocasionalmente quisessem matá-lo, eles não conseguiam fazer isso, mas Kangwoo provavelmente poderia. E se o homem perder o interesse por mim de uma hora para outra e pedir que eu entregue o cartão? Eu não tenho trabalho no momento, então como poderia pagar as dívidas e essas despesas adicionais?

   Não havia motivo para Kangwoo ter lhe dado o cartão. Isso também era assustador. Seo Kangwoo já tinha poder suficiente sobre ele para mantê-lo calado.

   ‘É… só que isso me irrita…’ 

   Não foi explicação suficiente.

   Havia algo mais assustador nisso tudo.

   Se eu considerasse parar completamente as aulas particulares e vivesse usando o cartão, eu poderia viver muito melhor do que agora. Não precisaria me curvar para os alunos mais jovens do que eu e teria tempo para me preparar para um emprego.

   Então…

   E se, quando essa vida chegar ao fim, eu não me sentir completamente feliz?

   Quando Kangwoo deu o cartão para Heewoon, isso criou em seu coração um novo medo.

   Heewoon olhou para o rosto da mãe. Nos últimos anos, os olhos da mãe, que haviam mudado muito em aparência, estavam cheios de preocupação. O que ela desejava estava claro: segurança.

   Heewoon falou suavemente.

   — Não vamos dizer nada a ninguém sobre fazer um passaporte. Como eles saberiam, mamãe?

   — … Mesmo? Então devemos fazer um?

   — Sim. Vamos pagar nossas dívidas logo e depois viajar.

   A mãe, que olhava fixamente para Heewoon, assentiu com a cabeça.

   O passaporte foi emitido em menos de uma semana. Sentir o pequeno caderninho verde na mão trouxe um pouco de alívio a ele. 

   Então, ele o colocou na bolsa e ocasionalmente o tirava para acariciá-lo.

   Depois que os exames intermediários dos estudantes terminaram, ele teve um pouco de folga. No entanto, a tensão e a ansiedade só aumentaram. O prazo que Kangwoo havia mencionado se aproximara.

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Continua….

Tradução: Rize

Revisão: MiMi