Sem Forma - Capítulo 12
Heewoon cerrou os dentes ao sentir seu couro cabeludo ser puxado para trás. Ele agarrou a mão de Kangwoo que segurava seu cabelo. Seu olhar foi automaticamente para a outra mão de Kangwoo: se aquela mão fechada batesse em seu rosto, faria um som arrepiante.
Percebendo que Heewoon estava divagando, Kangwoo puxou sua cabeça para trás.
— Ah? O que você está pensando?
— Ah! Bem, eu fiz algo errado…
Um rosto severo apareceu.
Sua cabeça, privada de sono, parecia estar submersa na água.
Era injusto. Tanto Seo Kangwoo quanto o arrogante estudante de 16 anos que reclamava sempre que tinha chance, os agiotas, a mãe, o irmão… as pessoas que entraram em sua vida estavam confortáveis consigo mesmas e parecia que apenas ele estava passando por algo tão difícil.
A vida parecia tão cruel com ele…
— Por que está chorando?
Heewoon percebeu tardiamente a água em seus olhos. Lágrimas claras escorriam interminavelmente por suas bochechas e, em um instante, seus cílios molhados desceram.
A mão firme que puxava seu cabelo se soltou. O couro cabeludo estremeceu e ficou arrepiado.
— Por que está chorando por algo tão trivial?
Não era algo trivial. As ações que Seo Kangwoo considerava triviais eram uma grande ameaça e um terror para Heewoon. Ele sentiu uma súbita onda de raiva, mas ficou triste por ter que engoli-la.
— Ugh…
Depois de sufocar as lágrimas, Heewoon esfregou os olhos com as costas da mão.
— Eu bati em você?
Heewoon enxugou as lágrimas que continuavam caindo.
— Hã? Diga. Eu bati em você?
Kangwoo perguntou, passando os dedos pelas bochechas molhadas de Heewoon, parecendo incrédulo com a súbita explosão de lágrimas.
Heewoon, que estava soluçando, disse com os dentes cerrados.
— Minha cabeça, hmph, está doendo… hmph… está doendo…
— …….
Kangwoo olhou para Heewoon sem dizer nada. Seu rosto úmido contorceu-se tristemente. Ao ver Heewoon mexendo na nuca, Kangwoo soltou uma risada baixa e inclinou a cabeça para olhar para o rosto de Heewoon.
— Então. Você está chorando porque eu apertei sua cabeça e doeu?
— Ugh… não, não é isso…
— Bem, eu também acho que não.
Ele estendeu a mão em direção à cabeça de Heewoon. Fechou os olhos e fez um som de “shhhh”. Seus dedos longos passaram pelo cabelo dele, acariciando o couro cabeludo preguiçosamente.
— Tsk.
— Ugh….
— Tsk… eu disse para você ficar calmo.
O tom se tornou firme e Heewoon abriu os olhos fechados. Os olhos de Seo Kangwoo, que ele achava que teriam uma expressão irritada, estavam ligeiramente fechados.
Heewoon piscou os olhos algumas vezes. As lágrimas, que estavam sendo contidas, voltaram a cair em seu rosto. Kangwoo, com a testa franzida, mostrou um sorriso e enxugou as lágrimas.
— Vá dormir.
Kangwoo gentilmente empurrou a testa dele contra o encosto do assento. A agitação de Heewoon parou rapidamente quando Kangwoo estalou a língua.
— Feche seus olhos.
Heewoon fechou os olhos. Outra lágrima escorregou por sua bochecha e Kangwoo a limpou gentilmente com a língua. O peito de Heewoon tremia com as emoções que as lágrimas haviam deixado.
— Se você abrir os olhos, vai levar bronca.
— Ugh.
Ao ver as pálpebras de Heewoon tremendo, Kangwoo bagunçou seu cabelo.
Heewoon sentiu a mão se afastar de seu cabelo. Logo depois, o carro deu a partida.
Para onde estamos indo? Esquerda, direita… provavelmente, saindo do estacionamento, e…
Heewoon caiu em um sono profundo.
Ele havia pensado que dormiria bem se encostasse a cabeça em qualquer lugar, mas não esperava fazer isso ao lado de Kangwoo.
— Acorde.
O abalo firme em seu ombro foi tão forte que Heewoon gemeu ao abrir os olhos. Ele olhou pela janela com os olhos embaçados e percebeu que estavam na casa de Kangwoo.
— Saia.
Heewoon abriu a porta do banco do passageiro e saiu, tropeçando um pouco. Kangwoo, que estava observando com uma expressão de pena, se aproximou, segurou o braço dele e o conduziu para dentro da casa.
Barulhos vinham da cozinha onde Kangwoo tinha entrado. Heewoon olhou para trás e subiu casualmente as escadas até o quarto de Kangwoo no segundo andar.
O quarto de Kangwoo ainda era espaçoso, limpo e ligeiramente familiar. Ele olhou para a porta entreaberta e caiu na cama, coberta por lençóis brancos.
O sono veio rápido.
Um tempo depois, Kangwoo entrou no quarto e encontrou Heewoon dormindo de bruços na cama.
— Você está doente ou algo assim?
Estalando levemente a língua, Kangwoo se aproximou da cama, e tudo o que pôde ouvir foi a respiração calma de Heewoon. Kangwoo se aproximou para colocar a mão no ombro de Heewoon, mas acabou ajoelhando e descansando o rosto no canto da na cama em vez disso. Ele admirou o rosto adormecido de Heewoon.
Os olhos relaxados, as sobrancelhas retas, as bochechas coradas, os lábios ligeiramente entreabertos…
— Ei.
Ele cutucou suavemente a bochecha de Heewoon, mas não obteve reação alguma.
Ele olhou fixamente para o rosto de Heewoon por um tempo, depois olhou para o relógio e sacudiu para acordá-lo. Ele piscou lentamente e se sentou.
Kangwoo pegou a mão dele e o levou até a cozinha. Ele estava grogue e bateu com o nariz no ombro de Kangwoo algumas vezes.
— Você não tem olhos?
Franzindo a testa, Kangwoo se virou. Envolveu o rosto de Heewoon com as mãos e esfregou suas bochechas com força. As bochechas macias se amassaram como massinha de modelar sob as mãos que cobriam todo o seu rosto.
Heewoon sentou-se à mesa e olhou para baixo, atordoado. Havia um frango imaculado em uma panela de barro à sua frente. Sentiu um cheiro de ervas medicinais vindo de algum lugar. Então era isso.
Kangwoo disse que seria bom para ele e que ele deveria comer tudo. Nesse momento, Heewoon pensou: provavelmente vou vomitar um frango inteiro hoje.
Kangwoo disse a Heewoon, que ainda estava olhando para a tigela.
— Apresse-se, coma, e não fique se lamentando por estar atrasado novamente.
— Sim.
— Ha…
Kangwoo sorriu maliciosamente e colocou ginseng e alho na boca dele de propósito. Ele ficou surpreso, já que não esperava por isso.
— Está gostoso?
Kangwoo perguntou com uma risadinha, e Heewoon murmurou um pequeno “sim.” Kangwoo olhou brevemente para o relógio. Já passava das 6:30hrs.
As pálpebras inchadas de Heewoon não pareciam estar totalmente acordadas. Embora seus olhos não estivessem fechados, quando pegou um pedaço da carne com os pauzinhos acabou deixando cair antes mesmo do pedaço tocar seus lábios. No entanto, ele ainda estava movendo os lábios como se algo tivesse entrado.
Enquanto observava, Kangwoo se levantou com um barulho de cadeira sendo arrastada.
Heewoon finalmente recobrou seus sentidos. Depois de ouvir várias vezes que ele estava “mastigando de forma estranha”, parecia que o homem finalmente havia se cansado e levantado para bater nele.
— Ahh, agora vou comer direito!
Heewoon segurou os pauzinhos com firmeza. Com medo de que pudesse ser jogado para trás, sua mente repentinamente ficou clara. Um medo que ele não havia sentido durante o sono o invadiu de repente.
Heewoon olhou, pálido, e seguiu o movimento de Kangwoo. Mas, contrariamente às suas expectativas, Kangwoo segurou seus braços e o puxou para cima, o abraçando pela cintura enquanto se sentava. A ação abrupta fez Heewoon piscar, confuso, então ele se viu sentado entre as pernas de Kangwoo.
— Mantenha seus olhos abertos. Você está fora de si.
Kangwoo falou com uma voz rude, enquanto pegava os pauzinhos das mãos de Heewoon. Então, ele pegou uma quantidade generosa de carne com os pauzinhos e a empurrou para a boca dele.
— O tempero está bom?
Ele não tinha percebido quando Heewoon gaguejou sem conseguir responder, então Kangwoo pegou um pouco do caldo e provou, acrescentando um pouco de sal.
— Você nem sabe qual é o gosto, então não vale a pena alimentá-lo com algo delicioso.
Kangwoo sussurrou, esfregando o queixo dele. Heewoon, completamente acordada agora, piscou os olhos e tentou pegar os pauzinhos que Kangwoo havia tirado dele.
— Não posso deixar porque é frustrante ver você comendo desse jeito.
— Não… Eu realmente vou comer direito.
Kangwoo, que havia evitado a mão de Heewoon, disse em tom de advertência.
— Suas mãos. Coloque-as entre suas coxas.
Com esse tom de voz, ele não tinha escolha a não ser obedecer. No entanto, mesmo quando o homem não usava esse tom, não era como se ele não o ouvisse.
Coxas… Heewoon ponderou por um momento, depois cuidadosamente enfiou a mão entre as coxas de Kangwoo e as suas.
— … O que está fazendo?
— Hã?
Heewoon virou a cabeça e olhou para Kangwoo. Kangwoo, que estava franzindo a testa em descrença, de repente soltou uma risada.
— Hahaha.
— Ah….
Seguindo a risada infantil, ele abriu a boca levemente e uma pequena quantidade de arroz glutinoso e carne foi colocada dentro.
Heewoon comeu o que Kangwoo lhe deu e olhou distraído para fora. Ele estava preocupado com quem poderia vir. Era estranho que um adulto como ele estivesse sentado entre as pernas de outro homem enquanto comia.
Eles já tinham feito sexo algumas vezes no quarto, então os funcionários provavelmente sabiam. Ele se perguntou o que aquelas pessoas pensavam sobre ele e Kangwoo, fazendo sexo, comendo juntos e às vezes brigando.
Também se perguntou o quanto eles sabiam sobre o próprio chefe.
— Você engoliu?
Kangwoo inclinou a cabeça, olhou para Heewoon, e depois lhe entregou mais carne. — Mastigue bem.— ouvindo a voz gentil vindo de trás, ele pensou que, de qualquer forma, isso era muito melhor do que ser espancado.
Depois de comer metade do frango, a refeição terminou para Heewoon. Quando Heewoon disse que estava cheio, Kangwoo franzia a testa e enfiou a mão na camiseta do rapaz. Ele acariciou o estômago do outro, que ficou surpreso e enrijecido.
— Você tem um estômago pequeno. Ficou cheio só com isso?
A mão grande acariciou a barriga cheia e depois deslizou para fora da roupa. Heewoon olhou para trás e se levantou. Eram 7 horas. Se eu disser que preciso ir embora agora mesmo, Kangwoo vai me deixar ir? Provavelmente não. Afinal, para começar, é tudo uma questão de sexo.
Então eu vou vomitar de novo.
Heewoon mordeu o lábio enquanto observava as costas de Kangwoo, que pegou sua mão e o levou para o quarto. Ele estava realmente exausto hoje.
Mas ao contrário do que pensava, Seo Kangwoo não explorou o corpo de Heewoon: ele o abraçou e se deitou com ele. Quando Heewoon olhou para ele atordoado, Kangwoo disse: — Vamos dormir um pouco antes de irmos. Não durma como um pintinho doente.
— Mas e… e o sexo…?
— Por quê? Está desapontado? Quer fazer?
O braço forte que estava embaixo da cabeça de Heewoon se mexeu como se ele estivesse prestes a se levantar. Heewoon ficou assustado e segurou o ombro de Kangwoo.
— NÃO!
— Ouvir você dizer não com tanta veemência me faz sentir meio desconfortável.
Olhando para o rosto sem expressão de Kangwoo, Heewoon balbuciou uma desculpa de que estava com sono. Kangwoo começou a rir enquanto olhava para ele.
— Estou brincando. Vá dormir, vou te acordar às oito.
Heewoon olhou fixamente para Kangwoo.
Ele o tinha visto o homem dar vários socos em Lee Hyukjin e a ideia de ser agredido daquela forma o aterrorizava. Mas ele percebeu que precisava mudar sua perspectiva. Isso também aconteceu quando eles estavam no carro. Seo Kangwoo estava tratando-o com cuidado.
É claro que o problema é que o Seo Kangwoo considera como “gentileza”.
— Feche os olhos.
A mão grande cobriu seus olhos. Ele piscou surpreso e uma voz suave falou disse. — Não pisque, apenas feche os olhos.— Heewoon fechou os olhos.
A mão que estava pairando sobre seus olhos há algum tempo passou pelo cabelo dele e lhe deu um tapinha nas costas.
A luz fluorescente era forte, então Heewoon se virou e enterrou o rosto completamente no peito de Kangwoo. A mão que tinha parado começou a acariciar as costas de Heewoon novamente, que adormeceu rapidamente. Mesmo dormindo profundamente, ele pensou.
O que aconteceria se fosse espancado enquanto estava dormindo?
Heewoon abriu os olhos de repente em um momento. Enquanto esfregava os olhos ainda sonolentos, alguém começou a acariciar sua cabeça.
— Ainda faltam 10 minutos.
°
°
Continua…
Tradução Rize
Revisão MiMi