Sem Forma - Capítulo 07
— …….
A voz suave era muito parecida com aquele sorriso. Heewoon apertou o punho com força.
— Você não, sunbae?
— Eu… Também pensei muito em você.
Heewoon deixou escapar assim que percebeu as sobrancelhas de Kangwoo se moverem levemente. Ao contrário de Heewoon, que mantinha as costas retas, Kangwoo se apoiava relaxado na cadeira, inclinando a cabeça.
— Quanto?
— … Hã?
Engolindo com dificuldade, Heewoon piscou os olhos e disse timidamente.
— Eu… não consegui nem… dormir.
Era difícil acompanhar o humor inconstante de Seo Kangwoo. Heewoon ficou tenso, esperando que sua resposta o incomodasse novamente.
Kangwoo estendeu a mão para ele, fazendo com que os ombros de Heewoon se movessem em antecipação.
— Olhe para mim.
— …….
Ele realmente achou que seria punido. A voz de Seo Kangwoo estava muito baixa e o silêncio que preenchia o carro era pesado. Kangwoo, então, passou a mão sob os olhos escuros e encarou atentamente Heewoon.
— Você está assim porque não dormiu. — ele murmurou e de repente perguntou: — O que você comeu no almoço?
— Uh…
Heewoon piscou diante da pergunta inesperada. Ele havia comido alguma coisa, mas já não lembrava com clareza. Deixando Heewoon pensando em um estado de torpor, Kangwoo arrancou um pedaço de gaze da bochecha dele. Seu rosto estremeceu de dor quando ele verificou o hematoma colorido e pressionou o curativo na bochecha para reaplicar a gaze.
— Está com dificuldade para me responder?
— Não, não. Eu comi em uma loja de conveniência.
— E o que foi.
— Pão… comi pão.
Kangwoo franzia o cenho levemente e deu um tapinha na testa de Heewoon.
— Você está magro assim porque só come pão.
Seo Kangwoo sorriu como se eles fossem amigos íntimos. Ele acariciou o cabelo de Heewoon e disse: — vamos jantar juntos.
Heewoon não teve escolha a não ser dizer sim.
Kangwoo puxou a cabeça de Heewoon para que ele descansasse em seu ombro. Uma mão grande cobriu os olhos de Heewoon enquanto elr se inclinava na posição incômoda.
Eles dirigiram por cerca de 20 minutos.
Chegaram à casa de Seo Kangwoo. Um lugar ao qual Heewoon ia todos os dias até a semana passada.
Enquanto Heewoon olhava pela janela, Kangwoo perguntou se ele não tinha dormido. Não era de se admirar que ele não tenha conseguido dormir. Afinal estava apoiado no ombro de um assassino.
***
Depois de um mês observando de longe, era a primeira vez que ele entrava na casa. Os olhos de Heewoon percorreram o pátio espaçoso, passando pela porta da frente e a luxuosa sala de estar.
— Gostou?
Kangwoo inclinou a cabeça e olhou para o rosto de Heewoon.
— Uh? Sim, a casa é realmente bonita.
— Você provavelmente queria entrar aqui há um tempo.
Heewoon hesitou, mas finalmente assentiu e Kangwoo sorriu alegremente.
— Eu disse para preparar comida coreana porque não sabia do que você gostava.
— Uh… Obrigado.
Enquanto caminhava ao lado de Kangwoo, que parecia estar de bom humor, Heewoon encontrou alguns funcionários. Ele pensou consigo mesmo: será que essas pessoas sabem que Seo Kangwoo matou um homem? Aquela, provavelmente, não foi a primeira vez.
Uma grande mesa estava posta com uma grande variedade de alimentos. Heewoon, sentado em frente a Kangwoo, pegou sua colher de forma desajeitada. Ele se sentia como se estivesse sentado em um trono de espinhos. Embora a comida parecesse deliciosa, ele não tinha apetite. Nesse momento, Kangwoo casualmente soltou uma frase que soou como uma bomba.
— Vamos almoçar juntos todos os dias a partir de amanhã.
Heewoon agarrou a colher com a força que lhe restava. Sua cabeça estava girando. Ele engoliu em seco e disse. — … Eu… se está me vigiando porque tem medo de que eu conte a alguém… você realmente não precisa se preocupar com isso.
Kangwoo largou seus talheres. Surpreso, Heewoon acrescentou que estava dizendo a verdade. Kangwoo esfregou o queixo e olhou para o rosto assustado de Heewoon.
— Vigiando… acha que estou te vigiando?
— … Oh, não.
— Bem, eu ainda não sei como chamar isso. — batendo na mesa, ele continuou: — Sei que não vai contar a ninguém. Não vejo como um idiota que se tremeu todo por causa por alguns tapas possa fazer isso, não foi assim? — Heewoon acenou fracamente com a cabeça em sinal de concordância. Kangwoo sorriu ao vê-lo responder assim. — Pare de se preocupar à toa e coma sua comida.
A boca de Heewoon se abriu e depois se fechou com força.
Seo Kangwoo estava brincando com ele e isso era terrível. E se ele me matar enquanto se diverte com o meu desespero? E se ele me machucar de verdade? Talvez seja melhor denunciar à polícia. Se a polícia não conseguir lidar com isso, talvez seja melhor fugir para as Filipinas, para onde meu irmão está. Que sabe essa seja a melhor escolha.
Mas como ficaria a dívida? De jeito nenhum ele deixaria minha mãe e eu irmos para as Filipinas…
Mesmo que conseguissem escapar sem serem pegos, teriam que fugir pelo resto de suas vidas e isso era tão assustador quanto a dívida em si.
Enquanto olhava para o rosto pálido de Heewoon, Kangwoo franzia gradualmente a testa.
— Por que essa cara triste? Estou te incomodando?
— … Não. Mas talvez fosse mais fácil se não nos encontrássemos. Farei o possível para evitar você…
As palavras escaparam e, depois disso, houve silêncio. Heewoon mordeu o lábio com força e mexeu em sua colher.
Foi a risada de Seo Kangwoo que quebrou o silêncio.
Não devia ter dito isso. Murmurando para si mesmo, ele se levantou, olhou para Heewoon e perguntou gentilmente.
— Sunbae, você pode se levantar por um segundo?
— … Hã?
Heewoon se levantou da cadeira que balançava, sem saber que logo estaria caído no chão junto com a cadeira. De repente, Kangwoo deu um chute forte no estômago de Heewoon quando ele estava ao lado da cadeira. Com um baque alto, Heewoon caiu em sobre a cadeira.
— Ugh…
Heewoon levou a mão ao estômago e se agachou. A sensação era de que sua barriga estava sendo rasgada. A dor era tão intensa que sua visão ficou embaçada por um momento. Ele podia ver os chinelos se aproximando lentamente, então se esforçou para se afastar, mas a mão de Kangwoo foi mais rápida.
— Ai!
Kangwoo agarrou Heewoon pelos cabelos e o forçou a olhar para cima. Heewoon fechou os olhos com força ao ver uma grande mão no ar prestes a acertar sua bochecha, mas quando olhou para a gaze cobrindo o machucado no seu rosto, o homem apenas estalou a língua. Soltou a cabeça de Heewoon e perguntou gentilmente:
— Você pode se sentar direito?
— Hmph… sim…
Heewoon se levantou com dificuldade se apoiando sobre os joelhos. Seu estômago doía e suas costas naturalmente se dobraram. Olhando para o topo redondo da sua cabeça abaixada, Kangwoo disse, como se estivesse suspirando.
— Fui muito bom para você hoje, não fui?
— Mmm, sim.
— Então por que você continua me irritando assim, hein?
Kangwoo bateu de leve na gaze. A cada toque, os olhos bem fechados de Heewoon se apertavam mais e mais. Com os olhos fechados, ele não sabia quando o tapa viria, o que tornava tudo ainda mais aterrorizante. Talvez seja melhor ver com meus próprios olhos.
Heewoon abriu os olhos, inclinando a cabeça, e fez contato visual direto com Kangwoo, que estava olhando para o seu rosto.
— Ugh.
Ele ficou tão assustado que soltou um soluço.
Foi então que Seo Kangwoo estendeu sua mão. Heewoon fechou os olhos novamente e respirou fundo.
— Não, não, não me bata. Uh… Kangwoo… Ugh! Eu não vou fazer mais isso.
A mão, que achava que ia lhe atingir com força na bochecha ou em qualquer outro lugar, apenas roçou levemente o canto do olho de Heewoon. Tremendo, ele levantou as pálpebras, e os dedos que tocavam o canto do seu olho deslizaram levemente sobre seus cílios inferiores e se afastaram.
— … Uhg.
A cada soluço, o corpo inteiro de Heewoon se sacudia e sua cabeça se movia para o lado em um recuo. Kangwoo ficou olhando para a cena e depois falou.
— Se você sabia que seria punido, por que me provocou?
Heewoon abraçou seu estômago ao ouvir a voz baixa dele.
— Urgh… Sniff…
Enquanto soluçava, seu corpo se curvava de dor. Ele se perguntava se poderia ter machucado um órgão. Estava com medo. Mesmo que seus órgãos estivessem rompidos, tinha certeza que Kangwoo não o levaria ao hospital. Lágrimas surgiram ao pensar que poderia morrer.
Heewoon abaixou a cabeça e engoliu a saliva. Seu estômago estava estranho. Ele se sentia tonto, como se fosse vomitar, embora não tivesse comido.
— Quando eu falar com o sunbae, você só deve dizer ‘sim, entendi’. É assim que funciona.
— Sim, sim… eu entendi.
Nem sequer ocorreu a Heewoon que essas palavras pudessem ser ditas por um Hoobae um ano mais jovem do que ele. A verdade é que ele só não queria ser atingido.
Hoje, ele não esperava chorar. Heewoon olhou para Kangwoo, que enxugou as lágrimas de seu rosto encharcado, e estalou a língua.
— O que há de errado? Por que está com as mãos em volta do estômago? Você está com fome?
— Não… Está doendo.
Heewoon tremeu de raiva, mas baixou os olhos. Como meu estômago não estaria doendo depois de levar um golpe que me fez ser jogado longe?
— Se alguém olhasse para você, pensaria que foi espancado.
— Estou chorando porque está do-doendo… — Woo Heewoon levantou a cabeça e se defendeu. — Está doendo muito…
— ……
Kangwoo, que havia ficado olhando para Heewoon por um momento sem dizer nada, levantou-se.
— Levante-se.
— Oh, não! Ha… não está doendo nada…
Heewoon estendeu as duas mãos, pensando que Kangwoo o golpearia novamente. Kangwoo riu com incredulidade.
— Não está doendo nada?
— N-não… huu…
Sem saber o que fazer, o rosto pequeno de Heewoon se contorceu. Kangwoo suspirou pesadamente e disse:
— Não vai me obedecer? Quantas vezes mais você quer apanhar?
— Eu vou me levantar.
O rosto de Heewoon ficou instantaneamente úmido enquanto ele soluçava. Segurando seu estômago, Heewoon se levantou, com uma expressão de derrota. Suas mãos, menores do que as de Kangwoo, se fecharam firmemente.
— Haha… — Kangwoo virou a cabeça e soltou uma risada curta.
Heewoon, que se preparava para violência que estava por vir, foi puxado pela nunca. Por reflexo, ele fechou os olhos, mas algo macio tocou seus lábios. Quando abriu os olhos, surpreso, ele viu o belo rosto do outro muito perto. Kangwoo riu suavemente quando seus lábios se encontraram. O homem acariciou a parte de trás da cabeça dele algumas vezes antes de puxá-lo pela cintura. Não houve nenhum sinal de agressividade quando ele lambeu os lábios de Heewoon lentamente e deslizou a língua entre os lábios entreabertos, tocando os dentes da frente e fazendo cócegas suaves na língua úmida. Foi um beijo gentil, afetuoso, de um amante.
Heewoon foi puxado pelo abraço de Kangwoo e suspirou profundamente. Ele respirava de forma irregular devido ao esforço que estava fazendo e suas respirações se misturaram enquanto estavam tão próximos um do outro.
— Você continua me fazendo perder a cabeça e isso é um grande problema.
A mão que apoiava a cabeça de Heewoon acariciou suavemente seu couro cabeludo. Lágrimas escorreram dos olhos de Heewoon enquanto ele olhava para Kangwoo. Era algo que ele estava segurando desde antes.
Kangwoo sorriu, franzindo as sobrancelhas, e abaixou a cabeça para lamber as lágrimas com os lábios. Então, com um toque na bochecha do outro, ele se inclinou e deu um beijo rápido nos lábios levemente avermelhados de Heewoon.
— Agora você não vai mais chorar, certo? — Perguntou Kangwoo, com doçura. Heewoon assentiu levemente com a cabeça e a mão em sua cintura se afastou.
— Vamos comer. — falou mais uma vez Kangwoo despreocupadamente. Em seguida, voltou para a mesa e se sentou
Heewoon o observou por um momento antes de puxar a cadeira virada e se sentar também. Depois disso, Kangwoo não o tocou mais. É claro que Heewoon estava tão nervoso que não sabia se estava comendo pelo nariz ou pela boca. Foi só quando saiu da mansão e entrou no ônibus que ele percebeu que estava enjoado. A dor latejante na sua cabeça se combinou com a dor do chute em seu estômago, tornando-a ainda mais dolorosa.
A tempestade parecia ter passado. Ele estava apavorado com a súbita mudança de atitude de Kangwoo. A ideia de continuar a viver dessa forma o deixou ainda mais desesperado do que quando se deu conta que devia a agiotas.
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Continua….
Tradução: Rize
Revisão: MiMi