Sem Forma - Capítulo 01
Woo Heewoon se escondeu atrás das caixas de madeira. Seu corpo estava completamente oculto na sombra de uma pilha de caixas.
Puck
— Ahhhhhhh!
Ele fechou os olhos com força. Já havia ouvido várias vezes um som surdo, como se algo estivesse sendo golpeado, e escutou alguns gritos angustiantes umas quatro ou cinco vezes. Abraçou desesperadamente os joelhos, enquanto seu corpo tremia.
— Uhhh… por favor…
— Está pronto para falar agora? — disse uma voz baixa.
— Sim. Vou te contar tudo. Só… só não me machuque…
— Shhhh. É exatamente o que eu preciso.
Uma voz suave e que não condizia com a situação fluiu.
Ele reconheceu o dono da voz.
Aquele homem que estava torturando alguém grotescamente, era a mesma pessoa que ele tinha espionando nos últimos dias.
~~~~
— Oi, sunbae!
— Ah. Oi.
Seo Kangwoo, um Hoobae do mesmo departamento, era a pessoa que fazia o coração de Heewoon acelerar durante o dia todo graças a um simples cumprimento.
Seo Kangwoo tinha uma aparência bastante misteriosa. Parecia ser um bom partido para todos, mas às vezes havia uma estranha sensação de distância. Mesmo quando sorria, aquele jovem emitia uma energia fria. Mas para Heewoon, que sempre foi ansioso e tímido, ele parecia muito legal. Havia muitos rumores sobre Kangwoo. Terceira geração de chaebol, gângster, aspirante a celebridade: nenhum deles foi confirmado e Heewoon pensou que até mesmo seus segredos eram atraentes.
O coração de Heewoon estava em algum lugar entre o amor e a admiração. Só o fato de observá-lo já o deixava feliz. Ele queria vê-lo um pouco mais, saber um pouco mais sobre o homem. E foi assim que, devido a um momento de fraqueza que seu coração tomou a decisão errada. Desejou ter se despedido de Seo Kangwoo quando o viu, então, sem se dar conta, seguiu as costas largas do homem. Pensou por um segundo que não deveria estar fazendo isso, mas deduziu que o colega estava indo para a cantina.
O início da espionagem foi muito fácil.
Também esto indo lá, não estou te seguindo.
Mas não há nada de errado em andar atrás de uma pessoa.
Não posso continuar te seguindo até em casa.
Não vou fazer isso de novo.
Nossa, Kangwoo realmente tem uma casa maravilhosa, quem mais sabe que ele mora em uma casa assim? Acho que sou o único que sabe.
O segredo tinha um sabor irresistivelmente doce, mesmo quando ele pensava estar cometendo um crime.
Depois disso, começou a racionalizar novamente.
Não estou instalando câmeras escondidas na casa, não estou tirando fotos, nem enviando mensagens estranhas. Não estou fazendo nada para prejudicá-lo. Eu estou apenas observando.
Ele se sentiu culpado. Sabia que era repulsivo o que estava fazendo, mas não podia mais parar. Os momentos em que via Seo Kangwoo eram doces e felizes demais para ignorar.
Heewoon secretamente seguia Kangwoo entre o intervalo das aulas e se dirigia diretamente para a casa do rapaz assim que as aulas terminavam. Lamentava profundamente o fato de não ter muitas aulas com ele.
Quando chegou em frente à casa onde Kangwoo vive, ele se escondia atrás de uma árvore na rua e esperava. Assim, poderia ver Kangwoo, que todo dia passeava com o cachorro por volta das 8 da noite quando estava em casa. Mas nem sempre era possível vê-lo. Caso ele não aparecesse até às 8 da noite, significava que havia saído. Heewoon, então, geralmente ia embora esse horário.
Durante quase um mês, o jantar de Heewoon permaneceu sendo apenas um pedaço de pão.
De fato, nos últimos três dias, até seu café da manhã foi trocado por um pão com creme. Apesar de quebrar as regras, alcançou resultados emocionantes descobrindo que Seo Kangwoo estava correndo às 6 da manhã nos últimos três dias. Saberia com certeza se ele corria todos os dias nesse horário se ficasse de olho nele por mais ou menos uma semana.
Dessa forma, Heewoon gradualmente acabou ultrapassando a linha permitida.
Foi então que…
Duas aulas extra curriculares programadas de repente foram canceladas e Heewoon se escondeu em frente à casa de Kangwoo por um pouco mais de tempo do que o habitual. Atordoado pela mansão que se eleva sobre um alto muro olhando para ele, imaginou que a janela iluminada poderia ser o quarto de Kangwoo.
Ele não percebeu que era quase meia-noite e rondar a casa de outra pessoa a essa hora era uma coisa que apenas um stalking maluco faria, embora os critérios para julgar o grau de perseguição praticados por alguém eram sempre subjetivos.
De qualquer forma, ao perceber o exagero de sua parte, Heewoon ficou assustado e chamou um táxi. O bairro que estava era um lugar onde só moravam pessoas ricas, por isso não teve escolha senão pegar um táxi, afinal, ali não passava ônibus. Depois de certa espera, decidiu pegar um táxi até o ponto de ônibus que ficava a cerca de 5 minutos dali.
Enquanto observava o táxi se aproximando pelo aplicativo, uma grande porta se abriu e Kangwoo saiu de casa.
Nesse momento, Heewoon se escondeu meticulosamente na escuridão e voltou a observá-lo. Vestindo um terno ajustado e com o cabelo impecável, Seo Kangwoo estava em seu campo de visão e parecia ligeiramente diferente do habitual. Era simplesmente… perfeito.
Não foi nada absurdo surgirem rumores de que ele era um aspirante a artista. Ele parecia mais um ator de um filme clássico do que um ídolo, cantor ou modelo. Aquela aparência deslumbrante com certeza ficaria gravada em sua memória por um bom tempo.
Nesse momento, o som de um carro chegando foi ouvido. Temendo que o táxi tivesse chegado antes do esperado, Heewoon suspirou aliviado ao ver um carro importado preto parar em frente à porta da casa.
O homem entrou no banco traseiro do luxuoso carro e partiu.
Onde ele está indo tão bem vestido nesta noite? Enquanto pensava por um momento, Heewoon franziu o cenho e lembrou de um lugar. Uma boate. Mesmo que nunca tenha ouvido falar dele frequentando esse tipo de lugares, pensou que se Kangwoo fosse a uma boate, todos ficariam vidrados nele. Com sua altura e ombros largos, ele deve se destacar mesmo de longe. Como será que ele dança? Estou curioso.
O impulso aumentou e, antes que pudesse se controlar, o táxi chegou. Heewoon, ao entrar no veículo, disse:
— Por favor, siga aquele carro.
O taxista olhou confuso para Heewoon, mas quando ele disse que sua namorada estava tendo um caso, o homem seguiu o carro rapidamente, com os olhos brilhando.
(N/MiMi: Fofoca edifica.)
Seo Kangwoo, que ele esperava ir ao centro da cidade, gradualmente se dirigiu para as áreas periféricas. Quando os campos de arroz apareceram e as pessoas se tornaram cada vez mais escassas, o taxista olho para Heewoon, ansioso. No entanto, ele parecia aliviado após olhar bem para o rosto sorridente de Heewoon. Sua personalidade amigável também desempenhava um papel importante nessa situação.
Quando o carro na frente deles parou, Heewoon saiu do táxi. A tarifa da corrida era de mais de 50.000 won. Ele se arrependeu, mas decidiu aproveitar o momento. Seu coração vibrou com a expectativa de saber ainda mais sobre Seo Kangwoo.
Ele parecia não ter sido notado e, com isso, Heewoon observou Kangwoo e dois outros homens caminhando sem olhar para trás.
O carro estava parado em frente a uma pequena fábrica e eles entraram, um a um. Escondido atrás de um caminhão empoeirado, Heewoon espiou cautelosamente para dentro e os seguiu por trás. Por sorte, a porta ficou aberta, facilitando sua entrada.
Ele sentiu a atmosfera desconfortável assim que entrou na fábrica. É claro que teria sido muito melhor se ele tivesse sentido isso no momento em que o carro virou em uma área isolada ou quando ouviu os sons fracos de uma conversa, mas não havia mais o que fazer naquela situação.
Pôde ver Kangwoo com uma expressão impassível entre vários homens que estavam de costas para ele. E, na frente dele, um homem estava ajoelhado, implorando:
— P-por favor, me deixe ir.
A mente de Heewoon andava estranha ultimamente, desde quando ele começou a perseguir homem. Especialmente quando se tratava de Seo kangwoo, sua mente se comportava de maneira anormal. Quando sentiu o perigo, ele deveria ter saído da fábrica em vez de se esconder atrás de caixas. Na verdade, ele deveria ter relatado à polícia dali mesmo. Mas não foi o que aconteceu.
Não consigo escutar direito a conversa…
— Sim. Eu vou te contar tudo. Só… Só não me machuque…
— Se você disser mais uma palavra desnecessária, sua outra mão também já era. Já pensou como você vai comer ou fazer qualquer coisa como deve?
O som abafado que ele ouviu antes deve ter sido o som da mão de alguém sendo mutilada.
A boca de Heewoon estava fechada e uma respiração áspera saía de seu nariz. Essa cena causou arrepios em sua espinha. Esse era o segredo dele? Sua mente ficou em branco.
O que eu devo fazer?
O que eu posso fazer?
Devo sair em silêncio agora.
Não, preciso denunciá-lo primeiro.
Qual era o número da delegacia? Tenho que pesquisar na internet…
A mão branca que segurava o celular tremeu.
Ninguém realmente sabe que Seo Kangwoo é esse tipo de pessoa.
Heewoon não percebeu a empolgação que escorria levemente da lacuna entre o medo e o pavor. Em pânico, não conseguia se concentrar no som da conversa. Foi somente quando ele espiou pela abertura da caixa para avaliar a situação antes de enviar um texto com o número da delegacia que ouviu as vozes com clareza.
— Envie ele de uma vez.
— Espere um segundo! Senhor!
O homem que estava ajoelhado no chão segurou a perna de Kangwoo enquanto ele tentava se virar. O olhar de Kangwoo focou na mão que segurava suas calças.
— P-por favor…
Uma mão que só poderia ser descrita como esmagada deslizou pela sua calça limpa, deixando uma mancha escura na calça.
— …
Seo Kangwoo lentamente abaixou a cabeça e olhou para suas vestes. As sobrancelhas de formato perfeito foram gradualmente franzidas e a testa ligeiramente trincada. Os olhos de Heewoon, espiando por uma pequena abertura, não conseguiam piscar. Sob a luz fraca, a poeira flutuava no ar, e o perfil sombrio do rosto de Kangwoo se destacava. O tempo parecia se arrastar.
— Seu imundo, maldito.
Ouvindo palavras sussurradas em voz baixa, Heewoon piscou. A realidade o atingiu. Ele precisava denunciar isso. Apesar dos pensamentos vagarosos que haviam tomado sua mente, Heewoon só podia observar a mão de Kangwoo se movendo para o bolso.
O que quer que Seo kangwoo tivesse retirado brilhou intensamente sob a luz oscilante.
Aconteceu num piscar de olhos.
Com habilidade e sem hesitação, ele cravou a faca afiada na garganta do homem ajoelhado.
O Sangue jorrou do pescoço do homem como uma cachoeira. Observando o líquido formar um arco através da poeira flutuante e depois respingar no chão, Heewoon não tinha ideia do que acabara de acontecer.
— Uhgr…
O homem segurou o pescoço, soltou um gemido reprimido e caiu para a frente.
Foi então que Heewoon percebeu…
Seo Kangwoo… esfaqueou uma pessoa.
°
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Continua…