Pit Babe - Capítulo 01.2
Capítulo 01.2
Os gritos da torcida ecoaram pelo campo. Os colegas de equipe na área de espera nas laterais pareciam tão animados como se estivessem na competição. Os espectadores nas arquibancadas se levantavam animados de seus assentos, não querendo perder um segundo da ação. Até mesmo alguém que estava sentado com a cabeça baixa desde antes do início da partida não pôde deixar de levantar a aba do boné para assistir à cena emocionante, pois queria saber qual seria o desempenho do rei hoje.
A competição foi acirrada, como era de se esperar, uma vez que tudo o que se via na pista era a jóia no topo da coroa. Cada carro se esforçava para passar sem que ninguém desse nenhuma brecha. A pista sinuosa pode ser bastante assustadora para amadores e inclusive para pilotos novatos. Porque cada curva é um risco real. Há o risco de ser ultrapassado facilmente à menor perda de controle, ou de arriscar a vida se algo inesperado der errado.
Way, que observava a corrida de camarote, parecia menos entusiasmado do que os outros, não porque a corrida fosse entediante ou algo assim, mas porque ele achava que os quatro carros estavam em condições equivalentes. Era possível perceber isso pelos aplausos altos o tempo todo. Mas, honestamente, não podia negar que sabia o resultado desde o momento em que o apito inicial soou.
Bastava olhar os resultados do passado até o presente. Quem quer que tenha apostado todo o seu dinheiro que Babe seria o vencedor, essa pessoa estabeleceria um novo recorde e voltaria para casa com muito dinheiro e com vontade de abraçar seu benfeitor.
A impressionante partida de abertura terminou com aplausos do público. O resultado da competição não surpreendeu de forma alguma as expectativas dos participantes do setor. O rei da pista e seu famoso SSC Tuatara cruzaram perfeitamente a linha de chegada com o novo recorde destacado nas telas de exibição, para a inveja dos concorrentes.
“Boa corrida, como sempre, Babe.”
Way, que estava esperando na cabine, comentou sorrindo com orgulho. Babe teve um bom desempenho como sempre, apesar de ter tido vários problemas no início da corrida, portanto, não é de se admirar que todos chamam Babe de O Rei, porque até mesmo Way, que é um colega de equipe, o respeita há cada dia que passa.
“Valeu.” Babe jogou o capacete para os garotos da equipe antes de se aproximar do amigo para envolver os braços em volta de seu pescoço e dar um beijo na bochecha dele como recompensa por ser a pessoa mais doce e menos irritante da vida dele.
“Você viu a última volta?”
“Eu sempre presto atenção, como não veria isso?”
Way respondeu, se inclinando para beijar a bochecha de Babe assim que teve a chance. É claro que ele nunca se preocupou no que diriam, porque achava divertido ver a opinião das pessoas fofocando sobre seu relacionamento suspeito: “Foi maravilhoso. Não medi esforços para você voar”.
“Que aprendam a dirigir bem de verdade para me acompanhar.” Babe apertou levemente o queixo afiado de Way antes de apertar sua mão e se afastar, sem querer ouvir as palavras do convencido, que tirou as duas luvas e as colocou em sua bolsa pessoal abrindo o zíper de seu macacão de corrida com um certo desconforto.
“Você já está indo embora?”, perguntou Way quando viu que a outra pessoa estava parecendo que iria embora logo depois de terminar de competir.
“Sim, estou com sono.”
“Você não quer ficar e me ver competir?”
“Ver você competir é chato.” Babe franziu os lábios enquanto levantava a alça da bolsa sobre o ombro. “Você só acelera e acaba ganhando. Por que eu deveria assistir a isso?”
“Você é irritante!”
“Obrigado por assistir”, o famoso piloto fez uma reverência como uma bailarina. Antes de sair pela porta dos fundos da sala, sem se preocupar em esperar para ver seu amigo competir, como havia mencionado. Na verdade, esse cara não tinha quase nenhum interesse em ver alguém competir. Mesmo quando se tratava de sua própria corrida, na qual venceu no último segundo. Ele realmente nasceu com talento!
“Vejo você no lugar de sempre!”, Way gritou para ele. Enquanto isso, o cão raivoso foi embora sem se virar para responder. Ele também agiu como se tivesse tapado os ouvidos e não quisesse mais ouvir. Way viu isso e só pôde rir e balançar a cabeça levemente diante da falta de interesse de Babe pelo mundo, pois não sabia o que os outros pensariam. No entanto para Babe, isso lhe dá energia para fazer loucuras todos os dias.
Babe caminhou tranquilamente ao longo do caminho embaixo das arquibancadas. Essa área é bastante escura e não tem muita gente. Somente pilotos e funcionários podem passar por ali. Portanto, ele se sentiu mais confortável do que estar em um campo cheio de pessoas que estavam apenas olhando para o seu corpo, ele é bem sensível e isso faz com que se canse mais facilmente do que o normal. No entanto, ele não fazia nada diferente de qualquer outra pessoa.
Enquanto caminhava, sua mão fina pegou seu celular para olhar, movendo o dedo sobre a tela em branco pois, naquele momento, sua concentração não estava voltada para o que estava no celular, contudo, havia uma estranha presença atrás dele.
Ele ouviu passos, respiração e farfalhar de roupas. Podia sentir a temperatura de seu corpo e uma certa sensação que o perseguia há algum tempo.
Mas, estranhamente, não conseguia sentir o cheiro de nada.
Mais alguns passos e ele estaria caminhando em direção à saída do anfiteatro. Porém, pensou que a pessoa realmente pretendia segui-lo. Não havia como ele deixá-la caminhar até a porta. E se deixasse tudo para lá, o resultado final provavelmente não seria tão bom.
Ele deu sorte, hoje vou me manter firme nesse pensamento.
“Ah!”
Um grito de dor foi ouvido quando o famoso piloto de repente se virou, agarrou o braço do pervertido que o seguia e o jogou o mais forte que pôde até que ele estivesse deitado no chão. Vendo que a outra pessoa estava em desvantagem, Babe imediatamente subiu e se sentou em cima do pervertido gigante para impedir que a pessoa revidasse.
“Nesta área, somente o pessoal da equipe pode entrar!” Babe disse calmamente enquanto olhava para o suspeito que estava usando um chapéu preto e uma máscara combinando. Além disso, ele também estava usando óculos. Independentemente de sua aparência, ele claramente cobria o rosto de propósito. “Como você entrou?”
A pessoa se recusou a responder. Ficou simplesmente deitada como se não soubesse o que fazer em seguida. Sua atitude fez Babe pensar que esse cara deve ser um amador que quer perseguir alguém famoso porque a pessoa acabou de dar um fora nele. Ele simplesmente ficou em silêncio e não respondeu absolutamente nada. Mesmo sendo maior do que Babe, ele estava tremendo como se tivesse medo dele.
Se o estava perseguindo, por que parecia assustado? Não deveria ser ele o único assustado?
“Eu perguntei educadamente, por que você não respondeu?”. Babe manteve a voz baixa, forçando deliberadamente esse gigante com coração de formiga a abrir a boca para dizer alguma coisa. “Ou você quer que eu lhe faça outra pergunta?”
“…”
“Tudo bem, eu não estou mais bravo…”
“Me desculpe.”
Até mesmo a forma como ele respondeu não foi nada boa como imaginava. Essa pessoa abriu a boca e falou sem esperar que ele fizesse algo mais drástico. Ao ver isso, Babe ficou ainda mais confuso sobre como alguém tão covarde poderia se atrever a persegui-lo.
Ao se perguntar isso, ele estendeu a mão e tirou o chapéu, além de remover a máscara que cobria sua boca, para ver claramente quem era a pessoa que pensou em fazer algo assim e de onde ela veio. No entanto, os resultados não ajudaram muito. Porque, embora seu rosto estivesse claramente visível, ele não sabia de mais nada, pois nunca havia encontrado ou conhecido esse cara antes.
Uh… ou eu já o conheci?
Babe olhou seriamente para o garoto de óculos. Ele tentou se lembrar de onde havia visto alguém assim antes. Porque ele tinha certeza de que reconheceria se visse claramente o rosto da pessoa em sua frente, no entanto não foi possível se lembrar.
“Uh… eu…”
“Você estava vendo minha corrida, não é?”, interrompeu Babe antes que o acusado pudesse dizer qualquer coisa. A pergunta de Babe fez com que a figura alta franzisse a testa de surpresa. Anteriormente, os olhos por trás dos óculos estavam arregalados, como se tivesse visto um fantasma, quando ele ouviu a frase seguinte: “Stand A, em cima, do lado direito, você estava sentado lá?”
“ISSO MESMO!”
Babe ficou um pouco surpreso quando o cara que estava deitado tremendo de repente se levantou e parecia animado, fazendo com que ele parecesse estar sentado em cima dele. Babe teve que se levantar imediatamente, pois se continuasse sentado naquela posição, a situação poderia ficar ainda mais estranha.
“O que há de errado com você?”, disse o famoso piloto com uma expressão confusa no rosto. O estranho de repente ficou empolgado porque sabia onde ele estava sentado antes.
“As pessoas dizem que você tem cem olhos!”
“Hã?”
“Você pode ver tudo, você tem cem olhos!”
“Eu? Eu tenho cem olhos?” Logo no início, ele ficou irritado e achou que a pessoa ia dizer algo sério, mas agora Babe estava começando a pensar que a equipe deve ter deixado esse jovem fã alcançá-lo sem querer. Que tipo de idiota diria que outra pessoa tem cem olhos? Com uma expressão tão animada?
“Como você conseguiu identificar onde eu estava sentado?”
Babe deu um passo para trás quando o homem se levantou e veio direto para ele com uma expressão que parecia ter acabado de ver um astro famoso vestido com uma fantasia de super-herói ou algo assim. “Entre as centenas de pessoas nas arquibancadas, você ainda conseguiu me ver e se lembrar de mim.”
Babe não sabia como explicar essa questão, porque ele também não sabia a resposta. Percebeu que as coisas se tornaram assim. Seus sentidos eram muito mais apurados do que os sentidos das outras pessoas. Ele é capaz de ver coisas que os outros não percebem e pode reconhecê-las de forma extraordinária. Consegue sentir o cheiro de coisas que as outras pessoas não conseguem sentir. É capaz de reconhecer sons muito suaves e detalhados, bem como distinguir sons complexos. Ele consegue diferenciar muitos sabores e é muito sensível ao toque, a ponto de Way ter chamado essa habilidade de poder de super-herói. Mas, para ele, isso é apenas um incômodo que dificulta a sua vida.
“Isso é problema meu”, foi a resposta final de Babe. Ele respondeu com uma voz calma antes de balançar a cabeça levemente, como se tivesse acabado de perceber que havia desperdiçado seu tempo acidentalmente com algo sem importância. Esse garoto é apenas um fã estúpido. Não há nada de assustador como ele pensava. “Você pode ir embora agora. Antes que eu chame os guardas para arrastar você para fora.”
Depois de dizer isso, Babe saiu imediatamente. Entretanto, com apenas um passo, ele foi impedido porque foi agarrado no braço pelo jovem. O rapaz tinha uma expressão ousada, como se quisesse dizer algo, mas ainda não tinha certeza se deveria dizer ou não.
“O que você quer?”, Babe gritou porque estava começando a ficar irritado.
O que há de errado com esse garoto? Se fosse um fã, ele deveria saber que não tinha muita paciência. Então, por que ele não para de o perturbar? Apesar de ter lhe lançado um olhar ameaçador, o jovem não falou nada, apenas ficou ali tremendo.
“Escute, se você não falar, vou chamar os guardas”.
“É só que… espere.”
“O quê? Por que você está com medo? Eu não fiz nada!” Babe gritou irritado, parecendo tão furioso que esqueceu que há poucos minutos havia acabado de jogar o outro no chão com toda a sua força. “Não tenho tempo para ficar esperando o dia todo. Quero dormir…”
“Você pode me ajudar a entrar na equipe?”
Babe franziu a testa ao ouvir aquela frase estranha pela primeira vez. O homem parecia usar toda a sua coragem para dizê-la. Mas Babe só conseguia pensar mentalmente: será que ele não preferia usar sua coragem para fazer outra coisa?
“Tenho cara de recrutador?” Babe levantou um dedo apontando para seu rosto com uma expressão completamente perplexa. “Se quiser participar, se inscreva para a equipe e diga a eles o que você pode fazer. O que há de errado com você?!”
“Eu já me inscrevi. Muitas vezes”, gaguejou o jovem alto. Quanto mais era repreendido, mais nervoso ele se sentia. Mas se não dissesse isso agora, temia não ter outra chance. “Mas eles sempre acabavam me rejeitando, mesmo depois de eu ter passado em todos os testes, mas não demonstrei as habilidades de piloto.”
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Créditos:
->Tradução: Ashy
->Revisão: Gege