Jantar à luz de velas do assassino Lewellyn - Capítulo 03.3
Capítulo 03 parte 03
Psique
Os olhos de Shavonne não perderam o papel que Lewellyn segurava escondido no bolso interno de seu casaco.
“Não sei, olhando para a chuva?”
Lewellyn sorriu. Como sempre, ele tinha um sorriso indiferente, como se nada tivesse acontecido.
Mas Shavonne sabia que não era “nada”.
“E o senhor, Sr. Shavonne?”
Shavonne fechou a boca e mordeu o lábio inferior. Caso contrário, ele não conseguiria evitar que suas emoções cruas saíssem de sua boca.
Era mentira dizer que ele tinha saído para ver a chuva. Mentira. A palavra fez Shavonne ficar com o coração partido.
Lewellyn era o amante de Shavonne. Seu amigo. O único que estava do lado dele no mundo. Pelo menos, Shavonne estava tão convencido disso, até encontrar a cena de “aquele que está do seu lado” mentindo para ele. Mesmo que fosse uma pequena mentira, mesmo que fosse uma mentira inocente, era uma mentira.
Ele estava com dor de garganta. Quando Shavonne abriu a boca, uma voz que se contorcia como areia saiu dele.
“Você está dizendo a verdade?”
“Hum? O quê?”
Ele perguntou de volta com um rosto muito natural. Shavonne reprimiu seus sentimentos e respondeu.
“Que você veio aqui para ver a chuva.”
Ele deu a ele a chance de corrigir sua mentira. Shavonne queria que Lewellyn lhe dissesse que ele não tinha vindo ver a chuva, mas sim ler a carta, sem que Shavonne soubesse. Se ele fizesse isso, Shavonne poderia deixar passar, libertando-se da ansiedade de que “aquele que estava do seu lado” tivesse mentido. Dessa forma, ele pararia de duvidar de Lewellyn.
Mas…
“É claro que estou falando sério.”
Lewellyn ainda estava sorrindo. Era um sorriso tão malicioso que ele teria sido enganado, se não tivesse visto Lewellyn lendo a carta. Será que ele já havia enganado Shavonne com aquele sorriso antes? Se sim, quantas vezes? Shavonne se enrijeceu quando começou a pensar nisso. Ele tentou se descongelar, mas não conseguiu.
“Não minta”. O que Lewellyn dirá, então? Havia uma grande possibilidade de que sua expressão não mudasse. Por que Shavonne não confessou que viu Lewellyn vasculhando a lata de lixo e pegando a carta, ou tirou a carta do bolso interno do casaco de Lewellyn e a mostrou como prova? O próprio Shavonne não tinha a menor ideia. Lewellyn pediria desculpas? Seria bom se ele pedisse. Se ele se desculpasse, Shavonne poderia deixar isso passar, livrando-se da ansiedade de que “aquele que estava do seu lado” tivesse mentido. Dessa forma, ele pararia de duvidar de Lewellyn.
Mas e se ele não pedisse desculpas?
O relacionamento deles estaria arruinado. Era improvável que uma pessoa, que fosse pega mentindo, não se desculpasse, mas Shavonne não suportava questionar Lewellyn por medo de que a baixa probabilidade de que, isso, se tornasse verdade e destruísse o relacionamento deles.
Talvez seja apenas uma pequena mentira – nada. Como se alguém que gosta de cebola dissesse: “Não gosto de cebola”, ou alguém que não gosta de suco de limão dissesse: “Gosto de suco de limão”, uma mentira sem sentido que a pessoa não se lembraria de ter cometido se fosse perguntada um ano depois.
Sim, deve haver um motivo para Lewellyn ter mentido. Para Shavonne, era um motivo desconhecido, mas tanto faz. Primeiro, ele decidiu tentar entendê-lo o máximo que pudesse.
De repente, sua boca ficou seca. Shavonne engoliu um pouco de saliva. Ele sentiu náuseas.
“Por que você está lá fora olhando para a chuva no frio? Tão lamentavelmente”. Ele disse. “Se você vai fazer isso, faça dentro de casa.”
Por um momento, Lewellyn ficou parado olhando para Shavonne, mas então um sorriso animado se espalhou pelo rosto de Lewellyn.
“Como era de se esperar, você é a única pessoa que se importa comigo.”
Shavonne não tinha confiança para sorrir cara a cara. Virou a cabeça em silêncio e evitou o olhar de Lewellyn.
“Você ao menos tomou banho, depois que fizemos sexo?”
Shavonne perguntou depois que eles chegaram em casa.
“Eu ia lavá-lo quando o Sr. Shavonne se levantasse.”
“Huh?”
“Sr. Shavonne, você estava dormindo como um bebê, como eu poderia ligar a água e fazer barulho? Eu simplesmente não conseguia fazer isso.”
Como sempre, ele falava bem. “Ótimo, agora estou acordado, então vá se lavar”, disse Shavonne, jogando uma toalha enrolada. Lewellyn a pegou com habilidade sem deixá-la cair.
“E o senhor, Sr. Shavonne?”
Lewellyn revirou os olhos e perguntou. Shavonne fechou a gaveta do armário de toalhas e olhou de volta para Lewellyn. “Lave-se primeiro. Eu vou para o banheiro assim que você sair.” E depois de limpar a garganta, olhou para o cesto de roupa suja em frente ao banheiro. “Deixe suas roupas lá. Eu as lavarei.”
Lewellyn tirou o casaco e o colocou no cesto de roupa suja, mas ficou com a camisa e a calça. Ele não desabotoou a camisa nem desafivelou a calça. Shavonne ficou atônito. Ele não pôde deixar de rir.
“Você não vai tirar a camisa e a calça?”
“Não. Não vou tirá-las.”
“Por quê?”
“Sou muito tímido porque o senhor está aqui, Sr. Shavonne.”
“… Tanto faz, vá se lavar.”
Pouco depois de Lewellyn entrar no banheiro, ouviu-se o som de água caindo. Shavonne correu para o cesto de roupa suja. Tirou o casaco que Lewellyn havia deixado lá e tirou a carta do bolso interno. Como esperado, era a carta da Krainer Publishing.
Shavonne trocou cartas. Agora não tinha a de Turner, da Krainer Publishing, mas a de Oscar, da Peer Publishing.
Ele não se esqueceu de amassar a carta de uma forma aparentemente plausível. Ele não teve escolha a não ser fazer isso. Não pode ser, mas se por acaso Lewellyn quisesse que a carta prejudicasse Turner, o editor…
Pela primeira vez em sua vida, alguém havia dito que Shavonne e seus romances eram os melhores. Ele não podia permitir que essa pessoa fosse prejudicada. Mesmo que houvesse apenas uma probabilidade em dez de isso acontecer, Shavonne queria evitar todos os riscos com antecedência.
A carta verdadeira estava escondida na toalha de Shavonne. Talvez por estar enrolada, a toalha não mostrou que a carta estava escondida.
Como ele havia lhe dito, Shavonne entrou no banheiro assim que Lewellyn saiu. Com a toalha do lado que escondia a carta verdadeira.
Antes de tomar banho, Shavonne molhou a carta. A tinta se espalhou e as letras que Turner escreveu se tornaram irreconhecíveis, uma a uma. Por fim, ele rasgou a carta mole e a jogou na lata de lixo. A ansiedade de que Turner pudesse ser prejudicado havia se dissipado.
Mas essa foi a única. Ele ainda tinha a ansiedade de que “alguém do seu lado” estivesse mentindo para ele. Sua confiança havia se quebrado. Ela poderia ser restaurada, mas, ainda assim, os traços das rachaduras permaneceriam.
Shavonne fechou os olhos. Uma corrente fria de água desceu.
Se a solidão é o início do amor, o que faz o amor acabar?
Lewellyn tirou a carta do bolso interno de seu casaco e a leu. A palavra “A quem eu respeito” chamou sua atenção. Talvez fosse porque o papel estava tão amassado que ele não conseguia ler bem, mas parecia diferente de quando ele a leu antes. No entanto, depois de ler o conteúdo da carta por um tempo, Lewellyn refletiu sobre seu nome.
Peer Publishing, Oscar, Peer Publishing, Oscar…
***
O pôr do sol estava se pondo.
Há quanto tempo eu não saía do trabalho a essa hora? Uns seis ou sete meses. Oscar esfregou os olhos rígidos. O dorso de sua mão parecia áspero contra seu olho. Certo. Seria mais estranho que sua pele não sofresse depois de ter uma rotina diária de ir para o trabalho às 5h e sair às 12h por seis meses.
Ele entrou em um beco conhecido e parou na frente da casa. Uma casa independente de dois andares. Não era grande o suficiente para realmente parecer uma casa independente, mas não era pequena demais para Oscar morar sozinho. Além disso, ele passava mais tempo na editora do que em casa, de modo que Oscar, que só dormia em casa como um cadáver nos feriados, talvez uma vez por mês, não tinha motivo para se sentir desconfortável.
Alguém disse a ele. Se ele ficava em casa menos de 35 horas por semana, por que não se mudava para uma nova casa perto da Peer Publishing? É claro que Oscar recusou a ideia.
Ele trabalhava como editor de uma editora há 16 anos, colocando o trabalho à frente da família, dos amigos e dos amantes. Ele perdeu o contato com a família e não tinha amigos. Seu companheiro, que disse que se casaria com Oscar, também foi embora porque estava cansada dele. Tudo o que restou a Oscar foi o título de editor da editora, dinheiro e essa casa independente de dois andares na Unray Street.
Do lado de fora, a casa tinha uma cor avermelhada por causa do brilho do pôr do sol. As pilhas de lixo e sucata enferrujada na frente da casa e os folhetos que haviam derretido a ponto dele não conseguir reconhecer o que estava escrito originalmente eram vistos apenas como sombras negras. Oscar entrou em sua casa. A porta, que foi aberta com o som de uma rachadura, foi fechada com o mesmo som.
Lá dentro, estava escuro. O escritório, que tinha uma cortina completa para que nenhuma luz entrasse, não era exceção. Não bebo nada desde ontem à noite… Oscar franziu a testa. Estava tão escuro que ele não conseguia ver nada, exceto o contorno dos móveis. Ele estava prestes a ir até a janela e abrir as cortinas.
“Não se mexa.”
Ele ouviu uma voz estranha às suas costas. Ele queria pensar que tinha ouvido errado, mas a voz era clara demais para ser sua imaginação. Oscar parou exatamente na mesma posição em que tentava fechar as cortinas.
“É melhor assim. Para nós dois.”
Oscar não era uma criança imatura. Ele não era imprudente o suficiente para brigar cegamente com um intruso que poderia ter uma arma. “Solte.” Oscar soltou a cortina que estava segurando, como o intruso lhe disse. A cortina se fechou novamente, mas não tão completamente como antes.
Um raio de sol vazou pela fresta entre as cortinas. Como uma rachadura no chão, um longo brilho do pôr do sol se expandiu e, no final…
“Nada de espiar.”
Havia risos em sua voz. Como um adulto que diz a uma criança que reclama dos acompanhamentos: “Bebê, não seja exigente”. Mas era apenas o que parecia, porque era uma ordem clara.
“Se você olhou para mim, qual é o propósito de eu me esconder, certo?”
Não era uma boa ideia olhar para o intruso. Era a Unray Street. A segurança pública não era tão hedionda quanto a da Ira Street, mas também havia dezenas de casos de assassinato, estupro e incêndio criminoso por dia. Oscar não queria ser vítima de um crime. É claro que ele não queria que seu nome fosse colocado na seção “Procurando parentes” do 《Daily Bunch》. Oscar abaixou a cabeça com pressa.
Seu coração estava batendo forte. Quem é ele? Um ladrão? Mas ele é muito confiante para ser um ladrão… Enquanto ele pensava, o intruso abriu a boca novamente. Uma instrução inesperada saiu da boca do intruso.
“Fale”.
Fa… Falar? Oscar ficou perplexo. Enquanto inconscientemente levantava a cabeça para ver o intruso, ele percebeu tardiamente o que estava fazendo e apressadamente se curvou para trás. Felizmente, o intruso não pareceu se importar. Ele apenas repetiu as instruções.
“Fale. Faaale. Faaaaale.”
Ele achava que era um ladrão, mas não parece ser. Se fosse, não teria motivo para pedir que ele falasse. Foi então que a história de um doente mental assediando pessoas sem motivo passou por sua cabeça.
Oscar ficou ansioso. Se ele tivesse invadido a propriedade e o ameaçado, não seria um psicopata normal. De jeito nenhum, ele iria torturá-lo? Ele não ia matá-lo, ia? Os conteúdos dos romances de mistério publicados por Oscar até então começaram a vir à mente, um a um. Sua cabeça rapidamente se encheu de ansiedade.
“Você não sabe como falar?”
Em um piscar de olhos, o intruso se aproximou dele. “Você não tem uma língua?” Ele estendeu a mão e agarrou o queixo de Oscar, e não perdeu o momento em que Oscar gemeu para abrir a boca à força e colocar o dedo dentro dela. Oscar podia sentir as pontas dos dedos tocando seus dentes e sua língua. Essas pontas dos dedos eram tão frias que pareciam pertencer a um corpo morto.
“Está intacto.” Com uma voz calma, o intruso tirou o dedo da boca de Oscar. Oscar lembrou a si mesmo que deveria seguir o que o intruso dizia. Sem sequer pensar em limpar a saliva que escorria, ele abriu a boca apressadamente.
“O que, o que você quer? Eu lhe darei o que você quiser”.
Mas o intruso ficou em silêncio. Quando ele finalmente abriu a boca, sua voz era áspera.
“De novo.”
“Eh?”
“Diga de novo.”
Ele não sabia o motivo, mas fez o que lhe foi pedido.
“Eu lhe darei o que você quiser…”
“Diga: ‘Eles são incomparáveis’.”
O intruso interrompeu suas palavras. Sua voz estava abafada por algum motivo. Dessa vez, novamente, Oscar não sabia o motivo, mas fez o que lhe foi pedido.
“Eles são incomparáveis.”
O intruso ficou imóvel por um momento. Ele se virou e se aproximou da escrivaninha. Ele pegou três ou quatro capítulos do manuscrito que estava sobre a mesa e os amassou no bolso interno do casaco.
Oscar, que estava observando secretamente as costas do intruso com os olhos abertos, ficou constrangido. Aquele era o manuscrito no qual Oscar estava trabalhando há duas semanas. Era um manuscrito confiado a um escritor fantasma sem nome, mas a frase era tão terrível que não podia ser entregue ao departamento editorial da editora, de modo que Oscar, que estava encarregado dele, estava revisando-o. Ele tinha de enviá-lo até depois de amanhã. Era óbvio que nem mesmo um capítulo, quanto mais três ou quatro, seria capaz de cumprir o prazo se fosse roubado.
“Com licença, essa é a minha escrita…”
A boca de Oscar se moveu sem saber. Quando ele percebeu que havia feito algo presunçoso e fechou a boca às pressas, já havia protestado.
O corpo do intruso parou. As costas enterradas no escuro nem se moveram. O que devo fazer? Oscar sentiu que estava suando frio. Explico o fato como um lapso de linguagem? E se eu tentar explicar e ele disser que é uma desculpa? Enquanto ele pensava, o intruso abriu a boca.
“Você disse que me daria qualquer coisa que tivesse.”
Ele estava com o rosto de lado, visível apenas pela metade por causa da escuridão, de modo que as feições eram irreconhecíveis, mas não os olhos. Ele tinha olhos frios. Olhos amarelos que brilhavam como uma ave de rapina na escuridão.
“Você mentiu?” A voz acrescentou. “Sinto muito em ouvir isso.”
O dia estava chegando ao fim. Antes que ele percebesse, todos os arredores estavam escuros. O pôr do sol que havia escapado pela fresta das cortinas também estava desaparecendo.
“Sinto muito. Você saiu cedo do trabalho pela primeira vez em muito tempo, então deveria ter relaxado, mas eu o interrompi.”
O intruso deu um passo para trás. Sua sombra permeou a escuridão.
“Ah, vou lhe dizer que a fechadura da janela do sótão está quebrada. Ela abre apenas empurrando-a com um dedo. Por que você não a conserta o mais rápido possível? O mundo está tão terrível hoje em dia…”
Houve um som de estalo na porta antes de ela se abrir. O intruso estava prestes a sair. A mente de Oscar ficou em branco. Devo deixá-lo ir embora? Ou devo apunhalá-lo pelas costas?
Enquanto pensava nisso, o intruso que não era um ladrão e também não era um monstro que matava pessoas sem motivo disse: “Se você me der licença”, e saiu do escritório. Oscar, que ficou lá, olhou fixamente para a porta. Tudo tinha sido como um sonho.
***
Shavonne não estava lá quando ele voltou. Ele havia saído? Lewellyn precisava de um momento sem Shavonne para não pegá-lo e teve sorte.
Lewellyn comparou a carta do “homem” com o manuscrito que trouxe da casa de Oscar. Eu sabia disso. A caligrafia era diferente. Ele já havia adivinhado isso, pois a voz de Oscar era completamente diferente da voz do “homem” que ele ouviu pela porta, mas quando confirmou sua suposição com seus próprios olhos, sentiu-se amargurado.
Oscar não era “o homem”.
O homem estava se passando pelo Oscar. Então era uma imitação, hein. A personificação era uma prova sólida de que ele era uma fraude. Lewellyn estava convencido de que o “homem” era uma fraude que ousava enganar Shavonne por dinheiro.
Lewellyn queimou o manuscrito que havia trazido, da casa de Oscar. O que devo fazer? Ele pensou enquanto via a carta se desfazer em cinzas. Ele não tinha intenção de lhe dizer que o homem era um impostor. Shavonne já estava animada como uma criança com a ideia de ter uma pessoa que reconhecia a si mesmo e seus romances. Lewellyn não queria ser a pessoa que o tiraria da nuvem.
A resposta foi uma só. O próprio “homem” tinha de se afastar de Shavonne. O método era fácil. Se ele esmagasse dois dedos, um indicador e um polegar, “o homem” desapareceria sem que Lewellyn precisasse lhe dizer para fazê-lo.
É claro que Shavonne não poderia saber de nada disso. Para Shavonne, Lewellyn deveria ser um amante adorável.
Ele tinha que fazer tudo isso para evitar ser abandonado. Compaixão, narcisismo, vaidade, desejo, curiosidade… Todos eles tinham de ser extraídos de Shavonne para que ele não fosse abandonado por ele.
Lewellyn tinha de ser o pobre Lewellyn. Ele tinha que ser Lewellyn, que sentia vontade de se olhar no espelho, e Lewellyn, que era bonito, amigável, generoso e um bom amante. Lewellyn tinha de ser aquele que fazia Shavonne realizar coisas que ele nunca havia feito, e quanto mais se aproximavam, mais ele deveria querer saber sobre ele.
Para fazer isso, ele não deveria ser visto como uma pessoa sorrateira que investigava secretamente o que acontecia ao redor de Shavonne, e não poderia parecer uma pessoa desagradável que arruinava o bom humor de Shavonne.
Ele era bom em atuar. Não se preocupava em fingir que não sabia de nada ou que era adorável. Lewellyn sabia muito bem o que fazer e o que não fazer. Ele não seria jogado fora dessa vez. Ele já havia falhado uma vez, não haveria uma segunda vez.
Ele desenrolou o curativo em sua mão. Sentiu-se mal por isso, pois Shavonne havia enfaixado a mão, dizendo que assim ela sararia rapidamente, mas não conseguiu evitar. O ferimento estava cicatrizando. Apesar de ser um ferimento bastante profundo, causado por apunhalar, cortar e remexer enquanto se autoinfligia, o curativo parecia ter funcionado.
Lewellyn rasgou a ferida enquanto olhava para ela. Ele estava sangrando. Ele deixou o sangue cair e se acumular em uma poça no chão. Toda vez que o sangue estava prestes a parar, Lewellyn esmagava o ferimento para que ele não parasse. Ele fez isso cinco vezes. Ele ouviu a porta se abrir quando Shavonne voltou. Ele parecia cansado de seu passeio e sua pele estava pálida. Lewellyn não notou.
“Sr. Shavonne.”
Ele se levantou de seu assento. Não se esqueceu de fingir que estava tropeçando. Ele foi ao encontro dele e mostrou-lhe a mão com um rosto triste. Talvez por ele ter sido imprudente, minha mão estava coberta de sangue que ainda escorria.
“Está sangrando de novo.” Ele acrescentou. “Acho que está infectada.”
Ele gostou da maneira como Shavonne arregalou os olhos ao ver o sangue. Ele gostou do rosto torcido de Shavonne ao olhar para sua mão ensanguentada e ao estalar a língua enquanto olhava para o ferimento. Gostou quando ele estancou o sangramento, quando o enfaixou e gostou quando o repreendeu, dizendo: “Tenha cuidado”.
No entanto…
“O que você está fazendo sem o curativo?”
Shavonne respondeu. Sua voz era rouca e pesada.
“Eu ensinei você a fazer isso.”
Será que eu estava enganado?
Shavonne estava um pouco, só um pouco, mais frio.
Continua…
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Créditos:
->Tradução: Lady Millenium
->Revisão: Ariel