Angels - Capítulo 10
Capítulo 10
Addict
Pov Surgat
Tento jogar água em meu rosto, pra lavar a tensão que se espalha em meus ombros como se fossem várias porradas de espadas em meus ombros e braços, mas não ajuda muito e só me deixa mais molhado que cachorro depois de sair da piscina. Pego a toalha do ganchinho ao lado do espelho redondo de Ind, passando rapidamente na bancada da pia pra secar antes que ela me destrinche e me mate, literalmente. Saio para o corredor em direção à porta de saída na sala, destrancada por motivos de que ninguém se arrisca a tentar invadir a casa de uma comedora de carne humana.
Tento abrir e fechar a porta o mais silenciosamente, mas a maldita resolve ranger em ambos os movimentos, aumentando meu nervosismo o suficiente pra, quem sabe talvez, amassar a maçaneta dela. Abro as asas do lado de fora, as esticando como se não fizesse isso por séculos e, contrariando todas as regras de conduta dos lugares religiosos, me impulsiono para o céu noturno, sentindo o vendo quente bater em meu rosto e agitar cada um dos meus fios crespos quase que como um flerte.
-Que merda. – permaneço parado no ar, os olhos fechados e tentando fingir que todo o nervosismo sai com tanta facilidade quanto uma aura, sem sucesso. – Terminamos a quase tanto tempo quanto temos de vida, então por que isso me deixa mais irritado que satisfeito?
Não quero atrair problemas pra Indah, o que me faz, em um outro bater, me afastar relativamente bastante da casa dela. Lágrimas fervem em meus olhos e não me deixam saber para onde estou indo, mas não importa nem um pouco: ele quem escolheu que não queria nada depois que caí, direito dele, mas não quase enfiar uma lança no meu coração antes de dizer que tudo teria terminado.
-Não que fosse significar alguma coisa pro “senhor certinho”, que é a mesma maldita cara que todo mundo estampa em todas as representações de anjos nos últimos 2 milênios. – acho que a raiva sobe mais ainda, já que sinto as lágrimas virarem vapor, bufo alto. – “Olhem pra mim, eu sou o Reahel e nada me importa desde que eu siga Deus, nem que seja necessário o sacrifício de enfiar uma faca no coração do meu (até o momento) namorado e pipipi popopo.” – faço uma voz abestalhada e forçada. – Ele não tem direito de fazer isso comigo só porque estamos em repartições diferentes na nossa crença: relacionamento a distancia poderia até funcionar! – uma bola de cadeados muito velhos, daqueles que as pessoas criaram o hábito de prender em pontes ao redor do globo, surge em minha mão direita, carregando todas as suas promessas imbecis de amor eterno de tempo extremamente curto. A jogo contra o chão, mas ela atinge o telhado de uma casa e posso ver um tapete bonito pelo que restou do cômodo bombardeado. – Aí, se não desse certo, a gente terminaria num acordo comum de que era inviável, mas não! – jogo outra lá embaixo, que, dessa vez, atinge o meio de uma rua e fica fundo o suficiente para ser perigoso pra uma alma humana. – “Tome esse fora junto com uma exterminação no Inferno e uma LANÇA NO CORAÇÃO!”
Consigo invocar os malditos cadeados de novo e de novo, os atirando contra o chão com ranço extremo e o suficiente pra acabar com alguns diversos pontos. Retenho a mão antes de jogar outra bola de raiva, preferido parar e olhar o estrago: meu controle dos poderes são bem melhores agora e, puta merda, causaram o caos, já que as pessoas correm, gritam e choram em pânico, deixo a aura deles me invadir e, melhor que tudo: são como calmantes ou heroína.
Eu amo ser um demônio.
Mesmo sem olhar, sei que meus chifres apareceram e minha personificação foi pra casa do cacete, adquirindo minha forma real. Meus braços não passam de ossos revestidos por longas faixas de tule, que também envolvem minha cara e deixam mais assustador meu crânio com quatros chifres saindo da lateral de minha cabeça.
-Anjo filho de um Pai abusivo. – sussurro, mais pro símbolo de Allah na cúpula do Jahannam do que para mim. – Tudo bem: tenho um anjinho que só tenho que colocar pro meu lado, mesmo que ele não saiba ainda que quer, e que lugar melhor pra isso que direto nos infernos?
As pessoas começam a olhar pra cima, pra mim, apontando e gritando e agindo como se fosse o fim do mundo um demônio estar em sua aparência natural, mas ainda assim volto para minha aparência humana, indo rapidamente na direção da casa de Indah. Recolho as asas para poder descer de uma vez e fecho meus olhos, deixando meu corpo a mercê da gravidade, que me arrasta num abraço sufocante em direção à varanda dela.
Me sinto no clipe de Bring Me To Life, do Evanescence, quando a Amy Lee diz “Eu tenho dormido há 1000 anos, parece”. Abro os olhos e as asas, parando a menos de cinco centímetros do chão, o que me faz esticar o pé para ter algum apoio, Indah já está na porta, me esperando com os braços cruzados na altura de seu abdômen.
-O que você aprontou, Sugi?
-Só precisei esticar as asas depois de fumar, é ilegal agora?
Ela respira fundo e aperta a ponte do nariz.
-Eu não sou sua mãe e muito menos sua babá pra ficar dizendo o que você deve ou não fazer: você é adulto.
-Então por que veio me esperar se não foi pra dar sermão?
-Melhor bater na sua cara antes que eu bata, Surgat: eu sou sua amiga! – ela me dá as costas, voltando a entrar no escuro do interior da casa, a sigo. – Por Allah: quando você se tornou tão grosseiro assim?
Não seguro seu braço, mas consigo me espremer pra passar a sua frente, interrompendo seus passos decididos. Indah, mesmo que esteja usando seu parco poder para ficar numa altura mais humana, continua sendo muito maior que todos nós, com seus quase 2,15m, o que me obriga a ficar numa distancia razoável e ainda olhar pra cima.
-Ok, ok: me desculpe, descontei em você a tensão que sinto por conta da minha história com o Rel e isso não é certo.
-Mas…
-Eu meio que fui visto na minha forma demoníaca enquanto eu voava pra relaxar a cabeça.
Se nós vivêssemos em um desenho, tenho certeza que teria fumaça saindo das orelhas dela, passando os fios grossos de seu cabelo negro e o hijab azul que ela usa em conjunto com um baby-doll no mesmo tom e acetinado.
-Eu quebraria o seu pescoço agora mesmo, se não soubesse que provavelmente você iria causar estragos no chão da minha sala. – suas mãos apertam meus ombros e me sacodem. – Azazel não te viu, viu?
-Acho que não: ele teria vindo falar comigo ou estaria na sua porta, caso fosse.
-Su, vocês tem que ir agora, antes que ele apareça e…
As portas dos dois quartos se abrem e tanto Rel quanto Ethan, ambos sonolentos, saem aos bocejos.
-Por que estão falando alto? – Rel veste uma das camisetas de Ind, das tipo regata, me dando a visão de seu pescoço cheio de chupões.
-Desculpe, docinho, mas terão de ir embora agora porque um certo… – seus olhos vermelhos me fuzilam. – Imbecil… fez o favor de atrair a atenção pra si. – ela me solta e estala os dedos para estar completamente vestida com um vestido folgado amarelo, que se destaca em sua pele negra. – Troquem de roupas e caiam fora, por gentileza.
Seu tom acelerado é o suficiente para que ambos entendam e, em pouco mais de um minuto, estejam completamente vestidos em suas togas. Abraço Indah e ela retribui, acariciando o meu cabelo ao fazê-lo.
-Você é um inconsequente, Sugi, mas continuo gostando de sua amizade.
-Eu também gosto de você. Vai ficar bem?
-Azazel não vai me fazer mal nenhum, considerando que sou eu quem aterroriza mais os humanos do que ele mesmo. – seu sorriso é tenso, mas me obrigo a soltá-la para que se despeça dos outros dois.
Ethan se limita a um tímido abraço e um “obrigado” sussurrado, que é correspondido com um convite para que ele venha mais vezes e Rel… Bem, eles trocam beijos, abraços e promessas de se verem de novo, o que ferve meu sangue mais ainda.
-Chega, chega que não temos o dia todo! – praticamente tenho que o puxar pela gola pra que se afastem, arrancando uma risada da negra.
Refaço os meus passos até a varanda, com os dois na minha cola, atravessamos a porta de vidro e respiro aliviado por não ver Azazel aqui.
-Méééé! – me sinto num filme de drama ao virar e ver a cabra ao lado da porta que acabamos de sair.
Uma aura laranja inicia sua girada nas patas da cabra até a envolver completamente e dela aparecer um rapaz ruivo de cabelo comprido e cacheado, de pele bronzeada e olhos iguais aos das cabras (com a pupila comprida na horizontal), num tom castanho-claro luminoso. Ele está vestido com uma blusa vinho de manga comprida, cheio de detalhes em amarelo que, para mim, parece formar uma lacraia em direção ao seu pescoço, com apenas alguns poucos botões no meio deste desenho, qual o primeiro está aberto, revelando uma corrente de prata ligada a um circulo atravessado por uma reta e que, no meio desse, sustenta um losango com pequenos círculos nas pontas que se ultrapassam. Ele não tem quadril ou pernas humanas, mas sim a parte anterior de uma cabra, porém grandes o suficiente pra deixarem ele na altura de uma pessoa adulta. Os chifres de Azazel são pequenos e pretos e suas asas se abrem, mostrando partes cobertas diretamente com ouro, seu sorriso se abre ao sustentar meu olhar, revelando caninos relativamente compridos para uma pessoa, mas curtos em comparação as presas de Lúcifer.
-Ora, ora, ora. – seus cascos fazem um barulho irritante contra o chão de pedra. – Achei que nunca mais fosse dar a cara aqui, primo Surgat.
-Oi Az.
-É muita coragem vir aqui depois de eu te levar aos pedaços pro Inferno.
-Sabe que eu ainda sou amigo da Indah, por mais que você me deteste.
-Um contratempo, mas tudo bem: perdi o interesse em te despedaçar depois de ver esses dois humanos ao seu lado, – abro as asas para tapar a visão dele sobre os dois anjos, – a senhorita Bulan come esse tipo de carne.
-Eles são meus amigos e, agora, dela também.
Sua sobrancelha se ergue em desconfiança, mas então ele inspira profundamente.
-O cheiro dos dois é ótimo, quase angelical. – num instante, ele está ao lado de Ethan, segurando sua mão num cumprimento educado e leva até a boca para depositar um beijo delicado. – O correspondente a Lúcifer nesta religião, só que muito mais gostoso.
Reahel pula entre Az e Ethan, abraçando o irmão (paralisado) e erguendo o bastão dos potestades no pescoço alheio.
-Fique. Longe. Do. Meu. Irmão.
Cubro a cara com vergonha: ELE ACHA QUE ESTAMOS NUM FUCKING FILME DE AÇÃO?
-Ah sim: o faro não falha, amore. – seu olhar passeia entre nós três, com a mesma diversão homicida que quando o conheci, logo depois de abater e comer um anjo. – Três só pra mim? Isso vai ser divertido.
Antes que se mexa, uma bola de fogo o envolve, com um grande cadeado formado dos mesmos cadeados que antes joguei longe, seguro o pulso de Ethan e o puxo, batendo as asas no processo. Ambos me acompanham com rapidez enquanto atravessamos o céu em direção ao sul, para acharmos o templo que contem as portas e cairmos fora daqui. Consigo ouvir o barulho quando Az quebra sua pequena prisão e começa a nos seguir.
-VOCÊ TEM MERDA NA CABEÇA, REL? – agradeço no meu interior por termos asas e isso não consumir nossa respiração, senão estaríamos fodidos mais que quem transa na praia.
-NÃO GRITA COMIGO: VOCÊ QUEM NÃO FEZ NADA PRA AJUDAR O ETHAN!
-ELE TAVA SEGURO DESDE QUE NÃO FIZESSEMOS MOVIMENTOS BRUSCOS, SEU ANJO RETARDADO. – olho pra Ethan, que aperta minha mão como se fosse uma criança assustada, lhe ofereço meu melhor sorriso tranquilizador. – Vai ficar tudo bem.
-Eu… Eu peço desculpas por não ter feito nada…
-Não precisa se preocupar: quem cagou tudo foi o imbecil ali.
Ele balança a cabeça, negando, entrelaço nossos dedos e isso o faz sorrir minimamente, o que derrete toda a dignidade que tenho ainda.
-Meninos… – a voz de Azazel é cantarolada e ele vem em uma velocidade espantosa, arrepiando todos os pelos do meu corpo numa forma nada boa. – Venham para brincarmos…
Reahel resmunga algo que não consigo entender, mas ignoro. Sinto um calor sob a barriga, continuo a olhar para frente e a bola de fogo azul logo alcança meu campo de visão. Azazel não é exatamente o tipo de pessoa paciente, então outras bolas acompanham a primeira com rapidez, ao mesmo tempo em que o imbecil-cabra canta como se estivesse indo para um piquenique.
-O que ele tá fazendo? – a voz de Ethan é só um fio quando ele levanta um pouco para desviar de uma das bolas, Reahel o puxa para perto para protegê-lo melhor. – Por que não atira nele?
– Eu não posso por motivos diplomáticos. – desvio de uma bola que praticamente queima um pouco do meu cabelo. – Azazel é meio que a Lúcifer daqui: o machucar seria praticamente pedir pra rolar uma espécie de “Cruzadas parte 9” no mundo humano.
Reahel abre a boca pra reclamar, mas é interrompido por um clarão que nos atinge e mais parece um soco fortíssimo nas minhas costelas, atirando cada um de nós para um lado. Sinto galhos e folhas baterem nas minhas costas, arranhando meus braços e rosto até que eu praticamente chegue no chão numa violência que puta merda. Minhas costas doem feito o inferno, me lembrando (novamente em menos de dois dias) de quando cai.
-Cabrito desgraçado. – consigo me sentar, passando as mãos nos braços para tirar a terra e umas pedrinhas filhas da puta que criaram pequenos buracos. – Como você tá, anjinho? – viro para os lados, o procurando. – Anjinho?
O garoto não tá em nenhum lugar, tirando o calor das minhas extremidades.
-ETHAN? – num pulo, estou de pé, abrindo as asas para as balançar.
Os segundos parecem demorar entre meus passos, me dando a impressão de que Ethan já possa estar reduzido a um corpo todo mordido e sangrento quando o encontrar, mesmo que eu siga o som de seu soluço alto. Uso minhas asas como se fossem facões para abrir caminho, por mais que doa considerando que acabei de tomar uma puta queda. Afasto alguns poucos galhos e animaizinhos que ousam ficar na direção com mais violência que o necessário, vejo algumas penas caídas e as uso como direção, até o ver ajoelhado, segurando uma das asas que não está virada em uma posição nada natural. Az está a vários passos, as asas bem abertas como as de um pássaro em posição de ataque, seu sorriso aberto se estende até quase suas orelhas, como se ele tivesse cortado.
-Um anjo, dois anjos e um demônio que eu vou ter o prazer de matar na unha só pra o lembrar quem manda aqui. – eu já disse que ele é insuportável com essa mania de cantar em vez de falar? Se não, quero que coloquem isso na minha lápide. – Mas vamos começar pelo mais fraco pra eu o forçar a comer sua carne enquanto eu me alimento dele.
Ethan cruza os braços de um jeito a criar um “X” e, como se fosse mágica, as pedras se erguem do chão, se transformando em vespas enormes que fazem um barulho ensurdecedor, mas avançam em Azazel o transformando numa espécie de ovo barulhento amarelo e preto, que o fazem gritar como se estivesse tendo ácido caindo em seu corpo. Corro até Ethan, que parece hipnotizado pelo show de horror que Az, o grande líder do Jahannam, está proporcionando.
-Consegue retrair as asas? – me coloco entre ele e os insetos, atraindo sua atenção, mas ele nega com a cabeça. – Talvez doa, então tenta relaxar até acharmos o Rel.
O jogo sobre o ombro bem no estilo homem das cavernas, por mais que não seja o bastante pra que ele não resmungue de dor e tenho de controlar toda a vontade de apertar sua bunda por um momento. Mal retorno ao caminho que abri e acabo dando um encontrão em Rel, que, tirando as manchas de terra em sua roupa branca e um pequeno hematoma em seu pescoço comprido e esguio, parece totalmente normal. Só gesticulo com a cabeça para atrás de mim e os gritos que soam ainda mais perturbadores no meio das árvores atrás de mim, ele entende e assente, me puxando por um caminho lateral ao que percorri com velocidade, quase que ignorando que está descalço. Não sei por quanto tempo andamos, sei que meus pés doem quando paramos e posso liberar o anjinho, que está com uma cara apreensiva ao sentar no chão, segurando a asa em posição nada natural.
-Parou de doer, mas acho que cicatrizou no formato errado. – Rel se ajoelha ao seu lado para observar, meu cérebro de passarinho tenta processar o susto que tomamos e, bem, me convence a acender um cigarro. – O que eu faço?
-Vamos quebrar e colocar no jeito normal. – dois pares de olhos me fitam apreensivos, resisto à vontade de me virar de costas.
-Surgat, você pode ajudar? – dou uma ultima tragada no cigarro antes de fazê-lo desaparecer na palma da mão, me ajoelho ao lado dos dois.
-Quer que eu faça o quê?
As mãos do garoto entrelaçam as minhas enquanto Rel analisa as asas alheias procurando a melhor forma de fazer o que tem de fazer sem machucar Ethan.
-Como você fez aquilo? – me concentro em suas mãos quentinhas, jogando qualquer assunto para o distrair.
-O que?
-Aquela montanha de vespas em Azazel, como conseguiu fazer isso?
-E-e-eu nã-não sei: só fiquei com medo e depois ele tava sendo coberto por vespas e… Ah! – ele se curva até apoiar a cabeça em meu peito e sinto suas lágrimas molharem minha blusa e tenho de conter a vontade de quebrar as asas de Rel por causar dor no anjinho.
-Dá um minuto pra ela voltar ao normal e na posição certa, El. – Seus olhos azuis viajam do irmão para mim, gelando no minuto que encontra os meus. – Você acha que Ethan é alguma entidade pra invocar insetos em ataques coordenados?
-Olha, em teoria, todos nós somos entidades: estamos vivos por conta dos humanos.
Rel ergue a mão para que eu pare, com um revirar de olhos que me parece que ele consegue ver o próprio cérebro nesse gesto.
-Você me entendeu!
-Só perguntei o que vi com meus próprios olhos: não sou de mentir pra criaturas além de humanos burros o suficiente pra acreditarem que todos os demônios podem comprar suas almas com promessa de grandeza.
-Eu já salvei muito humano nas suas mãos com seus mapas falsos!
-Humanos burros, eu já falei. – dou de ombros, ele tira o menor de meus braços e aperta contra o próprio peito.
-Sua sorte de ainda nos ver é que precisamos de você pra achar a Lilith! – Ethan abre ambas as asas no máximo e as bate, sem fazer careta, sinalizando que já podemos ir pro Gehinom, que é o mais próximo do inferno que o judaísmo tem.
Os conduzo em direção à estação de portas local, conseguindo diminuir consideravelmente o tempo. Minha mente não está exatamente aqui e sim na linha cronológica de Rel, tentando conectar em que momento ele deixou de ser aquele anjo pateta e cheio de piadinhas para se tornar esse embuste chato pra caralho.
Apesar de tudo, ainda tem uma parte que está seriamente irritada com ele por não querer nem mesmo conversar comigo sobre isso sem ser numa espécie de “confronto Scar VS Mufasa”. Sinceramente, quando me apaixonei por ele, achei que Deus estivesse sendo realmente bondoso e agradecia todo momento da minha vida por ter a possibilidade de alguém tão incrível ao meu lado, mas parece que cair alterou tudo e a morte choveu com mais força ainda.
I’m addicted to the sorrow When the buzz ends by tomorrow
Meus demônios internos (ironia? Eu sei, mas fazer o quê?) sussurram para eu o machucar muito, o drogar talvez: mostrar um pouco do mundo sob a perspectiva do pecado e o trazer para o Inferno, pra que ele consiga namorar a Indah e minha amiga ficar feliz, mas acho que meu lado de anjo ainda existente discorda e parece atuar para que meus pensamentos fiquem longe de seus cabelos loiros espetados. Não sei o que fazer, então só acendo outro cigarro, desejando que a fumaça que trago possa levar também a parte de mim que se machuca se preocupando com o que ele pensa.
There’s another rush of poison flowing into my veins Giving me a dose of pleasure that resides by the pain.
-Surgat, você está bem? – A voz do menor me tira dos devaneios doloridos e parece apagar, mesmo que momentaneamente, Reahel de minha mente cansada. – O moço da bancada disse que podemos atravessar a porta, mas não sei se você ouviu.
There’s another rush of poison flowing into my veins Giving me a dose of pleasure that resides by the pain.
Percebo que já estamos dentro da estação e eu estou sentado de qualquer jeito em um canto, dois cigarros entre os dedos, cada um com um tamanho diferente, mas ambos acesos. Solto a fumaça que nem sabia que estava prendendo, sumo com ambas as guimbas enquanto o acompanho em direção à porta feita de metal fundido com a placa “Gehinom” em uma caligrafia muito rebuscada: o pessoal do islamismo tem uma tendência a fazer coisas extremamente decoradas que casam perfeitamente e traz uma imponência foda.
I’m addicted, I’m dependent Looking awesome, felling helpless
-Façam como quando vieram para cá: recolham as asas e esperem antes de as abrir novamente, pra não correr o risco de serem definitivamente cortadas. – ambos assentem e atravessam tranquilamente, hesito por um momento antes de os seguir, torcendo para fazer a coisa certa.
I know I’m raising Cain with every highway in hell Maybe things won’t be so terrible inside this hotel.