Uma noite só para dois. - Capítulo 30
Quando abriu os olhos encharcados de lágrimas, o tempo tinha passado rapidamente e a noite já havia chegado.
No dia anterior, seu pai, que mal dormia por causa do trabalho acumulado, estava dormindo com um rosto muito tranquilo ao lado dele. Talvez se sentindo cansado pelo sexo contínuo.
Naito pressionou suas costas doloridas e desceu da cama para pegar suas roupas. Quando se curvou, o sêmen acumulado escorreu por suas coxas machucadas, Naito teve o cuidado de não acordá-lo enquanto vasculhava os lençóis e puxava a faca que havia escondido embaixo do travesseiro…
Tinha que esfaqueá-lo de uma vez.
Subiu na cama com esse pensamento. E olhou para o rosto de seu pai que estava dormindo profundamente. Naito agarrou o travesseiro com a mão trêmula e tentou colocá-lo no rosto do pai…
E nesse momento, seu pai acordou.
Naito, assustado, instintivamente pegou a faca e esfaqueou o pai no estômago. Pressionou com muita força, mas a lâmina não entrou como gostaria. Naito tirou a mão do cabo. Respirou fundo, deu um passo para trás em um instante… Suas mãos tremiam loucamente, sentia-se quente. Não conseguia segurar o cabo novamente enquanto olhava para o rosto do pai, distorcido por causa da dor. A mão que segurava seu abdômen cambaleou e se moveu para se aproximar dele, enquanto seus olhos violetas o encaravam o tempo todo:
— Naito…
Papai chamou seu nome.
Naito se afastou, correndo para a porta com medo de que seu pai o perseguisse. Abriu a porta e saiu fugindo, enquanto seu pai gritava de dor chamando seu nome. A última vez que o viu, ele tinha caído no chão.
Nairo enxugou as mãos encharcadas de sangue aleatoriamente em suas roupas, respirou fundo e procurou pela chave. Precisava encontrar a chave da villa! Ele correu até a gaveta que seu pai costumava usar e a abriu, encontrou a chave, a colocou no bolso.
Em seguida, o que Naito pegou foi um rifle. Seu pai gostava de caçar, então tinha pendurado dois rifles em perfeitas condições na sala de estar. Naito firmou o rifle, e assumiu uma postura reta como tinha aprendido na escola, não podia atirar com rifle por causa do pai, mas seu corpo se lembrava disso.
Caminhando até o quarto do irmão, chutou a porta até que a madeira batesse na parede e então Alto virou a cabeça, surpreso com som de um estrondo, e olhou Naito de cima a baixo. Suas mãos ensanguentadas seguravam um rifle apontado diretamente para seu rosto.
Alto olhou para seu irmão com olhos arregalados, e gaguejou:
— H-hyung…?
Naito disse com firmeza.
— Levante-se.
— O q-que aconteceu? P-por que você está fazendo isso Hyung?… suas mãos estão vermelhas…
— Levante-se!
Alto se levantou assustado. Naito bateu no peito do seu irmão com o cano da arma e removeu a trava de segurança. Alto olhou em volta engolindo a saliva. Ele parecia estar procurando pelo pai.
Naito disse friamente levantando o queixo do irmão com o rifle: — Vamos para a garagem.
O plano era este: matar o pai deles e fazer o Alto dirigir até que conseguissem sair da vila. Alto estava assustado com as ameaças de Naito, então ele acenou com a cabeça e foi para a garagem. Mas antes de se sentar no banco do motorista, olhou para Naito com um semblante trêmulo e perguntou:
— E o papai?
— Eu o matei.
Na verdade, não sabia se ele estava morto ou não. Ele está morto? Com apenas uma facada…
Olhando para frente, Naito agarrou o rifle firmemente. Alto começou a ficar incrivelmente pálido, e falou novamente:
— É sério?
— Sim.
— Por quê…
Seu irmão mais novo, perguntando por que ele havia matado seu pai, o fez se sentir mal. Naito, de olhos fechados, se encostou lentamente no assento e estalou a língua com o coração batendo e formigando constantemente. Doía mesmo quando respirava.
— Não me pergunte o porquê. Cale a boca e dirija.
Alto hesitou e se sentou no banco do motorista. Deixou a porta da garagem aberta com antecedência, então tudo o que tinha que fazer era ligar o carro e sair dali imediatamente. Alto ligou o motor com as mãos trêmulas. Olhou para Naito enquanto habilmente girava o volante.
— Para onde devo ir?
— Rondó.
Alto lentamente exalou com a breve respiração entre cortada. Ele não conseguia entender a situação nesse momento, franziu a testa e tremeu um pouco mais. O carro poderia ser parado, e Naito empurrou sua arma silenciosamente. Vendo o cano da arma se aproximando de seu rosto, Alto engoliu saliva e pontuou.
— Hyung, você nunca disparou com uma arma antes.
— Devo te mostrar aqui?
Alto fechou a boca com a resposta repentina. Durante todo o caminho até Rondó, Naito se perguntou se seu pai estava realmente morto. Ele o esfaqueou com todas as suas forças, mas não teve tempo de verificar se ele estava realmente morto. Não teve tempo para fazer isso e não teve coragem de verificar.
Naito viu suas mãos cheias de sangue do seu pai. Suas mãos ainda tremiam de nervosismo diferente de quando tremiam de ansiedade. A sensação ainda era viva de quando esfaqueou o pai. A sensação de uma faca atravessando a carne dele e os seus músculos. Realmente esfaqueou uma pessoa! Ele tentou matar o próprio pai!
Antes que Naito cobrisse o rosto do pai com um travesseiro, ele se lembrou de sua voz dizendo:
“Você pode ter sucesso uma vez, mas não duas, filho”.
Teve uma sensação de premonição. Suas costas estavam frias. Lembrou-se de quantas vezes um pressentimento sinistro se tornou realidade e o incomodou. Quantas vezes já foi agora? Naito que estava preso com as memórias do passado, ficou frustrado por não conseguir respirar. Abriu a janela e deixou o vento forte bagunça seus cabelos. Ele estava chorando, mas os vestígios das lágrimas foram levadas pelo vento forte e desaparecem ao longe.
‘Meu pai já sabia de tudo. Ele já sabia! Mas simplesmente deixou passar, como se estivesse me ensinando uma lição. Eu deveria tê-lo matado corretamente’.
‘Meu pai me disse que eu deveria ser cuidadoso, me avisou o que aconteceria caso eu falhasse. Se antes eu tivesse lembrando de suas palavras ameaçadoras, certamente eu o teria matado, não é?’
Naito, segurando sua mão trêmula com força, se encolheu ainda mais.
‘Eu não poderia matar o meu próprio pai. Eu não poderia matá-lo!’
Naquela hora, poucos segundos eram como mil anos. Naquele momento em que teve que decidir se abandonava a si mesmo ou ao pai, ficou preocupado o tempo todo sobre isso. É porque ele é seu pai biológico? Por que tem seu sangue? Ou porque eles eram como amantes que dormiram juntos várias vezes? Mesmo agora, o gosto de seus lábios ainda estava lá. Misturado com vinho. Um beijo doce e amargo estava gravado em seus lábios com letras escarlate.
Naito, que silenciosamente murmurou “papai”, ordenou que Alto parasse. Alto parou à beira da estrada em um pequeno local de pausa onde podiam descansar antes de ir para Rondo. Ele viu uma floresta atrás dele e um mundo de escuridão da noite antes de virar a cabeça. Seu irmão mais novo estava observando suas ações, tentando adivinhar quais eram suas verdadeiras intenções. Olhando para o Alto de perto, ele tinha aquele rosto incrivelmente parecido com o de seu pai.
Naito largou o rifle. Com medo de morrer, Alto arregalou os olhos, Naito lhe ofereceu uma pílula e disse: “Engula”.
Alto estava tão assustado que engoliu a cápsula sem água. Mesmo sem saber o que era. O olhou o tempo todo até que abriu a porta.
— Hyung… Onde você está indo?
— Esperar.
Sua voz turva mergulhou na escuridão e não pôde ser ouvida corretamente. Alto se acomodou no banco do motorista olhando para o irmão pelo retrovisor. Naito, usando luvas em uma das mãos, abriu a porta traseira do carro e estava puxando algo para fora. Era uma bolsa. Os olhos de Alto, olhando para sua figura, gradualmente se fecharam e se perguntou há quanto tempo ele estava tomando esse remédio. Ele começou a se sentir tonto, confuso, e então percebeu que a pílula que engoliu à força estava fazendo efeito. A cabeça de Alto desabou e sua mão que segurava o volante também perdeu força e caiu. Esperando Alto adormecer, Naito foi até o banco do motorista. A luz da lua quebrou e cobriu suavemente o rosto belo e bonito de
Alto. Era muito lindo, como se estivesse usando um véu de noiva. Até dormindo ele era como seu pai. Então Naito exalou sua respiração pesada, esfregou o rosto com força e caminhou até o calçadão sob a área de descanso.
Naito foi para a floresta e olhou ao redor. Ouviu o barulho da água. Tinha observado o terreno no mapa antes, então foi se guiando pela sua memória.
Como não tinha um celular, continuou andando totalmente dependente da sua visão, audição e memória. Encontrou um lugar onde a água flui no meio.
Naito, que lutava para chegar lá, sentou-se, contando apenas com a luz da lua. Ele ficou aliviado com a profundidade da água quando mergulhou as pernas e descobriu que a água só chegava aos tornozelos. Molhou as mãos para limpar todo o sangue de seu pai.
Ele apagou todas as supostas evidências e depois de esfregar até que suas mãos ficaram vermelhas, conseguiu ficar limpo e pronto para trocar de roupa. Com as mãos trêmulas, vestiu um casaco de lã fino e jogou as roupas sujas em uma nova bolsa.
Naito usou a luz fraca da lua como lanterna e verificou o perímetro. Então decidiu continuar caminhando em apenas uma direção. Em vez de ir pela entrada, andou na estrada que ia através do ponto cego.
E enquanto seguia em frente, viu um ponto de ônibus não muito longe de onde estava. Verificou a hora trajeto no painel, depois largou a bolsa no chão e sentou-se nela. O primeiro ônibus chega às 6 da manhã, ou seja, tinha que esperar até lá.
Não conseguia dormir. Seu corpo e mente estavam esfarrapados como trapos e, com o passar do tempo, foi ficando cada vez mais difícil adormecer.
Naito viu sua mão limpa. Havia uma ferida pelo ato de ter esfaqueado o seu pai. Abaixo do pequeno corte tinha uma cicatriz do ferimento que havia sido feito pelo seu pai. Também doeu naquela hora, mas não se comparava com a dor no coração que ele estava sentindo agora.
Sua cabeça ficou mais pesada enquanto a dor continuava espetando seu peito como um garfo. Ele exalou, olhou para o céu. As lágrimas, mais silenciosas do que o som do riacho, caíram novamente por suas bochechas até ficarem completamente encharcadas. Ele pensou que se matasse seu pai, finalmente tudo ficaria bem e que poderia seguir com sua vida, mas ao contrário do que pensava, se sentiu muito mal. Ele estava com medo de vê-lo morto, mas também estava assustado com a ideia do pai estar vivo e indo à sua procura.
‘Foi o pai que cometeu pecado depois de sentir desejo sexual por seu filho? Ou foi o filho que cometeu o pecado maior por ter tentado matar o próprio pai?’ Naito fechou os olhos e riu silenciosamente. Os dois cometeram pecados imperdoáveis, mas quando cobriu suas bochechas, lágrimas fluíram pela ideia de ter machucado seu pai.
“É você quem gosto, então o que devo fazer?”
Ele se lembrou do rosto do seu pai, que estava perguntando como uma criança inocente. Naquela época, deveria ter falado ao pai: “Não me ame”.
“Eu te amo”.
Se lembrou do seu pai, que tinha sussurrado várias vezes em seu ouvido: “Eu te amo” como se estivesse tentando fazer uma lavagem cerebral nele, Como alguém apaixonado, a voz do pai era terrivelmente doce.
Os sentimentos o perfuraram como uma agulha que o fez pensar:
‘talvez, realmente talvez… Meu pai…’
Ele foi atraído por aquela voz e tentou se acalmar. Mesmo depois de cair no inconsciente, em algum momento, percebeu que o “talvez” era seu “pai” e gemeu de agonia.
Ele tentou se acalmar, tentou respirar, mas não conseguiu. Deveria tê-lo odiado, mas ele era seu pai. Mais do que isso, já tinha sido domesticado.
Ele não queria admitir, mas era a verdade.
Naito abaixou a cabeça e observou seus pés encharcados no escuro.
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Continua…