Uma noite só para dois. - Capítulo 10
Antes de se formar, Ain conseguiu um celular antigo para oferecer a Naito permanentemente. Com isso, era mais do que certo que ele poderia ligar e enviar mensagens de texto com total confiança, já que era um telefone que Ain comprou com um estrangeiro.
Ele não se preocupava em ser rastreado e adicionado a isso, Naito não se sentiu ameaçado por seu pai em todo esse tempo! Ele só ia para a escola para o básico, reunia-se com um pequeno grupo no refeitório e até deixava as aulas extracurriculares para trás. A faculdade não era o objetivo principal nesse momento, então não havia razão para ficar obcecado em estudar demais.
Naito, que estava quase confinado em sua casa, disse ao pai que se esse fosse seu plano, que ele lhe desse um campo de equitação e espaço adicional para fazer exercícios. Foi maravilhoso porque, sem mais, deu a ele uma casa inteira a centímetros da mansão.
A casa foi totalmente remodelada porque parecia estar abandonada há muito tempo. Tinha um grande jardim, tinha piscina, ginásio, sala de jogos e cozinha no primeiro andar. Então, em um segundo, um quarto foi dado a ele em forma de dormitório, e era o andar inteiro! Então Naito estava preocupado com o espaço. Quer dizer, mesmo na casa onde morava com o pai, o quarto era exagerado e isso o deixava um tanto inquieto. O que vai fazer agora que tem sua própria casa no quarto?
— Você gosta disso?
Seu pai lhe perguntou isso enquanto lhe mostrava em detalhes o amplo terreno que ele tinha que cavalgar. Enquanto isso decidiu ficar atrás dele e envolver os dois braços ao redor de seus quadris, embora fosse a postura que ele costumava fazer com frequência, Naito, sentindo-se particularmente estranho, se virou e removeu os braços de seu pai usando ambas as mãos. Naito se virou para o pai e corajosamente decidiu pegar a palma da mão dele. Eram dedos adultos, grandes e viris. Parecia muito diferente do que se lembrava quando era jovem.
Seu pai era grande, exagerado e barulhento. Tudo ao seu redor era assim. E parecia muito estranho para ele ver Naito segurando sua mão de forma tão casual, como ele, olhou em sua direção. A cor roxa em seus olhos foi gradualmente aumentando de nível até que finalmente brilhou à luz do sol. Seu sorriso era lindo e seu aperto começou a aumentar até que a mão branca do filho não conseguiu se mover mais um centímetro…
— Eu gosto disso. Obrigado, pai.
O pai então estendeu a mão e tocou a bochecha do filho com ternura. Seu rosto era pequeno, então ele logo parecia ter tudo nas mãos… Ele tem 20 anos, mas um rosto oval que o fazia parecer muito mais jovem do que isso. O pai abriu a boca e perguntou:
— O que você está planejando?
A voz de papai era suave e doce, mas parecia ser incrivelmente venenosa também.
— Do que você está falando?
Naito perguntou com um olhar inocente, fingindo não saber de nada do que ele estava dizendo. O pai estava brincando com a bochecha de Naito novamente. Ele o acariciou lentamente de baixo para cima enquanto sorria, como faria um pai amoroso comum ou um dono de um gato orgulhoso:
— Então está bem. Sinta-se à vontade para fazer o que quiser aqui. Compre coisas com o dinheiro que eu te dou, pegue a comida que te ofereço e viva tranquilamente o maior tempo possível. Porque esta casa é para isso.
Naito queria sair de seu controle. Ele tentou remover sua mão novamente, mas antes mesmo de começar a lutar, o pai deu um último toque em seu rosto e então o pegou de tal forma que ele não conseguia olhar para baixo ou ver seu lado.
A única coisa em seu campo de visão era seu pai. A boca de seu pai, seus olhos. Ele o olhou, soltando todo o ar… Os lábios de seu pai agora estavam tocando os dele. Era uma sensação semelhante a ter um pequeno inseto rastejando sob sua pele, estava fazendo cócegas…
— O que você está fazendo…?
Naito perguntou, mas seu pai não respondeu. No meio desse grande jardim, o pai se aproximou como se estivesse muito determinado a continuar segurando Naito com força. E Naito não tinha a menor maneira de escapar dele. Ele tinha certeza de que à distância, parecia que Naito estava agarrado a seu pai. Uma postura interessante e embaraçosa que ele queria evitar a todo custo antes que se transformasse em algo pior…
O pai abraçou a cintura de Naito novamente e puxou-a até que ele ficasse colado em seu abdômen. O cheiro do perfume daquele homem estava em seu nariz e encheu seus pulmões incrivelmente rápido. Ele não gostava de perfumes fortes, mas quando seu pai se aproximava e o segurava, sempre sentia aquele cheiro incrível, então ele sabia que estava acostumado.
Naito estendeu a mão, agarrou as roupas de seu pai e perguntou:
— É tudo por minha causa, pai?
Os olhos de seu pai se estreitaram sutilmente. Como se ele estivesse medindo algo ou talvez analisando sua próxima resposta.
— O que você está dizendo?
— Se eu estivesse ao lado do meu pai o tempo todo, me deixaria sair? Se eu prometesse voltar para você, faria o que eu pedisse?
A mão do papai agarrou seu pulso. Doeu. Ele tentou afrouxar o aperto movendo cada um dos seus dedos, como se estivesse espantando uma mosca. Não poderia. O pai olhou sua mão direita, onde ainda havia uma cicatriz consideravelmente grande, e colocou o polegar sobre ela, com muito cuidado. Sempre que a carne macia de seu polegar tocava a cicatriz, ele parecia se lembrar daquele momento a ponto de se sentir culpado. O pai lentamente largou a mão de Naito e em vez disso, voltou a envolver seu rosto entre as pontas dos dedos… Ele beijou brevemente a testa branca de seu filho e também acima de suas sobrancelhas pelo o que pareceu dá-lhe um pouco de surpresa. Beijou suas pálpebras, seu nariz, seu queixo, e quando ele estava prestes a se libertar dos braços de seu pai, aquele homem estendeu a mão e deu-lhe um tapa impressionante.
Pam.
E então uma queimação começou a correr em todas as direções.
— Que decepção.
Foi a única coisa que ele disse.
Ele deixou uma leve risada no ar, um formigamento nas mãos, e então desapareceu sem dizer outra palavra. Naito, que esfregava a parte que estava ficando vermelha, aos poucos distorceu os olhos e reclamou. A raiva cresceu e se tornou tão difícil de suportar que ele não apareceu na frente de ninguém depois disso.
Ele passou mais de 3 horas treinando na academia e então, fez mais uma rodada com o único propósito de não ter pensamentos estranhos a respeito. Ele jogava, lia, exauria-se em todas as formas existentes e de repente os dias se passaram até que um fim de semana enfadonho se transformou no maravilhoso banquete do Grão-duque Alassis.
A festa seria celebrada durante uma semana, estendendo-se até seu aniversário. Seu pai, para que eles pudessem se adaptar a um ambiente formal, apresentou todos os melhores ternos existentes a Naito e Alto. Os sapatos mais bonitos e as melhores joias. A luz suave do quarto fez com que um terno preto macio, de corte alto e pendurado em um cabide, começasse a brilhar tanto que parecia quase um pecado usá-lo. Por fim, ao se vestir e sentar em uma cadeira, o cabeleireiro da família arrumou seus cabelos e borrifou o perfume que seu pai também lhe deu. A fragrância era do gosto do papai, embora ele não gostasse nada e bastasse tentar aguentá-la…
Num espelho de corpo inteiro, analisou sua aparência antes de começar a consertar a franja com cera.
E alguém bateu em sua porta segundos depois.
Quando virou a cabeça, observou seu pai vestido com um terno semelhante ao dele. Ele caminhou passo a passo e entrou no quarto, olhando para Naito como se ele fosse um produto que comprou para se adequar ao seu gosto. O pai colocou o braço em volta do ombro do filho com uma expressão feliz, uma postura natural que impede Naito de se rebelar.
— Agora, vamos.
Ele teve que entrar no carro em uma posição onde quase estava sendo segurado por seu pai. Alto estava no banco do passageiro junto com o motorista e o pai e Naito tiveram que ficar juntos no banco de trás. Houve um silêncio constrangedor que fez seu estômago doer, então ele colocou os fones de ouvido para tentar ignorá-lo. No entanto, assim que o fez, seu pai os arrancou e jogou a seus pés em um impulso quase exagerado.
Ao olhar para o pai, o homem apertou o queixo e disse com voz preguiçosa:
— Quero que você se divirta, mas você não pode beber. Claro, os cigarros também são proibidos. Fique calmo e volte para casa com Contor, quando chegar a hora.
— Eu sei.
Ele respondeu irritado e recolocou os fones de ouvido. O pai não se incomodou.
* * *
Eles não estavam muito longe da mansão do Drão-duque Alassis, então chegaram em menos de 15 minutos.
A casa do papai era enorme, é claro, mas a mansão do Grão-duque estava em uma escala além de sua imaginação. Se tirasse fotos de todos os prédios que foram montados para completar a estrutura, então estaria convencido de que pareceria uma pequena cidade. E levaria dezenas de minutos para examinar tudo, mesmo em seu carro.
Eles estavam em frente ao salão de baile, enquanto ele olhava para as árvores com o queixo apoiado na mão. Seu pai esticou o pulso e notou um relógio tão luxuoso que tinha certeza de que não seria capaz de comprá-lo mesmo que economizasse para o resto da vida. É porque o relógio está brilhando intensamente que não consegue desviar os olhos dele? Naito parecia absorto o suficiente para esquecer até de piscar.
— Naito.
O pai chamou seu nome, então Naito, indeciso, se aproximou dele lentamente até que ele estava a centímetros de sua mão estendida.
Ele a ergueu também e deixou seus dedos se entrelaçarem para começar uma caminhada lenta e incrivelmente estranha para dentro.
Naito olhou em volta.
Havia uma atmosfera bastante elegante, certamente. Como algo que parecia ser do gosto do Arquiduque Alassis. Achou que a essência seria uma festa sórdida e suja, mas foi bastante formal graças à música e ao traje requintado dos convidados.
Como se para impedi-lo de perder tempo observando, seu pai arrastou Naito e o levou para algum lugar um pouco mais longe. Alto estava casualmente atrás dos dois.
— É aqui.
Naito, levado pelo poder coercitivo de seu pai, ficou à frente do Grãoduque Alassis. Educadamente, Naito sorriu sem jeito ao ver seu pai, beijando as costas de sua mão e, em seguida, um de seus anéis. Suas bochechas estavam tensas com o esforço que ele estava fazendo para aparecer.
— Naito, que surpresa. Agora você é um homem de verdade.
Naito estava rindo da admiração seca do Grão-duque Alassis.
— Eu também estou me formando na escola neste verão.
Ele respondeu, fingindo ser uma pessoa legal. O Grão-duque se aproximou de Naito. Ele é excepcionalmente baixo, então ele ergueu as mãos e quase ficou na ponta dos pés para dar uma palmadinha no ombro dele. Parecia que queria compartilhar um segredo com ele:
— Você tem que ajudar seu pai e se tornar uma grande pessoa, Naito.
Naito já era uma ótima pessoa. E ele não queria conselhos do Grãoduque que vivia de drogas e orgias. Isso até o deixou um pouco enojado, mas Naito ainda estava ao lado de seu pai, então ele continuou sorrindo.
— Sim, claro.
Ele achou que não havia problema em usar essa máscara sorridente. Um rosto que se expressou com força até que ele sentiu como se seus músculos estivessem paralisados.
Depois que o homem cumprimentou Alto, os dois estavam finalmente livres, então Naito caminhou pelo jardim fora da espaçosa sala de estar. Depois de enviar uma mensagem de texto para Rayan no celular que Ain deu a ele [Onde você está?], ele olhou em volta de uma forma bastante cautelosa. Seu pai não estava por perto, nem seus homens. Logo depois, seu bolso tremeu e quando levantou a tela e a desbloqueou quase rápido demais, ele percebeu uma resposta simples que dizia [Perto].
Alto brincava à distância com alguns garotos de sua idade. Ele riu e sorriu tão honestamente que Naito com raiva pegou uma garrafa de vinho e começou a andar pelo gramado novamente.
Estava escurecendo e a paisagem parecia lindamente artificial a cada passo que dava. Segurando o vinho e ainda caminhando em direção a um prédio de um andar não muito longe da mansão principal, ele deixou escapar um insulto que teria sido muito ultrajante em outras circunstâncias. Era um lugar secreto que foi contemplado precisamente para os encontros sexuais do duque, e Naito e Rayan decidiram de antemão se encontrarem lá.
Quando chegou, estava pensando em bater na porta, então agarrou a maçaneta e girou-a lentamente até que abrisse no mesmo ritmo.
Entra e fecha. Abriu sua boca e gritou:
— Rayan?
Não havia ninguém no quarto. Apenas uma cama, um espelho de corpo inteiro, um sofá e uma mesa. Não tinha muita decoração, mas não parecia tão terrível devido ao ambiente luxuoso que emanava de todas as direções. Pôs o vinho na mesa e foi ao banheiro, mas também não estava lá. Talvez ele estivesse no lugar errado ou talvez ainda estivesse longe. Checou a hora em seu celular e apertou o ícone de chamada… Até que alguém o abraçou por trás e cobriu seus olhos.
Ele enrijeceu.
— Adivinha quem sou eu?
Continua…