Uma noite só para dois. - Capítulo 07
Às 16h30, Keshan e o motorista chegaram à casa de Ain. Naito se vestiu às pressas quando seu celular tocou e começou a organizar tudo o que tinha que ir dentro de sua mochila.
Ain se inclinou enquanto o observava fazer tudo isso.
— Você já vai?
Naito respondeu impaciente:
— Tenho que estar em casa às 5 da tarde.
— Porque seu pai disse isso?
Ain perguntou sarcasticamente, mas Naito deixou cair os ombros sem dizer mais nada e imediatamente se dirigiu para a porta da frente. Ele se sentou no descanso e franziu as sobrancelhas enquanto começava a calçar os sapatos escolares. Era difícil fazer isso enquanto sentia uma dor terrível na parte inferior do quadril por causa do sexo ultrajante que ele teve com Rayan. O homem, ainda seminu, se aproximou para beijá-lo na nuca então Naito começou a rir com vontade. Ele tocou a bochecha de Rayan e deu um passo para trás.
— Não vá, meu amor…
— Tenho que…
Ain reclamou enquanto servia a massa, cuidadosamente preparada com creme, em um prato fundo:
— Quanto tempo terei que aguentar vê-los tão carinhosos? Estou muito entediado, muito entediado mesmo!
Naito, sem querer, pediu emprestado a casa de Ain para sair com Rayan livremente. Foi um plano improvisado por causa da obsessão do pai. Como desculpa para ficar por ali, disse que iria estudar na biblioteca, na casa de Ain ou na casa de Rayan, todos os fins de semana, sem exceção. De qualquer forma, ele não se preocupou, pois vinham buscá-lo em um horário previamente estabelecido. E, desde que fosse pontual, o pai não estaria realmente interessado no que ele estava fazendo. Ele só sentia pena de Ain, que suportou essa história de amor com paciência o tempo todo. É claro que, quando começou a dar dinheiro a ele pelo quarto, Ain parou de reclamar e cooperou abertamente.
Enquanto o via dar a ele uma nota de cem dólares, Rayan disse amigavelmente, colocando o braço no ombro de Ain:
— Seja paciente, meu amigo. Quando Naito sair daquela casa, isso não acontecerá mais.
— Oh, claro. Mas até então, estou bem com este negócio. Isso é pagamento pelo próximo console¹.
Ain colocou a nota no bolso e Naito foi para o jardim dos fundos. Enquanto esperava o carro vir buscá-lo, o celular em seu bolso tocou em plena capacidade. O número de Keshan apareceu em toda a tela.
— Oi.
[Já estamos aqui.]
— Estou indo imediatamente.
Naito, que respondeu friamente, entrou em um carro que estava a poucos passos da porta. E enquanto ajeitava sua maleta e começava a colocar o cinto de segurança, enfiou os dedos no bolso da calça e tirou um pequeno círculo embrulhado em um papel amassado. Ele trouxe todos os doces à boca enquanto Keshan colocava a cabeça para fora da janela para acomodar os espelhos: ele estava vestindo um casaco longo, um chapéu, um lenço e até luvas. Naito acenou bruscamente e depois de um tempo, ele finalmente notou o motorista:
— Por que você está dirigindo?
Alto estava dirigindo. Ele sabia que Alto já tinha ido às aulas de condução várias vezes, mas foi a primeira vez que o viu conduzindo pessoalmente. Naito, de 20 anos, não pode dirigir por causa do pai, então era um absurdo para o Alto, de 16 anos, estar fazendo isso. E com toda a liberdade do mundo também.
Naito encostou os braços na janela. Com sarcasmo, Alto encolheu os ombros e não prestou mais atenção às suas palavras quando disse:
— Eu não sei. Papai comprou isso para mim como um presente de aniversário.
Alto parecia muito maduro atrás do volante, mas Naito não estava com bom humor para continuar a vê-lo, então ele apenas perguntou:
— Quando você acha que pode começar a dirigir?
Alto disse, sorrindo confortavelmente e como se tivesse esquecido que era o irmão mais novo:
— Pratique muito e veremos.
Naito, que esmagou o doce com seus molares, virou a cabeça. Mesmo que tentasse aguentar o melhor possível, a raiva estava finalmente disparando em todas as direções e começando a se tornar incrivelmente insuportável.
Naito não queria ouvir sua voz, então colocou os fones de ouvido e aumentou o som no máximo. A bateria retumbou tanto que machucou seus ouvidos, mas ele definitivamente preferia fazer isso e ficar surdo do que conversar.
Naito suspirou e afundou enquanto olhava na direção da cidade pintada de branco.
Quando ele veio pela primeira vez para esta cidade, o mundo parecia exatamente assim, mesmo que seus gritos ou sua raiva se espalhassem a ponto de explodir, parecia que isso era um lembrete constante de que tudo iria seguir seu curso, não importa o quê… Quando jovem, a cidade era assustadora. Mas agora que ele tinha 20 anos, ele descobriu que o sentimento não mudou muito. Em vez disso, quando ele se lembrou de seu pai, o homem que não o deixava fazer nada com sua vida, o sentimento foi duplicado. Por exemplo, ele nem o deixava cozinhar. O chef preparava todos os pratos, jantares e pequenos almoços porque, em outras palavras, seu pai simplesmente não gostava de vê-lo como uma existência própria. Igual a uma boneca, ele só queria uma criança que obedecesse suas palavras e implorasse em uma posição dócil. Mas desde que ele era um jovem adulto, não podia seguir as palavras de seu pai só porque era o que ele queria. Ele tinha a vontade e o direito de viver livremente.
[A formatura será muito em breve. Vamos esperar mais um pouco.]
Era uma mensagem de texto de Rayan. Naito mandou uma mensagem de texto que dizia “Sim”, então colocou o queixo sobre a mão e começou a pensar em maneiras de escapar daquela… Casa do inferno estúpida. Não pode dirigir e, com certeza, se o fizer, poderá ser rastreado. Em primeiro lugar, ele nunca teve passaporte e não tem dinheiro para viajar para o exterior. Era um trem, sua melhor e única alternativa.
Pegar um trem, depois alugar um barco e ir para uma ilha distante. Ele poderia comprar o registro familiar de outra pessoa lá e viver em silêncio por algumas décadas… Mas, embora estivesse pensando nisso ou naquilo, ele estava em casa agora.
Naito saiu do carro e perguntou a Keshan:
— E meu pai?
— Está aqui.
— Que nojo.
Naito, resmungando baixinho, moveu a mão em direção ao celular que estava vibrando em seu bolso. Desajeitadamente e com o dedo esquerdo, ele verificou a mensagem.
[Tente viver em silêncio no momento. Acho melhor não ter pressa.]
Desta vez foi Ain quem disse: “Viver pacificamente.” É mesmo possível?
Com um suspiro longo e pesado, Naito agarrou o braço de Alto ao passar por ele para ir para o estúdio, onde se trancava na maior parte do tempo. Ele agarrou a bainha de seu casaco preto e então, pegou sua mão… Seus dedos brancos eram muito longos e bonitos. Grossos.
Quando foi que seu irmão mais novo cresceu tanto? Na memória do próprio Naito, seu irmão mais novo era um menino que sempre procurava por sua mãe e chorava em seu peito. Uma criança que o amava demais… Talvez porque o perdeu, apertou sua mão com força e sem saber. Alto, depois de um longo tempo, arregalou os olhos e se concentrou em olhar para ele até que Naito desajeitadamente retirou sua mão.
— Oh, eu…
“Eu só queria segurar sua mão.” Estava tentando dizer isso, mas Alto de repente falou:
— Você não gosta da sua vida agora?
Com a pergunta de Alto, Naito pensou no que dizer.
— Bem… eu gosto mais do que quando tinha fome. Quando morávamos com a mamãe, vivíamos em um bairro pobre, mas agora estamos em uma casa como esta. Nós também estudamos em uma boa escola.
— Mas a condição para isso era que você ficasse.
Alto sorriu e então olhou para o rosto pálido de Naito. Naito respira um pouco, logo fecha os olhos. Ele entendeu o que Alto estava tentando dizer. O pai, quando se encontraram novamente, estabeleceu condições estúpidas para permitir que seu irmão mais novo morasse com eles… E foram imediatamente claros e aceitos, sem pensar em como seriam distorcidos mais tarde. Ele lentamente abriu os olhos e olhou para o irmão.
— Pois é.
— Você fez isso por mim… Você sempre me amou.
— Sim, eu te amo. — E ele o abraçou com força e então tocou a bochecha de seu irmão com a mão direita ainda machucada. Ele acariciou e disse. — E eu sei que você me ama, Alto… me ajude. Não posso dirigir, não posso ir para a faculdade, não conseguir um emprego, você não vê que estou preso? Não pretendo viver assim porque nem estou vivendo.
Ele revelou firmemente suas intenções, mas Alto, que estava olhando para baixo, abriu os lábios para responder.
— Eu sei… Sobre meu irmão e Rayan.
O rosto de Naito endureceu.
Naito olhou em volta várias vezes… Felizmente, não havia ninguém no estacionamento.
Naito empurrou Alto para o canto mais distante do lugar. Não importa o quão grande ele era ou que aprendeu artes marciais, ele ainda não conseguia derrotar Naito no combate corpo a corpo. Naito enrijeceu o queixo, agarrou-o com força e gritou:
— Você quer me ameaçar!?
Alto agarrou o pulso de Naito com sua mão esguia e o abaixou.
— Não acho meu pai normal. Não acho que ele seja justo com você, mas, mas… eu não quero viver como antes. Eu não quero… ter medo como antes e… e se você for…
Naito tirou a mão de seu irmão. Ele não aguentava mais, então bateu nele com o punho sem hesitar por um segundo. Alto gritou uma única palavra e caiu no chão com o nariz cheio de sangue. Naito agarrou o cabelo de Alto e o levantou para continuar falando:
— Você é mais irritante do que a porra do seu pai, Alto. Você se atreve a me ameaçar para manter o seu conforto? Você está tentando me chantagear usando Rayan?
Ele poderia suportar o que quer que fizessem com ele de qualquer maneira, mas ele não podia suportar a ideia de que tocassem Rayan.
Rayan, que o amou desde a infância e cuidou dele abnegadamente. Quando não havia nada para comer e ele sentiu que ia morrer de fome, apenas Rayan trouxe pão e leite e os colocou em sua boca.
— Foi… meu maldito irmão que me trouxe aqui. Você deve se responsabilizar!
Alto falou por vingança, mas Naito, que sorriu brevemente como se fosse um absurdo, o jogou contra a parede novamente. Alto se levantou desajeitadamente e enxugou o sangramento nasal. Agora ele era um homem que olhava para ele como se estivesse incrivelmente bravo com ele. “Como Alto mudou assim? O conforto que seu pai lhe deu era bom o suficiente para abandoná-lo e escolher aquele completo estranho?”
Naito cerrou o punho, olhou para o Alto e disse, como se estivesse vomitando o que estava em seu peito.
— A razão pela qual vim à capital foi para morar com você! Não queria que você morresse!
— Bem, eu também não queria morrer. A mesma coisa agora. Eu quero viver exatamente como estou vivendo!
— Você é egocêntrico até o fim. Você sempre pensou apenas em si mesmo!
Ele sentiu que sua mente estava em frangalhos… Naito ficou em silêncio, deixou Alto sozinho e caminhou em direção à entrada… Seu pai estava esperando por Naito no corredor principal e tinha um celular entre os dedos com o qual ele está assistindo um vídeo estranho… Naito queria subir para o quarto então ele tentou ter o mínimo de contato possível. O homem não concordou com seus planos, então segurou seu braço e riu. Ele tinha um sorriso lindo e brilhante, mas uma energia sinistra se ergueu e consumiu Naito a ponto de ele parar de respirar.
— O que você disse a Alto?
Continua…