Uma noite só para dois. - Capítulo 06
“Porque eu te amo.” ele havia lhe dito. “Eu te amo desde que você era criança.”
Quanto mais pensava na confissão do pai, mais estranho tudo isso lhe parecia… ‘Mas que nome eu posso dar a essa sensação que também esmaga o meu corpo quando me lembro dele?’ Ele não sabia, e não poderia ser lógico o suficiente para fazer isso imediatamente.
Naito, que estava preocupado com tudo isso, tirou os fones de ouvido de sua orelha, esticou um pouco mais do que o necessário e se aproximou de Ain, um amigo da mesma escola e que também conhecia a relação íntima que ele tinha com Rayan. Todos os três eram viciados no popular jogo de FPS atualmente, então era estranho que o último ainda não tivesse se juntado a eles.
Naito, que o observava de perto, sentou-se ao lado de Ain então ele, visivelmente endurecido, olhou para Naito e disse:
— Você está preocupado com alguma coisa? Você tem um cara horrível.
— Estou preocupado com muitas coisas.
Naito se recostou e olhou para o teto. A ferida em sua mão estava curando lentamente, então não doeu mais. Seu pai, que verificava regularmente as feridas de Naito, ligou para o médico pessoal da família, embora tivesse lhe dito que não era tão ruim. Ele curou o ferimento sem perguntar nada e até deu-lhe uma receita bem longa de pomadas e antiinflamatórios.
Ele teria preferido ir para o hospital, é claro, mas o pai não o deixava ir, a menos que fosse um check-up regular ou um ferimento muito maior. O pai era uma pessoa que ansiava por se tornar um nobre: riqueza, poder, honra, tudo que vinha no pacote. E apesar do fato de que agora não estava nem mesmo em comparação com nenhum deles, o homem usou luxos muito específicos para atingir seu objetivo. O médico assistente contratado especialmente para Naito e Alto era um desses luxos. E, é claro, Naito estava incrivelmente frustrado com o estilo de vida que agora estava proporcionando a ele e que o impedia ainda mais de alcançar aquele desejo de ser livre.
Se ama alguém, como ele disse, não pode fazer isso e aquilo e prendê-lo tão cruelmente como ele está fazendo agora. É óbvio que as palavras e ações de seu pai são muito diferentes umas das outras.
Conversando com Ain, que cresceu em uma família feliz e unida, sentiu muitas vezes que ele não podia entendê-lo sinceramente, não importava o quanto discutisse seus problemas com ele. Ele apenas… Gostava disso. Sair com eles e fumar cigarros comuns enquanto jogam videogames idiotas que eles perdem com frequência.
— É ridículo. Completamente ridículo.
Naito, que no final expressou vagamente seus pensamentos absurdos em uma voz incrivelmente baixa, virou a cabeça em direção ao toque que gentilmente corria sobre sua testa e as linhas suaves sob seus olhos. É branco, como um galho de bétula… As mãos de Rayan, lindas e macias, esfregaram sua testa perto de sua têmpora. Lhe deram calor em um momento em que ele estava com muito frio.
Naito está muito apaixonado por Rayan porque, tudo ao redor, faz ele se sentir incrivelmente bem. É uma sensação boa quando ele o toca, então fechou os olhos e começou a rir.
Rayan tomou Naito em seus braços.
— Seu pai está tornando tudo difícil para você de novo?
Rayan perguntou rapidamente, então Naito abriu os olhos para ver seu rosto: Aquele homem brilhava extraordinariamente brilhante no meio daqueles subúrbios cinzentos. Parecia… Feito com fio de ouro. Olhos grandes, claros e lacrimejantes, pele lisa e branca com traços côncavos típicos da juventude. Ele era bem comum quando comparado com as outras crianças de seu quarteirão, mas agora que ele cresceu, ele é tão bonito que machuca e dói…
Naito, que tocou a bochecha de Rayan usando um par de dedos, endireitou-se e fez contato visual com ele novamente. Apoiando o braço no sofá, Rayan perguntou com um sorriso:
— Ou é o Alto?
— São os dois.
Quando Naito reclamou que Alto estava dificultando as coisas para ele também, Rayan deu uma gargalhada. E essa voz baixa e profunda docemente cativou seus ouvidos.
Organizando o console do jogo, Ain, que ouviu silenciosamente a conversa, disse uma palavra:
— Alto ainda tem 16 anos. Está na puberdade. Seu pai é assustador, o irmão está sempre brigando com ele e quando não está, eles estão sendo frios um com o outro. A mãe ausente. Alto vai ter dificuldades do seu jeito.
— Eu também sei disso.
Naito respondeu ansiosamente. Não que ele não soubesse das circunstâncias complicadas de Alto, é claro. Alto pode estar sofrendo muito mais do que ele porque perdeu a mãe muito jovem e tudo o que ele podia fazer para amenizar a dor era abraçá-lo toda vez que o menino chorava. Dizendo “está tudo bem” e depois ir embora… E Alto não era mal, então, de um ponto de vista mais objetivo, pode-se dizer que a culpa foi dele por tê-lo conduzido no caminho do pai.
A expressão de Naito rapidamente endureceu. Rayan percebeu e acariciou a cabeça de Naito para confortá-lo.
— Você também tinha 14 anos. Você era criança, então o que poderia ter feito?
— Na época, pensei que seria melhor morar com meu pai porque… Sabe, o pior é melhor do que morrer. Mas agora não tenho certeza se era a coisa certa a fazer. Quero dizer, às vezes eu acho… Se eu tivesse ido para outro lugar naquele momento?
Diante da atmosfera sombria de Naito, Ain também interveio.
— Não fique pensando no que já aconteceu. Seria melhor pensar no futuro e nas coisas que você pode mudar.
Rayan acariciou as costas de Naito com um dedo e logo a deslizou até sua mão direita, que estava enrolada em uma bandagem. Com olhos desconfiados, Ain apontou o dedo indicador para ele:
— Como você se machucou?
— Brigando com meu pai.
Com a resposta simples de Naito, Rayan e Ain olharam para ele. Eles parecem assustados, então perguntam seriamente.
— Seu pai torturou você?
— Isso não é legal, amigo.
Eles não estavam nem um pouco errados, mas, ao não responder, começaram a abraçá-lo por trás como se para encorajá-lo. Naito não quis contar que havia sido agredido e cortado com um copo porque, quando se lembrou daquele dia e quando se lembrou também do pai, a confissão que lhe fizera veio à mente.
“Porque eu te amo.”
Seu corpo estremeceu ligeiramente com a voz misteriosa que alcançou seus ouvidos novamente. Teria sido melhor nunca tê-lo ouvido se a memória fosse torturá-lo assim.
Naito negou com a cabeça e mudou de assunto enquanto tentava apagar a conversa com seu pai, aquela que estivera em seu cérebro intermitente durante toda a semana:
— Rayan e Ain… Vocês vão começar o terceiro ano em breve, certo?
Com a morte repentina de sua mãe, Naito foi para o ensino médio um ano mais tarde do que os outros garotos de sua idade, então, enquanto tentava decidir se iria para a faculdade ou trabalhar, Rayan e Ain já estavam assumindo uma longa vantagem. E no final deste inverno, Rayan e Ain vão se formar na escola e partir para a faculdade em algum lugar bem longe… Naito estava sozinho na escola e pensou que ficaria ainda mais se seu pai decidisse aumentar a segurança.
Rayan disse, acariciando a cabeça de Naito: E Ain assentiu em silêncio enquanto Naito mordia o lábio inferior. Ele não queria contar a eles que seu pai havia lhe dito para não ir para a faculdade, então tentou inventar uma desculpa para sair dessa. Ele achava que deveria falar sobre algo que os fizesse pensar que ele não tinha vontade de se juntar a eles, mas não importava o quanto pensasse sobre isso ou ensaiava o que queria dizer a eles, a voz simplesmente não conseguia sair. Ain rapidamente percebeu os problemas de Naito, como sempre: — Seu pai disse para você não ir.
Naito mostrou um silêncio afirmativo, então Ain e Rayan suspiraram de uma forma incrivelmente intensa. Ain estava balançando a cabeça e colocou um cigarro na boca para esconder todo o seu mau humor. Rayan, por outro lado, estava praticando parar de fumar, então recusou todos os cigarros que ofereceram a ele. Ain cuspiu uma imensa quantidade de fumaça.
— Seu pai é realmente um filho da puta. Por que ele não deixa você ir para a faculdade? Agora que pensei sobre isso, você não pôde nem ir na viagem escolar da última vez, certo?
— Não é só viajar. Ele disse que não podiam nem participar de eventos dentro da escola.
Rayan disse: “Bastardo”.
Estalando a língua como se o pai de Naito trouxesse o pior dele. Ain disse: “Uau”, mas era algo muito provocador. Naito se levantou sem superar a frustração que sentia, foi até a geladeira e abriu a portinha com um impulso violento. Havia apenas cerveja, então Naito pegou uma e esvaziou o conteúdo de uma vez. Ele deixou cair a lata nervosamente.
— Inferno, faz sentido que ele não me deixe ir para a faculdade ou conseguir um emprego!?
Naito pegou uma segunda cerveja, então Rayan parou seus lábios com o dedo indicador, como se estivesse dizendo a ele para beber moderadamente. Naito o olhou nos olhos e Rayan, sorrindo, pegou sua cerveja e bebeu o que restava dela para que ele não bebesse. Depois disso, ele colocou o braço em volta do ombro de Naito e acabou abraçando-o com muito carinho. No entanto, mesmo o amor intenso de Rayan não diminuiu sua raiva em nada. Naito se soltou do aperto de Rayan e vagou ansiosamente ao redor da sala.
— Não, é sério. Não importa o que eu pense sobre isso, é estranho.
— O que?
Ain perguntou com uma pronúncia reprimida, ainda mordendo o cigarro na boca. Vendo os olhos de Rayan e Ain fixos nos dele, Naito varreu seu cabelo bagunçado algumas vezes. Ele se encostou na parede e cruzou os braços. Chegou a hora de desvendar uma história que há muito está escondida em seu peito. Mesmo Rayan não sabe em detalhes…
A obsessão de seu pai por ele.
— Alto me disse… Que meu pai é obcecado por mim.
— Obsessão? Com seu filho? Por quê?
Como se Ain não tivesse entendido, ele assumiu uma expressão assustadora e deixou a mão apoiada no peito. Naito também queria saber disso. Não, na verdade já havia uma razão pela qual descobriu sobre a obsessão alguns dias atrás de seu pai… Mas isso só fez piorar as coisas.
Suspirando de ansiedade e frustração, ele disse como se tivesse desistido:
— Acho que ele gosta que eu seja fraco. Mesmo que ele me empurre um pouco, eu caio e me machuco imediatamente.
—… Ele te disse que você é fraco? — Rayan estava enojado com o que ele disse porque era incrivelmente ilógico para ele. Naito estava acima da média. Ele era alto e tinha músculos fortes devido aos exercícios constantes. Na verdade, ele era tão bom nos exercícios que seu professor de educação física recomendou que ele se tornasse um atleta. Além disso, pode-se dizer que ele era um jovem que abusava de sua saúde. Ele tinha uma constituição que o fazia sarar em poucos dias, mesmo com um forte resfriado então… Era óbvio que seu pai só usava o cartão de fraqueza para fazer uma lavagem cerebral nele e mantê-lo na palma da mão. — Se você é fraco, o que sou eu?
Naito não ficou surpreso que ele tivesse grandes expectativas sobre ele. Logo encolheu os ombros.
— Você sabe o que é mais divertido? Alto, pode fazer o que quiser. Qualquer coisa que vocês possam imaginar… Ele parece que é o irmão mais velho.
— Você não disse que nem sequer pode dirigir?
Ain tinha acabado de se lembrar disso, então falou com uma voz surpresa. Naito apenas acenou com a cabeça. Era um país onde beber e dirigir era legalmente permitido desde que tivesse acima de 16 anos, mas seu pai disse a Naito que não, desculpando-se de que poderia ser algo prejudicial para ele e, portanto, muito problemático.
Graças ao isolamento do pai, tudo o que ele podia fazer por sua conta era estudar. A obsessão do pai de Naito em detê-lo está claramente em um limite absurdo.
Naito afundou no sofá que estava na frente de Ain e Rayan. Ele segurou a cabeça e murmurou como uma pessoa cansada:
— Se eu ficar mais tempo aqui, posso enlouquecer.
— Ei, não é uma piada o que você disse sobre o seu pai. Esse nível de obsessão em te provocar… Não é como se você estivesse na prisão?
Enquanto Ain falava com ele de forma tão compreensiva e amigável, Naito se sentiu um pouco aliviado com sua frustração. O menino murmurou, com uma cara parecida com a de um morto:
— Eu quero sair de casa. O Alto gosta de estar com nosso pai, mas eu não tenho mais razão para estar lá.
Naito ergueu a cabeça, olhou para eles e disse tudo isso com muita seriedade. Rayan se aproximou para beijar sua cabeça:
— Não se preocupe. Vou te ajudar.
— E se você sair ferido?
Naito, que conhece bem a personalidade de seu pai, olhou para Rayan com olhos incrivelmente ansiosos. Rayan envolveu ambas as mãos ao redor do rosto de Naito e inclinou seu queixo até que seus lábios se tocassem… Naito fechou os olhos e aceitou a língua quente que estava lhe oferecendo. Ele é bastante atrevido com ele, tão selvagem como se estivesse realmente com fome de sua boca. Ain escapou dos beijos dos dois homens e foi embora dizendo que ia pegar um pouco de ar fresco, mas Naito sentiu que isso era o que precisava para ficar incrivelmente bêbado… Naito apertou o braço de Rayan e Rayan sorriu um pouco, como se achasse muito fofo ele suspirar apenas mordendo o lábio inferior.
Naito o empurrou contra a parede.
Muitos gemidos molhados entre os lábios dos dois, fluíram enquanto Naito olhava para Rayan com uma cara realmente animada, finalmente colocando sua mão contra a protuberância que já estava começando a crescer em suas calças…
Quando os olhos de Naito projetaram seu desejo sexual, Rayan ralhou com Naito:
— Ain está com a gente também. Não podemos fazer isso agora.
Os dedos dele, esfregando seus braços, estavam quentes e tremendo. Naito sorriu e balançou a cabeça.
— Não. Ain não vai ficar bravo se fizermos isso muito rápido.
Rayan riu e sorriu novamente. Ele colocou seu braço em volta do pescoço de Naito assim que ele sorriu e abraçou Rayan com muita força… Rayan ama muito Naito. Olhando para ele, com os olhos fechados, abriu seu zíper.
— Não se preocupe… Em breve você estará saindo de casa. Você também é um adulto, é inteligente e muito forte, então o que não pode fazer se estiver empenhado nisso?
Naito ficou aliviado com a voz suave do menino, era como se lesse para ele um livro de contos de fadas para fazê-lo dormir… E de acordo com as palavras de Rayan, realmente não havia nada que ele não pudesse fazer, com um pouco de trabalho duro. Seu amor era tudo que precisava e tudo que estava certo em seu pequeno mundo destruído.
Ele beijou seu rosto, colocando seus lábios na parte inferior de seu queixo e também em seu pescoço… O odor corporal de Rayan ajuda seu coração ferido e o tranquiliza de todas as maneiras imagináveis. Naito fechou os olhos e murmurou com voz sonolenta:
— Tem razão.
O Naito, que era abusado por seu pai, espancado e quase encarcerado, estava sendo suspenso por um homem cujos olhos brilhavam de raiva e hostilidade. Era como se houvesse fogo por dentro. Agora, ele estava convencido de que Naito não deveria mais ficar naquela casa porque o que o pai dele estava fazendo nesse momento não era o que um pai normal faria.
Continua…