Querido Benjamin - Capítulo 22
— Ei! Por que você está me batendo!?
Jack foi atingido com tanta força nas costas que inevitavelmente gritou.
— Você não percebeu? Você está estragando tudo!
Tony, que levantou a mão no ar para atingi-lo novamente, parou quando o ouviu gritar ainda mais alto. Porra, isso definitivamente está deixando-o bastante nervoso!
O fato dele ter falado mal de Isaac na frente de um homem emocionalmente instável foi suficiente para sentir que ele poderia ter um derrame a qualquer momento. Jack não tinha feito isso com intenção maliciosa, é claro, mas eles ainda quase acabaram com uma faca na cabeça!
— Eu entendo que você se importa com o chefe, mas agora não está bem que você fale sem pensar, especialmente sobre Isaac… Isso o afeta. E isso também nós afeta.
— O que você quer dizer?
Em vez de responder a Jack, Tony balançou a cabeça e bateu nele novamente… Ele se virou para continuar andando pelo corredor principal, em direção a recepção.
— Ei… Por quê? Por que não posso dizer nada sobre Isaac!?
É irritante explicar algo tão óbvio novamente, mas Jack o segue enquanto pergunta sobre isso várias vezes. No final, Tony não teve escolha a não ser enfrentar Jack. Ele o olhou:
— Isaac não é um homem que o chefe quer brincar e jogar fora quando fica entediado. Félix está muito apaixonado… Sinceramente. E, como isso é algo novo para ele, ele está tão excitado que realmente poderia ter acertado a faca no teu olho.
— O quê? O chefe apaixonado? De jeito nenhum!
Jack, que estava mais pálido do que quando a faca voou ao seu lado, parecia pensar que ele havia enlouquecido como todas as pessoas que moravam dentro da casa… Mas Tony, fingindo não ter ouvido nada, não olhou para trás novamente.
Estava indo buscar Noah, pessoalmente.
***
Eles foram bem treinados.
Os mercenários de Cole pareciam ser membros da máfia ou algum tipo de gangue especializada em lutar e manusear armas de alto calibre.
Isaac, que atravessou a cerca de uma casa aparentemente abandonada, não parecia ter sido espancado, nem notou que estava sem dormir por mais de dois dias… Ele andava com uma postura absolutamente digna e reta. Com a cabeça erguida. No entanto, estava sofrendo uma terrível dor abdominal. Quando respirou fundo, suas costelas doeram e ele começou a tossir alto. Girando o pescoço em qualquer direção, o terrível rangido de seus ossos pôde ser ouvido. Suas sobrancelhas tinham feridas cicatrizadas e de vez em quando cuspia sangue no chão. Ele tinha uma ferida profunda que só havia sido pulverizada com uma garrafa de licor descontinuado.
Um dos olhos estava inchado e os pulsos, que estavam amarrados há muito tempo, estavam vermelhos e abertos. Além disso, metade do abdômen estava atravessada por uma contusão no formato de um pé e ele sentia uma dor latejante toda vez que suas coxas e canelas se moviam.
Não havia nada quebrado, ele apenas sentia que estava.
Isaac, que limpou a boca ensanguentada com a camisa, correu para a porta no final do corredor. Apenas alguns passos…
Já se passaram dois dias desde que ele foi trazido aqui.
Estava em mau estado por dois dias.
Eles o transferiram do armazém para um contêiner e, assim que ele entrou, seus pulsos foram liberados porque pareciam ter concluído que ainda era impossível para ele escapar.
Esse foi um erro típico deles. O subestimaram.
Quando entrou no caminhão, olhou em volta até perceber que várias cabines de vigilância estavam funcionando corretamente. Eles correram das janelas para o painel e do teto para o painel também… Certamente, em caso de qualquer sinal suspeito, uma ligação seria enviada em tempo real e isso seria revelado através do monitor à sua frente. Como sempre fazia quando parecia ter vontade de conversar com ele…
Franzindo a testa e olhando em volta novamente, respirou fundo e começou a fazer o veículo se mover lentamente. Tão suave quanto possível.
Era difícil sentar, então a sensação era mais como ser arrastada de um lado para o outro, desconfortável e dolorosamente…
Isaac, que fechou os olhos para pensar sobre isso e aquilo, deu um soco no volante quando um homem alto, sentado confortavelmente em uma cadeira de couro, apareceu na frente dele, mordendo uma maçã. Seus olhos escuros estavam lançando um brilho misterioso que ele nunca tinha visto antes. O som dos alto-falantes foi ouvido, e Isaac fez o possível para ignorá-lo e seguir em frente.
[K!]
Chamar seu codinome parecia urgente agora.
[Você realmente vai embora? Já te disse que é impossível, ainda mais se você sair daqui com um dos meus caminhões!]
Assim que o som de risadas histéricas foi ouvido, Isaac virou o corpo para tentar deixar o rosto de Cole de lado. Mas ele ainda franziu a testa, como se estivesse bem nervoso.
[Olha… Talvez tenha sido um momento muito chato para você, mas eu já descobri todas as suas informações pessoais. Se você fugir, você ainda será pego. Não importa onde ou como… Você estará em minhas mãos novamente, K!]
— Claro.
[Você só está dificultando as coisas para todos…]
Mas a voz dele começa a parecer distorcida… Embora, é claro, ele ainda possa entender claramente o que diz pelo formato dos lábios. “Você vai se arrepender.”
Olhando para ele como se fosse matá-lo, Isaac flexionou a perna sem dizer nada e chutou o monitor com a intenção completa de quebrar a tela. Fez isso várias e várias vezes até finalmente perceber que o rosto do homem estava começando a ficar instável e trêmulo. Isaac observou-o atentamente. Seu rosto estava cheio de linhas coloridas que se moviam para cima e para baixo. A imagem cortada… Ele flexionou a perna novamente e a soltou. O monitor acendeu e ficou todo nublado. Continuo chutando o monitor só porque queria. Até metade de sua raiva foi liberada.
— Bem… Isso foi fácil.
Ainda não conseguia acreditar que ele estava fugindo pela estrada em um caminhão Cole.
***
O centro de San Diego ao nascer do sol parece profundamente apagado. É o fim de semana, para que os prédios altos não tenham luz, os escritórios estejam fechados e a cidade inteira ainda esteja dormindo em um profundo sonho.
Um caminhão, correndo rapidamente por uma estrada limpa, parou de repente inesperadamente no meio da rua. Apenas o som repentino de frenagem foi ouvido. O rangido do motor quando desligado.
Ficava a apenas dois quarteirões da floricultura.
Isaac saiu do veículo e imediatamente tropeçou e caiu de joelhos no chão. Sua aparência era terrível, o sangue finalmente decidiu começar a derramar do ferimento em sua cabeça e a intensa luz do sol fez tudo parecer mais escandaloso do que realmente era: um rosto rasgado de lábios inchados e cortes ao redor dos olhos…
Ele não precisava mais fingir que estava bem, então mancou e cambaleou todo o caminho até finalmente chegar ao prédio onde ficava sua loja. No entanto, embora seus membros estivessem gravemente feridos, Isaac ainda se permitiu ir pelos os fundos. Ele estendeu a mão, alcançou cegamente a pequena rachadura ao lado de um cano quebrado e puxou sua chave reserva. Suas mãos estavam bastante trêmulas. O suor frio fluía sobre sua têmpora e fazia sua pele queimar o tempo todo. Por estar bastante agitado, tentou colocar a chave na fechadura por um longo tempo, até que finalmente conseguiu. Isaac mordeu o lábio, moveu a mão para cima e, finalmente, ouviu o “click” da fechadura retumbando sob os dedos para liberar o bloqueio. Ele suspirou, com bastante alívio… Levantou a cortina de ferro para emitir um som alto que sacudiu as ruas que ainda recebiam um nascer do sol calmo.
Foi então que mais um som foi ouvido. Por menor que fosse, era claramente compreensível para ele… O som de carregar balas em uma pistola. Isaac fica parado. Ambas as mãos para cima. Sua coluna está rígida devido à tensão e ao medo incrível… Faz apenas três ou quatro horas desde que escapou do contêiner e, embora soubesse que isso era algo que inevitavelmente iria acontecer, eles já me encontrou? Assim? Sem permitir que eu lutasse mais? Sua garganta estava bloqueada, embora não é como se gritar fosse ajudar em algo.
— Isaac… O que é isso tudo?
No entanto, a voz triste era de caráter inesperado. Ele ficou surpreso, então, embora não pudesse abaixar as mãos, virou a cabeça… Félix Prixel está segurando uma Glock 18C em ambas as mãos. Sua testa está franzida, pálida como papel.
Teve que solta o fôlego.
—Ah , vejo que você ainda tem o hábito de assustar as pessoas.
— O que fizeram com você? — O sofrimento dele fluiu imediatamente até derramar em seu peito.
— Meu amor, maldição, o que aconteceu? Quem se atreveu a machucá-lo!?
Félix rosnou, levantando a mão para mover cuidadosamente o cabelo de Isaac, todo molhado de suor e sangue. Sua figura se parece com a de um pai zangado, porque ele continua gritando:
— Quem foi o bastardo que se atreveu a bater no meu homem!!?
Isaac ficou em silêncio, depois riu alto.
— Não é nada de especial.
— Você aparece assim, e ainda diz que não é nada de especial? Basta olhar pra você!
Félix gritou porque parecia que ele não podia mais controlar o tremendo fogo que ardia dentro por dentro… Isaac, por sua vez, parecia incapaz de ouvir qualquer coisa. Ele apenas olha por cima do ombro e analisa tudo o que acontece ao seu redor.
É perigoso estar ali.
A estrada semi-brilhante revela que existem poucos carros estacionados. Na verdade… Tudo está tremendamente quieto. As lojas ainda estão fechadas e não há vestígios desse homem vindo com uma escolta. Jack ou Tony já devem ter aparecido. Seu Sedan ou a sombra de algo deve ter sido visto.
— Não… Está só? Você veio sozinho?
Isaac arregalou os olhos e olhou para Félix de perto. Como se ficar sozinho fosse bastante impressionante. Félix ergueu muito as sobrancelhas.
— Por quê? Há algo errado com estar sozinho …?
— Mas você- …
“Você sabe quantos homens estão me seguindo? Você sabe quantos homens estão seguindo cada um de seus movimentos? Eu estou bem, mas e você? E se algo acontecer com você, então eu…” As coisas que queria dizer se tornaram uma pedra em sua garganta. A boca de Isaac se fechou e ele suspirou com todas as suas forças. Então, assim que pôde, ele agarrou o braço de Félix e correu para longe do espaço em frente à porta.
— O que está acontecendo?
Félix estava muito ansioso… Mas Isaac fechou a boca movendo a mão e pressionando-a contra o rosto.
— Quero perguntar primeiro por que você está aqui? Idiota.
Eles estavam em um lugar escuro, de modo que as luzes dos carros que passavam de tempos em tempos mal tornavam visível o rosto bagunçado de Isaac. Félix suspira e coloca a mão em seu pulso para tentar abaixá-lo.
— Você sabe que quebrou o contrato?
Logo, apenas cuspiu palavras ridículas.
— Do que você esta falando…?
— Ontem meu RUT começou ao amanhecer, mas você não estava lá, então eu fiquei realmente bravo. Não tem ideia, eu estava batendo em todos com as cadeiras da sala de jantar, joguei eles na estrada e os atropelei com meu carro. Foi horrível! Então eles tiveram que empurrar um inibidor na minha garganta para me fazer ver a razão. Não estou exagerando.
— Eh…?
— Você disse que ia me ajudar com meu RUT, mas desapareceu sem dizer uma palavra. Vim lhe dizer que vou te processar.
Isaac olhou para Félix, esperando que dissesse que estava brincando… Mas então ele respirou fundo e o afastou da ali.
— Então você estava me esperando, às cinco da manhã, em frente a uma loja fechada e com uma arma na mão para me dizer que eu tenho que ir a julgamento?
Félix cruzou os braços arrogantemente.
— Obviamente, eu não conseguia dormir porque estava imaginando maneiras de te punir. Fui para a cama e me virava, mas sempre acabava dizendo: “Ah, esse Isaac é um desgraçado.” Pensei que poderia te pegar se esperasse o suficiente, então por isso estou aqui.
— Seus olhos estão vermelhos…
— Eu também me droguei.
Isaac sorriu de novo.
— Não importa o que aconteceu… Não tinha que vir sozinho.
— Oh, você está preocupado comigo? Pensei assim, meu lindo florista não seria capaz de me negar nada.
Isaac suspirou novamente enquanto seus lábios se contorciam. Ele queria dizer algo, muitas coisas… Mas não podia fazer isso facilmente. Não sabia como. Félix levantou a mão e lentamente traçou os lábios de Isaac. Sua boca está coberta de crostas de sangue, então seus dedos caem um pouco. Com ternura… É muito diferente da maneira como ele estava falando.
— Meu amor, me diga. Quem diabos bateu em você assim?
— Não importa…
— Me diga…
Isaac fechou os olhos. Se ele lhe disser, certamente fará uma ligação para sua quadrilha de assassinos ou… ele irá. Um calafrio atingiu sua espinha depois de imaginar isso. “Tenho certeza de que ele é o pai, e tenho certeza de que você o ama. E Cole também sabe disso.” Ele parece ser capaz de ouvir as palavras de Steve flutuando em sua cabeça.
— É privado. Não há com que se preocupar.
— Privado? Algo que você precisa esconder de mim?
Quando rugiu e se aproximou, sua expressão era a de alguém que morria de preocupação. Deu um passo para trás… Parecia literalmente um coelho apanhado por um tigre enorme. Inclusive sentiu que a temperatura na sala estava caindo.
— Félix…
— Nós pertencemos um ao outro, lembra?
Mas do lado de fora da loja, em uma rua tranquila ao amanhecer, soou o terrível estalo de um pneu derrapando no chão… Só então, Isaac, que estava derretendo em seu olhar, levantou a cabeça e olhou fixamente através da porta de vidro da loja: havia faróis brilhantes na traseira de um carro que estava parado no canto da loja. Esse maldito carro começou a recuar como um louco.
Algo brilhava na janela.
Félix tentou dar um passo à frente, mas antes disso, Isaac o pegou nos braços e correu com ele para os fundos da loja. Ele o puxou para atrás do balcão.
— O que houve?
— Se agache e abaixe à cabeça!
Isaac apertou a cabeça de Félix com a mão e o abaixou até que ele estivesse embaixo do balcão. Ao mesmo tempo, o som de um “bang, bang, bang” é produzido quando as balas quebram a porta de vidro e também a janela. Realmente foi mais rápido do que ele pensava. Mais agressivo. Pedaços de vidro ricocheteavam por toda parte, balas espalhadas e vasos de flores estilhaçados até água e sujeira derramarem por toda parte.
— Não, se agache e abaixe a cabeça.
Isaac não esperava que Félix pulasse na frente dele, carregasse a Glock e começasse a atirar para frente como se estivesse possuído. O som é tão forte e suas táticas são tão hábeis que Isaac precisa abaixar o corpo e entrar mais fundo na loja.
— Isso é tudo o que vocês têm, cadelas!?
— O que você está fazendo!!?
Isaac gritou, mas não foi bem ouvido.
***
Os tiros ainda eram bastante agressivos. Parece que eles estão agora no meio de um campo de batalha…
As expressões faciais de Isaac pareciam subitamente distorcidas pelo som terrível do vidro quebrando e pelos gritos de Félix, vindos de todas as direções… No final, endireitou-se, tomou coragem e rastejou pelo chão até alcançar os vasos que estavam mais afastadas. Tinha uma árvore falsa lá dentro que funcionava perfeitamente como um pequeno esconderijo. O que estava escondido nela eram armas. Não estava apenas naquela árvore, havia armas até nos vasos com plantas reais. Ele também tem uma mala repleta de arsenal.
Isaac pegou as pistolas, punhais, documentos e outros pequenos artefatos e os enfiou nos bolsos das calças… Finalmente, pegou uma mala ainda maior e abriu-a imediatamente para revelar o que havia dentro. Era uma submetralhadora, equipada com um silenciador.
— Olho nada mais, um MP5SD… Quem imaginaria isso?
Félix, que ainda estava cobrindo a testa de Isaac, conseguiu reconhecer o tipo de submetralhadora imediatamente… Mas Isaac nem sequer voltou sua atenção para ele.
Foi apenas um movimento rápido, mas assim que ele colocou a metralhadora na mão, a carregou, apontou e começou a atirar.
Isso aconteceu em um piscar de olhos. Não havia erro na ponta de seus dedos experientes.
Isaac não estava familiarizado com armas usadas principalmente para a repressão e a luta contra o terrorismo, mas agora era como se ele as tivesse usado a vida toda.
Quando percebeu que ninguém estava na sua frente, ele pegou a bolsa da Beretta[1] e a jogou na frente dos olhos de Félix, que estava olhando para ele de perto.
Ele gritou: “Cubra-me”. Então Félix obedeceu, puxou o dispositivo de segurança e apontou na direção em que as balas estavam chegando… Mas Isaac, com uma metralhadora mirando e atirando sem distração, era um ser completamente magnífico. Estava equipado com um silenciador, por isso o barulho que causou não foi tão forte quanto pensava. A coisa mais terrível estava lá fora, e ele tinha o monstro responsável atrás de um balcão.
Gritaram, amaldiçoaram, atiraram e lamentavam enquanto morreram.
Os tiros de Isaac foram terrivelmente precisos. Olhos bem abertos, olhando para o alvo. Sempre os seguindo… Félix murmurou uma vez que seu avô esmagava homens como se fossem moscas, mas isso definitivamente era muito melhor.
Isaac era lindo, mesmo quando ele matava.
“Bang, “Bang”, “Bang” preenchia o ambiente até que salpicasse pedaços de carne e ossos com sangue. Buracos limpos, entradas perfeitas bem nos olhos. Algo mecânico, como se ele estivesse jogando videogame… Félix disparou inúmeras vezes em sua vida e viu disparos sem fim do seu lado, e ainda assim nunca viu alguém puxar o gatilho dessa maneira. Ele até pensou que os pistoleiros que ele contratou, aqueles que demonstravam grande raiva no campo, pareciam mais humanos do que Isaac havia mostrado.
Enquanto segurava a Beretta, Félix só podia continuar contemplando a cena. De fato, não havia realmente necessidade de cobri-lo. Isaac instantaneamente transformou a barraca em uma colmeia, disparou o quanto quisesse… Logo depois, até os contra-ataques mais brutais se acalmaram para uma calma aterrorizante.
Isaac revirou os olhos para o MP5SD… Parece que ele está completamente pronto para puxar o gatilho assim que encontra um pequeno movimento lá fora. No final, apenas se virou e caminhou até o lado de Félix, que parecia estar em um debate muito profundo consigo mesmo.
Ele o agarrou pelo braço. Em seus ombros já havia a sacola cheia de armas.
— Não há tempo. Corra.
Isaac pisou nos pedaços de vidro quebrado e rapidamente levou Félix para fora da loja… Como se estivesse protegendo-o, embora na realidade tinha planejado o contrário.
Ok, o que estava acontecendo?
Ao sair, perceberam que a situação era ainda pior do que eles imaginavam… Não havia mais gemidos, então definitivamente não havia sobreviventes. Houve o som de uma sirene, do outro lado da rua. Certamente a polícia havia sido alertada por tiros tão fortes.
O caminhão estava longe…
— Seu carro… Onde você o colocou?
Félix respondeu “Por aqui” e o arrastou entre os carros e os corpos destruídos até que chegaram a um sedan preto estacionado em frente a um parquímetro.
Definitivamente era o dele. Era difícil encontrar um sedan de luxo como aquele em um bairro assim.
— Eu dirijo.
Isaac correu direto para o banco do motorista.
—… Porquê!?
Embora Félix tivesse dito isso em um tom de queixa, Isaac abriu a porta do motorista sem problemas e se jogou lá quase pulando. Por Deus! Ele já havia roubado um caminhão! Isso foi fácil comparado a tudo o que ele teve que fazer quando foi sequestrado!
No momento em que Félix se sentou no banco do passageiro, ele inundou tudo com sua aura terrivelmente ameaçadora e até se deu ao luxo de bufar… Mas Isaac fingiu não perceber.
Ele apertou o botão iniciar. Sem saber quais teclas usar, o som do motor soou imediatamente e o painel de instrução se acendeu para cumprimentá-lo. Isaac desligou todas as luzes novamente e pisou rapidamente no acelerador até o fundo… Por se tratar de um sedan de alto desempenho, o carro começou a correr suavemente pela estrada. Sem alvoroço e sem dar a Félix uma sensação iminente de tremor. Ele ainda não tinha colocado o cinto de segurança.
Em San Diego, todo mundo dorme. É o que eles chamariam de outro amanhecer áspero e iminente.
***
Harbor Drive: o local em que o sedan parou após rodar livremente por um bom tempo…
Ele esteve aqui faz algum tempo. A primeira vez que Félix sequestrou Benjamin. Era um lugar que o ajudou a se acalmar e pensar. Um lugar remoto, mas Isaac nem precisava do GPS para chegar lá, então ele parou no lugar perfeito. Os dois ficaram em silêncio. O rosto de Isaac, mesmo no escuro, parecia infeliz. Olhos, lábios e sangue, todos inchados e rasgados. Uma testa suada e brilhante com muitos hematomas acesos sob uma lâmpada amarela.
— Eu nunca pensei que vir aqui me daria tanto…
Os olhos azuis, que percorria o rosto esmagado de Isaac, pareceu iluminarem-se cada vez mais ao se lembrar dos eventos na floricultura. No entanto, o homem ao seu lado ainda mantinha a boca fechada, então o suspiro de Félix se dispersou bruscamente…
— Quem eram esses bastardos? Que tipo de ligação eles têm com você?
“…”
— Nada? Ok. Você esteve na SWAT, certo? Foi por um longo tempo? Claro, você foi ensinado a usar metralhadoras lá. Atirar é muito mais fácil do que fazer um buquê de flores, certo?
A pergunta era simples… No entanto, mesmo desta vez, Isaac nem se virou para olha-lo. Sua expressão era tão direta como de costume. Frio, como quando ele atirou neles com a metralhadora.
Félix não recuou em sua tentativa, até o olhou com mais persistência. No final, Isaac se voltou para ele:
— Eu te conto depois.
Era uma voz enterrada com exaustão. O desastre que eles causaram na floricultura também foi uma ferida, mesmo que não sangrasse, e nem se viesse a sumir ou fosse evaporada. Suspirou, esfregou os olhos com as duas mãos porque não dormia adequadamente por um tempo…
Não era a resposta que procurava, mas Félix respirou fundo e assentiu com o inevitável. Não é como se quisesse saturá-lo com perguntas em um único instante.
— Bem, eu não vou perguntar sobre a situação, então por que não vamos dar um passeio para respirar um pouco? Eu prometo que vamos apenas andar…
Foi no momento em que Félix abriu a porta que Isaac se permitiu a dizer:
— Não. Vou ter que deixar você. Sinto muito, mas vou pegar emprestado esse carro por enquanto.
Félix parou de se mexer, sem ousar continuar abrindo a porta do carro… Ele olhou para Isaac, como se achasse muito estúpido dizer com tanto orgulho que queria roubar o veículo. Uma atitude absurda, certamente.
O que você está tentando fazer? Félix quis levar a sério e dizer: “Eu não vou descer aqui, está claro?”
Mas ele percebe que não pode… Por que não pode?
Félix, olhando para os olhos teimosos de Isaac, engoliu o que queria dizer.
— Não.
— Saia.
— Você está louco!? Aonde você vai desse jeito?
No entanto, os esforços para acalmar sua raiva foram absolutamente inúteis. Ele não conseguia impedir que sua voz se levantasse com toda a dor que estava contendo… Se deixasse passar, então definitivamente vai perdê-lo para sempre. Era um problema maior do que antes, quando lhe disseram que ele não estava em casa e se sentiu tão triste como se fosse desmaiar.
Depois de suspirar, esfregou a testa enrugada com as pontas dos dedos e tentou novamente.
— Não vou.
— Félix!
Mas Félix não conseguia mais se mexer, então olhou pela janela… Foi então que ouviu um som metálico em sua cabeça. Lentamente, virou o rosto apenas para ver o que estava apontando para ele com uma pistola semi-automática.
— Você…
Ele não podia acreditar, embora não fosse de admirar ver Isaac segurando uma Beretta na mão. A boca da arma é colocada no meio das suas sobrancelhas para que os olhos de Félix olhem alternadamente para Isaac e a Beretta.
— O que você está fazendo…?
A voz estranhamente triste e baixa de Félix encheu o carro imediatamente.
— Saia. Eu posso me cuidar.
— Isaac… Você sabe quem eu sou e o que pode acontecer se você puxar o gatilho?
— Claro que sim. Acho que sei isso melhor do que ninguém. Então saia.
— Não.
— Se não, eu prometo que vou atirar.
Isaac encarou o Alfa com um olhar profundo de natureza desconhecida. Mas Félix também insistiu:
— Isaac, eu não posso deixar você ir de novo.
— Saia.
— Prometi não perguntar nada! Prometi ficar fora disso, não foi? Então, só precisamos continuar como antes!
Os gritos de Félix estavam mais desesperados do que nunca. Ele estava ansioso, assustado… Para onde ele vai? O que vai fazer? O que vai acontecer com ele? E pensar nisso foi tão aterrorizante que fez com que seus sentimentos se espalhassem em todas as direções!
— Há coisas que tenho que resolver por conta própria… Se você vier, vai estragar tudo. Para você e para mim.
— Diga-me qual é a sua situação… Eu vou resolver. Eu juro, eu… Eu vou consertar qualquer coisa que te incomode.
A voz angustiada fez com que congelasse sua coluna. Mesmo no escuro, mesmo nessa situação, os brilhantes olhos azuis parecem selvagens e determinados como sempre…
— Não. Você tem que entender que esse é um assunto pessoal no qual você não deve intervir… Depois disso, concluiremos o contrato de alguma forma e eu pagarei da maneira que você deseja que eu pague. Então, por favor, me dê um tempo agora.
— Qual é o problema pessoal?
— Deixe-me acabar com isso para que eu possa lhe dizer…
Isaac permaneceu firme. “Não se meta na minha história”, “não é bom falar sobre isso agora”, “não é algo que seja da sua conta”… Foi o momento em que sentiu o calor da raiva aumentar consideravelmente dentro dele. Qual é a maldita razão para construir um muro tão alto!? Estava cheio, cheio de coisas que não conseguia entender… Mas que queria compartilhar com ele.
— Isaac…
— Não vou te dizer mais nada…
— Então… Atire em mim. Porque, caso contrário, eu não vou deixar você ir.
— Félix…
— Atire em mim, droga! Atire em mim para que você possa se livrar de mim de uma só vez!
No final, a boca da arma realmente acabou apontando para o interior da coxa. Isso significava que só tinha que atirar no fêmur dele para acabar com isso. Então ele ficaria mal… Mas poderia se recuperar com o tempo.
Ele recarregou a pistola, mas Félix não se mexeu, embora inconscientemente o suor frio tivesse começado a fluir por sua espinha.
Então “Bang” Isaac apertou o gatilho sem hesitar.
Seus tímpanos e cabeça tremiam, mas no final de toda a confusão, as pernas de Félix continuavam as mesmas. À bala que saiu do caminho, foi apanhada sob a janela do carro.
Félix olhou para a porta quebrada, mas ainda não se mexeu.
— Eu sabia que você não ia atirar…
— Eu vou atirar de verdade na próxima vez.
— Então faça.
— Saia!
Quando a pistola grudou em seu rosto novamente, Félix foi forçado a levantar as duas mãos… Só de olhar para os olhos de Isaac e aquele brilho intenso, ele sabia que desta vez definitivamente iria mirar sua perna. E também entendeu que ele definitivamente iria acabar atirando. Não era mais como antes, não havia tremores, nem dúvidas.
Quando abriu a porta do passageiro, o vento frio do amanhecer o atingiu… Só então percebeu que cheirava a pólvora e que havia notas muito intensas de sangue. Não conseguia nem pensar em escovar os cabelos para frente e para trás em seu rosto.
Félix colocou os dois pés na calçada.
— Você está satisfeito agora?
Mesmo da porta áspera do carro, Félix se permitiu olhar ferozmente para Isaac.
— Sinto muito… Você acha que isso é por causa de Benjamin, certo? Mas na verdade não posso perder os dois.
Isaac, que encontrou os olhos zangados de Félix, fechou a janela antes que ele pudesse responder e depois colocou a Beretta ao lado dele.
Félix sorriu… Porque mesmo em momentos como esse, ele pensava no que era melhor para o filho.
— Você me deve muito!
Gritou.
— Eu sei.
— Você tem que voltar imediatamente para me pagar, ou eu aumentarei a dívida!
—…Já posso imaginar.
Isaac respondeu gentilmente… Parecia que ele não sabia mais o que fazer, então Félix, ao lado dele, marcou muito o formato de seus lábios ao dizer “Vá”.
Os faróis do sedan se apagaram quando ele se foi… Assim que foi sugado pela escuridão e desapareceu… Félix se levantou, esperando que ele voltasse.
Toda vez que o vento sopra, seus cabelos dourados jogam aqui e ali, seus olhos arregalados. Os lábios secos.
— Isaac, da próxima vez você terá que me dar cada parte de você, se quiser me pagar corretamente.
Era uma palavra que mal se ouvia, mas tinha mais gelo e raiva do que a brisa fria do amanhecer.
Félix, que ainda estava olhando para a frente, conseguiu virar o corpo, mesmo com os punhos fechados e as pernas rígidas. Até agora, este foi sem dúvida o mais terrível amanhecer de sua vida.
Continua…
Nota da tradutora:
[1]Beretta: é o nome genérico atribuído à fábrica de armas de fogo italiana.
***