Querido Benjamin - Capítulo 05
Acomodado sobre o peito de Isaac, os soluços do menino são ouvidos com mais clareza. Era um som comovedor.
Félix não conseguiu esconder seu constrangimento e coçou a bochecha para tentar pensar em algo apropriado para dizer. Honestamente, ele nunca esperava que as coisas fossem ser tão ruins. Quem poderia prever que Benjamin, o protagonista da carta que fazia o rosto de Isaac parecer sonhador, seria um garoto de apenas três anos? Claro, pensando que ele era amante de Isaac, Félix decidiu sequestrar ele e ameaçá-lo ou suborná-lo para que eles pudessem se separar. Na verdade, pensava nele como uma montanha onde usaria todos os tipos de métodos até que fosse derrubada.
Félix anda pela casa ansiosamente… Também morde os lábios enquanto olha atentamente para os olhos de Isaac. Eventualmente, no entanto, ele teve que se desculpar com um pequeno suspiro:
— Isaac, peço desculpas por isso. É meu descuido e toda minha culpa. Sinto muito, de verdade.
Tony, Jack ou qualquer um que o conhecesse ficaria em branco se tivesse visto Félix agir como o fez agora. Ele era impulsivo, selvagem, cruel e mandão, mas não era um homem que pediria desculpas. No entanto, apesar do brilhante Félix Prixel ser tão educado e nervoso a ponto de tremer, Isaac não fez nenhuma mudança de expressão.
Ele carregava o garoto e beijava o topo da cabeça dele o tempo todo.
— Foi o momento mais frustrante que eu já vivi. — Isaac, esfregando ternamente as costas de um Benjamin que finalmente parou de chorar, se aproximou de Félix quando ele o acomodou melhor em seus braços. Os passos ansiosos de Félix param. — Há coisas que você não deve fazer, não importa quem você é. Você sequestrou um garoto com apenas três anos de idade… Não deve ser um crime em seu mundo, mas tocar em meu filho é a pior coisa que você poderia fazer comigo. Não importa o quão ruim seja. Não importa o quão vilão seja ou o quão terrível é sua reputação, Félix, o traficante, também está abusando de crianças pequenas?
— Eu sei. É por isso que admito que é minha culpa e sinceramente peço desculpas.
— Simplesmente… Não quero que isso volte a acontecer.
— Com certeza.
— Voltarei pra casa e espero que não volte a ir na floricultura num futuro próximo.
Ele não era apenas um homem sem emoção, estava tão frio quanto o vento de inverno trazido do norte.
Félix imediatamente segurou o braço dele e o reteve no mesmo lugar. Isaac virou-se para vê-lo, e o garoto, que ainda tinha o rosto apoiado no peito, olhou para cima.
De repente, Félix, que os olhou alternadamente, riu: — Se parecem muito.
Como sempre, ele lançou esse tipo de palavra desleixada. Os olhos que pareciam estranhos, mas também brilhantes, indicavam que não havia mentido.
— Quem se parece com quem?
— O garoto é muito parecido com você.
— Você quer dizer eu? Sério?
A expressão de Isaac, inclinando a cabeça, mostrou um tipo de emoção inesperada e bonita. Como se de repente estivesse muito feliz.
Félix disse novamente. — Sim. A cor dos cabelos e dos olhos são diferentes, então não pude prestar bem atenção no início, mas a assimetria dos olhos e o formato do rosto são semelhantes… É realmente incrível, como se ambos tivessem a mesma alma.
Enquanto Félix continuava falando, rapidamente retirou a mão depois de perceber que ainda estava segurando o braço de Isaac o mais forte que podia. Suas mãos são tão embaraçosas que se movem sem permissão ultimamente. Isaac, que estava em branco por um tempo, finalmente suspirou.
— Benjamin… Bem, é a primeira vez que alguém me diz que se parece comigo. É uma sensação agradável.
— Então, todas as pessoas que te dizem isso estão doentes de catarata.
Félix deu de ombros… Então, dando um tempo do leve constrangimento que o fez sentir, imediatamente foi para uma cadeira.
— Sente-se por um minuto. Benjamin parou de chorar e não seria bom se você o levasse imediatamente. — O rosto de Félix, que havia lhe oferecido um assento, estava sério há muito tempo. A pupila prussiana azul-escura era tão profunda quanto o mar… — Converse um pouco comigo, por favor.
— … Não, será melhor que eu vá. É sério.
— Biscoitos!
Olhando para trás, havia biscoitos com açúcar de chocolate e uma garrafa grande de leite sem lactose. Parecia ser o lanche que Jack preparara para acalmar o garoto, se ele começasse a chorar mais alto.
Félix silenciosamente pegou um biscoito e entregou a Benjamin.
— Pai, olhe. Olhe.
— Sim Isaac, olhe. Alimente o bebê e depois vá. Afinal, existem muitos biscoitos.
Como se tentasse atrair ainda mais o garoto, Félix empurrou a tigela de biscoitos para a frente.
— Eles são muito gostosos. — Claro, o garoto procurou ansiosamente a tigela de biscoitos… Seus olhos brilhavam e suas pernas se moviam de um lado para o outro.
— Papai!
Isaac suspirou brevemente e sentou-se silenciosamente sobre o sofá enquanto abraçava o garoto. Então, o bebê se inclinou e estendeu a mão porque estava absolutamente pronto para alcançar a tigela de biscoitos enquanto se arrastava pela madeira.
Enquanto segura um biscoito que ainda não foi comido, ele procura outro biscoito.
— Não, não faça isso. Um de cada vez.
Mas mesmo antes de Isaac dizer isso, Félix entregou a ele um novo biscoito… E depois outro e outro mais grande. O garoto não mostrou um rosto satisfeito até que ele segurou muitos biscoitos com os quais ele podia sentar nas pernas de seu pai. O som de um garotinho mastigando um biscoito ecoou alto por toda a sala.
Isaac, que olhou a cobiça de seu filho por biscoitos, estalou a língua.
— Agora você não sentirá fome mais tarde. Muito obrigado!
— Você sabia? Lamento o que eu disse antes, ele tem um rosto muito expressivo para ser seu filho.
Isaac simplesmente disse que sim, ele é.
— E sua mãe?
— … Não tem mãe.
— Um pai solteiro… Mas porque vivem separados? Existe alguma razão para você deixá-lo com sua mãe? Isso nem estava no seu registro.
— … Você investigou?
O rosto de Isaac estava sombrio, então Félix parecia muito nervoso novamente. — Não, não eu! De alguma forma, Tony parecia estar investigando isso e aquilo por conta própria. Hmm, eu me sinto mal de qualquer maneira… Embora não tenha sido minha culpa. Peço desculpas por isso também.
Isaac, apesar de todo o prognóstico, simplesmente respondeu — Okay. — Félix estava mais do que envergonhado. Sua expressão sem emoção era diferente porque, na verdade, Isaac estava bastante surpreso. Fechou os olhos e depois os abriu novamente.
Ele estava tonto.
— Então, o quanto você sabe sobre nós?
Em resposta à pergunta de Isaac, Félix levantou e abaixou os ombros. Não era muito, mas Isaac parecia estar cerrando os dentes, ansioso pela sua explicação em detalhes. Finalmente, Félix teve que atualizá-lo com as informações que Tony havia lhe dado. Pequenas coisas… Isaac de repente nem ficou mais surpreso, ansioso ou com raiva. Era só um homem silencioso.
— Bom, você não poderia me dizer qual é a situação?
Félix perguntou isso enquanto olhava para o garoto, que tinha muito chocolate nos lábios. Entregou a ele uma mamadeira cheia de leite.
— Onde você conseguiu isso?
— Meus homens são muito dedicados.
A mamadeira sem derramamento tinha desenhos coloridos em todos os lugares. O garoto largou um dos biscoitos para segurar a mamadeira com leite em uma mão.
— Vamos lá garoto… Você pode colocar os biscoitos no prato e beber leite tranquilamente. Ninguém vai levá-los, se é com isso que você está preocupado.
Ele não sabia se o garoto entenderia suas palavras, mas ainda assim tentou.
— Existem várias circunstâncias.
A voz de Isaac foi ouvida sobre a cabeça de Félix, que observava Benjamin comer biscoitos e beber seu leite. Félix abriu os olhos um pouco mais… Isaac estava sem expressão como sempre.
No entanto, ele também parecia estar muito ansioso.
Félix não queria assustá-lo, então manteve a cintura reta e falou devagar.
— É um problema de família?
— Não.
— Então o que?
Isaac hesitou por um momento, parecia que não decidia entre abrir a boca ou mantê-la fechada. Não queria revelar sua história pessoal para outras pessoas, muito menos queria divulgar tudo para Félix. No entanto, Isaac, que pensava nisso há muito tempo, acabou dizendo: — Eles estão me perseguindo.
Como se fosse uma resposta inesperada, a expressão de Félix mudou sutilmente.
— Você está sendo perseguido? Por quê?
— É difícil dizer até esse ponto, porque é a minha vida pessoal… No entanto, eu tinha medo que eles pudessem prejudicar Benjamin, por isso não o registrei como membro da minha família. Não podemos morar juntos. Minha mãe também não aparece nos meus registros assim que deixei Benjamin com ela.
Ele ainda estava bastante calmo, como se estivesse falando sobre trabalho.
— Então… eu fiz as cartas.
Ficar sem o filho era a coisa mais difícil que poderia lhe acontecer, mas sempre pensara que era o único caminho, porque não sabia quando e como as coisas poderiam piorar… E, no entanto, Félix, como um fantasma, descobriu que Benjamin era seu filho… Não só isso, ele até o sequestrou. Em plena luz do dia! Isso significa que eles poderiam dolorosamente fazer o mesmo, quem quer que seja. Eles vão sequestrar Benjamin e sua mãe com muito mais facilidade do que Félix.
No momento que imaginou, se produziu um calafrio pela sua espinha que fez com que Isaac abraçasse Benjamin. O garotinho que estava encantado com os biscoitos e o leite, suspirou… Só então Isaac percebeu que estava abraçando Benjamin com muita força e o soltou de repente. A ansiedade não desaparece facilmente. Não conseguia se acalmar.
Se Benjamin fosse levado embora, ele não poderia encontrá-lo tão rapidamente quanto agora. Não saberia o que fazer ou como.
Isaac estremeceu, como se estivesse em um período de frio que não se desvanece…
Agora, via o filho uma vez por semana e, quando não suportava o desespero, olhava-o de longe e voltava ao trabalho. Ele não podia nem pendurar ou carregar algo como uma foto de seu rosto… Estava ficando mais difícil mudar agora que Benjamin começara a frequentar a pré-escola e sua mãe estava ficando mais velha.
E agora há Félix…
Ele não podia nem ficar com Félix.
Queria confiar em Félix, mas agora achava que não podia acreditar nele completamente… Se lhe contar tudo sobre ele, como reagirá? Ele disse que estava em total perseguição, mas só queria pedir ajuda. E ajuda para o quê? Deus, foi tão difícil.
Isaac fechou os olhos e enterrou os lábios nos cabelos de Benjamin. Cheira a leite e cheira a talco para bebê… E o cheiro doce peculiar do menino se espalha para seu coração inquieto, tentando acalmá-lo.
— Papai, não faça isso.
Benjamin achou graça e sacudiu a cabeça.
Toda vez que o beijava, cabelos macios faziam cócegas no rosto e no nariz… Era também o momento em que um sorriso doce se espalhava por sua boca.
— Eu vou te ajudar.
Félix disse de repente.
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Continua…
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