Querido Benjamin - Capítulo 02
A pequena loja estava cheia de todos os tipos de flores e pequenas árvores. A maioria das lojas de flores tem tudo organizado em baldes, mas a loja de Isaac é bastante incomum. Os vasos têm solo real, raízes, estão prontas para serem plantados e todas as flores que ele despacha em seu balcão foram especialmente cultivadas por ele.
Na verdade, Isaac sempre gostou de ter árvores e vasos mais do que flores cortadas…
A flor que está sem raízes, se encontra no final de sua vida e só espera murchar. Não importa quão bem embalado esteja ou que cor de papel seja usada… Será apenas por um momento e no próximo segundo desaparecerá. Por outro lado, vasos de plantas significavam a própria vida. Embora fossem plantas em um vaso pequeno e não em um quintal grande, elas estavam vivas e crescendo selvagemente. Abrindo suas pétalas quando o tocava. Agitando-as.
Quanto mais verdes as folhas, mais brilhantes os botões florescem. É por isso que Isaac queria desesperadamente que sua vida fosse mais um vaso de flores do que um buquê feio… Embora, obviamente, dependesse da situação e das pessoas que ele conheceu ao longo do caminho. Porque agora, não se sentia completamente vivo.
— Olá florista Isaac.
Isaac parou de se mover. Ele estava do lado de fora, ajoelhado na frente de uma panela de barro, porque ele realmente queria aproveitar os primeiros raios do sol. Só conseguiu ver o sapato de um homem. Couro limpo, brilhante e sem poeira. O olhar de Isaac subiu lentamente: eram sapatos finos, mas as pernas estavam envoltas em jeans bastante casuais. Uma camisa branca justa. Por fim, seus sentimentos embaraçosos atingiram seu auge quando, inadvertidamente, notou seu sorriso.
Definitivamente, era embaraçoso, mas não achava que tinha autoconfiança suficiente para dizer “adeus” e correr dali… inclusive pensou: Como um homem como ele pode andar pelas ruas de San Diego tão casualmente?
Não querendo continuar pensando nisso, Isaac balançou a cabeça e abriu as mãos para continuar levantando a planta.
— Você está aqui novamente, cliente.
O sorriso do homem ficou mais forte. Afinal, ele havia respondido positivamente à saudação que lhe dava. Os cabelos dourados que fluíam naturalmente em sua testa também acenavam com a ajuda do vento… Ele era literalmente é um homem bonito.
— Então você se lembra de mim?
— … Você é muito bonito. Claro que me lembro.
— Uau, eu não sabia que ia ouvir um elogio de uma florista como você.
O homem estava exagerando quando levantou as mãos e, também, foi o suficiente para mostrar que se sentia feliz… Ele não tinha certeza de como tinha acontecido, mas quando Isaac se levantou e arrumou o avental, acabou levando-o para dentro do interior de sua loja.
O outro homem não estava ali agora, Jack. Aquele que se levantou como um urso marrom pronto para dar uma patada nele… Em vez disso, um cara mais velho e feio curvou-se diante dele e depois, sem dizer nada, o seguiu.
— O que você está procurando hoje?
Levou apenas um momento para voltar ao balcão… Mas imediatamente a sensação de frio ardente foi rapidamente transmitida do lado de sua cabeça. Um som de ferro e metal, um “clique”… Relutantemente, evitando levantar as mãos ou fazer qualquer tipo de movimento repentino, Isaac voltou os olhos para o homem: um Colt Gold Cup 45 estava nas mãos do belo cliente. Havia também um sorriso brilhante de dentes perfeitos.
O focinho da arma pressionou a testa de Isaac novamente:
— Você me conhece?
Isaac, que engoliu em seco, virou os olhos para olhar para frente. Para o espaço com flores e vasos de plantas atrás do balcão.
— Sim, você é o famoso Felix Prixel. Eu te vi no jornal uma vez. — Isaac respondeu inocentemente. Muito calmo. Nessa situação, era mais difícil olhar em volta dele do que olhar para ele.
Felix analisava sua expressão, o rosto, o corpo e os sorrisos de Isaac. Então ele diz em voz alta: — Você realmente sabia? Rapaz, isso é interessante!
Dessa vez, Felix exagerou novamente e deu de ombros. Estava na hora de Isaac se mover, então o focinho da arma que ainda estava sendo empurrado contra sua cabeça abaixou lentamente e se perdeu sob o paletó. Felix estrala a língua e tira uma nota de $ 100 dólares para colocar na palma da mão do homem enorme.
— Eu nunca derrotei Tony nesses tipos de apostas. Não tenho sorte.
— O chefe está muito distraído.
— Não, estou normal. Você que percebe tudo.
O homem grunhiu para Felix como se discordasse de suas palavras. Ele balança a cabeça, de um lado para o outro e depois coloca a nota de US $ 100 no bolso da frente da calça. Isaac, olhando de volta para o cliente, deu um suspiro forçado e permitiu que se aproximasse elegantemente até ele. Não havia outra escolha.
Ninguém nunca sabe o que se passa na cabeça dele.
Ele é o tipo de homem que aponta o cano da arma para as pessoas e depois aposta muito dinheiro apenas porque sente vontade. Embora seja absolutamente óbvio que ele vai perder… Mas talvez, para Felix Prixel, fosse tão normal que não sabia que o consideravam imprevisível ou que pensavam que ele era louco.
Como era de se esperar, era valioso, mesmo do ponto de vista de um homem. “Tony” era na verdade chamado Lee Mok-Bi. O havia seguido fielmente por anos até descobrir que, embora parecesse, não era do tipo que andava pelas ruas lotadas, não gostava do sol nem da conversa, e suas palavras e atitudes eram muito diferentes do que era esperado. Ele não era um homem que tinha muita confiança em si mesmo e os anos que esteve trabalhando o deixaram com sequelas terríveis…
Félix Prixel é um italiano-americano de 30 anos que é famoso pelo tráfico de armas. No exterior, fingia seguir uma rota comercial legítima e honesta, mas todo mundo sabe que é nas rotas ilegais que se tem a maior riqueza. Ele era tão cruel e perigoso quanto os homens da máfia ou do tráfico. Tinha os meios e o capital para distribuir e administrar um negócio perigoso com total sucesso… Pelo menos até agora, se saíra muito bem. Dizia-se que seu avô era um executivo da máfia italiana, a “Cosa Nostra”, mas nada importante foi revelado ainda. Portanto, não havia um, mas duas ou mais instituições na cola dele todos os dias. Claro, entre eles estavam o FBI e a CIA.
Embora acreditassem que ele estivesse morto nos últimos quatro anos, suas ações crescentes eram questionáveis.
Félix levantou o queixo de Isaac com um dedo longo. Seus olhos estavam reflexivamente entrelaçados com aquelas pupilas azuis escuras.
— Mas me pergunto… Como é que um artigo sobre mim apareceu no jornal sem que eu soubesse? Se sim, me diga o que mais ele disse.
— Era um jornal de pesquisa em uma universidade. Dizia que uma base secreta foi instalada há quatro anos em uma pequena ilha na América do Sul. A busca de emergência foi realizada pela CIA, mas não encontraram… Desculpe nada foi encontrado. E mesmo sendo preso, você foi finalmente libertado sem acusação nenhuma.
Depois de um silêncio constrangedor, Felix balançou a cabeça.
— Suas informações são bastante precisas. A CIA me causou muitos problemas por um tempo, sofri muito graças a todos eles.
Felix riu como se estivesse falando sobre as fofocas de uma revista semanal… Mas seus olhos azuis logo pareciam nublar-se. Talvez agora estivesse pensando em algo diferente, porque a mão que agarra o queixo de Isaac começa a fechar em seus ossos… A dor maçante preencheu sua pele.
— Então é isso?
— Desculpe…?
— O que você sabe sobre mim, isso é tudo?
Olhando nos olhos da Prússia, Isaac perdeu suas habilidades por um momento… Claro, ele também sabe que Félix Prixel, um traficante de armas perigoso, um homem da máfia italiana, é um Alfa absolutamente dominante e sufocante. Portanto, ter boa aparência assim é normal, uma felicidade e uma bênção em todos os sentidos da palavra.
— … Isso é tudo.
Isaac mordeu a língua. Você não precisa dizer coisas perigosas só porque sua mente quer. Felix riu, estreitando os olhos.
— Então você só me reconheceu por um artigo em um jornal …
— Apenas um artigo.
— Como eu disse, você é uma caixinha de surpresa. — Félix olhou para Isaac, como se ainda estivesse se divertindo… — Por que você estava tão indiferente, mesmo sabendo quem eu era desde o início?
O polegar de Félix esfrega suavemente sua mandíbula, depois sobe e para em sua bochecha. Isaac queria bater nele para evitar essa terrível cócegas que estava subindo… Mas não pôde fazê-lo porque o focinho da arma provavelmente estaria de volta em sua cabeça.
— Você é um cliente, comprou um buquê de mim. Não trato mal as pessoas que me oferecem seu dinheiro.
— Que garoto tão misterioso. As entranhas dentro de você devem ser imensas. Como pode ser tão insensível? Onde aprendeu a agir assim?
— … Eu tenho uma personalidade forte, porque sou o dono de uma loja de San Diego. Há assaltos. Você sabe…
O sorriso de Félix foi franzido até o final.
— Onde nos conhecemos?
— Bem… Você comprou um ramo de flores na minha tenda faz uma semana.
Isaac respondeu rapidamente… Os escuros olhos de Félix eram tão penetrantes que pareciam tratar olhar dentro dele. Entretanto, murmurou:
— Que decepcionante.
Isaac foi liberado do ataque a sua mandíbula assim que, enquanto esfregava a pele de cima a baixo, o escutou dizer: — Faz outro ramo pra mim.
Como o vendedor não disse nada de imediato, tratou de mudar as palavras:
— Peço desculpas se o método que eu usei foi radical. Me surpreendeu o que Tony me disse, que parecia como se me conhecesse… É raro que uma pessoa comum me conheça.
— Acreditava que eu era alguém do FBI ou da CIA? Sério?
— Bem, você parece um tipo diferente. Em primeiro lugar, é um florista e não pode arrumar um ramo decente. Tem as coisas no vaso, é terrível com as mãos… — Félix, quem disse todas essas palavras grosseiras, olhou casualmente para Isaac da cabeça aos pés. — E não tem medo de ter uma pistola na cabeça. Não se moveu, nem sequer hesitou.
Isaac suspirou, com um monte de palavras atoladas em seu peito.
— Então, em qual conclusão você chegou? Acha que um florista como eu poderia ter trabalhado nas forças especiais?
— Óbvio que não sei, mas pode ser que sim.
Foi uma resposta incômoda. Era natural que ele desse de ombros.
— E que… não me entra na cabeça. Como é que é tão ruim nisso? Tento encontrar uma resposta lógica, mas parece que meu cérebro me leva a outro lugar… Talvez seja só o meu desejo de que tenhamos uma outra conexão, além dessa.
— … Sou um floricultor normal, que casualmente tem dificuldades em pacotar um ramo de flores.
— É isso que eu posso ver.
Encostado no balcão, Félix riu quando fechou os olhos. Foi um sorriso fascinante, que uma televisão normal facilmente o classificaria como “O sorriso de um milhão de dólares”. Qualquer um poderia facilmente se perder nesse sorriso…
E foi aí que Isaac ficou mais do que nervoso.
Deus, é tão assustador. Mas esse não era o plano dele em primeiro lugar?
Teria sido impossível abordá-lo com o pretexto de que iria revelar sua identidade e não tinha coragem o suficiente para dizer o que se lembrava… Pensou que para fazer contato direto com Félix, logo ele se tornaria um bom homem. Um cidadão comum, com uma posição normal, mas perfeitamente bem distribuído em uma área comercial com acesso gratuito. Ele era a imagem de vendendor de uma mercearia que queria viver sem encontrar com um infame traficante de armas.
Não precisou se aproximar primeiro… Foi Félix quem entrou pela porta quando ele queria fechá-la.
Mostrou-lhe a plaquinha de avisos, lhe disse que já era tarde. Deixe-o ir. Em quem poderia acreditar? Isaac nunca tentou pará-lo, não tinha atitudes suspeitas… E ainda assim, ele era esperto.
Enquanto tremia de medo e aumentava suas frases sobre sua vida, Felix verá, ouvirá e confiará apenas nas informações que coletar.
Ele descobrirá.
— Não estou dizendo que sou o melhor, mas é isso que tenho. — Isaac não teve escolha senão continuar com suas palavras. Uma conversa normal. — Amo o que faço.
As sobrancelhas de Félix de repente se enrugaram… Então ele o olhou novamente e ordenou exatamente a mesma coisa de um tempo atrás:
— Faça um buquê para mim.
— Você não disse que não gosta da embalagem que coloquei nas flores? — Isaac sorriu, mas ainda estava se sentindo especialmente cansado. — Suas palavras não têm lógica.
— Um florista não pode fazer um buquê perfeito apenas desejando que isso aconteça. Você precisa praticar.
— Bem…
— Mas, desta vez, escolha uma flor mais nobre. Não é para nenhum encontro.
Félix, depois daquelas palavras finais, descansou casualmente o queixo no braço que estava apoiado no balcão. Ele era literalmente como um cliente comum que estava esperando com pressa…
Isaac foi forçado a se concentrar nos potes.
— O balcão está uma bagunça. Você joga tudo aqui quando chega, certo?
Ele ainda estava com o queixo na mão quando esticou os dedos um do outro: as várias notas e cartões estavam espalhados, como se a gaveta tivesse decidido vomitar tudo… O olhar de Félix então se fixou no ponto exato em que uma bela carta dizia: “Querido Benjamin”.
O som de sua voz se espalhou das pontas dos lábios de Félix e ricocheteou em todas as direções. Foi o mesmo da última vez. Isso também aconteceu com um cartão.
Rastejando de volta para o balcão, em vez de pegar as flores caídas, Isaac rapidamente pegou o cartão e o colocou na gaveta.
— Uau… Escreve com muito carinho
— …
— Você tem um relacionamento de longa distância?
— Não.
— Então por que você escreve cartas assim?
Os olhos de Félix estavam cheios de intensa curiosidade. Isaac ficou em silêncio, deu de ombros e virou-se para voltar a atenção a suas flores.
Atrás dele ainda está o olhar forte de Félix:
— Benjamin… Seu querido Benjamin. Ele é um amante, certo?
— Que cor você quer? Rosa ou bege?
— Seu nome é forte, mas talvez você seja um Beta. Benjamin, um homem, cartas… Fazendo algo tão gay…
— Se você quer algo elegante, bege e amarelo devem ser a melhor opção.
— Você não é um Ômega, é?
Foi o momento em que sentiu que tinha dado todas as respostas erradas. A mão de Isaac ficou paralisada em centímetros das flores.
— Os Ômegas me deixam nervoso.
Felix murmurou isso com uma voz gelada, algo que foi definitivamente muito assustador e deixou sua mente em caos. Isaac o ignorou novamente.
— … Felizmente, os lírios são muito bonitos e frescos hoje. Vou fazer um buquê principalmente de enseada, tudo bem?
E assim as perguntas que eram muito parecidas com um alto nível de assédio sexual não continuaram mais… Embora houvesse uma serenidade aterrorizante no ambiente da loja.
Félix, que ainda estava em pé no balcão, percebeu quando ele terminou de fazer o buquê.
— O arranjo é realmente uma bagunça. Isso me faz duvidar ainda mais da sua identidade… Você sabe o quê? Prefiro levar somente as flores na próxima vez. Em um vaso.
Félix jogou duas notas de US $ 100.
— É demais. Se você não gosta da embalagem, me dê só 50.
Isaac não aceitou o dinheiro que lhe foi dado, mas o outro não queria pegar de volta. Então, Félix os chicoteou no balcão para fazer um som verdadeiramente alto.
— Eu pedi e pago como quiser. Mesmo que seja ruim, você deve ser generoso com o trabalho que lhe deu.
— As enseadas não vale 200.
— Seja qual for o preço da flor, o resto é gorjeta.
Ele virou o corpo, buquê na mão. Não houve despedida e não abriu a boca novamente… A porta se moveu, a campainha tocou e, finalmente, ele saiu.
Como Tony também desapareceu, o silêncio absoluto finalmente chegou. Os ombros de Isaac, que estavam tensos, afrouxaram… E novamente parecia que seus pulmões estavam pedindo uma quantidade exagerada de oxigênio que ele não podia dar. Ofegou. Não foi apenas um sonho?… No entanto, as notas de duzentos dólares no balcão disseram que o que estava acontecendo era absolutamente real.
O homem chamado Félix Prixel era como uma pedra jogada terrivelmente na vida cotidiana de Isaac. A pedra caíra sobre as águas calmas e inevitavelmente vibrará toda a sua superfície.
Se ele nunca o tivesse visto novamente…
Se ao menos…
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Continua..