O Primeiro Mandamento - Capítulo 19
Quando a noite chegou, a neve começou a diminuir. Isso era uma coisa boa, ele almoçou com Ryan e foi para o ensaio. Apesar de estar em sua pior condição, o corpo acostumado seguiu a coreografia com precisão. Evguiêni Oniéguin era a peça que ele havia interpretado mais vezes, mesmo assim, estava preocupado com sua atuação. Curiosamente, Valery recebeu elogios por demonstrar emoções ainda mais intensas do que o habitual naquele dia, em especial no terceiro ato, na cena em que ele percebe que foi ele próprio quem abandonou Titânia. A diretora, Jane, ficou visivelmente satisfeita, dizendo que os trechos antes um pouco insatisfatórios agora estavam completamente preenchidos. Ela comentou que a apresentação de hoje se tornaria lendária.
Após o ensaio, restavam cerca de duas horas até o início do espetáculo. Depois de terminar os preparativos leves na sala de maquiagem, Valery ficou olhando para fora da janela, perdido em pensamentos. Em algum momento, ele começou a sentir que o tempo não passava, mesmo enquanto dançava balé. Antes, os ensaios o faziam esquecer de tudo, deixando-o tão exausto que dormia profundamente e, enquanto esperava o início das apresentações, o tempo costumava voar sem que percebesse.
Mas, por alguma razão, isso não acontecia desde o dia que chegou em Nova York.
Ele aumentou a carga de ensaios de forma incomparável e se dedicou totalmente. Com as conexões da família Winter, trabalhou com coreógrafos muito superiores aos de Saratov e, graças ao seu esforço, conseguiu entrar para o New York City Ballet. Ainda assim, mesmo tendo alcançado tudo o que desejava com tanta paixão, o tempo parecia passar devagar. As pessoas diziam que a glória fugaz da juventude passava rapidamente, mas nada disso parecia se aplicar a ele.
As consequências de não ter dormido direito finalmente começaram a aparecer, e sua cabeça doía, então pensou que seria melhor dormir um pouco, mas, como esperado, o sono não veio. Enquanto estava de olhos fechados, alguém bateu na porta do camarim.
—Entre.
Com sua permissão, a porta se abriu.
—Senhor Belov, como sempre, chegaram presentes para você.
Era Peter, seu empresário. Valery respondeu sem sequer olhar.
—Pode deixar aí, por favor.
—Certo, vou colocar no mesmo lugar de sempre. Ah, hoje também chegou um buquê de flores.
A menção do buquê fez Valery abrir os olhos. Ele virou a cabeça rapidamente e viu lírios sobre a mesa do camarim. Justamente lírios.
Quando o homem se atrasava para as apresentações de Valery, ele costumava mandar flores por alguém. Como uma regra fixa, os buquês, sempre de lírios, chegavam ao seu apertado camarim pouco antes de as apresentações começarem.
Levantando-se de repente, Valery pegou seu casaco e o vestiu às pressas. Em seguida, abriu a porta com urgência e correu até Peter, que estava se afastando. Ele agarrou o pulso do empresário com força, o que fez Peter se virar assustado. Embora fossem ambos alfas, Peter, que era muito mais baixo, olhou para Valery com olhos arregalados.
—Senhor Belov?
—Você viu quem trouxe o buquê?
Valery foi direto ao ponto.
—Hã?
—O buquê, quem te deu?
Levantou um pouco a voz porque estava tão frustrado que pensou que estava ficando louco. Peter, desconcertado diante daquela atitude incomum, respondeu com dificuldade:
—Ah, ah, não. Estava misturado com outros presentes, então não sei quem enviou. Mas acabei de receber, posso perguntar aos responsáveis se preferir.
Não havia tempo para isso. Ignorando a resposta de Peter, Valery soltou o pulso dele e correu. Atravessou o corredor em passos frenéticos, sem prestar atenção em nada ao redor, parou em frente ao elevador, mas, ao perceber que estava em outro andar, seguiu direto para a escada de emergência. Descendo os degraus de dois em dois, chegou rapidamente ao térreo. Na entrada do teatro, que já começava a se encher de pessoas, Valery parou.
O chão de mármore branco, as filas que se formavam, as luzes elegantes que brilhavam suavemente – tudo isso se misturava aos turistas que lotavam o espaço. Com a aparição de alguém vestido com um traje de balé, os olhares da multidão convergiram para Valery. Alguém o reconheceu primeiro e gritou seu nome, fazendo o ambiente se encher de murmúrios, os organizadores olharam para ele com expressões confusas e alarmadas, mas Valery ignorou tudo isso, varrendo o local com os olhos. Não havia nenhum homem alto, de cabelo preto. Claro. O cheiro característico daquele homem não estava ali.
Sem saber ao certo o que procurava, ele saiu correndo do teatro e foi para o lado de fora. Ao redor da fonte do Lincoln Center, as pessoas também se acumulavam. Passando apressado entre elas, ele finalmente avistou, como por um milagre, um homem de cabelos pretos, usando um casaco cinza e um terno. O perfil lembrava tanto o dele que Valery começou a segui-lo, correndo.
O homem continuou andando sem olhar para trás. Valery empurrou quem estava no caminho, ignorando as pessoas que murmuravam ao vê-lo passar, a brisa fria batia em seu rosto, mas ele nem piscou, temendo perder o homem de vista.
‘Droga, por favor, vire-se!’
Percebendo seus pensamentos ou não, o homem não deu qualquer sinal. Ele continuou avançando, sem desviar os olhos de seu próprio caminho. Mesmo sabendo que era uma loucura fazer algo assim antes de uma apresentação, Valery aumentou a velocidade, diminuindo a distância entre eles até que finalmente chegou bem perto.
—Alexei!
Não houve resposta. Valery mordeu os lábios. ‘Claro, não era assim que eu deveria ter te chamado.’ Recriminando-se, ele estendeu a mão e agarrou o braço do homem, gritando mais uma vez:
—Alyosha!
O homem virou-se abruptamente, revelando olhos azulados por um breve instante. O rosto que apareceu à sua frente pareceu, por um segundo fugaz, idêntico ao de seu irmão. A expressão de Valery mudou instantaneamente, o rosto, antes pálido, iluminou-se, e os cabelos dourados pareceram brilhar mais uma vez como se recuperasse a vitalidade.
Mas foi por um momento muito curto. Assim que conseguiu ver o rosto completo, Valery percebeu, com brutal clareza, que aquele homem não era quem ele procurava. Não havia qualquer semelhança real. Apenas a cor dos olhos era a mesma; o porte físico era completamente diferente.
Apenas por segurar o pulso do homem ele poderia ter percebido, Valery deveria ter notado antes. Nem precisava disso. Na verdade deveria ter percebido no momento em que chegou mais perto e sentiu os feromônios do homem.
Alexei não estava em lugar nenhum.
—V-você está bem?
Apesar da situação inesperada, o homem que foi agarrado não demonstrou raiva. Em vez disso, olhou para o rosto de Valery e perguntou. Talvez sua expressão estivesse tão devastada e infeliz que até um estranho se sentiu compelido a se preocupar. Ele deveria pedir desculpas e recuar, mas simplesmente não tinha forças para isso.
—Ahh!
Soltando um suspiro fraco, Valery cambaleou. Soltou o pulso do homem e deu um passo para trás, seus lábios se moveram, mas nenhuma palavra saiu. Lentamente, suas sobrancelhas douradas se arquearam dolorosamente e seus olhos verdes começaram a ficar avermelhados. Uma tristeza insuportável o esmagou. Era como se, ao longo dos dois anos que se passaram, uma montanha de pequenas perdas tivesse se acumulado sobre seus ombros, mas apenas agora, hoje, ela finalmente desabasse, tudo por causa de uma única lembrança: Alexei Sorokin.
Ou melhor, foi a soma desses pequenos pedaços que, juntos, quebraram Valery.
—Não.
Valery balançou a cabeça. Ele não estava bem. Disseram que tudo ficaria melhor, mas nada tinha melhorado. Estava vivendo longe daquela realidade infeliz, cercado por boas pessoas, com uma vida que o mundo invejava, mas nunca havia se sentido feliz.
Valery nunca havia vivido em um mundo sem Alexei, por isso não sabia como seria sua vida sem ele. Quando voltou às origens de seus objetivos, percebeu que Alexei sempre esteve lá, mas havia se esquecido disso. Tudo — querer ganhar dinheiro, querer dançar balé — sempre foi para fazer Alexei feliz.
—Não, eu não estou bem.
Murmurando para si mesmo como um louco, Valery recuou mais um pouco, afastando-se do homem. Passou por ele e seguiu em frente. Em vez de voltar ao teatro, continuou andando, sem direção. Os transeuntes o olhavam com preocupação. Desde que havia chegado a Nova York, Valery sentiu, no fundo da alma, a realidade que agora o engolia. Alexei não estava ao seu lado.
Por mais que tentasse odiar ou detestar o irmão, nunca conseguiu. Alexei era sua família, sua razão de viver, era seu amor. Agora, a ideia de estar completamente sozinho o fez desabar. Um soluço escapou, mas ele mordeu os lábios, tentando reprimir o choro desesperado que subia pela garganta. Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto ele balançava a cabeça repetidamente.
Com as mãos trêmulas, tirou o celular do bolso. Sabia que não deveria fazer isso, mas sentia que morreria se não o fizesse. Uma tristeza avassaladora envolveu sua alma, tão esmagadora que parecia ser fatal. Se a tristeza pudesse matar, Valery teria morrido segundos antes. De tão intensa, a dor era impossível de suportar.
Ele procurou um nome salvo em seus contatos, mas para o qual nunca tinha ligado. Com os dedos trêmulos, errou o número várias vezes antes de finalmente pressionar o contato de Khaleesi Winter. O vento frio flutuou e penetrou o casaco desabotoado, enquanto suas mãos congeladas seguravam o telefone com força. Ele esperava, com desespero, que Khaleesi atendesse o telefone.
[…Valery?]
Quando parecia que o telefone ia desligar, milagrosamente, Khaleesi atendeu. Sua voz, confusa, revelava o espanto de receber uma ligação repentina de Valery após dois anos.
[Aconteceu algo com Ryan? Ou com você?]
“Não, nada aconteceu, sinto muito por ligar de repente. Tenho algo para perguntar.” As palavras que ele deveria dizer estavam todas em sua mente. Porém, o que saiu de sua boca foi apenas uma frase:
—Eu sei que não deveria fazer isso.
Valery murmurou entre soluços, como um pecador confessando seus crimes. Lentamente, ele desmoronou. Com o telefone apertado contra o rosto, ele se agachou, inclinando a cabeça, então ignorando os olhares das pessoas ao redor, concentrou-se apenas na voz de Khaleesi do outro lado da linha.
—Eu sei que não deveria pensar em alguém como ele…. Eu sei que deveria aceitar o Ryan, mas, Khaleesi, eu simplesmente não consigo.
Cada palavra parecia se quebrar ao ser dita. Sem conseguir pronunciar corretamente, soluçando, Valery cobriu o rosto com a palma da mão. ‘Eu preciso vê-lo, imediatamente.’
—Eu sei que não deveria querer ver Alexei, mas continuo querendo isso…
O resto, ele pensaria depois. ‘Então por favor eu quero pelo menos poder ver o seu rosto.’
—Estou enlouquecendo. É tão difícil… não pensar nele… é tão… doloroso.
‘Estou ficando louco.’
Valery admitiu que estava perdendo a sanidade. Ele sabia que Khaleesi não entenderia, mas precisava dizer isso. Precisava de alguém para desabafar, e sabia que esse alguém não podia ser Ryan. Não podia ser nem mesmo um terapeuta. Ele sabia o que as pessoas pensariam se contasse, e por isso, mesmo que fosse para um estranho, não conseguia falar sobre isso.
‘Que tipo de pessoa no mundo ama o filho da pessoa que matou seus pais?’
Valery sabia disso e tentou, com todas as forças, reprimir esses sentimentos e no começo, parecia que estava conseguindo. Quando tentou afastá-lo, achou que havia tido sucesso.
Mas agora percebia que nunca tinha conseguido de fato. A única coisa que havia conseguido era acumular um profundo desprezo por si mesmo e um peso insuportável de culpa, que o estava matando lentamente. Ele se odiava por amar alguém que não deveria e odiava ainda mais a realidade de não poder vê-lo.
Apesar das palavras desconexas e do desespero de Valery, Khaleesi não desligou a ligação. Ela apenas permaneceu em silêncio, ouvindo suas confissões. O silêncio era tão profundo que, por um momento, Valery achou que ela tinha desligado. Mas então, Khaleesi finalmente falou:
[Se você pensa assim porque se sente culpado pelos seus pais… Você não precisa.]
Era como se ela tivesse lido sua mente. Khaleesi acertou em cheio no que o atormentava, mas o que disse a seguir soou estranho. Valery, com esforço, conseguiu responder.
—Mas como posso não me sentir assim? Afinal, estamos falando dos meus pai…
[Não foram os Sorokin que mataram seus pais, na verdade, eles tentaram ajudá-los. Quem matou seus pais foi Igor Volkov.
—…
‘O quê?’
Valery piscou, atônito.
[Ryan realmente não contou a você, não é? Eu também não sabia na época, só descobri um mês depois, quando o caso foi encerrado. Foi estranho, sabe? Seus pais, os Belov, morreram, e no dia seguinte, os Sorokin também foram mortos. Não parecia algo que aconteceria a subordinados que simplesmente seguiram ordens. Também não foi obra de outro grupo rival. Foi uma execução interna. Enquanto investigava as circunstâncias confusas, encontrei as provas.]
As palavras que vinham do outro lado da linha ecoavam em sua mente. Apesar de serem frases claras, como se estivessem sendo sussurradas ao seu lado, Valery as sentia distantes, quase como se pertencessem a outra realidade.
[Entre os registros de Igor Volkov, havia uma anotação. Dizia o seguinte:]
A voz de Khaleesi soava pesada, carregada de um tom complicado.
[Mikhail Sorokin, executado, descumprimento de ordens.]
A mente de Valery parou. Nenhum pensamento surgiu, em vez disso, sentiu como se suas entranhas estivessem sendo torcidas e espremidas. Seu peito parecia ser apertado por mãos invisíveis, e a dor era intensa, como se alguém estivesse arrancando seu coração. Mesmo respirando, sentia uma estranha sensação, como se estivesse sufocando.
[Os membros mais velhos da organização que sobreviveram e foram capturados, eles lembram dessa época. O pai de Alex foi mandado para matar os Belov, mas acabou ajudando na fuga e foi capturado com eles.]
Khaleesi soltou um longo suspiro e depois de hesitar, ela acrescentou uma frase.
[ Acho que Ryan decidiu esconder isso de você, achando que seria melhor. Eu também não queria te contar essas coisas. Mas, se esconder isso for causar mais culpa em você de outra forma…]
—Onde ele está?
Antes que Khaleesi terminasse de falar, Valery perguntou com a voz embargada. O pânico que o havia atingido ainda estava se intensificando, tornando a respiração cada vez mais difícil. Era como se estivesse morrendo, e com grande esforço, ele conseguiu respirar e perguntou novamente.
—Onde está Alexei?
Forçando as pernas que haviam cedido, Valery se esforçou para se levantar. Se a Khaleesi dissesse onde Alexei estava, ele precisava estar de pé para ir até ele. Com dificuldade, conseguiu se erguer e repetiu a pergunta.
—Onde está, Alexei?
Com os olhos vazios, Valery começou a andar. Ele caminhava como se Alexei fosse aparecer a qualquer momento. A cada casal, família ou grupo de pessoas que passava, ele apressava os passos. Logo, a faixa de pedestres surgiu à sua frente. Em sua mente, o beco familiar começou a se formar, o pequeno e decadente centro de Saratov, e ao seguir o prédio da companhia de balé, ele sabia que no final da rua estava a faixa de pedestres. Ao atravessar ali, poderia pegar um ônibus e ir para a casa de Alexei.
Justo no momento, ele viu o ponto de ônibus do outro lado da rua. Sem desviar o olhar de seu celular, ele observou as pessoas esperando o ônibus, ainda em estado de choque.
[Valery, por favor, acalme-se.]
—Onde ele está?!
Ao ouvir a repetição incessante fazendo a mesma pergunta, Khaleesi pareceu se preocupar genuinamente, e sua voz ficou mais grave.
[Valery, onde você está?]
—Onde ele está?
O ônibus estava se aproximando de longe. O número era o mesmo. Quando já estava ficando impaciente, achando que ele iria passar direto, o sinal verde da faixa de pedestres mudou para amarelo, no momento certo. Era a hora certa. Ele atravessou a rua rapidamente, e foi em direção ao ônibus número 22 que estava chegando, e ao seguir pela avenida, em 10 minutos estaria na casa onde Alexei o esperava. Então, ele subiria as escadas correndo, abriria a porta, e se arrastaria em direção ao seu irmão enquanto pedia perdão. Ele se ajoelharia, enterraria o rosto nas coxas dele e diria:
“Eu não sabia. Eu pensei que fosse certo te odiar, também não entendia por que você agiu daquela maneira. Eu não sabia. Eu estava errado. Eu nunca vivi sem você, e ainda assim te disse que iria embora, mesmo sabendo que você me amava…. Eu fiz tudo errado… Por favor… me perdoe”
[Eu também não sei, Valery. Decidi não procurar mais, não há como descobrir. Eu sinto muito. Quando alguém desse tipo se esconde, é difícil encontrá-lo.]
‘Por favor, mostre o seu rosto.’
Assim que as palavras de Khaleesi terminaram, ele deixou o celular cair. Não queria ouvir mais nada. Havia algo que precisava fazer. Precisava pegar aquele ônibus. Se perdesse, o tempo até ver Alexey seria muito mais adiado. Não podia se atrasar nem por um minuto, ou melhor, nem por um segundo. O coração ansioso de Valery o impulsionou. Antes que o semáforo amarelo virasse completamente vermelho, ele pisou na linha branca. Pensava apenas em seguir em direção ao ônibus do outro lado da rua.
Então, ao ouvir o som de alguém gritando, Valery olhou para o lado. Na noite escura como breu, os faróis de um carro brilhavam ameaçadoramente. Olhando para os carros aglomerados na rua, Valery de repente percebeu.
‘Este lugar não é mais Saratov.’
Mesmo que pegasse aquele ônibus, ele não poderia ir até Alexei. No fim da linha de ônibus, Alexei não estaria lá.
Ao mesmo tempo, ouviu o grito novamente. Mesmo vendo as mãos dos pedestres tentando puxá-lo para trás, Valery não recuou, mas escolheu seguir em frente. Em um ponto onde poderia ter evitado, Valery tomou sua decisão.
Valery não tinha forças para suportar um mundo sem Alexey.
O mundo virou de cabeça para baixo. Como no dia em que começou a aprender balé e foi capaz de saltar adequadamente, uma estranha sensação de flutuar no ar o envolveu. No campo de visão piscando em branco, Valery viu a si mesmo, seu passado desbotado. A criança que, mesmo recebendo elogios, só conseguia olhar fixamente através da janela para o ponto onde seu irmão costumava vir buscá-lo.
“Alyosha.”
Com o sussurro de sua própria voz, a luz desapareceu e uma terrível escuridão se abateu. Enterrado na escuridão onde nada podia ser sentido, Valery caiu. Seu corpo, que flutuava no ar, foi puxado pela gravidade e rolou sobre o asfalto, perdendo lentamente os movimentos ele sangrou, um sangue que deveria ter derramado muito antes.
°
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Continua…