O Primeiro Mandamento - Capítulo 16
Acordou devido a uma sensação dolorosa que percorreu todo o seu corpo, o fazendo tremer. Que frio. A primeira coisa que Alexei viu ao forçar as pálpebras pesadas a se abrir foi uma luz avermelhada, a imagem era turva, mas o teto parecia tão limpo que dava a impressão de estar em um hotel. Não, isso não é um hotel. Como poderia ser um hotel quando está tão frio? Nunca tinha estado em um hotel, mas sabia que esse tipo de lugar, que cobrava uma fortuna, deveria ser confortável e luxuoso.
À medida que sua consciência retornava, os calafrios se intensificaram. Seu corpo estava fraco, e qualquer movimento fazia-o tremer, parecia que toda sua força havia sido drenada, como se fosse agora um fraco. Embora fosse uma sensação estranha, ele tinha uma ideia do que estava acontecendo. A única coisa de que podia se orgulhar, sua ótima resistência, havia finalmente cedido — ele parecia ter pego um resfriado sério, justo agora. “O clima é tão frio que o vírus da gripe jamais sobrevivia aqui.” Alexei recordou-se de como T-Mac, por hábito, sempre dizia essa frase.
Reunindo o pouco de força que lhe restava, Alexei se mexeu com dificuldade, e assim que sua mente voltou a funcionar completamente, a dor veio à tona. Uma dor aguda irradiava de seu rosto, e ele respirou fundo. Afinal, tinha levado um soco de Bogdan — meu nariz deve estar quebrado, ou, no mínimo, trincado.
Com esses pensamentos passando por sua cabeça, Alexei olhou ao redor. Viu paredes cobertas por papel de parede marfim, uma cama solitária no centro do quarto, e algumas mesas de cabeceira, várias manchas de sangue estavam espalhadas pelas paredes. A mobília luxuosa contrastava com a cena sombria.
—… E você ainda consegue dormir nessa situação.
Uma voz soou à direita. Embora a pessoa estivesse um pouco afastada, Alexei virou a cabeça na direção da voz, mesmo sem ver o rosto, ele sabia quem era.
—Ryan Winter?
Ao ver uma pessoa que não deveria estar ali, Alexei franziu a testa. Esse movimento trouxe uma onda de dor que fez seu nariz se contorcer, e lágrimas involuntárias brotaram de seus olhos. Ele ignorou o desconforto e soltou um xingamento.
—Que merda, o que você está fazendo aqui?
De repente, sua mente ficou alerta, ele se esqueceu da dor e tentou se levantar. Mas não conseguiu. Não era por causa da dor, mas porque seus pulsos e tornozelos estavam amarrados. Ryan também estava amarrado, sentado no chão com as costas contra a parede, encolhido. O rosto do ômega escureceu com a pergunta de Alexei, ele hesitou, abaixando os olhos e permanecendo em silêncio.
—Diga logo porra!
Alexei amaldiçoou a estupidez de Ryan por ter acreditado nas promessas de Igor de que ele e Valery estariam seguros, ele pensou que tinha sido inteligente ao usar a informação obtida por Khaleesi Winter de maneira eficaz. Alexei devia ter percebido que algo estava errado quando Vadim e Bogdan invadiram a delegacia de polícia de forma tão audaciosa. Mas antes que pudesse sequer reagir, ele havia desmaiado e sido levado para lá.
—Igor não é o tipo de pessoa que perderia o controle da situação a ponto de causar uma guerra aberta desnecessária.
Alexei riu com sarcasmo, o que fez Ryan erguer a cabeça, irritado. Mas desta vez, ele não parecia tão confiante quanto antes.
—Eles passaram dos limites. Mataram várias pessoas só para me trazer até aqui…
Ryan falou com uma voz trêmula, como se estivesse perturbado demais para contar o número de mortos. É a primeira vez que você vê alguém morrer diante dos seus olhos? Alexei, inconscientemente, havia assumido que Ryan também havia testemunhado a morte de seu próprio pai, assim como ele. Mesmo sabendo o que realmente havia acontecido, sua mente tinha se convencido do contrário. Talvez fosse por isso que Alexei acreditou no ódio e na determinação de Ryan e decidiu confiar nele. Pensou que Ryan tinha certeza de que sobreviveria, mesmo já tendo visto o pior.
‘Caso contrário, como você seria diferente dos Belov que morreram tentando fugir?’
—Você realmente achava que esses desgraçados iriam te deixar viver e simplesmente te libertar? A máfia que tem envenenado esta cidade há mais tempo do que a sua própria idade? Dizer que você é ingênuo seria um elogio, você é incrivelmente burro.
A raiva subiu tão rapidamente que a cabeça de Alexei latejou. Quando a intensa excitação começou a diminuir, o calafrio e os tremores voltaram, ele não sabia dizer se era por causa da febre ou do excesso de raiva. Para ser honesto, ele pouco se importava com o fato de Ryan ter sido capturado, o verdadeiro problema era que, se Ryan Winter foi pego, a segurança de Valery, que o ômega prometeu com tanta confiança, estava agora em risco.
—Chega dessa merda, e Valery?
Ryan Winter deu um sobressalto, como se tivesse sido atingido em um ponto fraco. Alexei sentiu a raiva crescer de novo e estava prestes a gritar, mas lembrou-se da importância de não chamar a atenção, controlando-se com dificuldade, ele cerrou os dentes e perguntou de novo.
—Me conte exatamente o que aconteceu, do início ao fim, sem deixar de fora um único detalhe.
Ele precisava entender o que tinha acontecido durante o tempo em que esteve inconsciente. Sua mente estava correndo com inúmeros pensamentos, uma coisa, no entanto, estava clara: Igor deve estar furioso. Claro que estaria.
Igor provavelmente não imaginava que as coisas chegariam a esse ponto. Para ser mais exato, ele nunca pensaria que alguém teria a audácia de fazer algo assim. Ele havia usado Yuri e Alexei como bodes expiatórios, desviando temporariamente a atenção da polícia enquanto aproveitava para contrabandear o que podia. Ele deve ter esperado calmamente o momento certo para atacar a polícia. A suposição de Ryan Winter pode ter sido correta até este ponto. Igor pretendia evitar chamar mais atenção do governo estadual e se agachar, fingindo recuar, enquanto aguardava o momento adequado.
No entanto, o ataque de Khaleesi Winter à sua fábrica mais importante provavelmente o enfureceu além do limite. A polícia, inclusive a família Winter, pensava que conhecia Igor e o havia investigado por muito tempo, mas nenhum deles o conhecia tão bem quanto Alexei. Igor Volkov era uma pessoa que, apesar de se mostrar astuta e cuidadosa, tomava decisões assustadoramente firmes quando precisava dar um exemplo. Ele era capaz de cometer atrocidades que uma pessoa comum jamais seria capaz de entender ou aceitar.
Agora que haviam mexido com sua cidade, ele precisava deixar claro que não ficaria parado. Alexei não sabia ao certo quais medidas Igor havia decidido tomar, mas já tinha certeza de que muitas pessoas acabariam morrendo.
—Três horas atrás… recebi uma ligação de Khaleesi, ela disse que aconteceu alguma coisa na delegacia, que devíamos ser extremamente cuidadosos e que enviaria reforços, para irmos para um esconderijo.
Ryan começou a falar lentamente, e Alexei percebeu uma leve tremulação em sua voz. Se isso foi três horas atrás, então ele não havia ficado desacordado por tanto tempo.
—E então?
Alexei rosnou, impaciente. Ryan hesitou.
—Eu entrei no carro com Valery, e estávamos saindo da cidade em direção a Fargo. Assim que conseguíssemos um voo, iríamos para Nova York… já estava tudo preparado, mas… de repente, carros começaram a nos seguir.
O corpo de Ryan começou a tremer visivelmente. Um pressentimento ruim se espalhou pela mente de Alexei como um veneno, e ele rangeu os dentes antes de perguntar:
—Ele morreu?
Ryan respirou fundo. Alexei gritou:
—Eu perguntei, se ele morreu?
—Não! Não, ele não morreu!
Ryan balançou a cabeça, e as lágrimas finalmente começaram a escorrer de seus olhos azuis, agora um caos de emoções.
—Muitos dos policiais que estavam com a gente, sim, muitos morreram, mas Valery não. Só que… ver tantas pessoas morrerem na frente dele… Valery acabou de passar dos vinte anos, e, ver tudo isso diante dos olhos dele…
—Se você nem conseguiu protegê-lo, para de se preocupar com essas merdas. Se ele não morreu, onde ele está agora?
A crítica venenosa de Alexei deixou Ryan ofegante, forçando-o a responder. Se ele tivesse como mover as mãos, teria agarrado Ryan pela gola. Talvez fosse melhor estarem separados agora, porque Alexei não sabia do que seria capaz nesse momento.
—Eu não sei. Ele tentou me proteger… Valery foi pego primeiro…
—Ele se machucou?
Alexei perguntou desesperado, e Ryan finalmente olhou diretamente para ele. Com uma expressão confusa e atordoada, e balançou a cabeça negativamente.
—Eles atiraram e mataram os policiais, mas Valery só foi nocauteado com um golpe forte na nuca. Receberam ordens para não matá-lo, para levá-lo, e disseram para manter os alfas e ômegas separados… Depois disso, minha memória ficou confusa. Lembro de ser atingido na parte de trás da cabeça, e quando acordei, estava aqui, com você.
Ryan proferiu a última frase e então ficou observando Alexei.
—Eles definitivamente disseram para separar os ômegas dos alfas.
Ryan murmurou como se falasse consigo mesmo, com uma expressão surpresa no rosto.
—Naquele dia, os feromônios que eu senti de você eram diferentes de antes, então eu suspeitei, mas… você é mesmo um ômega? Por que fez isso? Isso é sequer possível?
A cabeça de Alexei começou a latejar. Parte por causa do lamento de Ryan, mas principalmente porque as palavras de Vadim, que ele ouviu antes de desmaiar, ecoavam em sua mente. Se eles haviam percebido que ele era um ômega, Ivan e Igor certamente também já sabiam. O fato de terem mencionado que os ômegas deviam ser separados dos outros o incomodou profundamente. Conhecendo os gostos e a personalidade de Ivan, Alexei já pressentia o que ele poderia fazer. Ao longo dos anos, ele havia visto muitos ômegas serem capturados à força e enlouquecerem sob a tortura de Ivan.
—Agora isso é importante? Quem te disse isso? Se não sabe o nome, pelo menos descreva a aparência.
Pelo timing, não parecia ter sido Vadim ou Bogdan.
—Eu o vi em uma foto. Acho que era Ivan Volkov. Tinha muitos caras armados com tatuagens por toda parte…
Ryan começou a chorar. Ahh. Então Ivan realmente estava envolvido. O pressentimento vago de Alexei agora se transformou em uma certeza, ele sabia exatamente o que Ivan pretendia. Ele havia sido trazido para ser executado, enquanto Ryan provavelmente seria oferecido como troféu a Khaleesi Winter. O destino de ambos seria terrível.
—Por que você mudou sua genética? Valery não fala mais sobre você, eu nunca perguntei nada, mas isso foi por causa dele, não foi? Se ao invés de fazer essa loucura, você tivesse se afastado mais cedo, nada disso estaria acontecendo…
Ryan parecia estar procurando qualquer coisa para culpar, ao invés de colocar a culpa nos Volkovs que os capturaram, ele estava atacando Alexei. Mesmo sabendo que não tinha tempo para discutir, aquelas palavras o irritaram.
—O que Valery precisava era de um ômega. Ele nem sabia do que precisava, e você foi a escolha errada. O que fiz foi uma solução temporária, mas se não fosse pela sua maldita simpatia e enternece, nada disso teria acontecido.
Claro, a relação de causa e efeito não era tão simples assim. Segundo Yuri, a razão pela qual Igor tomou essa decisão foi por causa das coisas que Alexei vinha fazendo durante todo esse tempo. Então, inevitavelmente, ele acabaria morto mais cedo ou mais tarde.
—Ainda com essa conversa?
Ryan elevou o tom de voz. Alexei lançou um rápido olhar em direção à porta. Além do corredor, ele ouviu passos e o som de sapatos ecoando. Pelo ritmo e pela forma de caminhar, ele já imaginava quem era, a maneira desleixada de Ivan andar sempre seguia aquele padrão.
—Fica quieto.
Ryan pareceu interpretar o pedido de Alexei para que ele se calasse como uma provocação. Ele continuou falando:
—O que Valery precisava não era desse tipo de controle, mas de amor, de amor de verdade!
—Cale a boca…
Ivan entrou exatamente no momento perfeito. No mesmo instante em que Alexei sinalizou para Ryan ficar quieto, a porta se abriu. Atrás de Ivan estava Bogdan. Quando Ryan viu Ivan, deu um visível sobressalto, pressionando-se contra a parede. O contraste com a atitude determinada que ele tinha mostrado antes, ao enfrentar Alexei, era intrigante, sugerindo que algo mais poderia ter acontecido enquanto ele era trazido para cá. Talvez houvesse mais do que ele tinha contado.
—Eu imaginei que vocês estivessem tendo uma conversa fofa, mas estavam falando de amor?
Ivan entrou com uma expressão satisfeita, balançando suas caras calças de terno, que claramente não combinavam com ele. Bogdan, parado do lado de fora da porta, olhou ao redor antes de se dirigir a Ivan:
—Se o Sr. Igor souber disso, não vai ficar feliz. A situação não está boa, e não temos tempo para isso. Um, talvez, mas dois…
Quando mencionou “um”, Bogdan lançou um olhar rápido para Alexei. Claramente, ele estava se referindo a ele. Alexei deu um sorriso irônico. Bogdan ergueu levemente os lábios antes de retomar sua expressão impassível.
—Vai estragar meu humor num momento tão divertido? Cale a boca e sai da frente.
Ivan se irritou com a observação realista de Bogdan. Seu humor variando tão rapidamente não parecia coisa de uma pessoa sã. Ao olhar mais de perto, Alexei percebeu que os olhos de Ivan estavam um pouco desfocados; esse idiota provavelmente, se drogou antes de chegar. Impressionante. Com toda essa merda acontecendo, ele ainda está se drogando em casa. Bem, ao menos há algo de positivo: Igor só tem Ivan como filho, e isso, por si só, já é uma sorte.
—Você deve terminar dentro de uma hora. Eu vou buscar o Sr. Igor agora, então seria melhor que terminasse antes disso.
Mesmo diante da “ameaça” velada de Ivan, Bogdan não recuou, o que fez Ivan perder a paciência.
—Cale a boca e sai daqui, agora.
Ivan rosnou e bateu a porta com força, separando Bogdan de Alexei. Alexei, que vinha observando o corredor onde Bogdan estava logo concluiu que estavam na mansão de Ivan. A casa, que Igor deu a ele como presente de aniversário de vinte anos, ficava em uma montanha isolada nos arredores de Saratov, guardada por dezenas de seguranças que também faziam parte da organização. Era o lugar onde Ivan frequentemente praticava suas perversões, independentemente do local. De acordo com Altor, até a droga que transformava um alfa em um ômega foi criada a pedido de Ivan…
—Porra, que coisa irritante.
Ivan murmurou para o ar antes de se virar bruscamente. Ryan, ainda paralisado na mesma posição, não se mexeu, quando Ivan se virou, ele fechou os olhos com força, um gesto que Ivan não deixou de notar enquanto ria debochadamente.
—Onde está aquela atitude ousada de antes? Hein? Que gracinha.
Ivan falou com uma voz cheia de diversão.
—Parece que gostou do que eu mostrei, né? Está tremendo de expectativa? Vou fazer você gritar como aquele outro cara. Depois de passar por isso, você não vai querer se afastar de mim. Toda vez que me ver, vai estar molhado e implorando por mais, não é?
Embora não estivesse claro o que Ivan havia mostrado a Ryan, algo que ele fez tinha aterrorizado o ômega. A cada palavra de Ivan, o rosto do garoto ficava mais pálido. Ivan observou essa reação com deleite, até que, de repente, parou com um som de “Ah”, como se tivesse acabado de ter uma ideia. Ele então virou-se lentamente para Alexei, com um sorriso que parecia ainda mais satisfeito do que antes.
Então começou a caminhar em direção a Alexei, rindo alto enquanto se aproximava.
—Oh, Alyosha.
Conforme Ivan se aproximava, seus feromônios tornaram-se intensamente perceptíveis. Desde que entrou, eles já estavam descontrolados de excitação, mas agora pareciam ainda mais agitados, quase celebrando. A sensação daqueles feromônios roçando na sua pele era repulsiva e causava arrepios.
—Você está realmente reagindo, hein?
Ivan chegou a bater palmas, com uma expressão de loucura estampada no rosto, enquanto se aproximava de Alexei e se agachou na frente dele.
—Quando Vadim falou, eu não acreditei, mas vendo com meus próprios olhos, eu entendo. Você tomou aquele remédio? Tenho certeza.
Ivan inalou profundamente, sentindo o cheiro, e balançou a cabeça como se concordasse consigo mesmo.
—Isso está me enlouquecendo. Nunca vi alguém tão excitante quanto você. Não acredito que, entre todas as pessoas, sou eu quem vai foder nosso Alyosha. Puta merda.
Hahaha. Com os olhos injetados de sangue, Ivan se aproximou mais. Alexei o encarava sem nenhuma emoção, tentando controlar qualquer reação física que seu corpo pudesse demonstrar.
—Esse olhar. Sim, é isso.
Ivan deu uns tapinhas na bochecha de Alexei, cada vez com mais força.
—Eu odiava esse maldito olhar. Hoje eu vou te ensinar uma lição de verdade. Se há algo que eu vou ter hoje com toda certeza, Alyosha, é o seu corpo. Meu pai vai entender. Tenho certeza que vai adorar isso, eu vou brincar com o seu buraco até seu corpo não aguentar mais, e quando estiver no seu ponto mais baixo, vou te matar da forma mais miserável possível. Sim, estou apenas fazendo o que deve ser feito.
Ivan murmurava com uma pronúncia pouco clara, e então riu. Seus olhos estavam opacos como os de um peixe morto, indicando que ele havia usado muito mais drogas do que o normal. Nesse estado, havia uma chance.
—Como você espera abrir um buraco com esse pau menor que um dedo mindinho?
Alexei provocou de propósito, tentando criar uma abertura. Ivan não era um lutador treinado como seus capangas, sua habilidade se limitava a disparar armas. Embora estivesse com as mãos amarradas, Alexei sabia que, se usasse todo o corpo, poderia ter uma chance. A provocação fez Ivan arregalar os olhos de raiva.
—Todos os ômegas com quem você esteve disseram que seria melhor transar com um cachorro do que com você. Você deve ser péssimo na cama pra ser chamado assim, Ivan?
Os feromônios de Ivan ficaram subitamente frios e intensos, como uma lâmina contra a espinha de Alexei. Ele esperava que Ivan perdesse o controle e avançasse sobre ele, no entanto, o homem conseguiu se segurar. Ele respirou pesadamente por alguns instantes e então se levantou. Alexei ficou surpreso. Ivan, acostumado a ser bajulado por todos ao seu redor, havia resistido à provocação.
—Sim, o mais divertido é destruir um cara orgulhoso como você. Vamos ver, talvez seja melhor dar um exemplo primeiro.
A atenção de Ivan voltou-se para Ryan, ele se levantou abruptamente e começou a andar lentamente para a direita. Ryan, sem ter para onde escapar, recuou até ser encurralado no canto da parede.
—Vamos começar por você. Isso vai ser bom. Parece uma boa ideia, vou me aquecer primeiro e provar o sobrinho da vadia da Khaleesi.
—V-vai embora…! Você sabe o que acontece se fizer isso? No mínimo, você vai acabar na prisão…
A voz de Ryan, que havia começado em um grito, foi diminuindo aos poucos. Ele mesmo percebeu que ameaçar Ivan com a prisão não era algo que o intimidaria.
—Vou ser gentil e fazer isso na cama, só para você poder assistir bem de perto. Agradeça por isso.
Ignorando os protestos desesperados de Ryan, Ivan se dirigiu a Alexei, falando enquanto observava sua reação. Começou a cantarolar enquanto estendia a mão para Ryan, que tentou, inutilmente, se contorcer para escapar. Ivan o dominou facilmente, jogando-o sobre o ombro.
—Me solta, me solta! Me solta…!
Ryan, esperneando, foi jogado na cama por Ivan, quando ele tentou se levantar, gritando, o homem o dominou novamente com um tapa estrondoso no rosto. O som foi tão alto que fez os ouvidos de Alexei zumbirem, e Ryan desabou, sem forças. Mesmo assim, Ivan desferiu mais um tapa, fazendo-o estremecer violentamente. Então, puxou as calças do ômega pelas pernas, enquanto desabotoava o cinto e abaixou o zíper. O pênis dentro da cueca exposta ficou em ereto, como se ele estivesse extremamente excitado com aquela situação horrenda, o que fez Alexei sentir uma onda de nojo.
—O que foi? Está ansioso? Aguenta só mais um pouco. Vou só dar uma provadinha nesse aqui, mas com você, farei o banquete completo.
Percebendo o olhar de Alexei, Ivan falou com um tom animado, enquanto puxava a calça de Ryan para baixo. Apesar dele tentar se debater, seus movimentos eram inúteis, a barra da sua calça estava presa nos tornozelos amarrados.
—Não faça isso, não… argh!
A voz que murmurava suavemente se transformou em um grito de terror, foi um medo instintivo. Independentemente da condição, ser forçado a realizar qualquer ato contra sua vontade é algo que a maioria das pessoas não consegue suportar. Com as roupas íntimas também removidas, Ryan, que estava tremendo, começou a chorar, ele tentou desesperadamente fechar as pernas, que estavam escancaradas, mas Ivan nem se incomodou. Como um animal entregue à luxúria, ele posicionou o pênis diretamente entre as pernas de Ryan, como se estivesse pronto para penetrá-lo sem qualquer preparação. Por um breve momento, o ar ficou sufocante. Embora Ryan fosse o responsável por roubar Valery de Alexei, a cena diante de seus olhos fez sua garganta apertar.
Ryan Winter era um civil comum. Não fazia parte das pessoas com quem Alexei normalmente lidava, que pelo menos tinham algum envolvimento com atividades ilícitas. Ele era apenas um homem impotente, alguém absolutamente comum, que havia perdido o pai para Igor e nunca aprendeu a se defender.
Ele é o desgraçado que me prejudicou e roubou a minha pessoa mais preciosa. Por um momento, eu realmente quis matá-lo…
—Isso é tão chato.
Alexei não conseguiu ver Ryan sendo arruinado daquela forma.
—Achei que você faria algo especial, mas é só isso?
Ivan, que estava prestes a se mover, lentamente virou a cabeça em direção a Alexei. Ele piscou lentamente, olhando fixamente, parecendo que ficou chocado pela reação inesperada de Alexei. Claro, estava surpreso. Até então, as únicas pessoas que Ivan havia enfrentado eram aquelas que Vadim e Bogdan já haviam subjugado, que obedeciam pacificamente. Mesmo que ele tenha transformado alfas em ômegas e os estuprado por diversão, esses homens não eram como Alexei.
Com um sorriso sarcástico, Alexei deliberadamente olhou para o órgão de Ivan e levantou o canto da boca.
—Uau, isso é sério? É ainda menor do que ouvi dizer.
O rosto de Ivan se contorceu.
—Você tem certeza de que está ereto?
Foi a primeira vez que alguém falou com Ivan nesse tom. Normalmente, Alexei se forçava a se curvar e agradá-lo, mas gora, ele ria de Ivan, e isso finalmente o fez perder o controle. Mesmo com as provocações anteriores, Ivan parecia à beira de um colapso, mas agora, Alexei havia atingido seu complexo de inferioridade. O que Alexei disse não era mentira. O rumor de que o pênis de Ivan era pequeno corria entre os subordinados, embora ninguém tivesse coragem de brincar com isso abertamente, devido à sua natureza violenta.
—Ter um o pau menor que o de um ômega… que vergonha.
Ivan começou a xingar, saindo imediatamente da cama. Com os olhos injetados, ele abriu bruscamente a gaveta da mesa de cabeceira e puxou uma arma. O cano da arma foi direto para Alexei. Ah, como os alfas, especialmente os homens, podiam ser tão estúpidos e previsíveis. Eles sempre reagiam como cães de briga quando algo atinge seu “orgulho”.
—Eu vou te matar.
Ivan desativou a trava de segurança e logo colocou o dedo no gatilho. Observando os tendões saltados de sua mão, parecia que ele estava prestes a disparar a qualquer momento.
—Como você não pode matar ninguém na cama, tenta aqui então. Vamos, me mate.
Alexei respondeu sem piscar, sorrindo ainda mais, mostrando os dentes. De qualquer forma, ele não poderia matá-lo agora. O fato de ainda estar vivo sugeria que havia ordens de Igor para mantê-lo assim.
—Está rindo? Vamos ver até quando vai rir.
Como havia suspeitado, Ivan começou a xingar, mas logo mudou de atitude. Apesar de drogado, parecia que ainda tinha um pouco de discernimento. Talvez fosse um instinto animalesco, avisando-o de que desobedecer às ordens de seu pai não terminaria bem para ele.
—Você pode estar rindo agora, mas quando eu enfiar essa arma no seu buraco, vai chorar e implorar por misericórdia.
—Com certeza é maior que o seu pau, então, pelo menos vai ser mais prazeroso.
Ivan começou a respirar de forma pesada, como uma fera, irritado com as provocações de Alexei. Com o rosto contorcido de raiva, Ivan se ajoelhou no chão, ainda apontando a arma para ele, e forçou suas pernas a se abrirem. No momento em que a mão impaciente tocou a bunda de Alexei, como se estivesse esperando por isso, ele inclinou a parte superior do corpo para frente, encostando-se na parede. Com um movimento brusco, inclinou seu corpo para frente, fazendo com que sua testa colidisse violentamente com o rosto de Ivan.
—Argh!
A força da pancada foi tamanha que até a cabeça de Alexei doeu. Ivan caiu para trás, atordoado. Apesar de não estar tão bem fisicamente, Alexei sabia que não tinha tempo a perder. Ele se jogou sobre o corpo de Ivan, que, mesmo caído, ainda não havia soltado a arma. Percebendo o movimento tardio de Ivan para erguer a arma, ele rapidamente inclinou seu corpo e pressionou o braço de Ivan com seu antebraço, impedindo-o de se mover.
—Seu filho da…!
—Você é realmente… incrivelmente burro.
Alexei usou todo o peso do corpo para pressionar o máximo que podia o tendão no centro do pulso de Ivan. Tremendo, Ivan resistiu por um tempo, mas logo cedeu, não era de se esperar que alguém com tão pouca experiência em lutas tivesse paciência para suportar tal situação. Assim que ele soltou a arma, Alexei moveu rapidamente o ombro para o outro lado. Em seguida, golpeou a traqueia arfante de Ivan com o cotovelo.
—Ugh!
O grito abafado de Ivan ecoou, seguido de um som sufocado. Alexei teve sorte, se o homem não estivesse drogado, teria sido muito mais difícil subjugá-lo. O fato de seu adversário ser Ivan também era uma vantagem. Nesse estado, dominá-lo não seria problema.
Alexei respirou fundo e continuou a aplicar pressão constante, aumentando gradualmente sua força. Conforme o osso pontiagudo de seu cotovelo pressionava mais a traqueia de Ivan, os olhos do Alfa começaram a revirar. Em poucos minutos, Ivan estaria morto e Alexei sabia disso instintivamente. Sempre conseguia parar logo antes de matar alguém, pois sabia exatamente como neutralizar um oponente.
Mas havia algo estranho.
Desta vez, ele não sentiu repulsa.
A sensação de pânico e nojo que o assombrava até pouco tempo havia desaparecido momentaneamente, substituída por uma estranha euforia e o som de seu próprio coração acelerado. Seus ouvidos estavam zunindo. Parecia que ele podia ouvir Ryan gritar algo, mas não conseguia discernir o que era, só conseguia focar nos olhos de Ivan, que estavam começando a revirar, revelando o branco.
Curiosamente, o rosto de Valery, que sempre aparecia quando Alexei estava à beira de um momento perigoso, não estava ali. Talvez sua imagem estivesse vagamente presente, mas a única coisa que lhe veio à mente foi o rosto impassível de Valery que nem sequer demonstrava desprezo por Alexei. Eram olhos que, de tanto desapontamento, haviam desistido de esperar qualquer coisa. Totalmente desprovidos de expectativa.
Mesmo que Alexei matasse alguém agora, Valery não se importaria. Aos olhos dele, Alexei já era um lixo. Ninguém presta atenção no que faz um inseto. Então, qual seria a diferença?
Apenas mate-o.
É muito mais fácil matá-lo do que deixá-lo viver.
—Pare! Pare com isso!
No exato momento em que estava prestes a aplicar a pressão final, um braço o puxou. Por um breve momento, ele pensou que fosse Ryan, no entanto, não havia como o ômega ter tanta força. A força que o puxou era infinitamente superior à de Ivan, e de alguma forma, aquele toque lhe parecia familiar. O cheiro também.
Alexei sentiu como se seu corpo fosse bruscamente levantado e, em seguida, empurrado para trás, ele foi separado à força de Ivan, e então a situação começou a fazer sentido. O que chamou sua atenção foi um cabelo loiro brilhante, algo que não combinava com o ambiente sombrio e frio da sala. Por um momento, Alexei ficou paralisado, encarando a cena.
Valery está aqui. A franja, molhada de suor, grudava em sua testa, e logo abaixo, Alexei viu cortes profundos e marcas de golpes. Nesse instante, ele se esqueceu completamente de como Valery havia chegado até ali ou da situação em que se encontrava. Ele simplesmente estendeu a mão.
—Você se machucou?
Toda a intenção de matar Ivan desapareceu da mente de Alexei, e ele imediatamente envolveu o rosto de Valery com as mãos. Mesmo com os pulsos amarrados, de algum modo, ele tocou o queixo do garoto. O frio que sentia desde que despertou parecia ter desaparecido naquele momento, seus olhos se encontraram com os de Valery.
Os olhos verdes de Valery, que por um instante congelaram, revelaram uma expressão difícil de descrever. Ele parecia abalado. Não eram os olhos vazios e sem emoção que Alexei havia visto pela última vez, mas agora havia algo ali, embora não fosse um sentimento bom. Não era uma sensação boa, mas o fato de haver algo em seus olhos fez o coração de Alexei bater mais forte.
Mesmo que a expressão de Valery não fosse agradável, a sensação de náusea que o afligia desapareceu instantaneamente. O perfume de Valery, ao contrário do fedor nauseante dos feromônios de Ivan, fez com que o corpo de Alexei se acalmasse de imediato. O frio e os tremores começaram a desaparecer gradualmente e no lugar disso, a preocupação tomou conta dele. Esquecendo o que os havia separado, Alexei só conseguia pensar na segurança de Valery.
—Quem fez isso com você? Você está bem? Tem mais algum lugar machucado, Lerusha?
Ao ver os cortes no rosto de Valery, todo o impulso que sentia antes desapareceu, sem espaço para voltar. A única coisa que dominava Alexei era a necessidade de verificar se sua pessoa querida estava bem. Ele o puxou para mais perto, querendo examinar se havia mais ferimentos, mas nesse momento, Ryan, soluçando, chamou por Valery.
—Valery, eu… estou com medo…
O Alfa, que estava parado por um momento, piscou. Seus lábios tremeram levemente, e ele deu um passo para trás, soltando o braço de Alexei. Em vez de responder às perguntas, ele se virou lentamente e foi até a cama, o calor do corpo de Valery, que Alexei havia sentido em suas mãos, se afastou.
Alexei assistiu a essa cena como se estivesse vendo de longe, como se fosse algo que não lhe dizia respeito. Ele notou a porta aberta, a pesada porta de madeira estava quebrada, como se tivesse sido arrombada com um chute. A cena era um caos, não havia mais ninguém visível. Além de Valery e Ryan, Alexei não via mais ninguém.
—Está tudo bem, vamos sair daqui.
Valery falou com Ryan em um tom gentil, o mesmo que costumava usar com ele. Alexei observou sem nem piscar enquanto Valery puxava o cobertor da cama para cobrir Ryan. Mesmo com o rosto vermelho de vergonha, o ômega assentiu. Valery então arrumou a calça de Ryan, que havia caído até os tornozelos, antes de se levantar da cama. Durante todo esse breve momento, ele não olhou para Alexei nem uma única vez.
Era como se, para ele, apenas Ryan importasse.
‘Mas eu também… estou machucado.’
Esse pensamento infantil passou pela mente de Alexei por um instante. Se ainda fosse o seu Valery, teria perguntado se ele estava bem antes de perguntar a Ryan. Uma amarga percepção começou a surgir lentamente. Por um momento, ele se enganou. Quando Valery o segurou e seus olhares se encontraram, Alexei pensou que ele ainda fosse seu Valery. Mas o Valery que costumava estar em seus braços o havia deixado para sempre dois dias atrás.
‘Ele se foi, de verdade.’
Embora Valery estivesse bem ali diante de seus olhos, ele sentiu como se o homem estivesse desaparecendo da sua vida para sempre. Ao longo de toda a vida de Valery, ele sempre foi sua prioridade. Mesmo que isso viesse de desprezo ou raiva, Alexei Sorokin sempre foi o centro da alma de Valery. Alexei sabia disso instintivamente.
Mas, agora, nesse momento…
Ao ver Valery consolando Ryan sem rejeitá-lo, Alexei foi forçado a aceitar a dolorosa verdade de que o seu mundo havia mudado completamente. Seu mundo virou de cabeça para baixo. Valery não era o tipo de pessoa que ignorava alguém de propósito, então, essa atitude só podia significar uma coisa…
—Vamos sair daqui, Lerusha… eu quero ir embora. Por favor, pelo menos me tire deste quarto.
A atitude de Valery mostrava claramente que agora ele priorizava Ryan Winter.
—Está bem. Só vou soltar as suas amarras. Você consegue se levantar?
Valery disse isso enquanto vasculhava a mesa de cabeceira aberta. Os dois conversavam como se Alexei não estivesse ali. Ele encontrou facilmente a faca na gaveta onde estava a arma e cortou cuidadosamente a braçadeira que prendia Ryan.
Depois de terminar esse processo, Valery finalmente olhou para Alexei. Ele observou por um momento o homem, que estava sentado, atordoado, depois de ser empurrado. Em silêncio, Valery caminhou até ele, ajoelhou-se e também cortou as amarras que prendiam Alexei.
Alexei ficou em silêncio, observando Valery. Era como se o breve momento em que seus olhares se encontraram anteriormente tivesse sido apenas uma ilusão. Valery cortou as amarras sem nem ao menos olhar para ele.
—Como você escapou? Devia haver alguém te vigiando.
Alexei observava, enquanto perguntava de forma calma. Apesar de ter começado a entender a situação, ele não queria aceitar a realidade por completo. Achou que já havia desistido de tudo naquele dia, mas descobriu que não era verdade. Alexei queria, desesperadamente, que Valery lhe desse alguma atenção. Ao ouvir a pergunta, Valery hesitou por um instante, mas logo voltou a cortar as amarras.
—Você dominou alguém para sair?
Se Valery tivesse usado toda a sua força em um chute, até mesmo Bogdan teria seus ossos quebrados. Provavelmente estava sendo vigiado por alguém mais fraco. Mas, mesmo com as suposições de Alexei, Valery permaneceu em silêncio. Sem desistir, Alexei continuou falando.
—Você fez bem.
Ainda assim, o silêncio prevaleceu. Finalmente, o som das amarras sendo cortadas ecoou no ambiente, quebrando a tensão, após terminar o que estava fazendo, Valery largou a faca e se levantou, como se tivesse cumprido sua tarefa. Ele foi até Ryan, que esperava por ele, e cuidadosamente o ergueu, ainda enrolado no cobertor. O ômega, como se estivesse à espera disso, se aninhou nos braços do alfa com naturalidade. Valery o envolveu de forma protetora, como se essa fosse sua responsabilidade inquestionável.
Eles parecem perfeitos juntos.
Alexei finalmente percebeu o quão deslocado estava naquela cena. Assim como uma pessoa não normal só percebe suas próprias diferenças depois de se juntar à multidão de pessoas normais. A posição que Alexei havia trabalhado tanto para proteger foi tomada por Ryan em apenas dois dias.
—Você sabe o caminho para sair daqui?
Só depois de segurar Ryan em seus braços, Valery finalmente falou com Alexei. Ele parecia ter ignorado completamente a pergunta anterior.
—… Sei.
Bem, pelo menos isso é alguma coisa. Pensei que nunca mais o veria, mas pelo menos vi seu rosto.
—Então podemos sair daqui.
—Sim.
Alexei levantou-se lentamente, com seu próprio esforço. Ele estava do outro lado, oposto a Ryan e Valery, que o observavam de longe. Ao encarar a clara linha que os separava, Alexei, relutantemente, teve que reconhecer mais uma vez a diferença entre eles.
Pessoas normais.
E uma pessoa que não é normal.
Cidadãos de bem.
E alguém que pode matar sem sentir qualquer remorso.
Era como se ele estivesse vendo o mundo dividido em uma dicotomia clara. Alexei os observou em silêncio por um momento antes de falar.
—Se saírem pelo espaço que só Ivan usa, poderão sair com facilidade. Com o caos que está acontecendo, ninguém vai desperdiçar recursos para guardar aquele lugar. Se descerem até o porão, vão encontrar uma porta trancada, a senha é 552915. É o lugar onde Ivan leva os ômegas sem que Igor saiba, se seguirem por lá, vão encontrar alguns carros estacionados. Pegue um deles e vá o mais rápido possível até Khaleesi Winter.
Valery, que ouvia a explicação em silêncio, pareceu perceber algo estranho no final. Pela primeira vez, olhou para Alexei e o encarou diretamente. Seus lábios hesitaram antes de perguntar.
—Você não vai com a gente?
Alguns minutos antes, Alexei poderia ter interpretado mal o significado daquela pergunta, mas agora ele sabia com toda certeza. Valery estava apenas se preocupando com ele por uma questão de dever. Não como um irmão, ou alguém importante, ou um ômega querido. Valery não o tinha mais como prioridade.
—Por que eu iria?
Alexei disse, inclinando-se lentamente para pegar a arma. Ivan, ainda inconsciente, não mostrava sinais de despertar.
—Este é o lugar ao qual pertenço.
Ele entregou a arma para Valery. Observou brevemente os olhos verdes do Alfa voltados para ele, mas logo desviou o olhar primeiro. Claro que não podemos ir juntos. Além disso, tem que ter alguém que fique aqui para cuidar do Ivan.
—Você já é adulto. Agora resolva seus próprios problemas.
Se quiser garantir que Valery não se envolva novamente em situações perigosas…
—Valery Belov.
Hoje, aconteça o que acontecer, eu tenho que resolver as coisas com Igor.
—……
Ao ouvir o nome “Belov”, Valery arregalou os olhos surpreso. Logo depois, seus olhos verdes pareceram se contorcer como se tivesse algo a dizer, mas Alexei evitou olhar diretamente para ele de propósito. Os seus sentimentos por Valery teimavam em ressurgir, como uma força de hábito, e ele precisava esmagá-los a todo custo.
—Assim como você quer…
Era hora de colocar um fim nisso. Sim, é assim que deve acabar.
—Nunca… mais nos veremos.
A hora de desistir daquilo que nunca poderia ser seu havia chegado. Alexei lançou um breve olhar para Ryan, que os observava em silêncio. O estado do ômega parecia instável; seus lábios estavam firmemente fechados enquanto ele encarava Alexei, parecendo carregado de culpa e confusão, mas não era algo com que ele precisasse se preocupar. Afinal, não veria mais aquela pessoa.
—Cumpra sua promessa.
Ignorando o fato de Valery não aceitar a arma, ele entregou-a a Ryan. Mesmo relutante, Ryan aceitou o revólver, e foi isso. Pela primeira vez, Alexei desviou o olhar de Valery e passou por ele. Depois, colocou o corpo desmaiado de Ivan sobre os ombros e respirou fundo, o esforço de erguer aquele corpo pesado após o desgaste físico era exaustivo, mas Alexei não demonstrou.
Valery não o impediu de passar.
E ele também não tentou impedir Valery.
Continua…