O Primeiro Mandamento - Capítulo 10
—Eu quero sair.
Valery disse isso ao cair da noite. Foi depois de misturarem os corpos como animais, assim como vinham fazendo nos últimos dez dias. Era provavelmente a primeira vez na vida que Alexei fazia tanto sexo. Enquanto estava deitado, pensando nisso, virou a cabeça em direção a Valery quando ouviu suas palavras.
Assim que ouviu “eu quero sair”, seu coração apertou. O bom humor que vinha sentindo desde esta manhã de repente atingiu o fundo do poço. Ele sabia, assim como Valery, que não podiam ficar ali para sempre, e sabia que o garoto tinha voltado para ele por escolha própria, mas ainda assim, não conseguia evitar sentir ansiedade.
—…Lá fora?
De repente, Alexei sentiu vontade de fumar o cigarro que tinha resistido por um tempo, e, inconscientemente, levantou a mão em direção ao criado-mudo, mas a abaixou de novo. Então, Valery, que estava deitado olhando para o teto, virou o corpo de lado e olhou fixamente para ele.
—Você quer fumar?
Não era uma resposta à pergunta anterior. Com uma leve careta, Alexei olhou para Valery. Houve um tempo em que ele conseguia ler claramente o que aqueles olhos verdes estavam pensando. Agora que estava começando a querer Valery mais e mais, ele sentia saudades desse momento.
—Pode fumar.
Valery disse isso enquanto se levantava parcialmente. Um longo braço se estendeu sobre ele e tocou a mesa de cabeceira, então a pele quente e suave roçou o peito de Alexei. O feromônio de Valery pairou fortemente no ar. Alexei descobriu recentemente que, após o sexo, o perfume de Valery ficava mais intenso. Se fosse apenas um alfa Alexei provavelmente nunca teria percebido isso. A sensação que surgiu dessa constatação foi estranha, uma mistura de agitação e cócegas. Com essas emoções confusas, recusar o convite de fumar parecia difícil. Ele realmente queria fumar.
—Você não gosta disso.
Quando Alexei perguntou se estava tudo bem, Valery abriu a gaveta do criado-mudo. Então, como se lembrasse do que tinha visto da última vez, tirou dali um maço de cigarros. Observando em silêncio, Valery falou gentilmente.
—Mas você gosta, Alyosha.
Alexei parou por um momento. Pensando bem, Valery era uma criança que aceitava qualquer coisa que ele fizesse, então Alexei costumava ser cuidadoso com seu comportamento na frente dele desde muito jovem. Valery agiu como naquela época, fazendo-o pensar se seu pensamento anterior de que não tinha ideia do que ele estava pensando era uma ilusão.
Mesmo após receber permissão, Alexei hesitou antes de aceitar o maço de cigarros. Ele o abriu lentamente e tirou um cigarro, então, encontrou o olhar de Valery, que o observava fixamente como um gato curioso.
—Está curioso?
Valery ainda estava meio inclinado sobre ele. Seus cílios dourados piscavam languidamente.
—Já vi muitos amigos fumarem. Não parece ter um gosto muito agradável.
Dizendo isso, Valery pegou o isqueiro. O som de uma gaveta se fechando ecoou em seguida. Alexei pensou silenciosamente sobre quem poderia ter ousado fumar ao lado do seu precioso irmão. Aqueles que estiveram ao lado de Valery provavelmente já passaram pela sua vigilância. Quando ele estava prestes a lembrar do rosto do mais mal encarado, Valery estendeu o isqueiro para Alexei.
—Mas estou curioso sobre o gosto do cigarro que você fuma, Alyosha.
Será que Valery sabe que está se colocando em perigo? A forma inocente como revelava seus verdadeiros sentimentos despertava o desejo possessivo que Alexei tinha enterrado. Não quero mandar meu irmão mais novo, que está curioso sobre mim, para lugar nenhum. Devido à forma tortuosa e equivocada com a qual ele o reconquistou, os métodos que Alexei imaginava para manter Valery por perto eram todos errados.
—Você é muito jovem para isso.
Afastando os pensamentos sombrios, Alexei balançou a cabeça lentamente. Mesmo que ele não se importasse consigo mesmo, era difícil ver Valery prejudicando a própria saúde.
—Eu já sou adulto. Faz tempo que sou maior de idade.
—Mas ainda não têm idade suficiente para comprar bebidas alcoólicas em uma boate.
Valery, que tinha apenas 20 anos, dizia essas coisas adoravelmente. Ele costumava ficar irritado quando os jovens sob o seu comando diziam coisas assim, mas vindo de Valery, soava diferente. Alexei riu por dentro.
—E, como você pensou, o cigarro realmente não tem um gosto bom.
—Não tem problema.
Da última vez, Valery também o seguiu na bebida, agora parecia querer experimentar tudo que Alexei fazia. Apreensivo com aquele interesse, Alexei decidiu fazer uma exceção desta vez.
—Você só vai poder fumar se acender para mim.
Alexei disse isso e envolveu a mão de Valery, que segurava o isqueiro, ele sempre ficava surpreso quando tocava as mãos brancas. Essas mãos, que antes eram tão pequenas, agora estavam grandes o suficiente para não caberem mais nas suas. Apesar da delicadeza, o comprimento e o tamanho delas eram consideráveis. Quando a mão de Alexei se sobrepôs, Valery tremeu. Ele olhou para a mão ligeiramente trêmula e puxou-a em sua direção, então colocou um cigarro entre os dentes e piscou.
—Acenda.
Valery obedeceu e com um movimento obediente, ele acendeu o isqueiro. Com o som de um clique, a chama apareceu. Talvez por ser um bailarino, até essa ação pareceu mais elegante. Ele aproximou cuidadosamente a chama e parou na frente de Alexei.
—Não quero que você se queime.
Alexei soltou uma risada. Era uma risada genuína, que ele não mostrava fazia muito tempo. Contendo o desejo de acariciar a cabeça de Valery, ele abaixou ligeiramente a cabeça, a ponta do cigarro tocou levemente a chama, e ele deu uma longa tragada. Enquanto inalava profundamente, a chama acendeu o cigarro, e a tão aguardada fumaça invadiu seus pulmões. Ao inspirar profundamente, sentiu-se vivo novamente, era uma sensação de alívio, apesar de saber que, na verdade, estava se destruindo por dentro.
Valery estava esperando pacientemente, observando cada movimento de Alexei, meio inclinado sobre ele, seu olhar era inocente e penetrante. Alexei inalou a fumaça mais uma vez e estendeu o braço, com a mão, segurou o pescoço de Valery e levantou levemente seu tronco. A distância entre eles diminuiu rapidamente e mesmo já tendo mordido e chupado inúmeras vezes os lábios finos e avermelhados de Valery pareciam ainda mais apetitosos.
Então, Alexei encostou levemente seus lábios nos dele. Surpreso, Valery arregalou os olhos, mas apesar do susto, seu corpo se ajustou obedientemente às ações de Alexei. Ele abriu os lábios gentilmente, como havia aprendido. Observando isso, Alexei hesitou por um momento, queria soprar a fumaça suavemente dentro da boca de Valery, fazendo-o engolir o que ele mesmo havia inalado. Mas, considerando que era a primeira vez que Valery fumava, talvez fosse melhor deixá-lo tentar sozinho. Alexei trouxe à tona uma moralidade que não era comum a ele, embora fosse comum entre fumantes compartilharem a fumaça, para Valery isso seria difícil.
Afastando-se levemente dos lábios vermelhos, Alexei soltou a fumaça ao lado. Valery, com um olhar de expectativa e surpresa, olhou para ele, e Alexei sorriu. Então, colocou o cigarro que estava segurando nos lábios do irmão.
—Inale assim.
Ele estava prestes a dizer algo sujo, mas se conteve. Valery, observando o filtro do cigarro que tinha um pouco da saliva de Alexei, colocou-o nos lábios com cuidado. Alexei viu a garganta se mover enquanto ele inalava. que estava fazendo uma coisa errada, foi todo desajeitado em seus movimentos e, pouco depois, a reação que Alexei esperava aconteceu.
Valery começou a tossir intensamente. Era de se esperar, já que ele havia inalado profundamente desde o início. Com a tosse persistente, seus olhos se avermelharam, seu rosto mostrava uma mistura de surpresa e vergonha. Alexei se deitou de costas, rindo baixinho, e pegou o cigarro que Valery havia largado, colocando-o de volta entre os próprios lábios.
—Foi gostoso?
Com uma voz suave, ele acariciou o pescoço do garoto. Com o toque suave, Valery franziu levemente as sobrancelhas e se deitou ao lado de Alexei, como se estivesse chateado. Foi extremamente fofo a maneira como ele se aninhava ali.
—Me engasguei…
Valery murmurou baixinho depois que a tosse cessou. Alexei deu mais algumas tragadas. Ele virou a cabeça para expelir a fumaça, evitando que chegasse a Valery. O cigarro já estava quase no fim, queimando rapidamente. Alexei observou a cena em silêncio e disse calmamente:
—No começo, é sempre assim.
Mas não foi assim para ele. Alexei se lembrou da primeira vez que foi forçado a fumar. No mundo em que vivia, qualquer fraqueza era vista como uma oportunidade para ser subjugado, então ele teve que resistir a tudo com determinação. Felizmente, Alexei tinha talento para lidar com esses vícios.
—E então, não gostou?
Depois de apagar o cigarro no cinzeiro sobre a mesa de cabeceira, Alexei deixou o braço cair ao lado do corpo. Ele olhou de relance para Valery e perguntou. Valery, com uma expressão pensativa, tocou levemente o braço de Alexei, seus longos dedos acariciaram o braço e depois deslizaram para seu peito.
—Eu posso fumar se Alyosha me der.
Alexei não pôde evitar sorrir. Ele não se lembrava de ter rido assim desde que completou 20 anos. Enquanto ria, Valery começou a tocar sua pele nua, acariciando suavemente seus músculos abdominais e peito. Era uma sensação gostosa.
—Quero fazer muitas coisas com você, Alyosha. E também quero sair um pouco de casa.
Será que, quando ele disse que queria sair, era disso que estava falando? Alexei virou a cabeça silenciosamente. Valery estava com os olhos baixos, perdido em seus pensamentos.
—Quando eu era criança, não havia muito que pudesse fazer. Mas agora sou adulto e eu também tenho algum dinheiro guardado…—Valery hesitou um pouco, mas logo decidiu e disse baixinho: —Eu gostaria de ver um filme ou sair para comer alguma coisa juntos.
O que Valéry disse foi tão comum e cotidiano que Alexei ficou em silêncio por um momento. Pensando bem, nunca haviam feito isso, na verdade podia contar nos dedos as poucas vezes em que tinham saído juntos antes. Era uma coisa que qualquer pessoa, não apenas irmãos, poderiam fazer sem pensar algumas vezes.
Ver Valery expressando esse desejo simples fez Alexei sentir ainda mais a sua própria situação. Ele queria responder imediatamente, dizendo que sim. Mas não podia. Dado que haviam sido ameaçados, com a condição de que, se não matassem Ryan, Valery seria ferido, era ainda mais impossível agora. Com a vigilância já instaurada, Igor certamente veria isso como um sinal, imaginando se havia algum plano oculto. Não era o momento para sair com seu irmão.
O silêncio se prolongou até que Valery levantou o olhar, mostrando um traço de resignação. Como se já esperasse a resposta, Valery falou calmamente:
—Não é possível, né?
Se ao menos ele gritasse, poderia ser que Alexei pudesse recusá-lo diretamente, mas a maneira como apenas imaginava a resposta lhe trouxe um sentimento de culpa. Sua garganta estava seca e seu peito pesado. A tal ponto que se perguntou se havia algum sentido em viver assim.
—Por agora, a situação não é das melhores.
—Entendo.
Valery simplesmente aceitou, Alexei também permaneceu em silêncio. Embora ele tenha dito “por agora” e evitado o assunto por um momento, logo Alexei teria que fazer algo que arriscaria sua vida. Seja enganar Igor de qualquer maneira, ou se tornar um inimigo da polícia, as probabilidades de sobreviver eram mínimas.
No segundo caso, mesmo que sobrevivesse, se fosse preso, Igor provavelmente não o tiraria de lá. Alexei já imaginava que Igor usava ele e Yuri como peças e agora, de forma explícita, isso foi confirmado.
Então, resumindo, para Alexei, não havia futuro. Isso também significava que havia poucos dias restantes para atender ao desejo de Valery. Ele estava mais uma vez ciente disso e, ao mesmo tempo, isso o fez sentir ridiculamente desesperado. Era literalmente ridículo. A razão pela qual manteve Valery próximo foi para salvá-lo, e não para ter esperança de um futuro brilhante com ele. Esses breves momentos foram tão pacíficos que acabaram despertando um desejo.
—Alyosha.
Valery chamou o nome de Alexei suavemente, olhando para seu rosto agora sem o sorriso. Ele tentou sorrir, mas não estava com o espírito para isso. Embora nunca tivesse temido a morte, nunca tinha imaginado não poder mais ver Valery.
—Não podemos fugir?
Valery então fez o mesmo pedido que costumava fazer quando era criança. Em vez de odiar e ficar com raiva do irmão mais velho, que levantou a mão para ele pela primeira vez na vida, o garotinho fez esse pedido e implorou que fossem embora juntos. Era assim que Valery agia. Em vez de alguém que estava disposto a abandoná-lo e fugir, ele o transformou em alguém que queria ficar com ele a qualquer custo. Não era a intenção de Alexei, mas foi o que aconteceu. Se dependesse do seu coração, Alexei já teria segurado a mão de Valery e saído dali há muito tempo. De qualquer maneira.
Mas fugir era claramente impossível. Se fosse possível, já teriam feito isso há muito tempo.
Se sair da organização fosse fácil, todos já teriam saído há muito. Igor tinha olhos em toda a cidade. Quem estava sob seu comando vivia constantemente vigiado. Deixando tudo de lado, Alexei sabia do destino daqueles que tentaram fugir, seus pais eram um exemplo claro disso.
A não ser que se optasse por uma escolha extrema como matar Igor e se matar, fugir apenas significaria ser caçado e morrer miseravelmente. E ele sentia uma repulsa instintiva contra isso. Apesar do ódio profundo por Igor, as cenas do passado, profundamente enraizadas em Alexei, não permitiram que ele considerasse a fuga como uma opção. Seria difícil mesmo se tentasse ajudar Valery a escapar sozinho, quanto mais tentar escapar juntos.
Certamente não era possível.
Alexei lutou para não deixar sair uma negativa tão firme que se formava dentro dele. Qual seria o resultado disso? Apenas afastaria Valery, que ele havia se esforçado para manter perto. Agora não era o momento para isso e ele realmente não queria fazer isso. Claro, eventualmente, Valery acabaria se afastando por conta própria, mas…
—Para onde?
Alexei perguntou lentamente, e logo, uma expressão de alegria surgiu no rosto de Valery.
—Como Alyosha disse que não gosta de lugares frios, pensei no sul. Califórnia e Miami são quentes. Ouvi dizer que o Texas também é quente.
As opções que ele escolheu como candidatas eram todas ruins, o que era fofo. A Califórnia estava bem, mas Miami não era o lugar para alguém que trabalhava como ele e nem queria pensar no Texas.
—Não acho que o Texas seria um bom lugar para quem dança balé.
—Então as outras duas opções.
Alexei sorriu em silêncio. Então Valery, após observá-lo por um momento, falou com uma expressão pensativa.
—E quanto ao Canadá? Alyosha tem antecedentes criminais, então…
Surpreendentemente, Alexei ainda não tinha antecedentes criminais. Até Khaleesi Winter chegar ali, os subordinados de Igor nunca tinham pisado na delegacia dessa maneira. A menos que tivessem ido lá para matar alguém.
Valery se preocupava de maneira tão fofa que Alexei tentou rir, mas parou de repente. Ele lembrou-se de Vasily, que estava na fronteira, e dos outros que ele havia enviado para fora. Até agora, Alexei só havia mandado outros embora, mas nunca lhe ocorreu que poderia escapar dessa forma, talvez fosse porque Valery não pertencia àquela “família.”
A nova opção se enraizou em sua mente. Alexei levantou as sobrancelhas enquanto olhava para Valery, e continuou a pensar. Sair da cidade de maneira convencional era difícil porque os olhos de Igor estavam em quase todos os lugares.
Igor era especialmente rigoroso com aqueles que ele chamava de família; qualquer ação não relacionada ao que ele ordenava ou qualquer deslocamento fora do habitual era imediatamente relatado. Os pais de Alexei acabaram morrendo por essa razão. Ele se lembrava vagamente dos pais planejando a fuga com muito cuidado, lembrou das expressões sérias enquanto sussurravam, da bolsa com dinheiro guardada antecipadamente para o momento, do rosto sério do pai enquanto lhe dizia o que fazer no dia da fuga.
Pensando agora, quase conseguiram. Se um dos subordinados do seu pai não o tivesse traído e contado tudo a Igor no último momento, talvez Alexei tivesse tido uma vida diferente. Talvez ele tivesse crescido em uma família normal com seus pais vivos.
Ele sorriu amargamente ao pensar nessas hipóteses vãs. Era inútil. Uma vida sem Valery era algo inimaginável para Alexei, e seus pais já estavam mortos há muito tempo. Eles morreram tentando cumprir seu dever de pais, sendo pegos por Igor de maneira brutal. Essa era a realidade.
Por um momento, ele quase se iludiu, pensando que havia uma possibilidade. Valery agarrou Alexei, que estava prestes a desistir antes mesmo de pensar direito em qualquer coisa.
—Alyosha, você está bem?
Com uma voz cheia de preocupação, Valery tocou seu rosto. Sentir a mão acariciando sua bochecha fez seu coração apertar. Uma sensação de opressão tomou conta dele, como se suas costelas estivessem se comprimindo. Pensando no beco sem saída onde se encontrava, percebeu que, no final, tudo o que restava era Valery. A única razão pela qual Alexei ainda estava vivo estava bem diante dele.
—Se eu disse algo desnecessário, desculpe. Não se preocupe, certo?
Ouvindo as palavras preocupadas dele, seu coração balançou. Sua vontade enfraquecida foi superada por um desejo crescente. Eu não quero ficar. Não quero ficar sozinho nesta terra fria depois de deixar Valery partir. Quero fugir com ele para algum lugar, eu sempre quis isso.
—Não é isso. —Alexei virou a cabeça contra a mão que acariciava sua bochecha. Ele inclinou o queixo para que seus lábios tocassem a palma da mão e sussurrou baixinho.— Estava pensando no que você disse.
Quando seus lábios secos tocaram a palma da mão, ele sentiu um calor. Valery tremeu ligeiramente. Alexei observou com prazer enquanto ele se mexia sem saber o que fazer, e então continuou falando devagar.
—Talvez o Canadá seja uma possibilidade.
Ele riu de si mesmo ao dizer isso. Frequentemente, quando assistia a filmes de desastre na casa de Yuri, Alexei zombava do fato de que o Canadá era o fim da esperança dos americanos. Agora, vendo o país que ele sempre considerou uma piada como sua última esperança, percebeu que não era tão diferente. Mesmo sendo estrangeiro por nascimento, ele nasceu e cresceu neste país.
—Mas, você está bem com a possibilidade de começar do zero?
Havia muito a fazer, desde a criação de passaportes falsos. Ele estava acostumado a começar do zero, mas Valery era diferente. O Canadá era um país estrangeiro e todos os contatos e conexões que ele havia construído desapareceriam, e embora suas habilidades o ajudassem a superar qualquer obstáculo, o caminho seria mais difícil do que o atual. A única vantagem era que Igor provavelmente não estenderia seu alcance além da fronteira.
—Posso me sair bem em qualquer lugar, então está tudo bem.
Valery estava surpreendentemente calmo. Apesar de ter vivido uma vida de prática constante, ele estava tão tranquilo que parecia algo insignificante.
—Porque assumir a responsabilidade por Alyosha é mais importante.
Valery disse isso, e seus lábios tremeram ligeiramente. Não sabia no que ele estava pensando, mas podia ver suas bochechas se tingirem de um leve tom rosado.
—…Se tivermos um filho, não poderemos fazer essas coisas de qualquer maneira. Por isso acho que precisamos sair daqui.
Apesar de sua timidez, Valery terminou de falar, evitando o olhar de Alexei. Ao ouvir a palavra “filho”, Alexei piscou. Sem perceber, ele havia esquecido sua mentira e sentiu uma pontada de culpa. Estava tão envolvido na esperança do momento que esqueceu que Valery estava ao seu lado por causa de uma terrível mentira.
—…E se não tivermos um filho? —Alexei se conteve para não dizer mais do que isso e perguntou. Ao ver a expressão confusa de Valery, ele continuou. —Eu sou um caso especial. Mesmo que eu fique grávido, não há garantia…
Mesmo para alguém tão descarado como ele, terminar essa frase parecia uma farsa. Ainda assim, Alexei forçou as palavras a saírem de seus lábios pesados.
—Não há garantia de que eu serei capaz de dar à luz.
As sobrancelhas de Valery se arquearam com as palavras um tanto frias. Ao olhar para os olhos surpresos, seu coração ficou mais pesado.
—Vai ficar tudo bem.
Valery logo acalmou sua expressão, tocou seus lábios e sussurrou. Era uma sensação agridoce ouvir alguém tão jovem, recém-adulto, tentando tranquilizá-lo. Alexei olhou para ele com uma expressão difícil de definir.
—Também tenho dinheiro guardado, e conseguiremos algum trabalho lá. Vou garantir que Alyosha não se esforce demais. Está bem?
Será que sonhar com esperança é um privilégio dos jovens? Alexei tentou lembrar se ele, com vinte anos, era parecido com Valery. Provavelmente não. Alexei precisou amadurecer rápido. O pessimismo, a resignação, sempre esperando o pior – essa era a maneira dele de sobreviver. As palavras de Valery pareciam ingênuas e irrealistas.
—…Certo.
Mesmo sabendo disso, Alexei respondeu assim.
—Vamos tentar.
Ele decidiu isso porque não queria perder Valery.
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No dia seguinte, havia muito a fazer. Era mais correto dizer que ele apenas adiou suas tarefas, que estavam originalmente planejadas. Tendo ficado escondido em casa por dois dias, era hora de mostrar alguma ação. Mesmo que dissesse que era por causa de Rut, Igor não estava em uma situação de ser muito tolerante agora.
Era hora de encontrar uma maneira de lidar com Ryan Winter, seja matando-o ou não, Alexei precisava ganhar tempo agindo como de costume e pensar no próximo passo durante esse intervalo. De qualquer forma, ele não pretendia se submeter a Igor sem resistência. Era por isso que ele queria discutir isso com Yuri ou T-Mac. Mesmo que fugisse sem matar ninguém, Alexei queria causar o máximo de dano possível a Igor e a maneira mais eficaz seria denunciar os negócios do homem à agência antidrogas, impedindo-o de agir.
Claro, a solução mais simples seria tirar a vida de Igor, mas Alexei sabia que fazer isso sozinho era quase impossível. Alguém ao seu redor, incluindo ele mesmo, certamente morreria e ele não queria fazer tal sacrifício por causa daquele desgraçado.
Ele saiu de casa, pedindo a Valery para agir como sempre. Sentiu-se mais aliviado do que quando o impediu de sair, Valery tinha voltado sozinho e, talvez fosse uma ilusão, mas muitas conversas aconteceram nesses dois dias. Alexei decidiu confiar no garoto, já que ele estava tentando confiar em Alexei.
Enquanto dirigia para o local do traficante de armas, verificou o celular. Não há qualquer mensagem de Yuri. Isso era incomum para ele, e Alexei franziu a testa enquanto olhava para a tela. Depois do que aconteceu entre os dois recentemente, ele também não sabia como encarar Yuri. Sentia-se aliviado e, ao mesmo tempo, preocupado. Como o trabalho com o qual estavam lidando era perigoso, ficou preocupado com o que poderia acontecer.
Após alguma hesitação, Alexei enviou uma mensagem para marcar um encontro à noite, então, chegou ao destino. O lugar, que parecia um armazém abandonado de um complexo industrial, tinha os negócios de Igor escondidos por toda parte. Ele estacionou em um terreno baldio perto do armazém mais velho e negligenciado. Por causa do clima estável, a neve havia derretido, deixando poças que chegavam aos tornozelos. Diante das ruínas que pareciam abandonadas, Alexei se aproximou das correntes trancadas.
A feia cerca de arame farpado era alta demais para alguém escalar. Havia apenas uma maneira de entrar – usar a chave que cada membro da organização recebeu para abrir o cadeado – se alguém cortasse a corrente à força, o alarme soaria, dificultando qualquer ação após a invasão do intruso. Havia também câmeras de vigilância escondidas em vários pontos. Por esses motivos, não era um lugar que pudesse ser visitado frequentemente. Um registro de visitas era mantido, e cada pessoa só podia entrar quando tinha um trabalho específico a fazer ou precisava pegar uma arma designada.
A maioria das armas contrabandeadas pela família Volkov era trazida para este local, embora Igor tivesse armas em sua casa e Ivan em sua fábrica, o armazém principal era aqui. Alexei entrou e trancou o cadeado atrás de si. Essa medida garantia que apenas uma equipe pudesse entrar por vez.
Ao passar por carros abandonados, ele chegou ao armazém. A porta, marcada pelos anos, estava cheia de ferrugem. Ao se aproximar, Alexei olhou rapidamente para cima e à esquerda, havia uma pequena câmera escondida onde uma imagem da Virgem de Vladimir estava pintada na parede – algo que só os membros sabiam. Logo, ele percebeu um movimento dentro do armazém, o som de um cadeado sendo destrancado ecoou de dentro.
—Veio sozinho? Onde você deixou seu amante?
Assim que a porta se abriu, um homem careca falou. Seu nome era Sergei, um brutamontes obcecado por seu trabalho. A palavra “amante” fez Alexei franzir a testa por um momento. Ele tinha se coberto com desodorante, então não deveria haver cheiro algum, mas a pergunta o pegou de surpresa.
—Yuri ainda não passou por aqui?
Logo, Alexei percebeu que isso se referia a Yuri e perguntou lentamente. Sergei, além de ser extremamente inflexível, era também burro e tendia a falar sem pensar, respondendo às perguntas de maneira aleatória.
—Não. Por que você está aqui? O chefe te deu alguma ordem?
Isso era estranho. Alexei franziu ligeiramente a testa, refletindo sobre as palavras de Sergei. Algo parecia errado.
—Uma ordem foi dada.
Uma sensação arrepiante percorreu sua espinha. Quando se referiu a ordens em vez de menções específicas, Sergei franziu o rosto de forma ameaçadora.
—Que ordem?
A voz dele estava cheia de confusão. Alexei estava convencido de que Sergei não tinha inteligência suficiente para mentir, e estava certo de que a situação era suspeita.
—Não vieram outros além de mim? Vadim ou Bogdan?
Mesmo que Igor tivesse decidido usar ele e Yuri como bodes expiatórios, não fazia sentido que uma ordem geral não tivesse sido dada. Com Khaleesi Winter tentando derrubar Igor, era natural que toda a organização se mobilizasse.
—Nos últimos dias, só vi o Senhor Ivan.
Sergei respondeu de forma despreocupada, como se não soubesse o que estava acontecendo. Isso não faz sentido. Parecia que apenas ele e Yuri haviam recebido ordens. No instante em que esse pensamento passou pela mente de Alexei, ele chegou a uma conclusão absurda, mas realista. E se, por acaso, eu e Yuri fomos os únicos envolvidos nesse combate?
Na época, Alexei havia assumido que Vadim e Bogdan também receberiam suas próprias missões além dele e Yuri. Khaleesi Winter estava desempenhando seu papel adequadamente, e Igor nunca tinha enfrentado uma situação assim em seu território. Alexei não acreditava que Igor a deixaria viva, então ele não havia previsto essa possibilidade.
Era necessário encontrar Yuri e esclarecer a situação. As informações de Sergei eram suficientes para isso. Alexei apagou a expressão séria e sorriu, mantendo um sorriso frio, ele revelou seu propósito.
—Só estava perguntando. Faça a entrega. Principalmente munição.
Sergei ficou visivelmente desconfortável. Ele gaguejou e acrescentou, como se finalmente tivesse se lembrado.
—Não temos muitos rifles disponíveis. Há bastante munição de 9mm e cartuchos calibre 12, mas a quantidade de armas restante é pequena. O reabastecimento só vai ocorrer depois da próxima semana.
Alexei ergueu as sobrancelhas. Ele não lembrava de nenhum confronto com um tiroteio recente, e a falta de munição de 5,56mm não fazia sentido. Houve um período de paz e Khaleesi Winter foi designada para o local há pouco tempo. O número de incidentes com tiroteio que ocorreram durante esse período foram poucos.
De acordo com o que Sergei disse, as únicas armas disponíveis para Alexei eram pistolas e rifles.
—Isso também é coisa do chefe?
Sergei pigarreou alto e balançou a cabeça. Embora tentasse parecer casual, sua atuação foi péssima, era surpreendente que ele ainda estivesse em seu posto. Em vez de confrontá-lo, Alexei olhou ao redor. Excluindo Sergei, havia cerca de quatro pessoas que residiam no armazém. Se não tivessem um rifle, não eram muito habilidosos.
Se a suposição que Alexei fez estivesse correta… não, ele esperava que não fosse, mas talvez ele precise voltar aqui no futuro. Alexei decidiu verificar se havia algo que mudou em sua memória desde então.
—Não vejo outros por aqui. Parece que estão tranquilos. Eu trabalho como um louco.
Quando Alexei sorriu com um tom sarcástico, Sergei desviou o olhar. Como a hierarquia era bem estabelecida, havia poucos dispostos a desafiar Alexei ou Yuri, mesmo na posição em que se encontravam. Um dos dentes molares de Sergei havia sido quebrado por Alexei há mais de dez anos. Desde então, o homem aprendeu a obedecer.
—Não. Nós também sabemos que a situação não está boa ultimamente. Victor e Dominic estão na sala de monitoramento, e Luka e Chev estão em patrulha.
—Parece igual ao de antes. Fique de olho, se aquele desgraçado do Luka beber novamente e for pego, dessa vez não vai acabar bem.
—Vou dar a volta conforme planejado, então não se preocupe com isso.
Sergei respondeu de forma irritada. Alexei fez um sinal de que entendia e pediu os suprimentos. Sergei resmungando, virou-se e entrou em uma sala pequena. Era um lugar originalmente usado como sala de controle, agora fechado com uma porta de aço, que o homem guardava com a chave. A partir dali, havia uma escada que descia para o subterrâneo.
Depois de esperar cerca de quinze minutos, Sergei saiu com uma bolsa de duffle preta. Parecia visivelmente mais leve do que as fornecidas no passado. Embora Igor mantivesse Alexei sob controle, ele sempre ofereceu a ajuda necessária para maximizar a eficiência. Nunca antes os suprimentos foram tão escassos. Dúvidas começaram a surgir rapidamente e Alexei se sentiu ansioso. Mas apressar-se não era uma boa ideia. Alexei pegou a mochila oferecida por Sergei e sorriu, mostrando os dentes.
—Cuide-se.
—Por quê?
Talvez eu te veja novamente em breve. Alexei engoliu o que estava prestes a dizer e deu de ombros.
—Vai esfriar de novo.
—Oh meu Deus, você está mais esquisito desde que parei de te ver.
Com um gesto para que se apressasse, Alexei também virou o corpo. Pela leveza da bolsa de duffle, ele supôs que não havia quase nenhum carregador de rifle. Era absurdamente insuficiente para alguém que tinha a tarefa de enfrentar vários policiais. Parecia que o objetivo era realmente morrer.
Ao voltar para o carro, Alexei xingou e acendeu um cigarro. Tirou o celular e viu que Yuri havia respondido. Felizmente, a resposta tinha chegado, embora fosse notavelmente curta.
<No parquinho. Na hora de sempre.>
Pelo fato de não ter dado detalhes, parecia que a situação estava complicada. Alexei conferiu a hora. O parquinho era um terreno vazio onde ele e Yuri costumavam se encontrar quando eram crianças, e havia tantos lugares semelhantes em construção interrompida que era difícil identificar um único local apenas com essa descrição.
Se era a hora de sempre, devia ser por volta das 17 horas. Ambos costumavam ficar no terreno depois das aulas do ensino fundamental, até a hora em que seus pais voltavam para casa. Isso foi antes de conhecer Valery.
Verificando a hora, ele tinha algumas horas antes do encontro. Ligou o carro e ajustou o rádio, ouvindo as notícias sem encontrar nada que chamasse sua atenção. Enquanto fumava vários cigarros, ele passou a mão pelos cabelos. A realidade sombria e os problemas que não sentia em casa pesaram sobre seus ombros.
A situação estava pior do que ele imaginava.
No entanto, ele ainda não sabia exatamente o que estava acontecendo e para descobrir, precisava entender o que estava ao seu redor. Alexei decidiu seguir o plano e monitorar Ryan Winter. Também precisava descobrir até onde Khaleesi Winter estava.
Alexei seguiu para o centro da cidade. O método mais simples era esperar dentro da área de ação de Ryan Winter. Embora sua casa fosse um segredo aberto, e não fosse uma má ideia ficar de olho nela, um pensamento de repente passou pela cabeça de Alexei. Seus dedos que batiam no volante logo definiram seu destino, nesse momento seu carro começou a se dirigir para o centro onde estava o estúdio de Valery.
Ele acabou de chegar ao centro de balé e estacionou o carro, olhando fixamente para a entrada. Não seria possível invadir de forma descarada como da última vez, isso porque um carro que o seguia desde que entrou na cidade havia estacionado nas proximidades. Era a primeira vez que alguém o seguia tão abertamente. Embora ele esperasse ser vigiado por ter assumido a missão, essa vigilância parecia mais obra de outra pessoa do que do próprio Igor.
Uma sensação de mau presságio, que ele já havia sentido no arsenal de armas, tomou conta dele novamente. No entanto, ainda era cedo para ter certeza. Por mais louco que Igor fosse, ele não criaria uma briga interna quando precisavam lidar com Khaleesi Winter. Igor poderia ter se livrado tanto dele quanto de Yuri várias vezes, mas até agora, os havia poupado.
Ele considerou abordar e interrogar os homens no carro, mas decidiu esperar. O pensamento de que Igor pudesse retaliar o incomodava, especialmente porque isso poderia envolver Valery. A realidade, que ele havia esquecido por um momento, voltou com força. Puxando-o para baixo, Alexei retornou ao seu próprio mundo.
Sentindo que estava verdadeiramente à beira de uma encruzilhada em sua vida, uma sensação de sufocamento o dominou, ele não se sentia tão atordoado desde a infância. Estranhamente, Alexei estava ansioso com as opções diante dele.
A morte sempre esteve ao lado de Alexei. Desde o momento em que ficou sozinho, ele teve que lutar para sobreviver e provar seu valor, pensava que seria suficiente viver até que Valery se tornasse adulto. Mas agora, porque essa ansiedade e sensação de vazio entorpecem seu coração? A resposta era óbvia. Se ele e Valery tivessem se afastado completamente, nada disso importaria.
Desde o início, Alexei previu a desgraça ao manter Valery por perto. Ele nunca planejou que Valery o perdoasse ou aceitasse, não esperava e nem ousava desejar isso. Mas o que Alexei não percebeu é que Valery ainda continuava sendo aquele lindo e bom irmãozinho.
‘Alyosha.’
A lembrança do rosto de Valery chamando-o pelo apelido carinhoso, com as bochechas rosadas, tirou-lhe o fôlego. Alexei esfregou a testa e suspirou suavemente. Foi doloroso pensar num futuro em que nunca mais conseguiria ouvir o apelido que finalmente havia recuperado.
Afugentando os pensamentos cada vez mais extremos, Alexei voltou sua atenção para frente. As ruas estavam desertas numa tarde de dia útil, estava tão tranquilo que ninguém perceberia se alguém morresse ali. Poucas pessoas iam e vinham pela entrada do centro de balé. Era uma cidade pequena e insignificante, a única coisa que prosperava ali eram atividades ilegais, e a vida cotidiana que pessoas como Valery podiam desfrutar era extremamente limitada. Alexei pensou calmamente sobre o que o futuro traria se Khaleesi Winter destruísse aquele lugar.
Pelo menos seria melhor do que agora.
Isso também se aplicaria a outras situações. Embora detestasse a ideia de Valery seguir outra pessoa que não ele, se ele estivesse com Ryan Winter não passaria por essas situações miseráveis. Mesmo que ele tenha impedido Valery de ficar com Ryan Winter, se ele pertencesse à família Winter, já estaria vivendo uma nova vida. Mesmo que fosse extremamente doloroso deixá-lo ir, o faria, pois sabia que Ryan Winter era uma pessoa melhor do que ele.
Alexei não conhecia bem Ryan Winter. Lembrou-se vagamente dele apenas após ver os documentos. Em uma cidade grande em área, mas com uma população pequena, todos geralmente conheciam o nome um do outro se frequentassem a mesma escola desde pequenos. Eles frequentaram a mesma escola primária e, depois de ele ter acolhido Valery, Alexei lembrava-se vagamente de ver Ryan ao lado de Valery quando os dois haviam começado o ensino médio. E isso era tudo. Ele não sabia quando Ryan começou a gostar de Valery, se realmente estavam saindo ou qual era o vínculo entre os dois.
Enquanto pensava nisso, ele vagamente lembrou-se de ter visto o pai de Ryan antes. Nunca conheceu ele por causa de Igor. Naquela época, Alexei era muito pequeno e ainda não estava sob o comando de Igor. Isso aconteceu na frente da sua escola, sua mãe sempre o buscava, mas naquele dia, seu pai veio buscá-lo, então ele viu o pai de Ryan, Noah William, conversando com o dele.
Pensando bem, Alexei se perguntou por que seu pai estava conversando com um policial. Era uma memória tão distante que ele praticamente a havia esquecido. Como quase não teve contato com Ryan Winter e, depois que Igor lidou com seus pais, foi difícil para a mente jovem de Alexei lembrar de detalhes daquela época.
Por que meu pai estava conversando com um detetive?
Foi uma cena que só viu de relance, se lembrou vagamente de seu pai dizendo casualmente para ele não se preocupar e não dizer nada a ninguém. As lembranças começaram a fluir lentamente. A cronologia fazia sentido: o encontro com o jovem detetive, a tentativa de fuga de seu pai, a intervenção de Igor, a grande reestruturação na organização…
Mas o pai de Ryan Winter morreu dez anos depois disso. Aquilo definitivamente o incomodou, mas não havia uma conexão clara. Alexei franziu as sobrancelhas e olhou para frente enquanto a pergunta que uma vez lhe ocorreu ficou em sua mente. Mas não havia como descobrir. Todos os envolvidos estavam mortos, e ele não podia simplesmente abordar a família Winter para perguntar se eles lembravam de algo.
Perdido nesses pensamentos, ele olhou rapidamente para o retrovisor. O carro que parou logo depois dele ainda estava lá. Se quisesse encontrar Yuri, precisaria despistar esse carro, felizmente, estava confiante de que poderia fazer isso.
Nesse momento, a pessoa que ele esperava apareceu. Mais precisamente, apareceu mesmo que ele quisesse ver aquele rosto. Tinha ido lá por precaução, mas Ryan Winter agiu exatamente como esperado. Afinal o sujeito que havia proposto a Valery que fugissem juntos não desistiria tão facilmente. E Valery, sendo gentil como era, não teria sido capaz de afastá-lo de forma rude.
Alexei, que batia no volante com a ponta dos dedos, saiu do carro enquanto Ryan conversava com o segurança do centro. Olhando rapidamente para trás, viu que os vigilantes não o estavam seguindo para dentro, ele caminhou em direção ao centro de balé e pegou o celular. Dada a hora, Valery provavelmente estaria lá dentro. Alexei não queria que ele se encontrasse com Ryan.
Depois de hesitar um pouco, ele discou o número. Se ele estivesse ensaiando, era provável que não atendesse. Ansioso, ele apressou o passo. O telefone tocou por um bom tempo. Já fazia tanto tempo desde a última vez que ligou e foi atendido que ele quase desligou por hábito.
[Alyosha?]
A voz de Valery do outro lado da linha soava diferente. Esta foi provavelmente a primeira vez que ele ouviu a voz adulta de Valery pelo telefone. Ouvindo o timbre mais grave do que lembrava, Alexei apertou o celular com força e um desejo ardente começou a emergir.
Eu acabei de reconquistá-lo.
Há tantas coisas sobre Valery que eu não conheço.
Ele perdeu inúmeras coisas desde que afastou o garoto que só olhava para ele. Alexei desejava do fundo do coração que não existisse um Valery Sorokin que ele não conhecesse. O desejo de perder o irmão mais novo, que acabara de reconquistar, consumiu Alexei. Os olhos que antes só olhavam para ele, o olhar inocente e carinhoso, aquela devoção cega eram o que o mantinham vivo. Valery era o objetivo e a razão de Alexei.
—Lerusha, você está na sala de ensaio?
Enquanto ele hesitava, achando estranho conversar pelo telefone, ouviu o som de música sendo desligada do outro lado.
[Sim. E você, Alyosha? Ainda está na rua? Eu já terminei, quando você vai chegar?]
Valery continuou falando animadamente, sua voz era a de um homem adulto, mas para Alexei, ainda soava como a de uma criança. Sem perceber, sua expressão suavizou. Nesse meio tempo, ele entrou pela porta. O segurança que viu Alexei da última vez tentou impedi-lo por um momento, mas quando reconheceu seu rosto hesitou e recuou.
—Vou chegar em breve, você quer sair agora? Quero vê-lo assim que eu chegar.
Alexei disse uma pequena mentira. Um leve sentimento de culpa surgiu e logo desapareceu.
[Vou fazer isso.]
Valery respondeu obedientemente. Sua aceitação sem objeções era encantadora, Alexei queria beijar sua bochecha e abraçá-lo ali mesmo. Ele queria vê-lo imediatamente, mas suprimindo o impulso de voltar, Alexei começou a caminhar pelo corredor. Ryan estava subindo as escadas. Ele começou a diminuir a distância caminhando em um ritmo longo, sem fazer barulho algum com seus sapatos. Então ele sussurrou para Valery:
—Você é um bom garoto.
Depois de um breve silêncio, como se estivesse se acalmando, Valery respondeu em voz baixa:
[…Sinto sua falta.]
No momento em que ouviu essas palavras avassaladoras, Ryan se virou para olhar. Ele estava prestes a entrar no corredor do segundo andar, então instintivamente, Alexei estendeu o braço. No instante em que Ryan o viu, ele avançou rapidamente e o agarrou, o ômega tentou se esquivar para resistir, mas foi inútil. Alexei nunca deixou escapar a presa que desejava capturar.
Dominar Ryan foi fácil. Com força, ele o puxou de volta para as escadas, enquanto Ryan cambaleava, Alexei tapou sua boca e o empurrou contra a parede. Ao ouvir o som abafado, Valery chamou do outro lado da linha, [Alyosha?] Os olhos de Ryan se voltaram para o celular.
Quando ele estava prestes a falar, Alexei pressionou a tela com a palma da mão. Teve que apertar o botão de desligar sem responder a Valery, ele não queria que o garoto visse essa cena. Alexei olhou rapidamente em direção ao segundo andar, depois se inclinou e sussurrou no ouvido de Ryan:
—Se você não quiser acabar com um braço quebrado, fique quieto.
Em vez de se debater e resistir, Ryan olhou para Alexei fixamente. Os olhos azuis, semelhantes mas com saturação diferente, o encararam. Vendo a ausência de medo no rosto de Ryan, Alexei deu um sorriso seco. Admirar sua coragem e ousadia era bom, mas não ali, então com a mão ainda tapando a boca de Ryan, ele o arrastou para o primeiro andar.
Assim que desceu, ele abriu a primeira porta que viu no corredor. O lugar, com luzes fracas piscando e um forte cheiro de desinfetante, parecia um almoxarifado onde os suprimentos eram armazenados. Depois de ficar de costas para a porta, Alexei empurrou Ryan para dentro. Surpreendentemente, Ryan não tentou fugir, pelo contrário, parecia estar esperando por isso, e assim que Alexei tirou a mão da boca dele, o ômega começou a falar.
—O que você acha que o Lerusha diria se soubesse que você está fazendo isso?
Ouvir Valery ser chamado pelo apelido o irritou. Ele já estava incomodado por não ter conseguido responder às últimas palavras de Valery, nesse momento Alexei apagou o sorriso do rosto e sussurrou baixinho:
—Você é bom ator. Da última vez, fingiu que não sabia de nada.
—Não sou tão imbecil quanto os outros.
Os olhos azuis de Ryan lançaram um olhar feroz para Alexei.
—Para alguém que finge ser inteligente, você parece bem idiota. Sabe do perigo que Valery corre estando com você? Você tem um grande agente na família, mas parece que a inteligência não vem com a genética.
Quando Alexei mencionou Khaleesi Winter, Ryan franziu a testa, logo depois, seus olhos se encheram de raiva. Era um olhar cheio de ódio, como se guardasse um rancor profundo, não apenas uma raiva momentânea.
—Não fale da minha família com essa boca suja. Um lixo como você não tem esse direito.
Ver essa raiva descontrolada deixou Alexei curioso. Ele estava acostumado a ser odiado, mas mesmo assim, nunca se envolveu em algo que pudesse causar tanta raiva em Ryan Winter. A maioria das emoções demonstradas pelo público em geral eram medo e aversão, costumavam evitá-lo, quase como se estivessem fugindo do nojo. Mas os sentimentos de Ryan eram diferentes.
—Suas palavras são duras, falando assim, você pode me machucar. Mas isso não é o mais importante agora. Não sei o que você quer com Lerusha, mas se continuar se aproximando assim, ele estará em perigo.
Alexei hesitou enquanto falava. Ele tinha decidido de alguma forma entregar informações sobre Igor para a polícia, mas ainda não estava acostumado a lidar com esse tipo de pessoa. Além disso, Ryan Winter também era um alvo a ser eliminado e mesmo que ele tivesse decidido não matá-lo desde o início, isso não mudava o fato de que era um inimigo.
Mas agora existe um inimigo claro? Alexei pensou com ceticismo. Desde o começo, ele sabia de que lado estava, pelo menos, não tinha motivos para ter ressentimentos em relação à polícia. Era apenas uma aversão instintiva. Como ele sempre trabalhou com coisas ilícitas, Alexei sabia que precisava evitar se envolver com pessoas da polícia.
Estava curioso sobre o porquê de seu pai ter se encontrado com o pai de Ryan Winter.
Parou um instante, lembrando-se disso, e calou a boca. Considerando o que tinha acontecido antes, era melhor encerrar a situação com uma ameaça silenciosa do que criar problemas desnecessários trazendo à tona questões irrelevantes. A hora para encontrar Yuri estava se aproximando, e ele ainda precisava explicar o que havia acontecido antes a Valery. De qualquer forma, Ryan Winter provavelmente nem se lembrava disso.
—Ele é meu irmão mais novo, e você é da família Winter. E acho que você sabe bem qual é a minha linha de trabalho.
Alexei sorriu, mostrando os dentes. Uma das mãos, que estava no ombro de Ryan, lentamente se moveu para sua nuca. O pescoço fino do ômega, que era muito menor e mais delicado que o de Alexei, parecia frágil o suficiente para ser esmagado em suas mãos.
—Que tal deixar Romeu e Julieta como um clássico? Não há necessidade de apressar sua morte quando você já está em perigo.
Ele agarrou o pescoço de Ryan. As mãos que pareciam pequenas quando comparadas às de Valery eram grandes e brutais na realidade, fortes o suficiente para matar alguém. Quando apertou um pouco, Ryan abriu os lábios, mas não havia nenhum traço de medo em seu rosto.
—Então, você precisa fazer isso para manter Lerusha? —Disse isso em vez de demonstrar medo e com uma leve expressão de dor, Ryan continuou: — Lerusha poderia estar seguro. Ele estava pronto para partir comigo até você aparecer e estragar tudo.
Alexei torceu os lábios.
—Fiquei sob vigilância desde o momento em que cheguei aqui, mas você realmente acha que isso é possível? Matar um ou dois policiais que protegem você não é problema para os Volkovs.
Quando ele falou sarcasticamente, o rosto de Ryan ficou pálido por um momento. Ele baixou o olhar como se estivesse pensando em algo por um momento, depois respondeu com uma voz cheia de raiva:
—Nem mesmo Igor Volkov arriscaria chamar atenção desnecessária matando dezenas de policiais. No passado, ele se safou porque haviam poucos focados nisso. Mas os tempos são outros agora. Usar a mídia, atrair a atenção das pessoas, é uma coisa completamente diferente hoje. Ele não é o tipo de pessoa que entraria em uma guerra, matando todos os policiais que escoltaram a mim e a Valery quando partimos.
Ryan falou como se soubesse muito bem. Parecia até que ele sabia mais do que Alexei, que passou a vida inteira ao lado de Igor, como um cão leal.
—Volkov é um bastardo que faz tudo o que quer. Não é alguém que se deixaria intimidar com a chefe da polícia se mostrando por aí.
—Mas ele sabe qual é a prioridade. Se ele mexer conosco agora, vai acabar atraindo atenção desnecessária e o seu raio de atividade será reduzido. Matar um agente da fiscalização sempre gera uma grande repercussão, e a DEA certamente enviará mais pessoal. Nesse cenário, fazer um documentário sobre narcóticos em Saratov será apenas questão de tempo. Você acha que Igor Volkov vai ficar feliz com isso?
O olhar que parecia dizer “não sabe disso?” provocou Alexei. Na verdade, ele agora sabia que Igor ainda estava espionando Valery e usando-o como uma estratégia para mantê-lo na coleira. Se soubesse disso antes, não teria sido tão severo com Valery como naquela ocasião. Se sentiu tomado por uma sensação de inferioridade e vergonha, como se o adversário tivesse uma visão clara de como ele estava sendo manipulado por Igor.
‘Um cachorro não sabe o que o dono está pensando. Apenas obedece ordens.’
Esse pensamento sussurrou em sua mente. A mão que segurava o pescoço de Ryan ganhou força. Ryan soltou um som abafado, e Alexei pressionou cada dedo com mais força. Matar dessa forma seria fácil, bastava colocar mais uma mão e apertar aquela garganta fina até obstruir a respiração.
Assim, Valery não seria mais importunado.
Com esse pensamento final, Alexei relaxou a força. Valery era a última parte de sua consciência, era a única razão pela qual ele ainda não havia se tornado um assassino. Ao pensar no nome, recuperou os sentidos. Relaxando a pressão, Ryan curvou-se e começou a tossir, Alexei se afastou um pouco, esperando que a tosse parasse, enquanto refletia sobre o que acabara de ouvir.
Se, como disse Ryan, Igor decidiu não ir para um confronto direto, então a lógica se encaixa. A razão pela qual as ordens foram dadas apenas para ele e Yuri foi para usá-los para mostrar um exemplo eficaz e, além disso, o plano era desestabilizar o espírito de Khaleesi Winter, que se tornaria uma ameaça. Pensar que todos, incluindo Vadim e Bogdan, seriam mobilizados foi um equívoco.
Ele não estava pedindo que assumissem riscos incertos. Na verdade queria que os dois morressem.
Depois de parar de tossir, Ryan ajeitou o cabelo desarrumado e se recompôs. Finalmente, ele olhou para Alexei com desdém.
—Tudo o que sabem fazer é trair, matar e enganar. É isso que pessoas como você fazem. —A voz cheia de ódio continuou: —Se você tivesse alguma consciência, já teria se entregado à polícia há muito tempo. Pelo menos, se quisesse ser digno de estar ao lado de Lerusha, deveria ter feito isso. Mesmo cometendo todo tipo de crime, você não quer ser punido, certo? É por isso que pessoas como você são repugnantes. Para Lerusha, estar ao seu lado já é um castigo.
Dessa vez, Alexei não apertou o pescoço de Ryan. As palavras dele o atingiram como um golpe inesperado, Alexei não tinha considerado a possibilidade de se entregar à polícia. Não podia deixar Valery sozinho. Não queria que ele vivesse uma vida solitária, vagando por instituições de proteção e não conseguindo realizar realmente seu sonho de dançar balé.
Mesmo assim, foi difícil responder. As memórias de todos os crimes que cometeu surgiram, e a consciência, que ele pensava ter abandonado, começou a incomodar. Era um pesadelo. Vivia uma vida onde a única escolha era entre essas opções, ter consciência era um fardo.
Enquanto ele mantinha a boca fechada, Ryan continuou, elevando a voz e disparando contra Alexei:
—O que você fez com Lerusha? Até quando vai manter aquele garoto com seu egoísmo nojento? Você sabe a dor que causou a ele? Acredita mesmo que o que você fez ‘por ele’ realmente ajudou em algum momento? Nem o carinho, nem as explicações, nem nada do que ele precisava você ofereceu. E ainda acha que sua auto-satisfação nojenta é amor por Lerusha.
Ryan Winter era como um espelho cruel. Um espelho que refletia brutalmente a imagem de Alexei, oculta na escuridão, e que ele não conseguia ver claramente.
—Se realmente se importasse com ele, deveria tê-lo deixado ir.
Ryan falou com os dentes cerrados. Alexei observou silenciosamente o ódio crescente de Ryan e refletiu se realmente seu egoísmo havia sido o motivo pelo qual afastou Valery do Omega. Não foi isso. Não foi por egoísmo. Ryan não tinha a força necessária para proteger Valery, e a notícia de que seu irmão mais novo estava namorando um parente de Khaleesi Winter certamente chegaria a Igor em pouco tempo.
‘Mas e você, Alexei, tem algum poder?’
Essa foi uma pergunta cruel. Alexei manteve a boca fechada e encarou Ryan. Ele tinha força. Força suficiente para matar aquele arrogante ômega à sua frente com as próprias mãos, uma força que havia adquirido e refinado com o tempo. Mas não tinha a força para derrubar Igor. Antes mesmo de tentar matá-lo, seria superado em números. Ele era forte, mas não tão forte quanto as esperanças irreais dos filmes. Era exatamente isso.
O que Ryan disse não era algo completamente novo. Todos lhe disseram isso. Que a obsessão dele por Valery não ajudava a ninguém. Yuri, T-Mac e todos que o conheciam não entendiam por que Alexei estava tão fixado em Valery.
Era uma razão realmente simples.
—Eu preciso de Valery. —Alexei disse isso. Ryan fez uma expressão de desprezo, mas antes que ele abrisse a boca, Alexei continuou:—Valery é a única família que eu tenho e a razão pela qual ainda estou vivo. Você não é assim. Entre todos os alfas, por que tinha que ser exatamente Valery? Fazendo-o correr riscos? Se eu tivesse morrido, ele nem teria te conhecido. Assim como eu preciso dele, ele também precisa de mim. É assim que vivemos. Não interfira em assuntos de família.
Ele enfatizou a palavra “família”. Ryan ficou em silêncio por um momento e, em seguida, soltou uma risada, com um sorriso irônico, ele ergueu os olhos.
—Você não pode proteger Valery.
Ryan parou de rir e disse isso. Antes que Alexei pudesse negar, ele falou primeiro:
—Volkov ofereceu um acordo a Khaleesi. Ele pediu a alguém que lhe enviasse um documento.
Alexei piscou, sem conseguir entender imediatamente o que acabara de ouvir.
—O documento tinha evidências sobre os homens que mataram meu pai e outros policiais na época. Era tudo muito detalhado. Só considerando as drogas fornecidas e os crimes relacionados, já seria uma pena de prisão perpétua, e ainda há assassinato. Ele pode receber uma pena perpétua registrada, ou talvez antes disso, ser morto pelos policiais.
Gradualmente, Alexei começou a entender quem eram esses alvos. Ele sorriu por dentro. Naquela época, Alexei e Yuri tinham acabado de se tornar adultos. Então ficaram encarregados apenas de descartar os cadáveres que haviam sido desmembrados. Parece que a cena daquela época foi filmada ou manipulada e usada como prova.
—É como se dissessem: Vou entregar o inimigo imediato, então se preocupe com isso por enquanto.’ Não está curioso para saber quem são os alvos?
Alexei começou a balbuciar uma negação com os lábios, mas logo percebeu que sem provas, aquilo não tinha significado. Afinal, Ryan Winter não iria acreditar nele de qualquer forma. Em vez disso, fez uma pergunta:
—Por que você está me dizendo isso? Se você está certo, de qualquer forma ele vai acabar sendo pego.
Uma expressão de desagrado apareceu no rosto de Ryan. Fechando os olhos por um momento, ele suspirou e sussurrou:
—Porque Lerusha ficará triste.
—Não é da sua conta.
—Eu não posso mais suportar ver Lerusha triste por sua causa. Porque não sou um bastardo egoísta como você.
Ryan soltou as palavras cortantes.
—Já que estamos aqui, vou colocar uma condição. Eu preferiria vê-lo morrer, mas, no estado atual, isso não é possível.
—O que você está tramando?
—Mesmo se você morrer, precisa fazer isso de maneira que não cause nenhum dano a Lerusha.
Ryan olhou diretamente para Alexei ao apresentar sua condição.
—Vou tentar negociar uma redução de pena com Khaleesi. Se não for possível, pelo menos vou garantir que você sobreviva com a ajuda de alguém, seja da polícia ou de Igor.
Ryan sussurrou como se estivesse oferecendo uma escolha já determinada.
—Corte os laços com Lerusha. Você é bom em fazer isso.
Na verdade, não havia escolha desde o início.
“Faça-o odiá-lo mais do que antes, se puder. Faça com que ele se sinta péssimo apenas ao ouvir seu nome. Assim, eu vou garantir que você sobreviva, isso é importante, certo? Você fez tudo isso para sobreviver. Lerusha ficará bem, eu e Khaleesi não somos tão estúpidos quanto Volkov ou você pensa. Existe uma maneira de proteger Lerusha de alguma forma.
Alexei ouviu suas palavras em silêncio. Ficou parado, olhando para Ryan como se não pudesse entender. Sim, ele não conseguia entender.
—Por que você está fazendo tudo isso?
Por mais que Ryan Winter amasse Valery, ele não conseguia entender por que era tão protetor com ele, que era, de certa forma, um membro da família de seu inimigo.
—De qualquer forma, Valery é da minha família. Sendo parte da família de alguém que você odeia tanto, por que você está tentando protegê-lo?
Ryan manteve o olhar fixo em Alexei, com uma expressão de confusão. Parecia, na verdade, que estava perplexo.
—Você está falando isso sabendo ou sem saber?
—Fale claramente.
—Você e Lerusha…
Naquele instante, Alexei sentiu que sabia o que seria dito.
—De qualquer forma, vocês não são parentes de sangue.
Alexei deveria ter percebido que Khaleesi podia ter descoberto até isso. Pensou que ninguém sabia, acreditava que era um segredo seguro apenas para ele. Não imaginava que eles fossem descobrir algo que nem o Igor sabia.
—Parece que você sabia. Bem, isso faz sentido. Não acho que estava em uma idade em que não conseguisse me lembrar.
Ryan interpretou o silêncio de Alexei.
—Então é isso. Eu quero salvar Lerusha, que foi capturado e criado por um criminoso como você. Odeio ver uma pessoa boa e amável como ele sofrendo por sua causa. Entendi agora? Lerusha sabe disso?
Como se contasse uma verdade verdadeiramente terrível e repugnante, Ryan trouxe à tona a história daquele dia que estava enterrada há muito. Uma história que apenas Alexei e os mortos daquele dia conheciam, e que permaneceu desconhecida para sempre para todos os outros.
*—O filho daqueles que mataram seus pais foi levado e criado por você.
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{Fim do volume 02}
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Continua…..