O Primeiro Mandamento - Capítulo 04
A primeira memória de Valery Sorokin começa com Alexei. Assim como um animal recém-nascido sente os instintos fluindo em seu sangue, Valery teve a premonição de que os olhos azul-acinzentados que olhavam para ele se tornariam o centro da sua vida. Na idade em que todos procuravam pela mãe e pelo pai, Valery só chamava por Alyosha.
Alexei parecia ser um ser feito apenas dos melhores aspectos do mundo. Seus braços ao abraçar eram fortes e suaves, e em seus braços havia um cheiro picante, porém perfumado, como a grama pela manhã depois que a chuva varreu a poeira. Seu pescoço reto e longo e mãos e pés grandes eram como os de um ator que você só vê em filmes, e sua voz era profunda e grave que fazia qualquer um se sentir feliz só de ouvi-la.
Entre tudo isso, o que Valery mais gostava era o sorriso de Alexei.
Sob suas sobrancelhas grossas, seus olhos penetrantes se curvavam refrescantes quando ele sorria para Valery, e seus lábios, tingidos de vermelho suave, revelavam pequenas presas pontiagudas. Era uma expressão que Alexei sempre fazia ao olhar para ele.
Enquanto seus colegas caminhavam com seus pais, Valery costumava acompanhar o irmão que parecia muito mais jovem do que os adultos. Embora a falta de pai e mãe fosse estranha, Valery nunca expressou isso em palavras. A única vez que fez isso foi quando mencionou casualmente sobre seus pais, de quem até então não sabiam nada, fazendo com que as sobrancelhas de Alexei se franzissem de desgosto.
Alexei era o deus de Valery.
Ele o adorava, o amava e queria atender às suas necessidades. Em vez de escrever coisas como jogador de futebol profissional ou médico em sua lista de desejos futuros, a criança escreveu o nome de Alexei. Valery tentava fazer tudo bem, mesmo sem Alexei dizer nada. A criança era perspicaz e percebeu desde cedo que um ser com alguma falha, ao contrário dos outros, receberia grande atenção mesmo que cometesse um único erro. E na maioria das vezes essa atenção era negativa.
A criança inteligente e se deu conta em algum momento que seu irmão mais velho era diferente dos outros. Alexei não foi para a universidade e sempre voltava tarde para casa. Valery também percebeu que às vezes quando seu irmão chegava em casa e caia o cheiro de sangue ainda estava enraizado no corpo dele, mas ele nunca perguntou nada sobre isso. Ele tinha medo de que sua pergunta causasse tristeza a Alexei.
Ele o amava tanto assim.
Embora fossem apenas os dois no mundo, Valery nunca sentiu falta ou tristeza. Ao acordar, ele tinha um rosto bonito na cama e, ao pular em seu abraço, ele sabia que havia um toque suave que acariciava sua orelha. Havia um rosto que ria com fresco e lábios que deixavam beijos suaves em sua testa, então não havia mais nada que ele pudesse querer.
Até os 13 anos, Valery só queria uma coisa: ser feliz com seu irmão pelo resto da vida.
A cegueira da inocência às vezes é tão prejudicial quanto o veneno. Como o mundo de Valery era completamente preenchido por Alexei, ele sabia exatamente como fazer seu irmão feliz. Cada pequena coisa que ele criava para seu irmão fazia Alexei sorrir. Mesmo uma simples xícara de barro feita pelas mãos pequenas, que Valery apresentava a Alexei todos os dias, o fazia rir. Depois de levar Valery para passear, Alexei bagunçava seus cabelos e dava um beijo na testa, e à noite, enquanto esperava por seu irmão, ele brincava dizendo que estava fazendo uma reverência enquanto o abraçava com um sorriso. Assim como Valery fazia tudo por Alexei, Alexei também permitia tudo para ele.
Enxerto uma coisa.
No caminho para o trabalho de Alexei, havia um cartaz de balé fixado. Este estava estranhamente fora de lugar ao lado de grandes lixeiras e detritos espalhados, claramente delineando dois mundos distintos. Os rostos dos bailarinos olhavam para o jovem Valery de maneira elegante e arrogante.
Valery, sem entender o que era aquilo, perguntou a Alexei. Depois de olhar para o pôster por um bom tempo, Alexei apenas disse que eram pessoas que ganhavam muito dinheiro. Ele só descobriu mais tarde que para dançar balé era preciso ter muito dinheiro desde o início, mas foi nesse momento que a distância entre Valery e Alexei se aprofundou, como se fosse entre o pôster e a lixeira.
Ao passar pelo beco com o cartaz, Alexei mandou Valery voltar para casa. Ele disse que precisava ir trabalhar e parecia um morto vivo. A palavra “trabalho” estava ligada ao dinheiro. Dinheiro, algo que os irmãos, que não tinham ninguém além um do outro, precisavam mais do que qualquer coisa.
Foi por isso que um novo sonho para o futuro foi adicionado. Apenas por causa das palavras de Alexei, dizendo que o trabalho rendia muito dinheiro. O garoto esperto percebeu que, depois de Alexei, o dinheiro era a coisa mais importante no mundo, e ele queria usar esse dinheiro para fazer seu querido irmão feliz. Ele queria que Alexei não precisasse ir trabalhar com aquela expressão no rosto.
Ele queria que Alexei sorrisse assim como ele próprio sorria por causa do irmão.
Depois disso, o acaso entrou em cena. Valery, que ficava vagando pela companhia de balé, ouviu a oferta de uma professora de balé para fazer uma aula gratuita de teste. Mais tarde, descobriu que o filho da professora estava na mesma turma que ele e tinha implorado para ela dar a aula depois de vê-lo pela janela. Mas isso não era o mais importante. O importante era que Valery tinha realmente talento para o balé e que a professora de balé o recomendou seriamente para ele as aulas.
Ouvindo isso, Valery foi correndo, cheio de alegria, até o “local de trabalho” do irmão.
Encontrar o local de trabalho também foi uma coincidência. Valery correu direto para o beco onde estava o pôster. Ainda faltava meio dia para o retorno do irmão mais velho, e o menino, que não tinha telefone, não teve escolha a não ser ir ao encontro do irmão para compartilhar a boa notícia.
Na mente da criança, o local de trabalho era geralmente um lugar seguro onde os adultos estavam. Valery já tinha acompanhado alguns amigos até o trabalho dos pais deles. Para o jovem garoto, o local de trabalho era assim: um ambiente aconchegante, onde os adultos sorriam para as crianças e lhes davam lanches, um lugar onde ele poderia sair correndo com um biscoito na mão.
Depois de vagar por uma hora, Valery estupidamente se perdeu. Então quando já estava desesperado finalmente ouviu a voz do seu irmão vindo da enorme fábrica que encontrou. Escondido atrás de uma parede, viu que Alexei estava conversando com alguém. Seu irmão não estava sorrindo, mas seu interlocutor era um homem mais baixo que ele, com a testa calva e o nariz adunco, ele parecia um bruxo de conto de fadas, mas ao mesmo tempo parecia ter um coração generoso. Parecia um imigrante russo comum do bairro.
Valery julgou que a situação não era perigosa. Então, o desejo de compartilhar a boa notícia e o amor pelo irmão explodiram dentro dele ao mesmo tempo. Cheio de alegria, ele correu para o irmão. Com suas pernas excepcionalmente longas, ele correu rápido de braços abertos em direção a Alexei, mas foi recebido por dois pares de olhos conflitantes.
Talvez aquele olhar de Alexei naquele momento tenha sido de medo, pensou Valery mais tarde. Quer dizer, muito mais tarde, depois, quando ele não conseguia suportar a vontade de perdoar seu irmão.
O homem de meia-idade tinha um sorriso gentil, mas seus olhos eram frios como os de uma cobra. Ele até parecia ter pupilas alongadas e estreitas. Alexei olhou para Valery sem nenhum traço de alegria no rosto. No momento em que o olhar chocado em seus olhos estava prestes a detê-lo, o homem abriu a boca.
Era Igor Volkov.
“Quem é esse rato?”
Valery hesitou ao ouvir a palavra “rato”. A maneira de falar dele era assustadora, ao contrário de sua aparência gentil. Alexei segurou o pulso de Valery e, após um silêncio, respondeu.
“…Ele é meu irmão mais novo.”
“Ah, entendi.”
Igor riu e então se curvou para olhar Valery nos olhos. Seus ombros largos começaram a parecer ameaçadores.
“Então é por causa desse rato que você tem que voltar para casa à noite, Alyosha?”
Apesar do tom afetuoso, foi arrepiante. Os dedos grossos de Igor seguraram o rosto de Valery.
“Você tem um rosto bonito. Muitas pessoas gostam de um rosto assim.”
“Ele não servirá para isso é um Alfa.”
Igor estalou a língua e soltou a mão ao ouvir a palavra “Alfa”. Alfas e Ômegas jovens quase não têm feromônios. Somente quando atingem a idade adulta é que liberam seu cheiro e se preparam para se tornarem feras.
“Você está dizendo que está fazendo seu trabalho de maneira desleixada por causa desse rato inútil?”
“Não é isso.”
Alexei não sorriu. Ele olhou friamente para Valery, com uma expressão de espanto no rosto. Valery olhou para ele, aterrorizado. O rosto de Alexei, sem o sorriso que ele conhecia, era frio e assustador como um ceifador que vem à noite.
“Ele é um alfa e será útil como mensageiro quando crescer, por isso o mantenho por perto.”
“É mesmo?”
Igor perguntou de volta como se não acreditasse, levantando-se enquanto falava.
“Então, prove.”
“O quê?”
“Você tem que me mostrar que não está distraído por causa desse rato para que eu confie em você.”
Igor falou como um vizinho simpático, cruzando os braços. Alexei, encarando os olhos sorridentes de Igor, olhou para Valery com uma expressão neutra. O sorriso que tanto esperava não voltou. Após um silêncio curto, mas que pareceu longo, Alexei disse apenas uma palavra.
“Entendi.”
E com isso, o mundo de Valery virou de cabeça para baixo.
A mão de Alexei voou na direção de Valery. Foi naquele dia que ele descobriu que a mão que sempre o acariciava com amor podia causar uma dor tão terrível. O gramado verde e ensolarado se tornou um campo de grama seca e congelada, a mão que o acariciava gentilmente se tornou uma pedra que rasgava sua boca e quebrou seu nariz. Os braços fortes que o envolviam se tornaram armas que agarravam sua gola. Mesmo quando Valery se agarrava com todas as suas forças, os pés de Alexei, que antes eram firmes, agora o chutavam no estômago, recusando-se a ceder.
Mesmo quando ele estava perdendo a consciência, Valery olhou para Alexei. Seus olhos verdes, cheios de lágrimas e súplicas, procuraram uma última esperança. Ele acreditava que seu irmão teria um motivo, que havia uma história por trás do rosto frio do irmão que o encarava.
Foi então que Igor perguntou.
“Ele parece estar morrendo, você não vai levá-lo?”
A resposta de Alexei foi simples.
“Não me importo.”
Uma voz fria que parecia não se importar se ele morresse ou não soou, além disso, o riso sarcástico de Igor. Foi ouvindo esses sons que Valery perdeu a consciência. Achou que seria melhor morrer do que ouvir o que vinha a seguir.
Até despertar de um longo estado de coma, Valery não teve nenhum sonho. Ele tentou negar a realidade, imerso em uma escuridão mais profunda que a noite. No entanto, sua vida, teimosa e pesada, persistiu com uma obstinação incrível, sem nunca se extinguir. Valery sobreviveu, embora não quisesse.
Sua mente, repetidamente, tentou apagar as memórias daquele dia, mas acabava trazendo-as de volta. As lembranças afiadas não se apagaram e ficaram gravadas em seu cérebro.
E hoje, Valery subitamente recordou o fim mais agudo daquelas memórias esquecidas. As últimas palavras que Alexei havia acrescentado foram:
“Afinal, ele é um bastardo.”
O mundo de uma pessoa pode desmoronar com muita facilidade.
Valery viveu isso duas vezes.
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Sob o silêncio opressor, Valery abaixou a cabeça. Ele olhou para as mãos que o seguravam. Nas costas das mãos, onde os ossos eram proeminentes, as cicatrizes formavam linhas, como uma linha de costura, resultado da carne que havia se rompido e cicatrizado. Eram marcas desenhadas como um mapa da vida de Alexei, um registro caótico das batalhas que ele travou. Olhando fixamente para essas cicatrizes, Valery pensou, meio atordoado.
Ele nunca conseguiu compreender completamente Alexei. Desde que descobriu que seu irmão não era uma pessoa comum, ele refletiu sobre isso inúmeras vezes. Repetiu para si mesmo muitas vezes que Alexei devia ter um motivo para tratá-lo daquela maneira. No entanto, seu irmão nunca revelou aquele maldito motivo.
Não foi por falta de tentativa.
As feridas daquele dia levaram seis meses para cicatrizar completamente. Felizmente, nenhuma das lesões foi permanente a ponto de impedi-lo de dançar balé, provavelmente, Alexei evitou ferir lugares críticos. Depois disso, Valery começou a dançar balé. Alexei nunca faltou a uma de suas apresentações desde então, se estivesse atrasado, mandava um buquê de flores para o camarim, como se quisesse evitar que Valery ficasse desanimado. Durante as apresentações, sempre que olhava para trás, Alexei estava lá. Isso fazia com que os sentimentos de carinho por seu irmão, que ele tentava suprimir, voltassem com força.
Após um longo silêncio, quando Valery finalmente falou, Alexei sorria tão intensamente que era quase um desperdício não olhá-lo. Ele o abraçava, o acariciava e deixava beijos suaves, no entanto, fora de casa, Alexei nunca mais o tratou da mesma maneira. Ele só se comportava como o irmão mais velho de antes quando estavam em casa. Valery, por sua vez, nunca conseguiu fazer a pergunta que mais o intrigava para Alexei.
Por que você me bateu tanto?
Você… me odeia?
O medo apertava sua garganta. Para alguém como Valery, que só tinha Alexei para amar e confiar, a resposta para aquela pergunta era aterrorizante. E se o homem tivesse batido nele porque o odiava? Porque ele era um incômodo? Valery tinha muitas perguntas, mas não podia perguntar a única pessoa que tinha as respostas, tudo o que podia fazer era enterrá-las. Assim como uma criança ferida que cria seus próprios mecanismos de defesa.
Em vez de perguntar por que Alexei o havia espancado, Valery pensou em outra solução. Se o problema era aquele lugar ou aquelas pessoas, talvez fosse melhor simplesmente ir embora. Valery, desgostoso com a vida que mudara desde aquele dia, implorou por muito tempo.
Vamos sair daqui.
Ele implorou, chorou e se agarrou a Alexei, mas seu irmão apenas repetia que não podiam partir, sem nunca explicar o que o prendia ali.
Alexei sempre foi assim. Ele nunca contava a Valery o que era mais importante. Com o coração ferido, o garoto começou a justificar as ações do irmão. A desconfiança cresceu como uma bola de neve e congelou, criando uma barreira que o afastava de Alexei.
Com o tempo, uma fenda intransponível surgiu entre os dois. Alexei, como se quisesse afastar Valery para sempre, teimosamente mantinha silêncio sobre seus próprios assuntos, e valery ouvia falar do irmão pelas conversas alheias. Diziam que seu irmão, um criminoso sob o comando de Igor, provavelmente havia matado inúmeras pessoas, embora não houvesse provas, e que a última pessoa vista com os desaparecidos era sempre Alexei.
Valery perguntou várias vezes. Pensando que não poderia ser verdade, ele perguntou, mas Alexei respondia com silêncio e um olhar resoluto, desenhando uma curva enigmática sobre os lábios, então Valery aprendeu a se resignar, era mais fácil se resignar do que criar expectativas e se decepcionar. E a resignação rapidamente se transformou em ressentimento, isso tornava a vida mais fácil. Era menos doloroso do que viver como um lixo que não era digno da confiança do irmão amado e que não podia ajudá-lo de forma alguma.
Era menos doloroso renunciar ao seu próprio deus.
Assim como alguém que não pode ser salvo culpa seu deus e foge, Valery fez o mesmo. Sua vida se tornou sombria e sem graça, mas ele conseguiu sobreviver. No entanto, às vezes, ele se perguntava por que continuava vivendo daquela maneira. Nesses momentos ele apenas praticava. Quando praticava até suas unhas quebrarem dezenas de vezes e sua mente ficar entorpecida, sua cabeça se esvaziava.
Mas, agora, o que devo fazer nesta situação?
—…Temos pais diferentes.
Valery gaguejou enquanto perguntava. As lágrimas que se acumulavam continuamente rolaram pelo seu rosto. O sabor salgado e amargo tingiu sua língua. A ponta afiada da memória evocada por essa frase única perfurou seu coração. A primeira verdade que Alexei revelou não trouxe consolo, mas o empurrou ainda mais para a confusão.
—O que você disse naquele dia… era verdade?
O chão parecia desmoronar sob seus pés, repetidamente. Sentindo-se como se estivesse caindo sem fim, Valery gaguejou sua pergunta. Sua mente oscilava entre um vazio entorpecido e uma explosão de emoções, com esses ciclos se tornando cada vez mais curtos.
—Do que você está falando?
Alexei perguntou com uma expressão exausta. Seus olhos azul-acinzentados, que geralmente pareciam frios, estavam agora vacilantes, e a borda afiada de seus olhos havia amolecido um pouco. Era essa expressão que Valery odiava e amava ao mesmo tempo, a mesma expressão que o impedia de se afastar de Alexei, apesar do ressentimento.
—Você disse… que eu era um bastardo. —Com uma voz embargada de emoção, Valery trouxe à tona a memória que ele havia tentado apagar. Reprimindo um novo acesso de náusea, ele continuou. —Foi por isso que você me bateu? Você deveria… deveria ter me matado naquele momento.
Seus pensamentos estavam longe de ser lógicos. Em vez de insultos, tudo o que saiu foi um fluxo interminável de ressentimento.
Ele odiava Alexei. Odiava o fato de Alexei ter construído seu mundo, depois o afastado, apenas para destruí-lo novamente.
—Por que… você faz isso comigo?
Seu corpo, que ninguém conseguia derrubar, sucumbiu com uma única palavra de Alexei. Caindo no chão, Valery olhou para ele com olhos vermelhos e inflamados.
—Você precisa de alguém para brincar, é isso?
Nada mais fazia sentido. Nem a maneira de Alexei agir, nem sua obsessão, nem seu carinho, nada fazia sentido para ele. E agora? Não seria melhor morrer? Ele não conseguia imaginar como as pessoas veriam isso. Um relacionamento entre dois Alfas. Não, ele disse que se tornou um Ômega? Como? Então, eu… eu, com meu irmão…
Não, Alexei não é meu irmão.
Eu não sou da família.
No final de seus pensamentos desconexos, Valery parou de falar. Com os olhos vidrados, ele olhou para Alexei e sorriu através das lágrimas.
—Eu realmente te odeio.
De verdade, de verdade.
—Tanto, a ponto de ficar louco.
Alexei se abaixou lentamente diante dele. Observando-o com uma expressão neutra, olhou para o rosto de Valery por um longo tempo antes de estender a mão. Seus dedos ossudos seguraram o queixo do garoto. Os dedos quentes pressionaram firmemente suas bochechas.
—Por que você diz isso?
O rosto de Alexei, que havia vacilado por um momento, voltou ao normal. Sorrindo de um jeito enigmático, ele afastou o cabelo de Valery. Suas palavras sussurradas chegaram perto da bochecha dele.
—Você é minha família, Lerusha.
Valery cerrou os dentes e afastou a mão de Alexei. O atrito da pele fez doer como se estivesse rasgando, apesar da resistência feroz, seu irmão permaneceu firme.
—Mesmo sem sangue compartilhado, você ainda acha que somos família?
—Claro que somos. É por isso que eu faria qualquer coisa por você.
Alexei falou com uma voz cheia de convicção.
—Se você está falando de algo como a família de Igor, então não, eu não sou.
Às vezes, Valery queria rasgar aquela certeza de seu irmão e ver a vulnerabilidade por dentro da sua alma. Ele estava cansado de ser o único abalado. Mas, como sempre, Alexei apenas soltou um riso breve e desdenhoso, afastando suas palavras afiadas.
—Você esqueceu o que eu disse?
Então, esse voltou a abalar seu coração.
—Eu carrego seu filho. Então, se o que você quer é uma família ligada por sangue, não se preocupe.
Os dedos de Alexei tocaram os olhos bem abertos de Valery, limpando suas lágrimas incessantes, e então ele se levantou. Valery olhou para o corpo de Aleksei, atordoado. A pele pálida, a clavícula bem definida, o peito firme, as cicatrizes brancas e finas como fios em suas mãos…
Seu olhar desceu lentamente. Ele viu o abdômen definido e a cintura esbelta, e abaixo disso, as coxas marcadas por contusões. Quando viu o sêmen escorrendo pela coxa lisa, lembrou-se da noite passada. Alexei, nas lembranças dispersas, parecia diferente de qualquer forma que ele já conhecera. Com o queixo erguido, seus olhos tinham uma expressão lasciva enquanto abraçava Valery, provocando uma reação imediata em seu corpo.
Valery recuou bruscamente, cerrando os dentes e puxando e juntando as pernas. Isso só porque meu cio ainda não havia terminado. Quando terminasse, então… então…
Enquanto ele se encolhia, horrorizado com a resposta de seu próprio corpo, Alexei falou baixinho.
—Estou com fome. Vamos comer.
Com uma expressão calma, como se nada tivesse acontecido, ele virou-se e foi até a cozinha. Ele mexeu na geladeira por um tempo e encontrou uma lasanha prestes a vencer. Ainda atordoado, Valery ouviu o som do micro-ondas funcionando, ele ficou ali, ouvindo o pequeno ruído na cozinha, até que uma sombra apareceu na sua frente, fazendo-o levantar a cabeça. Alexei estava ali, olhando para ele, com dois garfos na mão.
Valery lutou contra a tentação de olhar para o corpo nu de ele, ou melhor, para a pessoa que costumava ser seu irmão. Ele estava com fome, resultado de quase não ter comido nos últimos dias. Normalmente, isso seria impensável para ele, Controlar o peso era algo que ele fez a vida toda, sem pular um único dia desde que começou no balé.
Mas agora, tudo o que estava acontecendo estava muito longe da sua vida cotidiana. Uma verdade brutal, enterrada no inconsciente, veio à tona. O irmão que sempre conhecera como um Alfa agora dizia ser um Ômega, e ele havia tido relações com esse irmão. Seu mundo meticulosamente reconstruído estava desmoronando desde a base, impossibilitando qualquer tentativa de reconstrução.
—Vamos comer agora, Lerusha.
Alexei sentou-se ao lado dele e colocou a lasanha na mesa. Com teimosia, Lerusha manteve os lábios cerrados e olhou fixamente para frente. Precisava pensar no que fazer a seguir.
Você quer morrer?
Essa foi a primeira coisa que veio à sua mente. Nunca quis morrer por vontade própria. Mesmo sem um motivo específico para continuar vivendo, sempre que tentava desistir, algo inexplicável o impedia. Talvez fosse porque sabia que ia doer. Mas não, não era isso. Mesmo quando praticava com as unhas dos pés caindo e seu corpo sobrecarregado, nunca pensou que fosse difícil.
Então, o que é?
Perguntou-se mentalmente, atordoado. Em meio à tempestade de emoções, lembrou-se de um desejo de toda a vida que até então tinha esquecido: Valery queria deixar Alexei. Queria abandonar aquela cidade miserável, aquele ambiente sujo e vil, e o irmão que só lhe causava dor. Queria começar de novo.
E foi essa tentativa desesperada de fugir que o levou a essa situação.
Valery piscou seus olhos irritados e vermelhos de tanto chorar. Alexei sempre foi um enigma, mas ele subestimou seus limites. O irmão sempre cedia no final, então Valery achou que se continuasse empurrando, Alexei eventualmente o deixaria ir. Foi um claro erro de julgamento.
—Lerusha.
De repente, uma lasanha cortada em pedaços apareceu em sua visão turva, instintivamente, ele olhou para o lado e encontrou os olhos de Alexei. Embora seu irmão estivesse sorrindo, seu rosto exibia sinais claros de cansaço e seu cabelo preto estava desgrenhado.
—Vamos comer, por favor.
Naquele momento, um pensamento passou por sua mente. Alexei nunca ficou bravo, não importa o quão irritante Valery fosse, pelo menos até recentemente. No passado, ainda mais. Agora parecia distante, uma memória deliberadamente esquecida da infância, mas Alexei sempre tentou satisfazer os desejos de Valery dentro de certos limites.
Que tal tentar atuar?
No fim das contas, o balé é atuação. Cada movimento das mãos, cada direção do corpo, cada expressão facial precisava ser imbuída de emoção, ou o bailarino não passaria de uma figura vazia no palco. Valery tinha feito isso a vida inteira, para ele era quase como respirar.
—……Se eu comer, o que você vai fazer por mim?
Valery soltou essas palavras abruptamente, enquanto continuava a traçar seu plano. E se ele fingisse que tinha voltado aos braços do irmão? Alexei era uma pessoa cautelosa, então precisaria de um motivo convincente para acreditar na mudança de Valery. Para não parecer que estava apenas tentando manipulá-lo, precisava de um motivo claro para essa mudança.
Alexei piscou os olhos em resposta, claramente surpreso. Por um breve momento, um leve traço de desconcerto passou pelo seu rosto. Era uma expressão que Valery achou estranhamente satisfatória de ver.
—O que você quer que eu faça, querido?
A breve confusão logo foi substituída por uma expressão mais familiar, enquanto ele se aproximava. Pele contra pele. O calor da noite anterior ainda não havia desaparecido, e a pele dos dos corpos ainda estava úmida. A sensação peculiar fez um arrepio percorrer a espinha de Valery, que inconscientemente pressionou a mão contra o chão.
—Me solte.
Me deixe ir.
Valery decidiu tentar aos poucos. No final, o que ele queria era sair dessa cidade. Deixar Alexei e começar uma nova vida, libertar-se desse ditador afável. Mas Alexei o tinha prendido justamente por esse motivo. Valery decidiu mudar de estratégia, primeiro, precisava se livrar das correntes que prendiam seu tornozelo.
—Isso não vai ser possível.
—Meu tornozelo está doendo. Posso acabar me machucando.
Mesmo sendo culpa de sua própria resistência, o tornozelo de Valery estava realmente machucado e inchado. O olhar de Alexei se voltou para o tornozelo. À medida que seus olhos desciam pela pele, a mesma sensação arrebatadora voltou a percorrer a espinha de Valery. Seu abdômen inferior parecia ter vontade própria. Era estranho.
—Você sabe que eu amo dançar balé. —Valery falou com uma voz mais aguda que tinha há quase oito anos. Era uma voz monótona, mas comparada à hostilidade e ao ódio de antes, parecia até suave. —Se eu machucar meu tornozelo, tudo acaba.
Alexei ficou pensativo, segurando o garfo na frente da boca de Valery. Depois de um longo momento de contemplação, ele colocou o garfo no recipiente e levantou-se.
—É mesmo.
Com uma voz que parecia concordar, Valery abriu os olhos um pouco mais. Alexei respondeu assim e, sem hesitação, virou-se e entrou no quarto de Valery. Poucos minutos depois, ele saiu com algemas com fios longos em sua mão. Ele fez uma careta enquanto olhava para Valery e riu.
—Vou soltar seus pés.
Alexei se inclinou levemente, revelando os caninos enquanto estendeu a mão. Ele fez um gesto silencioso para que Valery estendesse os pulsos. O garoto hesitou. Não vai ser fácil, Alexei, maldito seja.
Mas era melhor do que os tornozelos. As algemas não eram tão difíceis de escapar, e as restrições eram mínimas. Valery hesitou por um momento e estendeu a mão esquerda. Alexei sorriu como se estivesse satisfeito com isso e prendeu a algema. Um arrepio de frio percorreu Valery quando ela se fechou com um clique.
—Agora…
No momento em que estava prestes a pedir para soltar seus pés, algo inesperado aconteceu. Alexei colocou a outra algema em seu próprio pulso.
—…O que você está fazendo?
Incrédulo com a ação inesperada, Valery perguntou, perplexo. Alexei riu enquanto revelava seus motivos.
—Estou apenas ficando mais próximo do meu amado irmão.
—Você está louco?
Valery não conseguiu segurar o papel de atuação por um momento. Ele sabia que Alexei era excêntrico, mas nunca imaginou que chegaria a isso.
—Você odiava que eu te seguisse daquele jeito, mas agora quer me levar para trabalhar com você?
—Estou preocupado com você, Lerusha.
Alexei não piscou enquanto endireitava o corpo. Depois de esticar e endireitar o tornozelo, ele cumpriu sua promessa. Habilmente, ele retirou a chave do cadeado das algemas e girou, Valerie não ficou feliz, embora as algemas que a prendiam tão desesperadamente tenham sido removidas. Ele estava perplexo. Irritado e revoltado.
—Eu posso cuidar dos meus próprios assuntos, então não se preocupe.
Alexei, que havia soltado as algemas, segurou cuidadosamente o tornozelo dele. Instintivamente, ele tentou chutar o homem, mas Alexei foi mais rápido. Soltando as mãos, ele subiu nas pernas de Valery. Quando a coxa dele, que ainda mostrava marcas do encontro da noite anterior, tocou a pele nua, o corpo de Valery ficou rígido. As memórias da noite anterior vieram à tona como uma enxurrada. A sensação de estar sobre ele, movendo os quadris por conta própria, batendo seus corpos um contra o outro… Foi exatamente…
—Meu lindo garoto não me dá chance de descansar.
Droga.
Alexei fez uma observação ambígua enquanto se aproximava ainda mais dele. A estimulação momentânea trouxe de volta uma memória estranha e seu pênis reagiu instantaneamente. Alexei estendeu a mão até o pau enrijecido. Quando a mão quente e firme do irmão segurou seu membro, a estimulação se tornou real. Mordendo o lábio, Valery olhou para Alexei.
Ele deveria empurrá-lo, mas, mesmo com esse pensamento, Valery permaneceu paralisado.
—O buraco do seu irmão é tão bom assim?
Apesar da grosseria da observação, sua mente ficou zonza, mas seu corpo respondeu obedientemente. O corpo de um alfa que experimentou prazer pela primeira vez suprimiu as emoções e desejou outra coisa. As defesas que já haviam sido derrubadas uma vez não tiveram tempo suficiente para se reerguer em poucas horas. Aproveitando essa breve hesitação, Alexei se aproximou lentamente.
Ele levantou a coxa e se arrastou um pouco até segurar o ombro de Valery. Com a mão não algemada, ele habilmente acariciou o órgão do garoto, enquanto o segurava firmemente, como se o estivesse subjugando. A respiração quente e ofegante no ouvido fez seu corpo arrepiar. A excitação se espalhou como fogo.
—Vou deixar você comer isso primeiro, depois você come a comida.
Mordiscando levemente o lóbulo da orelha dele com os dentes, Alexei se moveu. No momento em que um som curto escapou, a entrada levemente inchada tocou a ponta da glande. A mão que segurava sua cintura usou força para empurrá-lo mais tarde, mas Alexei foi um pouco mais rápido.
—Ha… ah!
No momento em que um gemido alto, de origem desconhecida, ecoou, o orifício úmido engoliu o membro. Sentindo o buraco apertado e úmido, sua visão ficou branca. A boca se abriu, e sua cabeça parecia que ia explodir. Enquanto a mente de Valery estava parcialmente consciente, ele sentiu o buraco de Alexie mastigar seu pênis.
—Ha, meu, irmãozinho… hu, tão bonito quanto seu, haa rosto… seu pau, é bonito também.
Era tão bom que não seria estranho enlouquecer alguém.
A mão que estava segurando a cintura para empurrá-lo se moveu em outra direção. Valery ergueu a cintura dele, que cabia perfeitamente em suas grandes mãos, e o levantou com força enquanto exalava uma respiração quente.
—Ah, uh!
O sorriso despreocupado se transformou em um gemido. Sua cabeça girava. Enquanto pensava que não deveria ceder assim, Valery, de repente, teve um pensamento antes de perder a razão.
E se isso funcionar?
Se Alexei pensasse que estava tão perdido nas ações sujas com meu irmão que não conseguia recuperar a sanidade… Se eu continuar agindo como um tolo, obcecado pelo sexo, esquecendo tudo o que aconteceu antes…
Então, talvez, fosse possível.
Com esse último pensamento repentino, Valery esvaziou sua mente.
* * *
O tempo se misturou e se emaranhou. As cenas se mesclavam aleatoriamente, e seus corpos, encharcados de suor e fluidos, também se entrelaçavam. O plano de agir como um alfa enlouquecido pelo desejo sexual foi bem-sucedido sem dificuldades. Toda vez que sua consciência voltava, ele sentia aversão, mas o prazer era avassalador. Não era apenas físico. Não foi apenas físico. Havia um sentimento de imoralidade inerente ao próprio ato de tratar Alexei dessa forma.
Por exemplo.
Não, havia muitos exemplos. Havia muitos para listar todos eles. A maneira como Alexei, que não se desestabilizava com palavras cortantes ditas para machucá-lo, se contorcia de maneira erótica com um simples gesto seu; os gemidos altos, que ele nunca imaginou que poderiam vir de seu irmão; o doce feromônio que emanava do corpo de seu irmão mais velho, que ainda se sentia como um alfa; tudo isso era estimulante.
Havia uma sensação de cócegas e formigamento em algum lugar dentro dele. Era como se algo estivesse roendo entre suas costelas. Era insuportável. Ele queria ver aqueles olhos azuis-acinzentados, que pareciam nunca chorar, se avermelharem repetidamente. Mesmo que fosse uma sensação de vitória mesquinha, Valery sentiu isso pela primeira vez. Olhando fixamente para o rosto de Alexei, ele não parou.
Finalmente, quando Alexei disse a palavra “pare”, Valery sentiu algo explodir dentro dele. Foi a primeira vez que seu irmão implorou. No momento em que sentiu como se seu irmão estivesse se agarrando a ele, Valery, em vez de se controlar, empurrou seu pênis ainda mais fundo.
Só quando Alexei, que balançava a cabeça e torcia a cintura, finalmente se rendeu, Valery parou. O corpo caído de Alexei estava coberto de feromônios e fluidos corporais. A voz embargada dele o deixava louco. Com um prazer que não conseguia definir claramente, Valery se enterrou profundamente dentro dele e fechou os olhos. Embora soubesse na sua cabeça que aquele ato era repulsivo, no momento, ele se sentia estranhamente calmo. Valery olhou para Alexei, que estava deitado com os olhos fechados, e sem perceber, se deitou sobre ele. Então, adormeceu profundamente pela primeira vez em muito tempo.
Ele não dormia tão profundamente sem ter pesadelos há muito tempo. Mesmo quando caía no sono de exaustão após os treinamentos e apresentações, Valery sempre sonhava. Sonhos que ele não conseguia lembrar ao acordar, mas que sentia que se repetiam. Mas hoje não foi assim.
Quando acordou de manhã, sentiu uma paz interior que não sentia há muito tempo.
Ele despertou com o som do toque do celular. Tateando grogue em direção ao som, acordou com o som de um clique, quando levantou a mão, percebeu que estava algemado. Ele seguiu a corrente prateada com os olhos e viu Alexei dormindo ali.
Antes que a hostilidade acumulada ao longo dos anos surgisse, Valery ficou parado, olhando fixamente para o rosto de seu irmão. Alguma vez já tinha visto o rosto dele tão calmo assim? Embora insistisse em jantar juntos, passou anos saindo de casa ao amanhecer sem nem olhar para o quarto onde Alexei estava.
Alexei, adormecido, parecia um morto, sem qualquer movimento. Valery, inconscientemente, levou a mão ao nariz dele, mesmo sabendo que ele não estava morto. Quando era criança, costumava se preocupar muito. Mesmo sabendo que Alexei dormia assim, corria para o quarto do irmão e o acordava todos os dias.
Ele sentiu uma leve respiração em seus dedos. No momento em que sentiu isso, um misto de alívio e auto-aversão surgiu. Aquela emoção, semelhante a uma profunda tristeza, o lançou instantaneamente no abismo. Ele estava preocupado com alguém que lhe causou feridas horríveis durante toda a vida. Que estupidez.
Mesmo se culpando assim, Valery observou os longos cílios negros de Alexei. Ao contrário de sua aparência intensa e afiada, o cabelo dele era muito macio. Por tê-lo abraçado e tocado sem parar na noite anterior, aquela sensação permanecia em suas mãos.
Num instante, seu corpo se moveu por conta própria.
Sem perceber, ele estendeu a mão. O passado envolveu Valery, a memória de se deitar sobre Alexei adormecido e tocar seu cabelo. Seu irmão sempre acordava imediatamente quando ele soprava levemente em seu ouvido. Nas manhãs ensolaradas, ele beijava sua bochecha e sorria para ele.
No momento em que a memória que Valery mais amava o atingiu, suas mãos começaram a tremer. Como era o rosto sorridente de Alexei? Era diferente do sorriso ligeiramente infeliz que ele mostrou nos últimos anos. Seus olhos severos e suavizavam genuinamente de alegria, os lábios vermelhos se curvavam levemente para cima e as presas apareciam ligeiramente por baixo.
—Lerusha?
No instante em que os olhos azuis-acinzentados se abriram e o encararam, Valery afastou a mão. Mas Alexei foi mais rápido em perceber isso, quando ele viu a mão recuando, a expressão de Alexie se suavizou. Era exatamente como ele se lembrava: os olhos suavemente curvados e as presas brancas expostas.
Era exatamente aquele rosto.
—Você já esta acordado.
Alexei fixou o olhar na mão dele, que estava afastada de seu cabelo, quando ele se levantou, um sorriso profundo apareceu em seu rosto. Sem dar tempo para reagir, desta vez foi Aleksei quem estendeu a mão. Ao contrário de quando ele o subjugava, agora seus movimentos eram cautelosos. Sua mão, marcada por cicatrizes, tocou a testa do garoto. Os dedos passaram lentamente pelo cabelo suado e grudado. A sensação de cócegas o fez estremecer.
Ele conhecia esse gesto. Depois de arrumar seu cabelo por um bom tempo, Alexei o abraçaria e sussurraria em seu ouvido com uma voz gentil, como se pudesse fazer qualquer coisa por ele.
—Quer que eu te lave?
Ele sabia que essa pergunta viria. Era algo que Alexei havia feito inúmeras vezes no passado.
—Não precisa.
Talvez fosse a consequência de suas ações insanas. Sem dar tempo para ele recuperar a compostura, as memórias o inundaram, e Valery finalmente respondeu. Embora tivesse decidido que iria fingir, ele percebeu que estava se deixando levar demais, então respondeu em um tom firme e defensivo.
—Eu mesmo vou me lavar.
—Mas isso vai ser difícil.
Alexei sorriu travessamente e levantou o pulso. As algemas tilintaram.
—Eu posso te deixar ir ao banheiro sozinho, mas tomar banho vai ser complicado.
Valery ficou sem palavras. Por um momento, ele reconstruiu a muralha que protegia seu coração enfraquecido. Era necessário manter a vigilância.
—Então, por que não me solta?
—Você acha mesmo que eu faria isso?
Com a pergunta em tom brincalhão, Valery fechou a boca. A irritação subiu, e palavras afiadas giravam em sua mente. Eu sabia que você era um criminoso, mas não sabia que tinha ficado louco! No entanto, Valery decidiu não esquecer seu objetivo. Ele precisava enganar e persuadir Alexei a confiar nele temporariamente. Afinal, seu irmão não estava realmente em seu juízo perfeito.
Não… ele não é meu irmão.
—Como você vai me lavar?
Perguntou em um sussurro baixo, e a expressão de Alexei mudou. Seus olhos se arregalaram ligeiramente, como se não esperasse isso, e logo ele soltou uma risada constrangida. Parecia até divertido.
—De novo?
Alexei disse enquanto puxava seu pulso. Ele se levantou da cama rindo.
—Se começarmos mais uma vez, acho que vamos ficar sem comer o dia todo novamente. Eu posso aguentar, mas você está sem comer há dias, então vamos adiar isso um pouco.
O fato de ele não dizer que não queria era estranho. Valery não queria realmente essa ação repulsiva, mas parecia que Alexei não odiava, o que lhe dava uma sensação estranha. Como se…
Sentindo-se tonto, Valery seguiu Alexei em silêncio. Os passos lentos do homem o levaram ao banheiro, ele ligou a água no box do chuveiro. Primeiro, a água fria saiu, e depois a água quente começou a fluir lentamente. Quando a temperatura estava ajustada, Alexei puxou Valery. Hesitante, Valery entrou no box, a água do chuveiro começou a tocar seu corpo lentamente.
—Você cresceu muito.
Mesmo que já fizesse muito tempo que ele tinha crescido, Alexei pareceu perceber isso apenas agora, murmurando para si mesmo. Quando os cabelos dourados começaram a se molhar, Alexei se moveu habilmente, com a destreza de alguém que já havia feito isso inúmeras vezes, ele espremeu xampu nas mãos, fez espuma e espalhou nos cabelos molhados de Valery. Seus dedos penetravam nos cabelos, a gentileza com que ele o tocava, como se fosse algo precioso, fez Valery sentir um nó na garganta.
Ele conteve as palavras afiadas que não paravam de querer sair, sem saber o que dizer. Engolindo a palavra “hipócrita”, Valery olhou para ele em silêncio. Ele fixou o olhar nos lábios de Alexei, que por um momento perderam o sorriso, então ele acidentalmente encontrou seus olhos.
—Vou fazer algo diferente de quando você era jovem.
… O que exatamente?
Dessa vez, Alexei fez espuma com gel de banho. Ele colocou as mãos no corpo musculoso e firme de Valery e começou a se mover lentamente. Suas mãos escorregadias acariciaram o pescoço e desceram pelas costas. Valery recuou, com a sensação estranha, até que suas costas bateram na parede. O som das algemas tilintando ecoou alto.
As mãos de Alexei, que estavam lavando sua cintura, foram para a frente. As mãos esfregaram seu peito e desceram para acariciar sensualmente os músculos abdominais bem definidos.
Depois de passar um tempo no abdômen, a mão do homem se moveu para sua virilha. Sua palma envolveu algo que estava parcialmente ereto.
—O que…?
Antes que Valery pudesse reagir, Alexei se ajoelhou. Ao ver o sorriso nos olhos dele, Valery sentiu seu corpo esquentar involuntariamente. A cena diante dele parecia tão errada, como se ele estivesse fazendo algo que não devia. Embora, já tivessem feito coisas assim antes.
—Por enquanto, isso vai te satisfazer.
Alexei começou a espalhar espuma no pênis de Valery. Ajoelhado, ele olhou para cima enquanto suas mãos habilmente esfregavam a base e a glande, arrancando um gemido de Valery.
—Espera, ha, ah!
O pênis, que aumentou rapidamente de tamanho, começou a se contorcer. À medida que a água lavava as bolhas, Alexei aproximou-se. Enquanto fazia contato visual direto, ele tocou a ponta do pênis com os lábios vermelhos. Como se estivesse chupando um doce, ele repetidamente lambia e soltava a ponta e depois esfregou a bochecha no pênis rígido. Valery sentiu como se sua cabeça fosse explodir ao assistir isso.
—Você não precisa, humph, fazer isso, pare…
Valery agarrou firmemente os ombros do irmão para afastá-lo, mas Alexei simplesmente engoliu seu pau. Sua língua vermelha lambeu a glande habilmente, então ele baixou ligeiramente os olhos e moveu a cabeça. O pênis de Valery não cabia inteiro na boca de Alexei.
Um pensamento sujo passou pela sua cabeça: Será que a sua boca é tão estreita e macia quanto o seu buraco? Valery mordeu o lábio, se odiando por pensar tal coisa. Mesmo não conseguindo engolir nem metade do pênis, Alexei o chupava habilidade.
Alexei segurou o pênis máximo que pôde em sua boca até que suas bochechas ficaram côncavas, depois soltou e começou a lamber o pilar com a língua. Sua língua tocou suavemente a parte romba da glande e então provocou a parte dura cheia de veias por onde o sangue corria.
—Eu disse para… parar…
As palavras e as ações eram opostas. Instintivamente, Valery puxou os ombros que ele estava tentando empurrar. O pênis que estava na metade do caminho foi empurrado até o fundo da garganta. Um som de engasgo ecoou, mas Alexei não recuou. Ele prontamente usou a garganta para apertar ainda mais o órgão. Sentir isso deixou Valery excitado.
Valery sentiu seu membro enrijecer ainda mais, e Alexei finalmente soltou um gemido, como se o pênis duro e grande fosse demais para ele. Quando os sons abafados de Alexei começaram a ser ouvidos, a excitação de Valery aumentou. Ele agarrou os ombros de Alexei com tanta força que quase os esmagou, e logo o clímax chegou.
O sêmen começou a fluir e mesmo depois de já ter ejaculando tanto, ainda parecia ter mais para sair, a substância era quase translúcida. Valery, ofegante, empurrou Alexei, incrédulo com o que acabara de acontecer. O homem, satisfeito por ter levado Valery ao clímax, se afastou obedientemente.
Valery olhou para baixo, tentando encontrar palavras para falar com Alexei, mas ficou sem fala. Isso porque Alexei mostrou a língua como se quisesse confirmar os vestígios de sua ejaculação e imediatamente engoliu o sêmen. Valery ficou horrorizado.
—Você está louco? Por que engoliu isso?
Alexei começou a rir. Ele lentamente se levantou e se aproximou de Valery. A sensação de dois corpos molhados e escorregadios se esfregando era estranha.
—Depois de encher o meu buraco tantas vezes com isso, você está surpreso agora?
Ele soou como se achasse isso engraçado.
—… Eu vou me lavar agora, não faça mais nada.
—Não era isso que você queria?
Valery ficou em silêncio, ciente de que tinha dado essa impressão. Sua cabeça estava latejando. Quando ele permaneceu quieto, Alexei se moveu. Para evitar olhar para o rosto dele, Valery abaixou o olhar e encontrou o pênis ereto de Alexei.
O membro de Alexei, não muito diferente do dele, estava totalmente duro. Embora Valery pensasse que isso poderia ser apenas uma ereção matinal, outros pensamentos continuavam a invadir sua mente. Pensar que seu irmão podia ter ficado excitado enquanto chupava seu pau fez o abdômen de Valery se contrair novamente.
—Não se preocupe com isso.
Percebendo o olhar dele, Alexei falou calmamente. No entanto, era difícil desviar o olhar. Então, com o corpo pressionado contra o de Valery, ele segurou seu próprio pau.
—Eu vou resolver isso, Lerusha.
Um sussurro gentil soou em seu ouvido. Enquanto Valery abria e fechava a boca, procurando algo para dizer, ele começou a se mover. Valery viu que a outra mão de Alexei estava indo para trás. Quando percebeu que ele estava estimulando-se simultaneamente na frente e atrás, uma onda de calor subiu aos seus olhos.
—Eu tenho que tirar o sêmen que ficou dentro de mim de qualquer maneira.
Alexei deixou um breve beijo em sua orelha enquanto seus corpos permaneciam pressionados. O som dos dois corações batendo juntos se misturou. A temperatura do corpo e da água quente que os envolvia era a mesma, e logo, o som da respiração pesada de Alexei, tão quente quanto a água, preencheu o ar.
Incrivelmente, Valery teve que se controlar para não ficar excitado novamente ao ouvir aquele som.
Era realmente algo inacreditável.
~~~~~~
O final do banho foi pegajoso e estranho. Alexei estimulou sua parte de trás, enquanto se apoiava nele, e Valery, ao ver essa cena, lutou para controlar novamente sua vontade de reagir. Foi assustador como meu corpo ficou fora de controle depois que o Rut começou.
Depois de terminar o banho com dificuldade, ele saiu apenas com uma toalha e foi até a cozinha. Não pôde vestir um roupão por causa das algemas e embora tenha pensado em pedir para ser liberado, Valery decidiu aguentar mais uma vez. Era necessário esperar para agradar Alexei.
—Então vamos comer isso por enquanto.
Como a lasanha que ainda era comestível estava fria e largada na sala, Alexei encontrou outra opção. Era borscht feito por seu colega. Alexey não gostava muito de borscht, mas como Valery gostava de beterraba, ele parecia satisfeito.
Enquanto aquecia o borscht e colocava água na chaleira elétrica, Alexei tirou dois saquinhos de chá preto e colocou-os em uma xícara, depois pegou uma compota de framboesa.
—Apenas tome isso. — Apontando para um prato de sopa, Alexei disse. Depois de dias de fome, Valery finalmente concordou em segui-lo em silêncio. Ele estava tão faminto que era difícil aguentar.
Depois de cortar várias fatias de pão de centeio quase endurecido, eles se sentaram à mesa com chá. Sentados a uma distância permitida pelas correntes das algemas, ficaram em silêncio por um momento. Valery ficou surpreso ao ver Alexey pegar a colher e se preparar para comer a sopa.
—O quê?
—… E a oração?
—Haha.
Alexei riu. Ele deu uma colherada na sopa e riu.
—Eu já abandonei essa crença há muito tempo. Não é engraçado que um criminoso acredite em religião? Não temos ícones pendurados em nossa casa.
Todos nós iremos para o inferno juntos de qualquer maneira.
Alexey acrescentou isso. Valery, que observava as mãos rasgando o pão, hesitou. Eu não sabia. Afinal os dois oravam juntos todas as noites quando comiam.
—Eu fiz isso por sua causa.
Valery encarou Alexei ao ouvir isso, seus olhos se encontraram.
—Você pode acreditar em mim.
Ele não conseguiu passar em nada para dizer.
—Diferente de mim, você vai para o céu.
Ao sentir repulsa pela voz confiante. Valery questionou, esquecendo-se de atuar por um momento.
—Mesmo depois de fazer isso?
—Você não fez nada de errado. Fui eu quem estuprou você.
—Mas nós…
Ele estava prestes a dizer “somos irmãos”, mas se calou.
—Nem somos irmãos de sangue.
Nem mesmo o termo “alfa” era relevante.
—Não temos um relacionamento de alfa com alfa.
Ele respondeu calmamente como se estivesse preparado para tudo.
—Você vai ficar bem.
A imagem dele ficando com raiva quando o garoto disse que preferia morrer se sobrepôs. A maneira como ele manteve distância como se o estivesse empurrando para fora da lama, e como fez o que pôde para apoiá-lo enquanto ele fazia balé, tudo… … .
—Então por favor, coma sua comida, querido. Se você morrer assim, não poderá ir para o céu.
Uma mão se estendeu. Alexei disse isso colocando uma colher quieta sobre a mesa, olhando para as mãos algemadas, Valery sentiu uma onda de emoção.
Tudo era tão efêmero.
Parecia que mesmo odiando tanto Alexei, ainda assim o amava. Isso deixou Valery triste.
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Continua….