O Primeiro Mandamento - Capítulo 01
Não terás outros deuses além de mim.
Nenhum outro deus diante de mim
(Êxodo 20:1-17)
Há uma vasta planície quase deserta no meio-oeste dos Estados Unidos. Este pedaço imenso de terra estéril e desolado começou a sua tímida revitalização com a Lei de propriedade rural do governo. Aqueles que não conseguiram se estabelecer e os que atravessaram o continente vieram para cá. Posteriormente, o deserto cresceu lentamente, mas continuou sem grandes atrativos.
Igor Volkov era um desses pioneiros no deserto.
Igor saiu da Rússia pouco antes do colapso da União Soviética e se estabeleceu primeiramente em Nova York. O pai de Volkov era oficial e ensinou bem aos seus três filhos como matar e manipular pessoas. Durante a revolução no país, o homem perdeu a vida, mas seus ensinamentos permaneceram como legado e se tornaram as crenças de seus filhos. Os irmãos tornaram-se mafiosos lado a lado e podiam ser chamados de “máfia do petróleo” à moda russa.
Com o país em caos e muitos negócios ilegais florescendo, o irmão de Igor na Rússia tinha como alvo os seus compatriotas que imigravam secretamente para os Estados Unidos. O irmão que permanecia na União Soviética recebia dinheiro daqueles que precisavam de asilo e os contrabandeava, enquanto Igor, fingindo ajudar na adaptação, facilitava atividades ilícitas.
Igor oferecia aos imigrantes ilegais identidades falsas muito bem forjadas como compensação. Para sobreviver ou garantir um futuro para seus filhos neste novo país, eles se tornavam subordinados (cães) de Igor. Igor referiu-se a eles coletivamente como ‘família’.
Os pais de Alexei também fizeram isso. Quando Igor deixou Brighton Beach em Nova York para construir seu império em Dakota do Norte, eles foram obrigados a segui-lo. Nina, a mãe de Alexei, já estava grávida dele na época. Assim, Alexei Sorokin se tornou um criminoso pecador desde o momento em que nasceu. Ele seria uma criança destinada à máfia.
Ter o futuro predeterminado desde o nascimento é algo conveniente. Não é necessário explorar a própria identidade, nem há tempo para desesperar-se com os talentos, basta seguir o caminho. Felizmente, Alexei tinha talento para o trabalho sujo. Ele tinha uma memória persistente para o que fosse necessário e era ágil com as mãos. Seu corpo era esguio, mas sua força de pegada superava facilmente a de muitos homens corpulentos. A sua maior sorte era o seu estômago forte.
Mas ele tinha um grande defeito. Era uma fraqueza conhecida apenas por Alexei. Na verdade, mais precisamente, era um segredo conhecido apenas por Alexei e alguns poucos.
—Ah, Alex… ei.
Alexei levantou a cabeça ao ouvir a voz fraca. Do outro lado da escuridão, o homem ensanguentado e caído se mexia. Os olhos azuis-acinzentados de Alexei brilharam com uma luz azul intensa enquanto ele olhava para o homem.
A fábrica abandonada era escura como piche em todas as direções. Antigamente um moinho de farinha, o local tornou-se um prédio carbonizado e deserto após um incêndio alguns anos antes. Alexei usava o lugar como sua oficina. Todos aqueles que Igor queria mortos eram trazidos para cá.
Seus dedos longos apagaram a ponta do cigarro. Uma chama vermelha coloriu brevemente o espaço escuro antes de se extinguir. Empurrando a cadeira para se levantar, um som estridente ecoou enquanto as pernas da cadeira arranhavam o chão.
—Já acordou, Nikita?
As pernas envoltas em um terno moviam-se com tranquilidade. Alexei inclinou-se lentamente, como um predador diante de sua presa moribunda. O homem que estava desmaiado no chão, com o rosto pressionado contra o piso, tossiu e cuspiu sangue. Não era porque suas entranhas foram perfuradas por uma faca ou seus pulmões foram atingidos por uma bala, mas simplesmente havia levado tantos socos no rosto que a boca estava cheia de sangue.
Claro, isso não significava que o homem tinha deixado o resto de seu corpo intacto.
—Por favor, me deixe viver. Eu, eu estava errado…
Ele começou a tossir. Um cheiro forte de urina subiu, indicando que ele provavelmente tinha se urinado. Era compreensível.
Alexei pensou calmamente. O homem à sua frente era um trabalhador comum que nunca deveria ter apanhado tanto. O único crime de Nikita era ter nascido russo no “território” de Igor e querer ser um cidadão que seguia as leis americanas.
Ele era um informante. Tentava atrapalhar o negócio que Igor vinha expandindo silenciosamente há muito tempo. Ultimamente, esses ratos informantes estavam aparecendo aos montes.
—Você sabia que isso ia acontecer, não sabia?
Alexei perguntou, como se realmente estivesse lamentando. Inclinando-se, ele estendeu a mão e agarrou o cabelo de Nikita com força. A manga da camisa do terno, um pouco manchada de sangue, desceu, revelando o pulso. O relógio marcava 8 horas da noite. Ao ver a hora, um leve traço de irritação passou pelo rosto de Alexei.
—Se você me deixar viver só desta vez, por favor…
—Pobre Nikita. Não é tão simples assim. Se eu não cuidar de você, alguém cuidará. Como um escoteiro irritante, eles bateram na sua porta até que você finalmente se renda.
—Por favor, por favor, eu não quero morrer.
O rosto pálido de Nikita, coberto de sangue seco e fresco, era patético. Alexei olhou para ele com uma expressão de tédio. Era um contraste com o medo do homem que estava à beira da morte.
Esta era uma cena que se repetia a ponto de se tornar cansativa. Observando o espetáculo enfadonho, Alexei ficou perdido em pensamentos por um momento. O cheiro de sangue enchia o ar, agredindo suas narinas. Era um odor que faria muitos vomitar, mas Alexei tinha um estômago forte e nunca se abalava ao ver sangue. Ele nunca teve medo de bater em um ser humano vivo. No entanto, como mencionado anteriormente, Alexei tinha uma única grande fraqueza.
Ele era um mafioso incapaz de matar pessoas.
Não era por causa de um sentimento superficial de culpa. Alexei tinha inúmeras lembranças de espancar pessoas até a beira da morte. Ele já tinha enfiado lâminas sob a pele e disparado balas nas entranhas de muitos. Mas uma promessa feita no passado prendia sua alma. Por causa de uma única pessoa que ele amava mais do que qualquer coisa, ele se arriscava de maneira tola há muito tempo. Exceto por essa fraqueza, Alexei era um criminoso exemplar. (N/T: Eu li mesmo isso?! 🤡)
Nikita tinha um motivo para morrer, era uma coisa simples. Nikita envolveu-se com o recém-nomeado chefe de polícia. O enérgico e competente chefe queria erradicar todas as operações ilegais que Igor controlava em Dakota do Norte. Desde antes de assumir o cargo, o chefe estava colaborando com a DEA (Agência de Combate às Drogas), adotando uma abordagem diferente da dos policiais locais. Na verdade, o maior perigo era uma agente da DEA vinda de Nova York. A mulher chamada Kalish estava cuidadosamente formando aliados na cidade de Igor, e Nikita tinha se voluntariado para se juntar a ela – era uma história conhecida.
Mas isso não era um crime digno de morte. Teria sido melhor se ele não tivesse sido descoberto. Então, Alexei teria visto a expressão de desregrado no rosto de Igor…
Perdido em pensamentos, Alexei soltou o cabelo de Nikita e se levantou. O sangue em suas mãos estava seco. Ele já estava irritado por ter seu dia interrompido por um chamado inesperado. Pensou em deixá-lo morrer, mas, como de costume, decidiu resolver a questão rapidamente, já que nunca realmente matava ninguém.
—É hora de assumir a responsabilidade pela sua maldita coragem, Nikita.
Ele tirou a arma que tinha guardada. Nikita rolou pelo chão, emitindo sons desesperados como um porco prestes a ser abatido. Alexei o seguiu lentamente enquanto o homem rastejava, soltando gemidos e suspiros de terror.
‘Esse cara é um idiota?’
Mesmo sem ter quebrado seu tornozelo ou perna, a tentativa de fuga de Nikita era patética. Eventualmente, ele ficou encurralado pela parede do enorme galpão, ofegando de medo.
—Abra a porta.
Alexei apontou a arma. Nikita, tremendo, levantou a parte superior do corpo. Seus braços tremiam enquanto tentava agarrar a maçaneta. Que merda frustrante. Alexei então chutou a barriga de Nikita, ele sentiu a pele mole e não exercitada sob o sapato. Gritando de dor, Nikita caiu. Alexei o empurrou com a ponta do sapato e abriu a porta. Luzes brancas ofuscantes dos faróis inundaram o local.
—Yuri, leve logo esse desgraçado.
Alexei falou enquanto saía pela porta. Quando a luz se dissipou, um homem que estava ao lado do banco do motorista virou-se em silêncio. Com metade do cabelo preto penteado para trás, ele olhou para Alexei e abriu a boca para falar. No escuro, o rosto pálido do homem brilhava friamente. Ele era um belo homem com traços esculpidos e frios.
—Para onde você vai?
—Para onde você acha? Estou atrasado para a apresentação de Valery. Ele vai me procurar.
O rosto de Alexei, que estava severamente impassível, relaxou ligeiramente ao mencionar a palavra “Valery”. Yuri, percebendo a alegria que suavemente surgia nos olhos azuis-acinzentados de Alexei, olhou para ele em silêncio, então, estendeu a mão. Alexei entregou-lhe a arma que segurava.
—Se ele tentar fugir ou voltar, atire nele.
—Você é bom em dizer coisas da boca para fora.
Os dedos de Yuri tocaram de leve a mão de Alexei ao pegar a arma. Yuri olhou fixamente para o ponto de contato. Após alguns segundos de silêncio, ele acenou com a cabeça. Alexei observou em silêncio enquanto Yuri se dirigia para Nikita, e então começou a caminhar, soltando um suspiro baixo. Havia uma certa distância até onde ele havia estacionado seu carro, longe da fábrica. Ele pensou em pegar o maço de cigarros no bolso do terno, mas hesitou.
Porque Valery detestava o cheiro de cigarro.
Guardando os cigarros de volta, Alexei começou a caminhar rapidamente com suas longas pernas. Eram 8:05 da noite. Seu irmão amado acabara de começar a apresentação de balé.
~~~~~~
Valery Sorokin.
Recém tinha completado 21 anos, sua única família era seis anos mais novo do que Alexei. Alexei prezava seu irmão mais novo mais que qualquer coisa no mundo. Agora, ele tinha crescido tanto que já não parecia tão pequeno. Na verdade, o garoto estava mais alto do que ele. Alexei sempre o via como uma criança, mas ao observá-lo se movendo graciosamente no palco, essa percepção começava a mudar.
No momento, a peça estava chegando ao fim do segundo ato. Foi após uma festa caótica em uma elegante sala de recepção para comemorar o jubileu da protagonista Titânia. Que desperdício de tempo tolo, pensou Alexei com desdém.
No entanto, seu sarcasmo logo deu lugar a um certo fascínio. Isso aconteceu quando Valery reapareceu no segundo ato, da cena 2. O clima mudou assim que os refletores brilharam intensamente. A plateia ficou em silêncio. A personalidade famosa desta pequena cidade tinha muitos fãs. A tensão deles foi sentida até por Alexei.
Um homem imponente entrou no palco. Suas pernas longas avançaram com elegância, e sua aparência esplêndida capturou imediatamente os olhares. Seu cabelo loiro brilhante, mais luminoso que as luzes, caía elegantemente, enquanto seu rosto branco destacava-se com características nítidas. As sobrancelhas castanho-douradas delineavam um rosto afiado que dava uma sensação poderosa, mas seus olhos verdes mudavam tudo, era um olhar ingênuo que podia encantar qualquer um apenas ao se encontrar. Tudo isso junto formava uma visão surreal.
Os fãs de Valery e colegas de balé o chamavam de um dançarino perfeito em todos os aspectos. Apesar de sua aparência inesquecível, sua impressão mudava de acordo com o papel que interpretava. Isso provavelmente se devia aos seus olhos verdes. Mesmo parecendo um belo homem astuto, apenas um olhar daqueles olhos verdes o transformava em uma bela flor gentil. Sua estatura ameaçadora, pernas grossas e robustas, quando conbinadas criavam curvas bonitas como uma escultura.
Valery, interpretando Eugene Onegin, ficava especialmente bem com o antigo casaco aristocrático. As meias pretas também alongavam ainda mais suas pernas, enquanto seu traje completamente preto destacava o cabelo loiro brilhante. Alexei não tinha interesse em balé, mas vinha assistir a cada apresentação apenas para ver isso.
Caso contrário, ele nunca teria vindo aqui. Coisas como arte eram histórias completamente desinteressantes para Alexei. Claro, ele tinha um senso estético. Ele muitas vezes encontrava inspiração ao ver uma lâmina bem afiada ou uma nova arma. No entanto, isso estava muito longe de um hobby elegante como o de Valery. Ele apenas prestava atenção nas artes porque Valery gostava.
Valery tinha um talento natural para o balé. Para evitar que ele fosse arrastado para esse caminho sujo, Alexei passou a vida como um cão de caça de Igor e seu filho. Todo o dinheiro sujo ganho com isso foi para Valery. Com ninguém para cuidar dele além de Alexei, Valery construiu seu próprio caminho sem discutir com Alexei.
É claro que houve muitos desvios devido a esse vento. Alexei ouviu dizer que, até dois anos atrás, seu irmãozinho poderia ter entrado na American Ballet School de Nova York ou na Escola de Balé Vaganova, na Rússia, mas ele provavelmente escolheu não fazê-lo, para não ser um fardo para ele.
Quando ouviu dizer que, se tivesse ido para lá, provavelmente estaria em uma das companhias de balé mais famosas do mundo, não no ballet estatal como agora, Alexei ficou realmente convencido de que poderia fazer qualquer coisa por seu irmão.
Enquanto pensava nisso a última cena do ato três, terminou. Para ser honesto, se Valery não tivesse aparecido, haveria muitas cenas entediantes, e Alexei nunca teria realmente se concentrado no show todo. Havia momentos em que ele cochilava já que o dia tinha sido exaustivo, mesmo assim os assentos caros não eram confortáveis o suficiente para dormir. Não acho que essa cadeira dura valha o dinheiro que paguei. Se vocês cobram mais de US$100, não deveriam ter ao menos uma cadeira confortável ou algo assim?
Enquanto o aplauso inundava o ambiente, Alexei se levantou primeiro do seu lugar. Depois de aplaudir algumas vezes, ele saiu rapidamente do assento. Os cidadãos educados franziram a testa ao vê-lo sair cedo, mas ele não prestou atenção e saiu pelo corredor.
Ele caminhou calmamente em direção ao banheiro, precisava lavar o sangue que endureceu sobre as costas das mãos antes de encontrar Valery. Ele não teve tempo de lavá-lo porque já estava atrasado para o espetáculo. Parecia um pouco desleixado para um ser humano que acabara de cometer um crime, mas havia uma razão para isso. Esta cidade era uma droga.
A segunda maior cidade da Dakota do Norte, Saratov, era uma cidade onde os imigrantes russos se estabeleceram em massa, como o próprio nome sugere. Era certo que os primeiros colonos vieram de Saratov, na Rússia. A população da Dakota do Norte era de ascendência nórdica, alemã, canadense e russa, nessa ordem, mas Saratov era diferente. Era a terra apenas dos russos. Embora mexicanos recentemente tivessem começado a ascender de baixo causando conflitos de um tipo ou de outro, Saratov era claramente controlada por imigrantes russos.
Igor havia colaborado com a polícia da cidade há muito tempo. Havia histórias tão previsíveis que davam vontade de bocejar. Coisas como dinheiro, poder e coisas do tipo. Por causa disso, Igor quase governava a cidade inteira, embora seu filho Ivan estivesse fazendo o trabalho agora, a maior parte do trabalho ainda estava sob as mãos de Igor.
Saratov era assim. Metade dos moradores havia se tornado a “família” de Igor de forma deformada e, por causa disso, era difícil identificar claramente os membros da organização. A razão era que, há uma geração, tantos imigrantes ilegais haviam se estabelecido na América por causa de Igor.
Lavando as mãos na água que fluía silenciosamente, Alexei olhou para o espelho, não havia sangue respingado em seu rosto. Ele passou as mãos molhadas pelos cabelos negros que caíam soltos sobre seu rosto inexpressivo. Seus olhos, abaixo da testa exposta, eram penetrantes.
Yuri provavelmente já deve estar a caminho da fronteira.
O carro com Nikita tinha como destino a fronteira próxima a Manitoba, no Canadá. Alexei salvava pessoas inocentes que Igor queria matar, contrabandeando-as para o Canadá. Yuri era o único colaborador que o ajudava. Afinal, Vasily, pai de Yuri, foi a primeira pessoa que Alexei salvou.
Vasily, em troca de não disso, criou uma passagem próxima à fronteira, e Yuri, cooperando com seu pai, ajudava Alexei. A viagem de ida e volta até a fronteira levava dois dias inteiros, o que era incômodo, mas Alexei estava proporcionando a Yuri a oportunidade de se reencontrar com seu pai, então Yuri deveria ser grato.
Enquanto estava imerso em seus pensamentos, a porta do banheiro se abriu. Com o som da maçaneta girando, Alexei levantou os olhos silenciosamente e olhou para o espelho. Ele fechou a torneira calmamente, a água rosa clara, misturada com sangue, escorria pelo ralo. Alguém entrou, quebrando o silêncio tenso.
—O que está fazendo aqui?
No momento em que o reflexo dos cabelos loiros brilhantes apareceu no espelho, uma voz cheia de desprezo soou ao mesmo tempo. Um sorriso apareceu instantaneamente no rosto de Alexei, que até então estava com uma expressão de vigilância discreta. Seus olhos afiados se curvaram em um sorriso largo, e ele logo exibiu um sorriso aberto, quase infantil. Sua expressão fria se transformou rapidamente em uma mais calorosa. As pontas de seus caninos ligeiramente expostos apareciam afiados sob seus lábios finos e vermelhos.
—Rerusha.
Valery, meu querido irmão. Alexei chamou o apelido do irmão com alegria. Sendo ele mais alto que Alexei, ele não precisou se virar para ver seu rosto. As sobrancelhas douradas no reflexo do espelho estavam franzidas com desagrado, e seus olhos bonitos não escondiam a insatisfação, baixos e sombrios.
—Não chame meu nome com essa boca suja. Responda.
—Que pergunta boba. Claro que vim ver você.
Alexei se virou. Embora fosse certamente agradável admirar aquele belo rosto no espelho, nada superava a visão ao vivo. Ele levantou a mão e bagunçou os cabelos de Valery, úmidos de suor. Os cabelos dourados e sedosos se emaranharam e se prenderam em seus dedos. Mesmo que o toque fosse um pouco desagradável, Alexei sorriu alegremente.
—Eu certamente avisei para não vir.
Valery não permitiu que Alexei desfrutasse daquele prazer por muito tempo. Com um gesto vigoroso, Valery empurrou Alexei. A força do toque, transmitida com sinceridade, era ameaçadora, muito mais do que qualquer um dos lacaios inferiores que Alexei liderava. Isso compensou o desconforto de Alexei, que decidiu perdoar a grosseria do irmão. Embora um hematoma avermelhado fosse aparecer no dorso da sua mão, ele via isso como um sinal de força, algo perdoável.
Na verdade, ele sempre observava as palavras e ações do irmão mais novo.
—Qual é o problema de um irmão vir ver a apresentação de seu irmão mais novo?
—O problema é um assassino vir aqui, você não acha? Mas, claro, se você fosse alguém que considerasse essas coisas, não teria vindo.
Apesar da diferença de seis anos entre eles, o tom de Valery era excessivamente formal para uma conversa entre irmãos. Havia uma dose adicional de desprezo e rancor. Alexei sorriu silenciosamente ao ver o rosto bonito de Valery mostrando seu desgosto sem filtros. Embora estivesse acostumado a isso, às vezes aquela expressão e tom de voz ainda o afetavam de maneira incômoda, como agora.
No passado, Valery o seguia como um cachorrinho. Aos treze anos, sendo menor em estatura, Valery parecia frágil e adorável, como se pudesse quebrar com um toque.
‘*Alyosha, onde você vai? Eu também quero ir!’
(N/T: O nome “알료샤” (Alyosha) é uma forma carinhosa e diminutiva do nome russo “Алексей” (Alexei).)
O rosto que segurava suas pernas com duas mãozinhas estendidas era tão bonito. Sentia-se culpado por olhar para um rosto tão inocente antes de ir espancar alguém. De qualquer forma, houve um tempo em que Valery sorria para ele incessantemente, chamando-o de Alyosha. Embora ele mesmo tenha destruído esses momentos, eles de fato existiram.
A visão de Valery coberto de sangue, estirado no chão, passou pela mente de Alexei, mas ele afastou esses pensamentos. Remoer o passado era uma tolice que não combinava com ele.
O rosto de Valery endureceu ao perceber que Alexei não reagiu como de costume. Uma emoção indefinível passou brevemente pelo rosto habitualmente cheio de desagrado, Alexei não percebeu. Olhando para o vazio, ele endireitou o corpo e deu um leve tapa na bochecha de Valery.
—Assassino, é? Isso é um pouco pesado.
Eu nunca matei ninguém, meu querido. Alexei engoliu essas palavras. Ele se perguntou se valeria a pena dizê-las. Em Saratov, Alexei era conhecido publicamente como o cão de Igor, e as pessoas diziam que ele provavelmente tinha matado pelo menos 50 pessoas. O rosto de Valery voltou a ouvir a voz baixa e ligeiramente divertida de Alexei. Valery recuou.
—Saia daqui agora. Ou vou chamar os seguranças.
—Deveríamos vir juntos. Vim buscar você.
Por mais que Valery odiasse Alexei, ainda havia uma regra entre eles que não havia sido quebrada. Eles sempre jantavam juntos, independentemente de quão tarde fosse, ou do que estivesse acontecendo, a menos que alguém estivesse morto.
Alexei fez com que Valery cumprisse essa promessa. Havia momentos em que repreendia Valery, mas desde ‘aquele dia’ quando ele tinha 13 anos, nunca mais chegou a levantar a mão contra ele. Quando a repreensão não funcionava, ele chegava ao extremo de se ferir gravemente de propósito. Nessas vezes, Valery recuava. Sempre que Alexei estava sofrendo, apesar de lançar insultos cheios de raiva e ódio, Valery cuidava dele.
Como ele era esse tipo de irmão mais novo, não importava o quão duras fossem suas palavras, ele não podia odiá-lo.
—Eu já tenho um compromisso.
—Você é um bom piadista.”
—Não.
Valery interrompeu Alexei com firmeza. Alexei olhou para Valery, ainda com o rosto sorridente. Então ele falou.
—Eu comecei a sair com alguém. Vou jantar com ele hoje e provavelmente passar a noite.
Surpreso com essa declaração inesperada, Alexei ficou observando Valery. Sair com alguém? Tão jovem? Confuso com aquelas palavras absurdas, Alexei logo percebeu algo. Valery já tem 21 anos. Já fazia dois anos que ele era um adulto. Alexei tinha 17 anos quando dormiu com seu primeiro Omega. Igor lhe deu um Omega bonito dizendo que queria ajudá-lo a perder sua virgindade.
Embora tenha um rosto bonito que não se compara a outros ômegas, Valery é um Alfa, e ele já tem idade para sair com Ômegas.
O fato óbvio passou desconfortavelmente pela mente dele. Isso o fez lembrar dos cigarros. Resistindo ao impulso de tirar o isqueiro do bolso interno do paletó, Alexei deixou escapar algumas palavras.
—Por favor, vamos para casa.
—Não é da sua conta.
—Vai confiar sendo teimoso.
Com um sorriso desaparecendo, Alexei encerrou a conversa. Com olhos verdes suaves congelados de raiva, Valery virou o corpo em um gesto de desdém, ignorou-o e escapou do banheiro antes que ele pudesse pegá-lo. Ele se sentiu como um cachorro. Era natural que seu irmão se encontrasse com seu ômega agora que ele era adulto, mas embora tivesse economizado uma quantia considerável de dinheiro para o dia em que Valery se tornaria independente, ele foi tolo o suficiente para não pensar nisso.
Então eu fico sozinho em casa.
Tirando um cigarro que estava segurando com força, Alexei se moveu e saiu pelo corredor. Um funcionário que passava ia dizer algo ao vê-lo tirar o cigarro, mas fechou a boca ao ver sua expressão sombria. Mesmo assim, alguém o impediu quando Alexei estava prestes a acender o cigarro e sair do lobby.
—Aqui dentro é proibido fumar.
Um ômega com cabelos pretos macios e olhos azuis gentis falou. Alexei virou a cabeça ao ouvir a voz ao seu lado. Quando seus olhos se encontraram, um rosto bonito foi revelado. Ao contrário de sua aparência delicada que poderia parecer frágil, seu olhar era bastante firme. Alexei o examinou em silêncio.
Eu conheço esse rosto.
Não sabia se o outro o reconhecia, mas Alexei se lembrava de tê-lo visto em documentos. Um agente da DEA que ameaça Igor, parente de Kalish. Seu pai era um detetive aqui, se bem se lembra, ele foi morto por Igor há muito tempo. Seu filho foi para Nova York depois da morte do pai, mas pelo visto voltou.
—Ah, é mesmo?
Alexei fingiu não saber e apagou o cigarro com a mão. A brasa vermelha se espalhou por seus dedos, a sensação quente foi breve. O ômega, não, ‘Ryan Winter,’ que ele só conhecia através de documentos, sorriu levemente.
—Obrigado.
Ele acenou com a cabeça casualmente. Parecia ter um objetivo claro ao vestir um terno casual aqui. De repente, o rosto de Valery veio à mente por um momento. Provavelmente não. Não há como Valery sair com um ômega assim. Alexei afastou os pensamentos intrusivos e virou o corpo na mesma posição. Então, ao passar por Ryan Winter, ele jogou fora o cigarro e acendeu outro novo. Ao abrir a porta, um vento frio bateu em seu rosto. O céu noturno estava sombrio.
Desde o início da noite para começar a semana, ele estava de mau humor.
~~~~~~~
À noite, começou a nevar. Em Saratov, não há primavera, apenas um verão morno. Mesmo sendo março, a neve acumulada cobria as ruas até os tornozelos. O som das máquinas limpadoras desde a madrugada acordou Alexei bem cedo, antes mesmo do sol raiar. Foi então que ele percebeu que Valery não tinha voltado para casa.
—Rerusha.
Chamando seu nome como se estivesse procurando por uma criança brincando de esconde-esconde, Alexei falou com voz suave. Seu tom grave ecoou pelo apartamento, onde ele tinha vivido toda sua vida sem a presença de um adulto. Caminhando pelo silêncio que cobria o chão, Alexei abriu a porta estreita do corredor que levava ao quarto de Valery. Uma luz escura da madrugada enchia a cama. Mas não havia ninguém ali.
Ah, merda.
Alexei ficou parado no quarto, pensando. Na verdade, havia muitos dias em que Valery não voltava para casa. Mas geralmente ele jantava e saía novamente para treinar. Nunca houve um dia em que ele simplesmente não aparecesse.
Você realmente quer se tornar independente?
Desde que Valery alcançou a idade para trabalhar meio período, ele nunca pediu ajuda a Alexei. Ele cuidava das despesas cotidianas e dos custos para a prática no estúdio, obtendo patrocínios ou ganhando dinheiro com seus próprios esforços persistentes. Alexei apenas custou as despesas de ensino. Valery nunca quis aceitar mais nada desde que sua relação se deteriorou.
Houve tempos em que ele soluçava, pedindo para dormirem juntos.
Alexei, como de costume, procurou um cigarro, suspirando enquanto se sentava na cama de Valery. Ele nunca tinha entrado no quarto dele desde que ele se tornou adulto, então o cheiro intenso dentro do quarto era estranho para ele. O feromônio de Valery se assemelhava à sua aparência. Doce e ousado. O cheiro suave de flores, se acentuava em um toque picante quando silenciosamente inspirado. Apesar de odiar os feromônios de outros alfas, o cheiro do feromônio de Valery era muito confortável.
Como devo repreender você?
Pensando em como repreender seu irmão que ousou desafiar as palavras do irmão mais velho, Alexei se jogou na cama. O lençol cuidadosamente arrumado estava enrugado. A cama, que não era pequena de forma alguma para o alto Alexei, parecia bem menor quando Valery se deitava, seus pés ficavam pendurados na borda. Embora tenha fornecido para trocar a cama por uma maior, Valery sempre recusou.
Foi porque você decidiu partir algum dia?
Ele traçou o dedo pelo lençol enquanto pensava nisso. O sono voltou a dominá-lo. A semana passada foi incrivelmente movimentada. Desde a chegada do novo chefe de polícia, Saratov inteira estava em tumulto, e havia muito trabalho para fazer. Afundando novamente no sono que o envolvia, Alexei relembrou o quarto que costumava ser banhado pelo sol.
“Alyosha, acorde! Preparei o café da manhã, tá? Acorda!”
Os pequenos dedos brancos que o acordavam e os olhos sorridentes foram as últimas coisas que ele lembrou antes de cair em um sono curto novamente.
Às 11 da manhã, Alexei estacionou seu carro na frente da pizzaria com um letreiro laranja. A pizzaria, com o nome “Little Kaiser” com um personagem de avô desenhado no letreiro, parecia uma famosa cadeia de pizzas à primeira vista, mas a verdade era sutilmente diferente. A pizzaria de tamanho considerável era o emprego de Alexei no papel.
—Seu bastardo, está atrasado!
Assim que abriu a porta, T-Mac xingou Alexei. T-Mac, que era tão alto quanto Valery, era um americano que havia trabalhado com Igor por muito tempo junto com Alexei, e todos o chamavam de T-Mac, abreviação de Taylor McDonald. Ele era um alfa de aparência que poderia ter sido modelo se não tivesse caído neste lugar. A organização de Igor originalmente consistia apenas de alfas.
—Por que você está reclamando logo de manhã?
Alexei acendeu um cigarro e fechou a porta. T-Mac ficou com raiva, agitando seu avental preto.
—Às 12 horas, temos 10 pizzas grandes de pepperoni e 10 pizzas deep dish de calabresa para serem retiradas! Você fez a reserva ontem!
Surpreendentemente, a pizzaria Little Kaiser estava realmente em operação, e graças ao empenho e dedicação de T-Mac, as pizzas eram até saborosas. Ele ameaçava os funcionários da matriz para conseguir os ingredientes usados nas franquias, embora pagasse corretamente por eles, por uma questão de consciência.
—Onde está o Jonah?
Então, T-Mac, que estava furioso, começou a rir de repente. Ele enlouqueceu. Alexei o observava com uma expressão impassível enquanto colocava um cigarro na boca.
—Aquele desgraçado levou um fora de um ômega ontem e ainda não se recuperou. Foi dispensado porque disseram que o pau dele é muito pequeno hahaha.
Alexei riu de leve. O ômega que Jonathan, ou Jonah, estava saindo era conhecido por sua beleza em Saratov e, consequentemente, tinha padrões altos. Jonah não era pequeno, mas também não era grande. Bem, é muito menor do que eu, pensou Alexei tranquilamente.
De qualquer forma, o ômega com quem Jonah estava saindo era alguém que Alexei já havia encontrado no passado. Embora a área seja grande, a população não é grande, então ômegas e alfas eventualmente se conheceram.
—Quer saber o que é ainda mais incrível?
—O que?
T-Mac riu.
—Ele ficou tão puto que foi para um clube para encontrar outro ômega e dormir com ele, mas, ah, merda, espera um pouco.
Nesse momento, o telefone tocou. T-Mac caminhou em direção à mesa enquanto gritava.
—O pau dele não subiu!
Isso fez Alexei finalmente rir em voz alta. Mordendo o filtro do cigarro, Alexei caminhou pelo balcão até as escadas localizadas no canto esquerdo. Quando o expediente começava, T-Mac ficava louco se ele fumasse, então tinha que fumar antes.
Acendendo a luz do corredor e descendo, ele encontrou a porta trancada do escritório. Era onde Alexei e T-Mac lavavam dinheiro. Às vezes, também era usado como laboratório improvisado, embora não fosse a principal fábrica de Igor, ainda era um local de bom tamanho. Agora que o negócio tinha crescido e se estabelecido, havia uma fábrica separada, mas, há dez anos, o lugar era frequentemente usado como laboratório de drogas.
Depois de tirar o pesado casaco, Alexei arregaçou as mangas da camisa social. Acendendo outro cigarro, ele começou a verificar os livros contábeis. Kalisha Winter, a agente da DEA que o novo chefe havia trazido, era uma alfa tão competente quanto motivada, com um temperamento pior do que muitos homens alfas. Assim que apareceu em Saratov, ela deixou claro que faria de Saratov uma cidade limpa, resolvendo o problema do vício em drogas e do contrabando pela cidade.
No final, foi uma declaração de guerra contra Igor.
Kalisha, que supostamente veio para se vingar, parecia ter um propósito maior do que simplesmente limpar Saratov. Alexei revisou os livros contábeis falsificados e apagou o cigarro. Em seguida, pegou um avental e subiu as escadas.
T-Mac estava colocando as coberturas nas pizzas na estação de preparação, com uma música da Swift tocando alto. Ele usava a desculpa esfarrapada de que gostava de Swift porque tinham o mesmo nome. Quando Alexei entrou, depois de lavar as mãos, ele falou.
—Faça mais dez folhas grandes de massa.
—Quem pediu?
—O T-mart. Hoje deve ser aquele dia, sabe, de agradecimento aos funcionários ou algo assim.
Alexei assentiu em silêncio e foi para o freezer. Seus braços musculosos pegaram facilmente duas bandejas pesadas de massa, uma em cada mão. A respiração branca se dissipou. Ele pensou se Valery tinha tomado café da manhã, lembrando que ele não voltou para casa até de manhã. Merda. Alexei soltou um palavrão curto, planejando resolver as questões urgentes e depois sair à procura dele.
—Ah, certo.
Quando Alexei colocou as bandejas de massa ao lado do recipiente cheio de farinha, T-Mac falou de repente, como se tivesse lembrado de algo.
—Eu vi Valery ontem à noite.
Alexei virou a cabeça, franzindo a testa.
—Onde?
—No clube. Mas…
T-Mac fez uma cara de desconforto. Ele observou Alexei com cautela.
—Para de enrolar e fala logo.
—Ele estava com Ryan Winter.
Alexei piscou. Alguns segundos depois, sua expressão começou a se contorcer. O rosto bonito que ele viu entrando no centro de balé na noite anterior veio imediatamente à mente.
—Você deve ter se enganado.
Negou, como se tivesse ouvido uma besteira, mas T-Mac balançou a cabeça.
—Não, não me enganei. Eu também não acreditei, então fui verificar pessoalmente. Era realmente Ryan Winter.
—Mas que merda.
Rerusha, por favor.
Alexei mordeu os lábios ao pensar no rosto afiado e cheio de desprezo. Não podia acreditar que a suposição improvável da noite anterior tinha se tornado realidade.
—Alguém além de você viu?
De todos os ômegas possíveis, por que tinha que ser aquele maldito Ryan Winter? Não pode ser ele. Já era difícil aceitar que seu irmão estava na idade de dormir com ômegas, mas o fato de ser Ryan Winter era demais. Era inaceitável.
—Por enquanto, só eu vi, mas logo a história vai se espalhar. Este lugar é muito pequeno. Você não alertou ele?
—Você sabe que eu não falo sobre essas coisas com Rarusha.
—Mas Ryan Winter não pode ser. Se Igor descobrir, com certeza você não vai querer retalhar. Você fez de tudo para evitar isso, mas se continuar assim, ele será levado.
T-Mac disse isso e correu para o forno. O relógio marcava 11h20.
—Ei, me ajuda! Precisamos cortar as pizzas.
Alexei pensou onde Valery estaria agora. Ele nunca faltava aos treinos, então provavelmente estaria no centro de balé. Só de pensar que ele estava em um clube, um lugar que ele queria levar o garoto pela primeira vez, mas com outra pessoa, sua mente ficou turva. Ainda mais sendo com Ryan Winter. Era a pior combinação possível.
Se Igor descobrir, vai matar Valery.
Igor nunca gostou de Valery. Achava que ele distraía Alexei do trabalho, e não tinha qualquer utilidade para subordinado. A única razão pela qual Igor poupou Valery foi porque Alexei já havia sido um exemplo uma vez, mas isso não significava que ele tivesse esquecido. E se Igor descobrisse que ele estava envolvido com o parente de um agente da DEA? Ainda mais agora, com o novo chefe de polícia tornando as coisas mais difíceis?
Não havia saída.
Enquanto T-Mac agitava-se, pegando bandejas com pinças, Alexei largou o avental.
—Eu vou sair.
—Ei!
—Vou atrás dele.
—Fui um idiota por não te contar isso antes das 12h.
T-Mac xingou, mas acenou com a cabeça.
—Vai logo. Vai e faz ele recobrar o bom senso. Se precisar de um ômega, eu te arranjo um, mas afasta-o daquele desgraçado.
—Certo. Diga ao Jonah para parar de surtar e vir logo.
—Já avisei.
T-Mac gritou para que ele saísse de novo. Movendo-se rapidamente, Alexei desceu as escadas, pegou seu casaco e saiu pela porta. A neve estava caindo novamente. Alexei soltou uma série de palavrões enquanto ligava o carro.
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A Companhia de Balé Estadual de Dakota do Norte é uma pequena companhia de ballet localizada na fronteira com Fargo, um pouco afastada do centro da cidade. Apesar da vasta extensão da cidade, o centro de Saratov não era muito desenvolvido e era a área mais propensa a crimes. Por isso, a região sul, onde ficava o prédio da companhia de balé, era uma das áreas mais ricas. Era um lugar que Alexei normalmente não frequentava.
Valery odiava encontrar Alexei fora de casa, então essa era a primeira vez que ele realmente visitava a sala de ensaio da companhia de balé. Com um jogo da NHL prestes a ser exibido ao ar livre perto da prefeitura, o trânsito estava congestionado. Alexei dirigiu por ruas estreitas bloqueadas e estacionou perto do prédio da companhia de balé.
Logo com um parente de um agente da DEA, de todas as pessoas.
Onde eles se conheceram? Em um bar? No Clube? Fumando um cigarro atrás do outro, Alexei dirigiu-se ao prédio. A neve acumulada até as panturrilhas nas calçadas grudou nos seus sapatos e terno, gelando sua pele. Em março, a temperatura oscilava facilmente em torno de -5 °F, fazendo com que as pessoas usassem botas de couro forradas de pele.
Para Alexei, isso era impossível. Correr e bater nas pessoas com aquelas botas pesadas seria uma tortura, mesmo para ele.
—Você é funcionário? Mostre seu crachá, por favor.
Caminhando confiante enquanto fumava, Alexei foi parado por um segurança.
—Vim ver Valery Sorokin.
Sua expressão não mudou ao responder, mas a do segurança mudou. Claro. Pelo visto, Alexei não era o primeiro a aparecer sem avisar. A maioria devia ser fãs entusiasmados de Valery.
—Você tem um cartão de visita?
—Preciso de um?
O tom insolente de Alexei fez o segurança franzir a testa.
—Se você não é jornalista ou patrocinador, sugiro que vá embora agora mesmo. Já temos muitos fãs como você. O Sr. Sorokin está ocupado, então desapareça e pare de agir de maneira assustadora.
O segurança, deixando de lado a formalidade, o ameaçou rudemente. Parecia ser alguém forte, com músculos consideráveis, provavelmente contratados para lidar com situações como essa. O segurança parecia ter julgado Alexei como um stalker. E também, aparentemente, subestimou Alexei pela sua aparência. Pobre Valery, deve ter enfrentado situações assim antes. Se tivesse falado com ele, Alexei teria resolvido isso.
—Oh, você é mal educado.
Alexei ponderou por alguns segundos. Não podia matar o cara, mas ameaçá-lo com uma faca ou mostrar uma arma poderia funcionar. Claro, isso terminaria com a polícia sendo chamada. Antigamente, ser preso e solto era comum, mas agora isso seria mais complicado.
Outra opção seria derrubar o segurança com um golpe na cabeça e dominá-lo, mas Valery não ia gostar disso.
Nada é fácil.
Alexei suspirou e jogou o cigarro no chão. Então, abaixou a cabeça por um momento, depois sorriu e aproximou seu rosto do segurança.
—Vá falar com Rerusha e diga que seu irmão está aqui.
—Eu disse para desaparecer.
O segurança continuou obstinado, alheio à tentativa de Alexei de resolver a situação pacificamente. Alexei estalou a língua e deu uma olhada rápida no crachá do segurança. O sobrenome parecia familiar. Iyev. Iyev… Ah. Alguém passou pela sua mente.
—Você é o irmão mais novo de Anthony?
—…O quê?
—Pelo nariz feio, parece que sim. Seu irmão está bem? Da última vez, ele tentou começar um negócio por conta própria, então eu quebrei os joelhos dele. Já está conseguindo andar? Diga para ele vir me ver.
O segurança piscou e, com um som de “merda”, deu um passo para trás. O nome de Alexei era bem conhecido, mas seu rosto e sobrenome não eram tão familiares. Primeiro, porque revelar sua identidade não traria benefícios; segundo, para não chamar atenção sobre sua ligação com Valery; e terceiro, porque raramente alguém voltava para contar após vê-lo.
Os alvos de Alexei eram sempre criminosos, e ele sempre os visitava como um cavalheiro à noite. Essa era uma regra tácita no mundo do crime.
—Abra a porta. Seja bonzinho.
Alexei deu uns tapinhas na bochecha do segurança e sorriu, mostrando os dentes. Seus olhos afiados e o sorriso ameaçador fizeram o segurança abrir a porta rapidamente. Felizmente, parecia que Anthony tinha ensinado bem o irmão.
Deixando o segurança para trás, Alexei começou a explorar o interior calmamente. Ele nunca tinha ido ao estúdio de ensaio antes, para não surpreender Valery, que detestava vê-lo até mesmo nas apresentações. O lugar era menor e mais simples do que ele esperava. Valery poderia estar em um lugar muito melhor.
Então, coisas esquecidas vieram à tona.
Desde que Valery se tornou maior de idade, Alexei sempre quis mandá-lo para outra cidade. Todo o dinheiro que ele economizava e todas as concessões que fazia a Igor eram por Valery. Portanto, Valery encontrar seu próprio caminho e deixar o ninho era algo que eventualmente aconteceria. Alexei apenas não havia percebido, pensando que isso ainda estava muito distante no futuro. No final, ele ficaria sozinho.
No entanto, definitivamente não pode ser com Ryan Winter. Se Igor souber dessa notícia, não só a carreira de Valery estará em risco, mas também a sua vida. Nem conseguia imaginar como ele poderia morrer.
Só de pensar nisso, Alexei acelerou o passo. Subindo mais um andar, então começou a ouvir música vindo de algum lugar. Durante o dia, o centro parecia tranquilo. Alexei abafou o som de seus sapatos e seguiu lentamente na direção de onde vinha a música. Através do vidro de uma porta fechada, ele viu uma silhueta familiar.
Uma música clássica tocava. Em meio a uma melodia suave, que não era nem exuberante nem grandiosa, Valery girou seu corpo levemente e levantou o braço lentamente. Seus dedos se moviam suavemente, como se fluíssem. Com o olhar, acompanhava os movimentos do braço e da mão, que retornavam enquanto ele erguia a longa perna com naturalidade. O cabelo dourado, molhado de suor, caía sobre a testa. Seus lábios avermelhados eram visíveis.
Desde a infância, ele não via Valery praticar.
Alexei se recostou na porta e observou Valery. Embora as apresentações fossem tão tediosas, os movimentos de seu irmão, mesmo sem saltos ou giros espetaculares, eram assustadoramente graciosos. Suas longas pernas se estendiam em linha reta com força e ao mesmo tempo com flexibilidade, o que era impressionante. O corpo, delineado pelo collant de balé, era firme e esculpido, parecendo uma bela escultura.
Por um momento, ele esqueceu o motivo de sua visita e ficou apenas admirando. Os olhos de Valery se voltaram para a porta onde ele estava. Através do vidro, seus olhares se encontraram e o rosto que estava bastante sereno mudou instantaneamente. Alexei viu uma expressão de ódio claro nos olhos de Valery e sorriu preguiçosamente.
De tanto ver aquela expressão todos os dias, ele deveria estar acostumado.
Mesmo assim, Alexei sorria. Para ele, era suficiente que Valery estivesse vivo diante dele. Por isso, ele precisava agir para garantir que as coisas continuassem assim.
Quando ele abriu a porta e entrou, Valery veio em sua direção a passos largos. Contrariando a música pacífica, a expressão dele era ameaçadora.
—Você está louco? Sabe onde está entrando?
—Eu te disse para voltar para casa, Lerusha.
Disse baixinho, e Valery explodiu de raiva. Com uma expressão de profundo desgosto, ele sorriu irritado. Seu belo rosto se franziu.
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Continua….