O Marido Malvado - Capítulo 18
Marlena tinha feito de tudo para surpreender Eileen, até mesmo pedindo conselhos e comprando lanches.
Mas, apesar de seus melhores esforços, todas as tentativas de surpreender a amiga haviam falhado, fazendo com que Marlena perdesse a paciência.
— Pelo amor de Deus! Que tipo de sobremesa você ainda não experimentou?!
Eileen, ainda comendo seu pudim de frutas, arregalou os olhos diante da irritação dela.
— Ah, isso… Uma pessoa que conheço costuma me dar coisas assim. 🥰🥰
Aparentemente, essa pessoa era bastante rica. Dada a reputação de Eileen como uma farmacêutica talentosa, não seria surpreendente se ela tivesse ao menos um cliente abastado.
Marlena fungou enquanto comia seu pudim. Então, uma súbita percepção a atingiu.
— …
Já havia se passado um mês.
Lentamente, Marlena largou a colher e olhou para Eileen. Eileen sorriu inocentemente e comentou:
— Apesar de tudo, graças a você, tenho me divertido ultimamente.
Ver aquela expressão inocente despertou uma tempestade de emoções em Marlena. Ela se levantou abruptamente, tomada por sentimentos indescritíveis — apenas para se sentar novamente.
Levou mais um mês até admitir seus verdadeiros sentimentos. Ela não queria morrer. Queria viver.
— … Que tolice.
Resmungou para si mesma e enfiou o pudim na boca rapidamente, depois pegou a porção de Eileen e devorou também. Lágrimas brotaram em seus olhos enquanto acusava Eileen de tê-la enganado, antes de sair furiosa. Mesmo assim, dias depois, ela voltou, trazendo lanches como pedido de desculpas.
Eileen e Marlena continuaram se encontrando ocasionalmente, compartilhando sobremesas e conversas. Como evitavam falar sobre o passado, isso facilitava a conexão entre elas.
Então, um dia, Marlena teve uma ideia. Queria fazer uma “transformação” em Eileen — começar cortando sua franja e trocando seus óculos.
— Fique quietinha.
Marlena tirou os óculos de Eileen e tentou cortar sua franja com uma tesoura. Porém, no primeiro corte, Eileen começou a tremer.
— Ah, não. Lena…
Sentindo pena dela, Marlena suspirou, colocou a tesoura de lado e prendeu a franja de Eileen com um grampo.
— Eileen, promete que nunca vai mostrar seu rosto de novo? Por favor?
Marlena nunca tinha visto tamanha beleza. Era como o rosto de uma ninfa da floresta, hipnotizante. Mesmo assim, não conseguia sentir alegria.
Um suor frio escorreu por sua espinha ao pensar nisso. Para uma mulher sem riqueza ou influência, a beleza de Eileen seria mais uma maldição do que uma benção.
Marlena já havia sofrido com esse tipo de maldição. Por isso, insistiu que Eileen nunca, em hipótese alguma, revelasse seu rosto.
Eileen era alheia à sua própria beleza, isso era óbvio. Talvez uma vida dedicada a cuidar de plantas fosse realmente mais segura, pensou Marlena.
Eileen seguiu os conselhos de Marlena. Foi uma bênção, até que, dias atrás, Marlena a viu numa taverna da Rua Fiore, com o rosto completamente à mostra.
E, ao avistar o Grão-Duque Erzet sentado ao lado de Eileen, Marlena imediatamente pressentiu problemas.
Se Eileen lhe dera uma nova chance de viver, Erzet agora lhe oferecia uma oportunidade de vingança.
Durante o tempo em que trabalhou para Cesare, Marlena aprendeu na pele o quão perigoso ele podia ser.
Imaginar Eileen envolvida com um homem assim…
Como uma simples farmacêutica podia estar ligada ao Grão-Duque? Era óbvio que sua beleza havia sido descoberta — e explorada. Ela deve ter caído nas garras e encantos de Cesare.
Durante o espetáculo, Marlena não conseguia afastar o pensamento de Eileen acabar trabalhando no bar. Assim que o show acabou, correu para encontrar Cesare. Mas uma simples dançarina não teria fácil acesso ao Grão-Duque.
Marlena se preparou para o pior. Se Cesare recusasse vê-la, ameaçaria expô-lo.
Felizmente, Cesare foi magnânimo e a recebeu. Mandou que seu subordinado a deixasse entrar — e até lhe entregou um jornal. Havia uma matéria anunciando o casamento de Eileen com o Grão-Duque.
— … Foi por isso que veio.
Após ouvir a história de Marlena, Eileen assentiu, um pouco atordoada. Nunca imaginara que Marlena trabalhava para Cesare, mas ao ouvir tudo, teve uma ideia.
‘Acho que ele me descobriu.’
Disse a Cesare que não conhecia ninguém chamado Marlena, e que sua visita fora inesperada. Ansiosa com a possível reação dele, Eileen mal conseguia manter a fachada — lamentando ter cavado a própria cova com suas mentiras.
— Eileen — Marlena interrompeu, com um olhar afiado. — Me diga a verdade. Como isso aconteceu? Ele te forçou?
Eileen permaneceu em silêncio.
Mordendo os lábios com determinação, Marlena manteve o olhar fixo nela.
— Eu vou te ajudar no que for preciso.
Mas ambas sabiam que isso era inútil. No Império de Traon, ninguém ousava desafiar Cesare.
Alguns nobres do conselho até tentavam, mas seus esforços foram enfraquecidos após a aprovação do Arco do Triunfo e o incidente do Banquete Sangrento.
Não havia salvação para Eileen. Era impossível.
Além disso, Eileen já havia aceitado ser esposa de Cesare — a Grã-Duquesa.
— Sua Excelência salvou minha vida. Eu quebrei a lei, ele me livrou das consequências e da dívida do meu pai… Em troca, ele precisava de uma Grã-Duquesa, então me ofereceu o título.
Embora envergonhada, Eileen falou abertamente, com um sorriso tímido.
— Decidi por conta própria me tornar Grã-Duquesa.
Marlena não se convenceu. Em vez de aliviar suas dúvidas, a explicação de Eileen só aumentou sua raiva.
‘Nunca conheci alguém tão ingênuo quanto Eileen.’
A respiração de Marlena ficou pesada, seus cílios impecáveis tremendo violentamente.
— Você acredita mesmo que essa foi uma decisão só sua? Não, foi apenas o resultado da vontade dele.
O medo era evidente nos olhos azuis penetrantes dela.
— Eu vi como ele lida com seus inimigos políticos. Pode ser que ele esteja escondendo sua verdadeira natureza de você, Eileen, mas… 🙄🙄
Havia terror em seu olhar. — Ele não tem empatia humana — disse Marlena, com tristeza na voz.
Eileen apenas riu fraco. — Eu sei.
— Então por quê?! — insistiu Marlena.
— É simples. Eu o amo. 🥰🥰
Sentiu uma dor aguda no peito, finalmente revelando os sentimentos tolos que guardava há tanto tempo.
— Mesmo sabendo de tudo… ainda o amo.
Eileen abaixou os olhos, incapaz de encarar Marlena. Mexendo nos próprios dedos, murmurou:
— Se eu não me tornar a Duquesa, terei que deixar o país devido às circunstâncias. E eu não quero isso, então escolhi me casar com ele.
Marlena ficou em silêncio por um longo tempo, tentando falar várias vezes, até soltar uma risada amarga.
— O que posso fazer? Emoções nem sempre obedecem à lógica. Eileen sempre foi mais sobre aparência do que personalidade.
Segurando delicadamente o rosto de Eileen com as mãos, Marlena a encarou com tristeza.
— Eu sei que você vai ser infeliz. E ele está te obrigando a isso… Ele parece cruel. 🤨🤨
Será que Eileen seria infeliz? Era provável. Um casamento sem amor, um parceiro inalcançável. Ele era como o sol no céu, ela, como uma erva daninha no muro.
Se Eileen se tornasse a Grã-Duquesa, teria que lidar com círculos sociais e disputas políticas, — coisas que ela pouco conhecia.
Mas mesmo com todas essas dificuldades, nada se comparava à dor de ficar longe de Cesare.
— Se mudar de ideia, me diga. Acho que posso tentar algo, ao menos uma vez — ofereceu Marlena.
Eileen acenou silenciosamente enquanto Marlena suavizava a expressão e a abraçava. Ficaram assim por um tempo, até que alguém bateu na porta.
— Trouxe as compras — anunciou Michelle.
Marlena soltou Eileen devagar, apertando sua mão uma última vez.
Continua…
Tradução: Elisa Erzet