O Marido Malvado - Capítulo 15
Era um mistério por que Marlena dedicaria uma canção daquelas a ela. Eileen piscou, confusa, com as sobrancelhas franzidas, antes de olhar para Cesare.
Um sorriso divertido curvou seus lábios, e ele envolveu Eileen com um braço.
— Vamos. Vamos socializar.
Ele a puxou para perto, quadril com quadril, enquanto atravessavam a multidão. Caminharam por um corredor escondido atrás de cortinas grossas, e o canto de Marlena foi desaparecendo ao fundo.
O corredor era estreito, então continuaram bem próximos. Cesare quebrou o silêncio de forma casual enquanto conduzia Eileen.
— Uma conhecida sua?
— P-por que está perguntando isso? Claro que não!
Independentemente com quem estivesse, Eileen sempre tinha cuidado com as informações que compartilhava. Marlena usava um pseudônimo e nunca mencionava sua profissão. Ela devia querer manter tudo em segredo. Então, Eileen continuaria a respeitar seus desejos.
Mas ela não era cega. O que Cesare faria com sua resposta dependia inteiramente dele.
A risada baixa dizia muito, mas ele seguiu caminhando sem mais perguntas.
De ambos os lados do corredor, havia várias portas. Atrás de algumas, ouviam-se gemidos baixos. Eileen ficou curiosa com o barulho, mas não ousou perguntar em voz alta.
Justamente quando ela estava prestes a questionar até onde teriam que seguir naquele corredor cada vez mais sinuoso, Cesare parou e se virou para ela, como se lhe desse uma última chance.
— Tem certeza de que está pronta para encontrá-lo?
Ela sabia que ele respeitaria sua vontade. E ainda assim, sua resposta não mudou.
Ela sabia que o Barão andava por aí, se entregando a prazeres pecaminosos. Mas nunca tinha visto com os próprios olhos. Precisava acabar com a ilusão de uma vez por todas.
Eileen não aguentava mais. Ele quase a vendeu para um país estrangeiro. Queria confrontá-lo para entender o motivo. Será que ele estava realmente tão desesperado a ponto de vender sua única filha?
— Sim.
Com um olhar determinado, Cesare a conduziu mais fundo.
O corredor se tornava cada vez mais confuso. Sem um guia, ela com certeza se perderia. Justamente quando imaginava o horror que seria se tivesse vindo sozinha, Cesare parou bruscamente e abriu uma porta sem dar a Eileen tempo para se preparar
A cena era mais horrível do que Eileen poderia ter imaginado. Paralisada, ela olhou para as cortinas vermelhas translúcidas que pendiam do teto ao chão. Vários assentos estavam espalhados pelo local, cada um com seu dono. Homens e mulheres nus se apalpavam em cada uma delas!
A mente de Eileen ficou em branco ao ver os corpos entrelaçados. Tudo o que conseguiu fazer foi cobrir o rosto com as mãos.
— Urgh!
E o que eram aquelas ervas que eles misturavam e queimavam? O cheiro a deixava tonta, mesmo tendo inalado apenas um pouco.
Ela olhou para Cesare, tremendo levemente. Ele apenas acenou com a cabeça, confirmando. Isso lhe deu um pouco de coragem para seguir adiante, um passo de cada vez.
Tentou não olhar para as pessoas ao redor, mantendo os olhos fixos à frente. Um som vinha de trás da cortina vermelha.
— Hum, mm, aah.
Os sons de respiração pesada, pele batendo contra pele e ocasionais palavrões — tudo feria seus ouvidos. Eileen estendeu a mão e agarrou a cortina. Hesitou apenas um instante antes de revelar o horror que havia por trás.
Lá estava ele, seu pai, enterrado em uma mulher.
— Hah! Estou quase gozando! Mas você não está sob efeito de afrodisíaco— ah! Tudo bem, não é?
Seu pai riu alto, o rosto ruborizado enquanto movia os quadris. Eileen ficou paralisada, incapaz de desviar o olhar.
O nojo foi suficiente para deixá-la com náuseas. Não havia mais nada a dizer, apenas o rosto de sua mãe passando por sua mente.
Seus choros sobre seu pai cheirar a perfume de outras mulheres, sobre ele não a tocar na cama, ou não saber onde ele espalhava sua semente… Os ecos da raiva da mãe ensurdeciam Eileen.
Braços fortes a envolveram por trás. A mão enluvada de Cesare deslizou lentamente sobre os dedos de Eileen, e ela apertou o tecido com toda a força. A cortina vermelha caiu, cobrindo o pai.
— Eileen.
— …
Eileen não conseguiu responder, apenas tentou controlar a respiração. Cesare a virou e a envolveu em um abraço apertado.
Em seus braços, Eileen permaneceu em silêncio, tremendo. Suas mãos trêmulas se agarraram às roupas dele.
Cesare soltou um suspiro curto com um braço ainda ao redor dela. Então, com maestria, arrancou a cortina vermelha, pegou uma jarra d’água e despejou o líquido sobre a cabeça do Barão.
— Ugh!
Seu pai se debateu como um peixe fora d’água. A mulher gritou e fugiu. Sentindo a mudança abrupta no ambiente, os outros que estavam em meio a intimidades discretamente se retiraram.
— Mas que porra é essa?!
O pai, prestes a xingar, congelou ao ver os dois.
— Quem diria que você teria culhões para vender sua filha enquanto fodia por aí, Barão Elrod.
Palavrões saíram da voz suave e nobre. Demorou um pouco para que o pai e a própria Eileen percebessem que Cesare acabará de xingar.
O pai caiu rapidamente de joelhos. Cesare olhou para o homem vulnerável, nu, de meia-idade, tremendo, com a cabeça encostada no chão.
Quando o olhar de Cesare se estreitou, Eileen agarrou seu braço apressadamente. Ele levantou uma sobrancelha e então
cutucou a cabeça do homem prostrado com o sapato.
Tap, tap. Como uma criança brincando com um inseto, ele bateu repetidamente, falando em tom ameaçador:
— Comporte-se, sim? Tenho agido meio impulsivamente ultimamente. Vai que eu corto sua garganta sem querer.
Um choro contido escapou do pai dela. Ele não ousou gritar, com medo de ter a cabeça decapitada. Só lhe restavam os soluços.
— Esta é sua última chance, Barão Elrod.
Cesare ignorou a resposta e simplesmente se virou. Afinal, sabia que o pai dela obedeceria inquestionavelmente às ordens dele.
Eileen fechou os olhos com força, bloqueando os soluços do pai. Enterrou o rosto no peito largo de Cesare e respirou em silêncio.
De olhos fechados, ela seguiu Cesare, sentindo a porta se abrir e depois se fechar. A voz de sua mãe ecoava em sua mente, insuportavelmente alta.
O clique da porta fechando ressoou. Cesare tentou guiá-la até o sofá, mas ela se recusou a soltá-lo. Suas mãos, ainda trêmulas, se agarraram a ele desesperadamente.
Cesare fez o mais razoável— sentou com ela no colo, ainda a segurando nos braços.
— Me desculpe.
Um pedido de desculpas saiu de seus lábios secos. Suas palavras estavam cheias de arrependimento tardio e fluíam em vão.
— Vossa Graça… Eu sempre faço o oposto do que o senhor diz. Porque eu—eu deveria ter apenas escutado você.
Ela achou que poderia confrontar seu pai com confiança. Esperava encontrar uma cena de jogo, não os estágios iniciais do que parecia ser uma orgia!
Saber que seu pai tinha um caso era uma coisa, mas ver o ato diante de seus olhos a deixou entorpecida. Incapaz de extravasar sua raiva, só encontrou conforto no abraço de Cesare. Eileen se agarrou a ele ainda mais forte, sussurrando desculpas.
— Eu sinto muito…
Cesare permaneceu em silêncio, oferecendo apenas sua presença reconfortante. Em seus braços, Eileen encontrou alívio e uma paz silenciosa.
Aos poucos, a voz da mãe desapareceu de seus ouvidos.
🌸🌸🌸
A corrente de platina do relógio de bolso balançava entre os dedos de Cesare. Ele acariciava o relógio simples como se fosse a coisa mais preciosa do mundo.
— Vossa Graça, o Barão Elrod voltou para casa — disse Lotan, lançando um olhar para Eileen adormecida no colo de Cesare antes de continuar. — E Marlena pede uma audiência com Vossa Graça.
— Estou indisponível no momento.
Cesare sorriu, satisfeito, enquanto afagava o cabelo de Eileen.
— Como pode ver, estou sendo mantido prisioneiro.
Lotan de fato viu, então abaixou a cabeça. Assim como havia se oposto à ideia de Cesare se casar com Eileen, ele falou honestamente novamente:
— Meu senhor, acho que você foi longe demais.
— Eu queria ir mais longe, mas me contive.
Antes mesmo de o Barão cogitar vender Eileen, Cesare já sabia de tudo.
Até mesmo quem era o nobre estrangeiro, quanto ele pagaria e quando o imundo viria buscar sua Eileen.
Cesare poderia ter impedido o encontro entre o velho e Eileen, mas escolheu não interferir.
Deixou que ela enfrentasse tudo sozinha até chegar ao limite.
Cesare queria que Eileen escolhesse casar com ele.
Continua…
Tradução Elisa Erzet