O Marido Malvado - Capítulo 13
Havia algo estranho na declaração dele. Foi a primeira vez que Eileen lhe deu um relógio.
‘Talvez ele já tivesse recebido algo semelhante de outra pessoa?’
Não fazia muito sentido.
Afinal, mesmo que o presente tivesse sido cuidadosamente escolhido e comprado em uma loja requintada na Venue Street, Vossa Graça teria poucos motivos para encontrar um design assim.
Cesare havia nascido príncipe e, agora como duque, era uma das figuras mais nobres do Império. Isso significava que os itens eram feitos sob medida para ele, cuidadosamente desenhados e produzidos para que não existissem duplicatas em nenhum outro lugar. De roupas e sapatos a móveis e até canetas, todas as posses do Grão-Duque eram itens inestimáveis que recebiam altas avaliações.
Sua coleção de relógios de bolso não era diferente. Eileen sabia disso, pois os vira algumas vezes antes. Cada um era adornado com joias caras e marcado com o brasão da família imperial.
O simples relógio de bolso de platina, sem enfeites, que Eileen comprou, era algo que, sem dúvida, jamais chamaria a atenção de Cesare. Além de Eileen, não havia ninguém mais que ousaria lhe dar algo assim.
Enquanto Eileen se perdia em seus pensamentos confusos, Cesare tirou o relógio de bolso da caixa. O objeto branco contrastava nitidamente com as luvas de couro pretas que ele usava.
CLICK
O leve som da pulseira deslizando sob a luva ecoou. Ele olhou para o relógio em sua mão e, por um breve instante, um brilho fugaz passou por seus olhos.
O tremor sumiu antes que Eileen pudesse perceber. Cesare apertou o relógio com força, como se estivesse determinado a nunca o soltar, e sorriu.
— Eu gostei.
No momento em que Eileen viu o rosto alegre e sorridente de Cesare, seu espírito se acalmou. Enquanto sua mente tensa começava a relaxar, lágrimas escorreram por suas bochechas.
Solucinho
As lágrimas fluíram como uma torneira aberta. Mesmo tirando os óculos às pressas e tentando enxugá-las com as costas da mão, era inútil. Eileen chorou baixinho enquanto pedia desculpas a Cesare.
— Perdoe-me, Vossa Graça. Sinto muito!
— Do que você está falando?
— É que… uh, estou chorando!
— É por isso que está se desculpando?
— Não, eu me sinto culpada por tudo.
Cesare suspirou suavemente, tirou uma das luvas e a guardou no bolso com o relógio. Com ternura, segurou o rosto de Eileen, afastou sua franja e enxugou as lágrimas ao redor dos seus olhos com o polegar.
— Não consigo ficar bravo com você, muito menos quando vejo seu rostinho marcado por lágrimas.
Ele enxugou suas lágrimas, franzindo a testa. Com os olhos semicerrados, murmurou suavemente:
— Eu até planejava ser mais duro com você.
O coração de Eileen afundou. Era o que ela temia. Ele estava mesmo chateado! E ainda por cima planejava ser ainda mais cruel! Que revelação profundamente perturbadora!
Apenas o fato de ele ter se recusado a vê-la já parecia o fim do mundo. Eileen olhou para Cesare com desespero, a voz trêmula ao perguntar:
— Posso saber por que está bravo?
Cesare não revelou de imediato. Esperou até que Eileen derramasse o que parecia um balde de lágrimas antes de falar.
— Ele ofereceu te vender.
Os olhos de Eileen se arregalaram de choque com aquela explicação.
— Ele está disposto a vender uma garota que nem sequer foi apresentada à sociedade. E para um porco estrangeiro, ainda por cima. Seu pai exigiu dinheiro enquanto me ameaçava, sabia? Isso seria o suficiente para deixar qualquer um furioso, não acha?
Tão chocada que até parou de chorar, Eileen esqueceu momentaneamente as lágrimas. Ela conseguia deduzir as intenções por trás das ações de seu pai.
Sob o pretexto de um casamento, ele pretendia extorquir dinheiro de Cesare e repassar uma parte aos nobres estrangeiros para tornar o “casamento” legítimo.
Desde a morte de sua mãe, o pai reclamava abertamente da falta de dinheiro, apesar do afeto do Grão-Duque por Eileen. Só depois do retorno vitorioso de Cesare da campanha que as queixas cessaram.
Olhando nos olhos de Eileen, agora escurecidos pelo pôr do sol, Cesare fez uma pergunta:
— Você ainda vai deixar que te casem com aquele porco velho?
Eileen balançou a cabeça vigorosamente. Cesare enxugou seus cílios molhados e perguntou novamente:
— O que você propõe que façamos, hum?
— Eu não sei…
Como seria maravilhoso se ela pudesse simplesmente recusar algo que não quisesse fazer. Não houve muitos momentos na vida de Eileen em que teve autonomia para tomar suas próprias decisões. Mesmo agora, sentia como se estivesse sendo arrastada pelo capricho de outra pessoa.
Incapaz de responder imediatamente, seu olhar caiu, e então sentiu um leve sacudir em seus ombros.
— Como assim você não sabe, Eileen?
A voz de Cesare atravessou a escuridão, como um farol solitário na noite. Seu rosto se aproximou, suas respirações se misturaram enquanto seus narizes se tocavam levemente.
— Você deveria se casar comigo.
A respiração de Eileen acelerou, seu coração batia forte no peito. Cesare a envolveu com o olhar, como se ela fosse um passarinho delicado preso em suas mãos.
— Você me odeia, não é? Mesmo que só um pouquinho?
Eileen não respondeu, mas Cesare não insistiu. Ele já sabia a resposta.
Eileen abriu levemente os lábios, uma sensação de resignação tomando conta dela. Recusar agora a deixaria com um destino miserável.
Presa por amarras invisíveis, ela se rendeu ao inevitável.
— Eu vou me casar com você…
Seus olhos se curvaram como uma lua de sangue, curvando-se em um breve sorriso antes que ele descesse e encontrasse seus lábios com os dela. Eileen suspirou e estremeceu em seus braços, sentindo suas mãos grandes envolverem sua cintura.
O abraço era firme, e Cesare iniciou um beijo lento e prolongado, impedindo que ela se afastasse. Mordiscou levemente os lábios dela, incentivando-os a se abrir, e então deslizou sua língua para dentro.
Eileen hesitou, sem saber o que fazer com a sua. Isso não surpreendeu Cesare, que gentilmente a guiou em sua primeira lição lasciva, entrelaçando a sua com a dela. A sensação da carne macia e quente roçando suavemente o céu da boca foi suficiente para fazer Eileen estremecer.
— Ah~! Mmm!
Um gemidinho escapou da garganta de Eileen, a denunciando. Isso fez Cesare a apertar com mais força antes de deslizar lentamente a mão pelas suas costas, traçando um caminho ao longo da sua coluna.
Uma sensação peculiar, que não era dor nem prazer, mas distinta em sua própria natureza, latejou dentro da sua vagina. Era desconfortável, mas de um jeito diferente, reconhecível de seus beijos anteriores.
Havia também uma umidade desconhecida, que a fez instintivamente fechar as coxas tensionadas. Com movimentos cuidadosos, ela levantou a mão da posição estranha em que estava e a colocou gentilmente no peito de Cesare.
Embora não tivesse intenção de empurrá-lo, Cesare interrompeu o beijo, separando lentamente os lábios, e olhou em silêncio para Eileen.
Diante de seus olhos vermelhos, os pensamentos de Eileen se voltaram para papoulas. Apesar do encanto, eram venenosas por dentro. Assim como a verdadeira natureza de Cesare — aqueles que permaneciam ao seu lado se tornavam viciados em seu fascínio, como ópio, mesmo conhecendo os efeitos colaterais prejudiciais.
Eileen não era exceção. Percebera sua natureza perigosa aos onze anos, nos jardins do Palácio Imperial. Escolhera fingir ignorância, apesar das muitas situações assustadoras desde então.
Ao encontrar o olhar intenso de Cesare, ela percebeu o quão próximos estavam, separados apenas pela borda da janela. Tardiamente, notou o desconforto de estar pressionada nela.
Cesare também devia ter notado, pois a soltou dos seus braços, permitindo que Eileen se afastasse.
— Eileen.
— Sim?
— Por que não comeu o bolo?
— Estou sem apetite.
Ela não sentia o gosto de nada agora, não importava o que comesse. Eileen abaixou a cabeça e, segurando suas roupas, conseguiu falar com dificuldade:
— Eu quero ver meu pai.
— É melhor não o encontrar.
Essa afirmação devia ter algum fundo de verdade. Se Cesare a aconselhou a não encontrá-lo, então certamente seria desagradável. Pelo modo como ele relutava em revelar o paradeiro do pai, isso ficava claro.
Mas Eileen não podia evitar para sempre. Ela havia adentrado neste castelo proibido, decidida a reivindicá-lo como seu. Agora, ao se mostrar vulnerável diante daquele que amava — e se enredando ainda mais em sua dívida —, o fardo apenas aumentava.
— O que mais pode piorar?— Eileen perguntou com tom amargo. — Tudo bem, só… me deixa vê-lo, por favor.—Vendo que ele hesitava, ela acrescentou um argumento para persuadi-lo: — Também precisamos conversar sobre o… casamento.
Com uma expressão ainda contrariada, Cesare relutantemente cedeu.
— Muito bem, então vamos juntos.
— Você deve estar ocupado. Eu posso ir sozinha, se–.
Ela estava prestes a pedir que ele apenas lhe mostrasse o caminho para não causar mais incômodo, porém Cesare rapidamente fechou essa brecha. Olhando para Eileen, que havia ficado muda de surpresa, ele sussurrou como se a estivesse advertindo:
— Ora, ora, Eileen. Não seria mais apropriado ir com seu marido?
Continua…
Tradução Elisa Erzet