O Marido Malvado - Capítulo 12
— Ora, ele decidiu me dar sua filha. Fiz todos os preparativos para o casamento, mas a noiva nunca apareceu. Naturalmente, vim buscá-la.
Eileen pensou que não restava mais nada em nome de seu pai. Mas, aparentemente, havia uma última coisa à venda:
A própria Eileen Elrod.
Conforme a lei imperial, uma mulher solteira não pode recusar um casamento arranjado pelos pais da noiva. Não entendia por que ainda se surpreendia—seu próprio pai venderia a filha para sustentar seu vício em jogos.
Seu mundo começou a girar, e um zumbido alto encheu seus ouvidos. O que deveria culpar? O fato de essa verdade insuportável ser sua realidade ou de ser tão inacreditável que mal podia compreender. Era absurdo demais. Nem sequer conseguia chorar. Um riso maníaco ameaçava escapar de seus lábios.
Seu suposto “noivo” continuou a falar diante da Eileen imóvel. Ele até mostrou um contrato válido para comprovar suas alegações. O selo da família Elrod estava lá, claro como o dia.
— Voltarei em três dias. Certifique-se de resolver suas pendências, fazer as malas e se preparar para se mudar. E prepare seu dote sem ressentimentos.
Com isso, o homem foi embora. O som da porta fechando ecoou pela casa, como um sinal do fim do mundo.
Finalmente sozinha, Eileen desabou no chão. O assoalho de madeira pressionava seus joelhos dolorosamente. Nem sequer conseguia pensar em se mover para o sofá macio.
Depois de uma eternidade, as palavras de Cesare na estufa imperial ecoaram em sua mente:
“Já que teremos que nos casar eventualmente algum dia, não seria melhor eu ser seu parceiro do que algum porco velho?”
O homem que a visitou hoje era gordo e mais velho. A sugestão enigmática de Cesare tornou-se clara como o dia.
— Você já sabia que isso aconteceria, não sabia, Vossa Graça?
Talvez ele tenha descoberto o contrato enquanto investigava o paradeiro de seu pai. Envolvê-lo em seu problema a sobrecarregava—sentia-se tão envergonhada. A verdade mais dolorosa era que não podia resolver isso sozinha.
O único que podia ajudar Eileen era o próprio Cesare.
🌸🌸🌸🌸
Olhando para a caixa de veludo vermelho, Eileen segurou-a como se fosse sua salvação. Nunca queria enviar aquele presente dessa maneira.
Se fosse abordá-lo sobre seu “pequeno problema”, era melhor levar um presente humilde do que ir de mãos vazias.
Eileen chorou por um tempo antes de enxugar o nariz com as costas da mão. Então, olhou para a mansão dele ao longe.
Aquele local era o lugar que o Grão-Duque Erzet usava quando ficava na capital. Protegido até o último centímetro por seus soldados.
Cesare adquirira a propriedade pouco após se tornar duque, mas ficou vazia por um tempo, desde sua partida para o campo de batalha. Era também a primeira vez que Eileen visitava o local.
Não podia se aproximar diretamente, então observou de longe.
Bem… poderia, mas não tinha coragem. Precisaria revelar sua identidade. Passou um tempo se preparando mentalmente.
Andou de um lado para o outro, pensando em quanto poderia adiar o inevitável—e provavelmente constrangedor—encontro. Quando não aguentou mais a angústia psicológica, aproximou-se do portão da mansão com passos hesitantes. Como previra, os soldados bloquearam seu caminho sem questionar.
— Tenho um assunto urgente com Sua Graça. Se puderem informar que Eileen Elrod está aqui—
— Eileen Elrod?!
Nem sequer teve tempo de terminar a frase antes que os soldados se animassem ao ouvir seu nome. Reagiram com tamanha admiração que Eileen ficou pasma, só conseguindo piscar diante do entusiasmo.
— Minha senhora, por favor! Espere aqui um momento.
Os guardas avisaram a equipe da mansão e a escoltaram para dentro. Os enormes portões de ferro que protegiam o santuário de Sua Graça se abriram, revelando um jardim exuberante.
Uma mansão como aquela, situada em um terreno privilegiado no arquipélago, já a deixou impressionada com sua opulência.
Conforme Eileen se aproximava, encontrou uma fileira de funcionários à sua espera. Cumprimentaram-na com educação, e o mordomo idoso à frente deu-lhe as boas-vindas calorosas.
— Esperou muito? Minhas sinceras desculpas por qualquer inconveniente, Lady Eileen.
— Sônio!
Sônio sorriu levemente quando Eileen o cumprimentou com entusiasmo. Com seus cabelos grisalhos e bigode, ele transmitia uma aparência austera e severa. Mas, diante de Eileen, ele parecia uma brisa suave da primavera.
Ele já havia trabalhado como camareiro no Palácio Imperial e, quando Cesare se tornou Grão-Duque, os dois deixaram o palácio juntos. Por isso, era natural que Eileen e Sônio se conhecessem tão bem.
— Me acompanhe por favor.
Sônio falou com polidez, conduzindo Eileen para o interior da mansão.
— Gostaria de tomar chá na sala de visitas enquanto espera?
— Sim, talvez… Sua Graça—
A expressão de Sônio ficou levemente sombria quando ela mencionou Cesare. Ele respondeu de maneira cortês, mas firme:
— Peço desculpas. Será difícil vê-lo hoje.
— Entendo…
Pela expressão dele, Eileen percebeu que não havia a menor chance. Cesare já devia ter avisado Sônio que não poderia recebê-la.
Eileen havia tentado marcar esse encontro de várias formas antes de vir à mansão ducal. A possibilidade de não o ver nem sequer havia passado por sua mente.
‘Eu o subestimo demais.’
O afeto e o interesse de Cesare nunca foram constantes. Ardiam como a chama de uma vela, mas podiam se apagar com um simples sopro.
Cesare não era um homem volúvel, mas bastava uma mudança sutil dos sentimentos dela para que tudo esfriasse.
‘Será que ele não está mais interessado em mim?’
No momento em que pensou nisso, tudo pareceu desbotar. O relacionamento deles sempre fora unilateral, com Eileen na posição mais frágil. Se Cesare tivesse realmente perdido o interesse em se casar com ela, nunca mais poderia olhar para ele novamente.
‘Pensando bem, não foi assim durante a guerra?’
Cesare se recusara a contatá-la, e tudo o que ela pôde fazer foi esperar.
Seu rosto se fechou, e Sônio rapidamente interveio para confortá-la.
— Minha senhora, trouxe um bolo da confeitaria que abriu recentemente. Que tal experimentá-lo com o chá?
Ele pegou o casaco de Eileen e a acomodou graciosamente no sofá da sala. Assim que ela se sentou, colocou sobre a mesa a caixa do relógio que tanto prezava.
Quando o comprara na loja, achou luxuoso e belo. Mas agora, vendo-o sobre o sofá do Grão-Duque, ele lhe pareceu deslocado. Tanto ela quanto o relógio estavam em um lugar onde não pertenciam.
Enquanto Eileen suspirava, Sônio trouxe rapidamente chá e doces. O conjunto era do agrado dela:
Chá com leite, adoçado com açúcar e creme. Bolos com chantilly e biscoitos variados.
Eram todas as sobremesas favoritas de Eileen. Em um dia comum, ela teria pegado o garfo com alegria. Hoje, porém, teve que se forçar a fazê-lo.
Deu uma mordida pequena no bolo, mas sua mente estava distante, absorvida pela gentileza de Sônio. Infelizmente, não sentiu sabor algum, como se seu paladar tivesse sumido. Após aquele único pedaço, largou o garfo.
— …
Não conseguia controlar sua expressão. Tentou sorrir, mas seus lábios estavam rígidos.
Na verdade, ficou feliz por não chorar ali mesmo. Eileen mordeu a boca para conter os soluços.
Sônio observou. Colocou um lenço na mesa e saiu da sala em silêncio. Sua consideração só fez seus olhos marejarem ainda mais. Com o nariz ardendo, Eileen pegou o lenço e inclinou a cabeça para trás.
A lembrança daquele velho porco que a chamava de noiva invadiu sua mente. Sentiu náuseas só de pensar que teria que beijá-lo como beijara Cesare.
Que um dia teria que dar um filho a ele… Ela interrompeu o pensamento, envergonhada.
O que mais a perturbava era a ideia de nunca mais ver Cesare. Seu coração parecia prestes a se partir ao meio.
Ele era um estrangeiro e, eventualmente, deixaria o país. Naturalmente, a levaria consigo. Se fosse para o exterior, nem mesmo teria notícias dele no futuro.
Em sua terra natal, ao menos poderia saber de Cesare pelos jornais ou encontrá-lo por acaso.
‘E se eu me tornasse a Grã-Duquesa…’
Isso seria muito melhor, independentemente de continuar sendo sua “criança” ou não. Então, um pensamento a atingiu: será que ele perdeu o interesse depois que ela reclamou tantas vezes do noivado?
Arrependeu-se de ter falado demais, mas não adiantava chorar sobre o leite derramado. Conteve as lágrimas e respirou fundo. A resignação familiar cobriu seu rosto.
Alisou o lenço amassado, dobrou-o com cuidado e o devolveu à mesa.
‘Vou deixar o presente dele e ir embora.’
Tendo chegado até ali, estava determinada a entregar o presente. Comprara para ele usar. Não importava se parecesse insignificante.
Quem sabe, vê-lo pudesse mudar sua mente, mesmo que só um pouco. Conhecendo Cesare, um homem meticuloso em suas decisões, era improvável. Ainda assim, Eileen guardava um fio de esperança.
Levantou-se do sofá e olhou pela janela, pensando:
‘Se for preciso, pedirei a Sônio que entregue.’
A sala tinha janelas amplas que davam para o pátio. Lá fora, avistou uma laranjeira. Eileen aproximou-se da janela, fascinada.
Não sabia que havia uma laranjeira ali. Imediatamente, lembrou-se da que tinha no jardim de sua casa de tijolos.
Cesare presenteou Eileen com a laranjeira porque, no passado, ela fora sequestrada.
‘Não há mais motivo para se questionar, certo?’
Eileen fora sequestrada por sua curiosidade excessiva por doces de laranja. Em memória disso, Cesare plantou a árvore em seu jardim. Ele, Eileen e sua mãe haviam compartilhado a primeira laranja que caíra dela.
Enquanto admirava a árvore, memórias de Cesare inundaram sua mente. De repente, avistou um homem caminhando calmamente pelo corredor oposto.
Ele aparecia e desaparecia entre as colunas, mas Eileen o reconheceu instantaneamente. Com um surto de excitação, correu para abrir a janela e chamá-lo.
— …
Mas tudo o que fez foi segurar a maçaneta. Não conseguiu abrir a janela e, portanto, não pôde gritar por ele.
Cesare já deixara claro que não queria vê-la. Seria infantil irritá-lo naquela situação. Eileen temia que ele passasse a desprezá-la ainda mais.
Enquanto hesitava, ele voltou o olhar para ela. Através do vidro, seus olhos vermelhos fixaram-se os dela.
Ele estava trajando um terno e sobretudo, como se estivesse a caminho de algum lugar. Eileen não conseguiu desviar o olhar. Inclinou-se cautelosamente em uma reverência.
Cesare observou Eileen em silêncio, e então seus lábios se curvaram em um sorriso. Ele atravessou o pátio em sua direção. Eileen permaneceu imóvel, torcendo as mãos nervosamente.
Toc-toc.
Cesare chegou até a janela e bateu levemente no vidro. O som foi abafado por suas luvas de couro.
Eileen hesitou, mas acabou soltando a trava e abrindo a janela. Assim que houve espaço suficiente, ele a empurrou completamente para o lado.
O vento exterior invadiu a sala, e o farfalhar das folhas soou como ondas. O aroma fresco e marcante de Cesare envolveu Eileen. Ela olhou para ele com olhos arregalados, abrindo cuidadosamente os lábios.
— Vossa Graça.
— O que a traz aqui, Eileen?
Ele a encarou de cima, questionando.
Eileen sentiu as lágrimas ameaçarem assim que ouviu sua voz. Estar diante dele tornava difícil conter suas emoções. Apertou os lábios antes de falar:
— Eu queria lhe dar um presente… Sei que não é muito, mas… queria parabenizá-lo pela vitória.
Eileen suspirou ao estender a caixa do relógio, lutando para articular as palavras direito. Segurava-a com tanta força que deixou uma marca no veludo. Esfregou-a rapidamente para apagá-la antes de entregá-la a Cesare.
Ele abriu a caixa imediatamente para inspecionar o conteúdo. Sua mão parou por um breve instante ao ver o relógio. Seja o que fosse que visse, deixou-o em silêncio por um momento.
O que poderia estar causando aquela reação?
Um murmúrio baixo escapou dos lábios do homem antes que Eileen, nervosa, mordesse o lábio.
— Então era assim que ele era.
Seu tom era sutil, como se já conhecesse o relógio de platina.
Continua…
Tradução Elisa Erzet