O Marido Malvado - Capítulo 10
Uma mulher com um físico esbelto andava rapidamente. Seu cabelo longo estava bem trançado, e ela usava um uniforme azul-escuro adornado com inúmeras medalhas em seu peito.
Seu nome era Michelle, e ela ocupava a estimada posição de cavaleira, subordinada direta do Grão-Duque.
Em sua cultura, o nome Michelle era tipicamente associado a homens. Aqueles que a conheciam apenas pelo nome frequentemente expressavam surpresa em seu primeiro encontro. Muitos questionavam como ela alcançou tal posição como mulher. Assim, Michelle frequentemente se via esquecida ou abertamente ignorada.
Ainda assim, dava pouca atenção às opiniões dos outros. Em seu coração, a mulher acreditava que era importante apenas que seu mestre reconhecesse suas habilidades. Além disso, a conversa morria imediatamente após testemunhar Michelle manuseando suas armas com maestria.
Como todo mundo, Michelle queria que alguém a notasse e a apreciasse.
Esse alguém, é claro, seria, antes de tudo, seu mestre. O segundo seria ninguém menos que Eileen.
Michelle conheceu quando a garota era ainda uma criança, trabalhava como empregada no palácio de Cesare. Eileen tinha apenas dez anos na época, com bochechas rechonchudas e passos estridentes onde quer que fosse. A sobrecarga de fofura era demais para os cavaleiros suportarem.
Michelle a viu florescer na beleza que se tornou hoje. Só de lembrar de sua infância, seus sorrisos tímidos e anéis feitos de flores silvestres, sua alma explodiu de afeição.
Para ela, Eileen era como uma filha, ou uma irmãzinha que ajudou a criar com todo o seu coração. Os outros cavaleiros e soldados que serviam sob o comando do Grão-Duque concordavam com esse sentimento. Eileen era amada por todos e estimada como se fosse deles.
— Onde está Eileen?
Michelle os questionou assim que avistou Lotan e Diego no salão de banquetes. Quando Michelle ouviu que Eileen estava no banquete, ela correu para chegar lá, mas infelizmente, chegou tarde demais.
Diego riu baixinho enquanto observava Michelle andando ansiosamente de um lado para o outro procurando por Eileen. Lotan, embora parecesse estoico à primeira vista, não conseguiu esconder a leve contração no canto dos lábios.
— Onde está Eileen? E vocês dois…
A impaciência de Michelle transparecia enquanto ela os cutucava.
— Você a convidou para dançar? Sem me incluir?
Diego cruzou os braços e levantou uma sobrancelha em resposta.
— O que você esperava? Você deveria ter se apressado.
— … Ah, porra. Seus bastardos.
Com um palavrão amargo, os ombros de Michelle caíram, suas sardas quase parecendo cair com sua expressão triste. Sua voz vacilou com um toque de desespero.
— Vocês, seus bastardos, não têm lealdade. Eu pedi especificamente para me reservarem uma dança com ela.
— Os pobres subordinados estavam ansiosos para convidar a senhorita para dançar, quem somos nós para impedi-los?
— Você deveria ter colocado meu nome em vez do seu!
— Vamos lá, tenha consciência.
Enquanto Diego e Michelle discutiam, Lotan deu uma olhada rápida no relógio de parede. Era hora dos dois retornarem da estufa, estavam mais atrasados do que o esperado. Com a chegada de Sua Majestade, o Imperador, se atrasar seria imperdoável.
— Vamos aguardar mais 5 minutos.
Tendo em mente seu prazo final, Lotan interveio, separando Diego e Michelle, que ainda estavam resmungando.
— E quanto a Senon?
— Ainda não acabou. Parece que ele não vai terminar hoje.
Michele respondeu com os lábios franzidos. Reconhecendo que seu atraso era devido ao trabalho, Diego tentou oferecer conforto em um tom mais suave.
— Ei, você deu tudo de si.
— Vai se fuder.
— …
Diego, sentindo-se desanimado por seus esforços para consolá-la terem falhado, olhou para Lotan com uma expressão magoada. Mas Lotan também não conseguiu ficar do lado de Diego, pois ele orgulhosamente manteve sua posição para a terceira dança com Eileen.
Lotan, fingindo tossir sem motivo, tentou aliviar o clima, sugerindo que todos fossem à casa de Eileen mais tarde.
De repente, um estrondo ecoou pelo salão de banquetes.
O barulho repentino quebrou o ambiente sereno de música suave e conversa tranquila. Os convidados assustados rapidamente identificaram a fonte e soltaram gritos de terror.
Irrompendo pelas portas do salão de banquetes, o protagonista de hoje, Cesare, fez uma entrada dramática.
Coberto de sangue, ele caminhou pelo corredor, deixando manchas vermelhas no piso de mármore imaculado a cada passo que dava. Gotas de sangue caindo em seu rastro.
Seus olhos vermelhos brilhavam sob o lustre, revelando a emoção da carnificina anterior.
A presença de Cesare sobrecarregou os aristocratas do Império, cujos maiores sucessos de caça eram tipicamente pequenas criaturas da floresta. A visão tornou difícil para eles respirarem. Algum tempo depois perceberam que o homem não estava sozinho.
Cesare segurava a mão de uma jovem mulher quando ele entrou, seu rosto drenado de cor. Ela parecia estar mais sob custódia do que sob escolta. No entanto, o Grão-Duque lidou com a máxima cortesia.
A jovem, vestida de maneira peculiar, usava um vestido elegante e moderno que seguia as últimas tendências.
Mas seu rosto, escondido pela franja, emoldurado por óculos, sem nenhum traço de maquiagem e com o cabelo preso para trás, exalava uma sensação de antiquado não vista há uma década.
Aqueles que ficaram interiormente surpresos com sua identidade se lembravam dela como filha de um nobre falido que havia sido cercado pelos soldados do Grão-Duque anteriormente.
No entanto, eles se viram incapazes de zombar dela tão livremente quanto antes, contidos pelo aperto firme do Grão-Duque em sua mão.
Cesare parou no centro do salão de banquetes com a dama a tiracolo, olhando silenciosamente ao redor do local. Seu olhar penetrante fixou-se nos nobres do conselho.
Aqueles que encontraram seus olhos pareciam se transformar em estátuas de pedra. Após um momento de silêncio, Cesare falou com um suspiro.
— Agradeço as intenções de me parabenizar pela minha vitória, mas…
Passando a mão pelos cabelos encharcados de sangue, ele perguntou:
— Isso não é um pouco excessivo?
Não houve resposta imediata. O salão caiu em um silêncio tão palpável que até mesmo um fio de suor frio podia ser ouvido. Cesare, aparentemente aproveitando a atmosfera fria, ofereceu um sorriso fraco.
— Estou bem ciente de suas intenções sinceras, então em breve retribuirei a altura.
Ele declarou com um comportamento frio e um sorriso deslumbrante:
— Podem esperar por isso.
Com isso, Cesare se virou e saiu, os soldados do Grão-Duque o seguiram em escolta. Mesmo depois que todos eles deixaram o salão de banquetes, um longo silêncio permaneceu.
***
Aconteceu quando Eileen tinha onze anos e Cesare tinha dezoito.
Naquela tarde em particular, Eileen e Cesare se entregaram à hora do chá dentro dos confins serenos do jardim do palácio do Príncipe. Eileen compartilhou avidamente seu novo conhecimento da Grande Enciclopédia das Plantas, um presente concedido a ela pelo próprio Cesare.
No meio de sua animada explicação sobre gimnospermas e angiospermas, uma criada apareceu com uma segunda xícara de chá de calêndula seca, um chá floral conhecido por suas propriedades curativas.
Eileen se preparou para tomar um gole quando Cesare gentilmente interveio para detê-la.
— Eileen.
A voz de Cesare era suave quando ele agarrou o pulso dela e ordenou que largasse a xícara de chá.
Eileen inclinou a cabeça em confusão com a interrupção de Cesare. O rapaz ofereceu a ela um biscoito, antes de instruir a serva a beber o chá.
— Beba.
A expressão da serva despencou instantaneamente, seu corpo tremia como se tivesse sido atingida por um frio repentino, caindo de joelhos em desespero.
— Vossa Alteza…!
A serva implorou por misericórdia, mas Cesare, impassível, apenas sorriu para ela.
— Eu ordenei que você bebesse o chá.
Havia uma calma assustadora na voz de Cesare enquanto ele continuava.
— Eu não pedi que você se desculpasse.
O desespero nublou os olhos da serva enquanto ela hesitava em obedecer. Com os cavaleiros de Cesare parados, o chá foi administrado à força, deixando a serva convulsionando e espumando pela boca.
Quando a provação terminou, Cesare ordenou que seus homens levassem a serva incapacitada. Virando-se para Eileen, ele casualmente comentou:
— Parece que nosso chá estragou. Você gostaria de um biscoito em vez disso?
Presa em um turbilhão de emoções, Eileen segurou o biscoito na mão, sua mente dando voltas. Apesar do olhar expectante de Cesare, ela permaneceu congelada, boquiaberta…
Finalmente, lágrimas brotaram nos olhos de Eileen, para pânico de Cesare. Ele tentou confortá-la, ciente da angústia que involuntariamente causara.
O que aconteceu naquele dia foi um incidente angustiante entre duas pessoas que ainda estavam aprendendo sobre o mundo um do outro.
Desde pequeno, Cesare se adaptou bem à natureza assassina que era o Palácio Imperial. Tentativas de envenenamento se tornaram tão frequentes que quase pareciam uma tarefa para cuidar.
Claro, isso era uma ocorrência cotidiana para a maioria dos membros da família Imperial. Para eliminar possíveis sucessores, eles adotaram uma mentalidade de matar ou morrer. Até mesmo o irmão mais velho de Cesare, o mais fraco entre eles, nunca exitou para tais eventos.
Isso o lembrou de quando tinha a idade de Eileen, então imediatamente condenou aquela serva. Ele queria poupar a pequena Eileen de qualquer sofrimento futuro, a morte da serva não foi retratada. A garota ficou chocada quando seu mundo virou de cabeça para baixo.
Até aquele dia, Eileen estava convencida de que Cesare era um anjo que havia perdido suas asas.
Apesar de sua aparência desumana, ele sempre foi gentil. Além de lanches deliciosos, ele frequentemente a presenteava com livros que ela queria ler. Mais importante, ele gostava de suas histórias sobre plantas nas quais ninguém mais se interessava.
No pequeno mundo de Eileen, Cesare era um Deus bom e justo.
Após viver por tanto tempo com essa crença inabalável, ela se quebrou quando percebeu que ele era um demônio. Essa revelação deixou Eileen tão abalada que ela ficou acamada. Fraca e trêmula, levou um bom tempo para que seu corpo chocado se recuperasse.
Quando ela finalmente acordou, após suportar esse tumulto que pareceu uma eternidade, Cesare convidou Eileen para o Palácio Imperial. A carta enviada por sua mãe estava cheia de palavras reconfortantes, até mesmo mencionando que ele entenderia caso ela desejasse nunca mais o visitar.
Eileen segurou a carta do príncipe nos braços e pensou nela por um tempo.
Se ela recusasse o convite, Cesare cortaria nitidamente o relacionamento deles. Seus caminhos nunca mais se cruzariam.
Mas Eileen não conseguia se obrigar a deixar o Príncipe. Sem ele, ela temia que ninguém jamais ouviria suas histórias novamente.
Havia um cabo de guerra acontecendo em seu coração entre os sentimentos de medo e solidão. O vencedor foi decidido rapidamente, e Eileen começou a inventar desculpas para Cesare em sua mente.
‘Aquela serva era uma assassina. Não há nada que eu possa fazer.’
O método de execução foi cruel, mas ela foi a primeira que quase cometeu um crime! Quanto mais pensava sobre isso, mais seu coração ficava pesado. A indiferença do príncipe a fez querer protegê-lo ainda mais! Viver em um mundo assim… Deve ser solitário.
Então Eileen retornou para Cesare. Depois desse enigma, Cesare se recusou a mostrar seu lado cruel na frente dela novamente.
— Eu era tão tola naquela época, como sou agora.
O pensamento era agridoce. Eileen continuou a empurrar mecanicamente seus ovos mexidos antes de comê-los.
Pensar que ela disse a Cesare para fugir após encontrar os assassinos na estufa do palácio, dizendo que seria uma distração para dar tempo a ele de escapar…
Tudo o que ela recebeu em troca foi um pedido para fechar os olhos, sorrir e talvez até cantar uma música para ele.
“Apenas uma música será suficiente.”
Eileen ainda não conseguia entender as palhaçadas de Cesare, mas mesmo assim obedeceu. Cesare apenas riu quando ela começou a cantar o hino nacional.
Mas logo, sua voz agradável desapareceu e foi substituída por um som aterrorizante. Houve um silêncio mortal antes que Eileen pudesse terminar seu primeiro verso.
— Você pode abrir os olhos agora, Eileen.
Com lágrimas escorrendo pelas bochechas, Eileen obedeceu. Embora sua visão estivesse turva, ela conseguia ver Cesare coberto de sangue, estalando a língua em desaprovação.
— Por que você não disse nada antes já que estava tão assustada?
Tirando as luvas de couro encharcadas de sangue, Cesare enxugou gentilmente as lágrimas dela, com uma voz sussurrante, mas firme.
— Você não precisa me proteger, entendeu?
A tristeza de Eileen parecia não ter fim, mas ainda assentiu. Com isso, ela foi levada de volta ao salão de banquetes.
Cesare nunca soltou sua mão. No salão, seu amado falou gentilmente com ela. Estava tão perdida que não conseguia registrar uma única palavra. Tudo o que conseguia lembrar era de Michelle escoltando a de volta para casa.
O banquete de comemoração da vitória foi arruinado. O único lado bom do assunto bagunçado foi que ela não foi forçada a dançar.
Continua….
Tradução Elisa Erzet