O Marido Malvado - Capítulo 09
A estufa de vidro era bem arejada por dentro. Um fluxo de luar entrava, permitindo que as folhas se aquecessem na luz suave.
Enquanto Eileen continuava andando, seus olhos escanearam os arredores em busca das novas e indescritíveis plantas orientais. Então ouviu um leve rangido. Ela se virou e viu a porta da estufa se abrindo atrás dela.
— Senhor Lotan?
Eileen olhou para trás para ver se Lotan havia retornado. E simplesmente congelou. Cesare entrou na estufa em seu ritmo vagaroso de sempre.
Ele estava vestido com um uniforme cerimonial que diferia um pouco daquele usado durante a procissão triunfal. Sob a noite iluminada pela lua, o homem assumiu uma aparência ainda mais perigosa. Um sorriso gentil enfeitou seus lábios, como se insinuasse um beijo secreto.
Eileen abaixou a cabeça hesitantemente. Com um movimento gracioso, ela moveu a perna, dobrando delicadamente o joelho e levantando gentilmente a bainha do vestido — um gesto de máxima reverência.
— Vossa Graça, Grão-Duque Erzet.
E assim, Cesare começou a falar com ela com formalidade.
— Senhorita Elrod.
— Pela vitória, Vossa Graça… Eu–
Ela hesitantemente ofereceu seus parabéns, sem saber se era uma etiqueta adequada. Então, uma risada irrompeu antes que ela pudesse pensar. Eileen levantou a cabeça lentamente.
O homem de frente para a lua tinha um sorriso brilhante no rosto, olhos vermelhos crescentes. Eileen não pôde deixar de ser cativada pela beleza absoluta de seu sorriso radiante. Sua atenção foi totalmente absorvida por ele quando ela finalmente fez sua pergunta.
— Eu cometi um erro?
— Não, de forma alguma.
Cesare sorriu enquanto balançava a cabeça.
— Isso me deixa nostálgico, Eileen.
Ele então estendeu a mão para Eileen, batendo no cartão de dança com sua mão enluvada de couro.
— Eileen, me daria a honra de dançar com você?
Ele rapidamente tirou o cartão de forma cortês e o inspecionou. Com um sorriso fugaz, Cesare examinou as assinaturas escritas dentro. Ele inscreveu seu nome na primeira linha em branco.
[Cesare Traon Karl Erzet]
A assinatura foi escrita com uma caligrafia elegante e confiante, sem traços ásperos ou indicando hesitação. Como se ali fosse o seu lugar desde sempre. Com um toque terno, Cesare delicadamente o prendeu no pulso de Eileen.
Ela examinou o cartão pendurado em seu pulso, o canto de seus lábios se contraindo. Alguém poderia confundi-lo com um documento militar.
‘Eu nunca imaginei que Sua Graça realmente me convidaria para dançar.’
***
Ela não tinha escolha a não ser balançar desajeitadamente na pista de dança. Eileen imaginou os olhares e sussurros que receberia enquanto dançasse com Cesare.
Não fazia sentido dar desculpas por medo de perder os passos. Ela sabia que Cesare a tranquilizaria, guiando-a para seguir sua liderança.
De fato, ele era capaz de fazer exatamente isso. Afinal, foi o próprio Cesare quem lhe ensinou a dançar.
Se lembrava dele pegando suas mãozinhas e girando-a.
Ela nunca dominou a arte da dança. Desde o começo, sua mãe a repreendia severamente.
“Como ousa desrespeitar o príncipe! Você está desperdiçando o tempo dele com suas aulas de dança!”
A mãe não gostou que Eileen estivesse passando tempo com Cesare. Quando descobriu sobre as aulas de dança, ela explodiu em histeria, gritando e jogando coisas pela casa toda.
A pequena Eileen chorou e implorou para que sua mãe parasse, rezando em seu coração para que ela não se enfurecesse daquele jeito novamente. Somente após ver seu desespero a raiva da mulher diminuiu. Quando voltou a si, abraçou sua filha e se calou.
“Sinto muito, minha pequena Lily. Mas você entende, não é? Mamãe só tem você e o Príncipe na vida dela…”
Como baronesa, ela tinha muito orgulho de ser babá do príncipe enquanto ele competia pelo trono.
Esse orgulho também serviu como força motriz de sua mãe ao longo de sua vida. Ela estava até disposta a sacrificar seu último suspiro por Cesare.
Eileen não queria machucar sua amada mãe. Ela não queria ser um obstáculo para o Príncipe.
Assim, Eileen desistiu de dançar. Cesare nunca insistiu em detalhes.
‘No entanto, estou aqui mais uma vez, prestes a dançar a noite toda com ele.’
Eileen esfregou as pontas dos dedos ao longo da borda do seu cartão de dança. Ela conseguia sentir as bordas afiadas através das luvas de seda.
O silêncio que se seguiu foi esmagador, e o olhar dele era ainda mais estranho. O homem lhe dava arrepios leves conforme aproximava. Ela abriu os lábios para quebrar a tensão.
— Você não deveria ir para o salão de banquetes? Todos devem estar te esperando…
— Tenho tempo suficiente para admirar o jardim.
Cesare respondeu enquanto observavam o pequeno Jardim do Éden do castelo.
— A equipe relatou que uma nova flor foi importada do Leste.
‘Mentiroso. Você veio aqui de propósito só para me ver’
Eileen suspirou interiormente.
Sempre pensou que Cesare era tão entusiasmado com a vida vegetal quanto ela. Afinal, ele era o único que a ouvia falar por horas sobre suas propriedades enquanto todos os outros se viravam no meio da conversa.
‘Fui uma idiota em não perceber…’
Eileen amaldiçoou seu eu do passado e presente enquanto caminhava para dentro da estufa com Cesare. Ela engoliu em seco para manter a calma e cuidadosamente selecionou suas próximas palavras.
— Obrigada pelo lírio e o vestido. Peço desculpas por não conseguir me vestir adequadamente, apesar do gesto atencioso de Vossa Graça. Inicialmente, eu só pretendia dizer “olá” e depois ir embora. Eu nem tinha considerado a possibilidade de dançar, mas aqui estamos… Percebo agora que deveria ter me esforçado mais.
Eileen, que estava recitando suas falas preparadas em ordem, parou de repente. Seus olhos se arregalaram, e sua boca lentamente se abriu.
— Oh meu Deus.
Eileen correu até o vaso de flores, cheio de mudas.
— Esta é uma muda de Camélia! Eu a vi em um livro uma vez, mas é a primeira vez que a vejo pessoalmente!
Era uma árvore que ela desejava ver há algum tempo. As pétalas da flor despertaram seu interesse, particularmente porque havia lido que eram usadas como agentes hemostáticos. Ela tinha perdido a esperança de obtê-las devido à sua raridade. Quem imaginaria que seria plantada no jardim do Palácio Imperial?!
Eileen agachou em frente à muda, observando atentamente a camélia com grande expectativa.
— Dizem que as folhas parece couro grosso, e de fato isso é verdade. O brilho é tão vívido, e… Se você observar de perto, a borda da folha lembra dentes minúsculos. É bem incomum, não é? Hah, teria sido maravilhoso se as flores tivessem florescido. Os estames salientes pareciam tão encantadores nas ilustrações… Como eu anseio por testemunhá-los pessoalmente!
Eileen fez um esforço para conter sua excitação, falando de forma composta enquanto admirava a camélia.
— As flores também são distintas porque suas corolas são todas presas sem um pedúnculo. É por isso que ele cai completamente. No Oriente, eles dizem que é um símbolo de má sorte porque parece que a cabeça de alguém está sendo decepada…
Eileen, que estava falando com entusiasmo, de repente pulou e ficou em silêncio. Ela percebeu tardiamente que estava falando apaixonadamente sobre um assunto que a pessoa com quem estava poderia não achar interessante.
— Uma flor que se assemelha a uma cabeça decepada.
(Elisa: Gatilho para ele 🥹🥹🥹)
Uma voz profunda ecoou as palavras de Eileen.
Eileen desviou lentamente os olhos da camélia para a fonte da voz.
— …
Cesare abaixou e sentou ao lado de Eileen. Sua atenção estava somente nela, nem mesmo olhando para a camélia.
Os cílios de Eileen tremeram. Sempre havia uma química estranha entre eles, não importava como se olhassem. Quando seus olhos encontraram os de Cesare, um turbilhão de pensamentos dentro de sua mente pareceu se acalmar.
Era a escuridão da estufa ou seus olhos irradiavam um vermelho particularmente profundo?
— Você gosta desse tipo de flor?
— N-Não é isso! A-Argh! É q-que é fascinante…
Eileen gritou de aborrecimento, enquanto Cesare segurava a muda de camélia na mão. Suas mãos grandes pareciam prontas para arrancar e esmagar a delicada planta a qualquer momento.
— Por que você sempre faz isso?!
Cesare sorriu suavemente. Eileen implorou, até mesmo suando frio, mas ele apenas riu ironicamente.
— So– Solte a muda primeiro, depois conversamos. Ela é muito fácil de ser danificada…
Ele a obedeceu, mas suas ações foram repentinas e rudes. Eileen sentiu seu coração afundar quando fixou os olhos no rosto de Cesare.
— Sinto muito, Eileen. Ultimamente tenho andado indisposto.
Cesare se desculpou sem soar arrependido. Eileen franziu a testa em preocupação.
— Aconteceu algo preocupante com você?
— Além do fato de que você quase teve sua cabeça cortada na guilhotina?
— Desculpe…
Eileen murmurou baixinho, sem saber o que dizer. Como Cesare alegou, se Morpheu tivesse sido descoberto por outra pessoa, o destino de Eileen teria sido o de uma galinha sem cabeça.
‘Ainda assim… Ele nunca esteve assim antes…’
Se Cesare tivesse achado essa planta exótica problemática, ele teria mandado seus soldados destruí-la há muito tempo, e Eileen nunca teria percebido. Mas aqui estava ele, sentado com ela, tocando a muda, ouvindo seus devaneios… É incomum vê-lo agindo por impulso, satisfazendo-a como sempre fazia. Claro, ele sempre fez suas vontades muitas vezes antes, mas não, a esse ponto…
O que aconteceu nos últimos três anos?
Eileen lançou-lhe um olhar estranho, e Cesare se inclinou para frente. Então ele declarou:
— O casamento vai acontecer em um mês. Por mim seria amanhã, mas alguns preparativos levam tempo…
Eileen piscou lentamente para ele. Tudo o que queria dizer, tudo o que tinha ordenado cuidadosamente, estava emaranhado em um nó impossível. Ela foi derrotada antes mesmo de pisar no campo de batalha.
— Eu não posso vencer você, posso? Não tem sentido nem em expressar minha opinião, tem?
— Como adulta, você deve tolerar coisas que não gosta.
Cesare levantou com deliberada lentidão. Enquanto ele se mantinha ereto, suas costas contra o luar, ele lançou um olhar penetrante para Eileen. Seus olhos vermelhos brilhantes se fixaram nos dela com uma intensidade que lhe causou arrepios na espinha.
— Por outro lado, por que seria tão desagradável se for eu…?
Ele refletiu em voz alta, com um sorriso torto se formando em seus lábios.
— Considerando que teremos que nos casar eventualmente, não seria preferível que fosse eu seu parceiro do que um porco velho?
‘Que porco velho?!’
Eileen quase gritou, escandalizada e indignada.
As palavras duras que saíram da boca do homem fizeram os olhos dela arregalar naquele exato momento. Cesare inclinou a cabeça levemente.
Ele franziu a testa para ela e com urgência agarrou o antebraço de Eileen e a envolveu. Eileen cambaleou sob o poder onipotente do homem.
Então, na estufa silenciosa, a sombra de um alguém indesejado surgiu. Eles estavam cobertos de preto da cabeça aos pés, e parecia haver mais de cinco deles. Eileen perguntou, seu rosto cheio de descrença.
— Eles não são assassinos, são?
— Eu me pergunto o mesmo…
Ele respondeu em um tom vagaroso. Eileen estava a ponto de chorar de medo.
Como estavam no Palácio Imperial, Cesare estava completamente desarmado. Não havia nem mesmo uma espada cerimonial ao seu lado, muito menos uma arma de fogo.
Felizmente, os assassinos empunhavam apenas espadas. Armas de fogo, com seu número limitado de fabricantes e tendência de ser barulhento, teriam sido mais fáceis de rastrear. Parecia que os assassinos tinham optado por espadas para executar sua tarefa silenciosamente.
No entanto, mesmo na ausência de armas de fogo, Cesare, permaneceu indefeso contra os assassinos armados. Eileen apertou os punhos em frustração, percebendo as terríveis probabilidades que eles enfrentavam.
Se precisasse apenas um sobrevivente, tinha que ser Cesare. Eileen sussurrou para ele com determinação evidente em sua expressão.
— Vossa Graça —ela começou, captando seu olhar. — Eu criarei uma distração para você.
— Uma distração? — Cesare ecoou, claramente intrigado.
— Aproveite essa oportunidade e corra.
Conhecendo sua agilidade, ela acreditava que haveria uma chance para ele fugir por conta própria. Parecia um plano viável para ela, mas Cesare caiu na gargalhada.
— Eileen.
Ele disse, seu tom quase divertido.
— Oi?
A resposta dele a deixou perplexa.
— Você pode fechar os olhos por um momento, por favor?
— Hum…? Claro!
Eileen respondeu hesitante, sem saber o que o homem tinha em mente.
— E talvez… cantar uma música. — Ele acrescentou gentilmente.
— Uma música? Q-quantas? — Eileen perguntou, confusa.
— Apenas uma será suficiente, —Cesare respondeu com ternura.—
Continua…
Tradução: Elisa Erzet