O Marido Malvado - Capítulo 06
Do campanário mais alto da ilha, o sino tocou, e seu som ecoou pela cidade para marcar o início da procissão triunfal.
— Espere um segundo! P-Por favor, deixe-me passar!
Eileen lutou para abrir caminho pela multidão, sendo empurrada para todos os lados. Ela só conseguiu chegar um pouco mais perto da frente, mas os homens ao redor dela eram altos demais. Tudo o que ela conseguia fazer era espiar pelo vão entre os ombros deles.
Assim que seus pés estavam prestes a ceder de ficar na ponta dos dados, o homem à sua frente se moveu para abrir caminho para Eileen. A garota sorriu largamente.
— Muito obrigada!
Agora ela tinha uma visão clara da marcha atrás das mulheres e crianças. Era um bom lugar para assistir ao desfile, mesmo que não fosse um assento na primeira fila.
Foi incrível ver tantas pessoas se reunindo. Ela sempre soube que Cesare era imensamente popular no Império, mas isso estava além de sua imaginação mais louca. Estavam todos lá para ver Cesare.
A multidão irrompeu em aplausos à distância, aumentando rapidamente em volume. As notas ressonantes das trombetas da banda militar cortaram o caos. O ritmo staccato dos tiros ecoou o bater dos tambores.
O povo agitou a bandeira imperial e gritou o nome de Cesare. Os pobres espalharam confetes coloridos de suas cestas, assim como os ricos, com flores e pétalas.
A praça inteira foi pintada em cores vibrantes, criando um caminho de mosaico para tropas impecavelmente uniformizadas. Sua marcha disciplinada sintetizou a grandeza do Império, um espetáculo para ser visto.
Quando a excitação da multidão estava chegando ao clímax diante daquela visão emocionante, o líder da procissão triunfal finalmente apareceu.
Seis garanhões de obsidiana puxavam uma carruagem na qual Cesare estava. Suas insígnias eram adornadas com várias ordens, presas em fileiras que brilhavam à luz do sol.
Atrás dele, seu longo manto vermelho tremulava, bordado com fios de ouro no formato de um grande leão alado, o brasão da Família Imperial Traon. O leão parecia surgir e ondular com cada aba do manto, como se estivesse em um voo furioso.
Cesare era o epítome de todo esse esplendor. Não era exagero declarar que o homem, com seus olhos carmesins frios, mas ameaçadores, era o Deus da Guerra Encarnado.
Sua beleza habitual era frequentemente o suficiente para distrair os pensamentos de Eileen, mas hoje, como ele estava vestido com intenção deliberada, ele irradiava uma aura de intimidação e medo. Ele excedeu as expectativas da multidão reunida, fazendo com que alguns desmaiassem de excitação enquanto gritavam seu nome.
Todos estavam desesperados para dar uma olhada nele. Em meio ao mar de pessoas, Eileen se sentiu tão insignificante quanto uma formiga, pois ela também se viu olhando para Cesare, completamente paralisada.
Ele parecia uma estrela distante no meio do céu noturno.
E ainda assim era ela quem esteve na companhia desse ser sobrenatural na noite anterior. Eles conversaram e riram, pegos em um momento de intimidade.
Ela ainda se perguntava se era tudo um sonho. O mais certo seria dizer que tudo passava de produto da sua imaginação, que ela estava apenas se iludindo.
Pensar nisso abalou sua confiança em comparecer ao banquete do Palácio Imperial.
‘Como ouso me tornar uma mancha em um ser tão brilhante?’
Embora Eileen tenha instintivamente dado um passo para trás, ela não conseguiu recuar. Seu caminho foi bloqueado quando ela colidiu com o p
eito do homem que lhe dera seu lugar.
— Cuidado aí.
O homem firmou Eileen. Ela se desculpou rapidamente e ajeitou os óculos, que tinham escorregado até a ponta do nariz.
— Eu sinto muito!
— Não se preocupe. A multidão pode ser esmagadora.
Ele sorriu antes de dizer gentilmente.
— Você precisa de alguma ajuda?
Eileen estava prestes a insistir que estava bem quando as pessoas ao redor dela começaram a gritar freneticamente. Seus gritos ameaçaram estourar seus tímpanos, forçando-a a procurar a fonte da comoção. A visão a fez ficar boquiaberta.
A procissão havia parado.
Cesare desceu graciosamente da carruagem, seus movimentos, comandando a atenção. A ação inesperada do Grão-Duque atordoou brevemente os soldados, mas eles rapidamente recuperaram a compostura. Sua Graça caminhou propositalmente em direção a eles com uma expressão determinada, segurando uma flor que havia sido atirada para ele.
Essa direção era exatamente onde Eileen estava.
Eileen ficou imóvel enquanto o homem deslumbrante se aproximava dela, antes de lhe oferecer a única flor.
Era um lírio-branco puro.
A fragrância a dominou, e ela a pegou com dedos trêmulos. Cesare riu, brincando de dar tapinhas no nariz de Eileen.
— Por que você está me olhando assim?
Aqueles olhos de cachorrinho sempre sorriam para ela.
— Tudo isso é por você.
Eileen olhou para Cesare enquanto girava a flor. Como ele poderia ser tão composto quando ele era a causa de toda a ansiedade e tremor dela?
As pétalas de lírio balançavam gentilmente a cada movimento. Cesare manteve uma expressão neutra, antes de retornar à procissão como se nada tivesse ocorrido.
Eileen observou enquanto ele se afastava, segurando o lírio, antes de perceber os olhares da multidão.
— …
As expressões chocadas dos espectadores eram opressivas. Ela sentiu como se estivesse sufocando.
Os olhares cobiçosos deles para a flor na mão dela eram intensos. Era um presente do próprio Grão-Duque, afinal, não conseguia deixar de apreciá-lo ainda mais.
Foi quando ela percebeu que isso seria um grande problema. O homem parado atrás de Eileen esticou o braço, impedindo que outros se juntassem contra ela. Ele sussurrou,
— Deixe-me levá-la para casa.
Ao mesmo tempo, um grupo de homens cercou Eileen. Só então ela percebeu que todos os homens altos ao seu redor, incluindo o homem gentil que cedeu seu lugar para ela, eram de Cesare.
Se não fosse pela ação impulsiva do Grão-Duque, Eileen teria visto o gesto como um ato de gentileza de um estranho.
A influência de Cesare sempre esteve lá, mesmo nos momentos mais inesperados. Assim que ela percebeu isso, a intuição a atingiu.
‘Não é a primeira vez que algo assim realmente aconteceu.’
Ela não conseguia deixar de se sentir um pouco frustrada. Parecia que havia uma barreira invisível a cercando onde quer que ela fosse.
***
Tendo retornado para casa com a escolta amigável, Eileen se sentiu aliviada. Ela deu uma olhada na pequena casa de dois andares, só para garantir, caso seu pai ainda não tivesse retornado.
Após dar uma olhada, Eileen sentou-se no sofá da sala de estar. Ela agora tinha que se preparar para o banquete do Palácio Imperial, mas, no momento, não tinha vontade de levantar um dedo.
— …
— Por que você fez isso?
Cesare deve ter previsto o alvoroço que suas ações causariam. Ele havia parado a marcha propositalmente para presenteá-la com uma flor.
Ele parecia querer mostrar a todos os cidadãos do Império Traon que reconhecessem a presença de Eileen. E, de fato, seu desejo será atendido em breve. Por toda a terra, as pessoas falarão sobre a mulher que recebeu o favor de Cesare.
Eileen percebeu que tinha se enredado em uma teia de aranha. Tudo apontava para ela ser a única a se tornar Grã-Duquesa Erzet.
Eileen se concentrou no lírio em sua mão. Ela se lembrou do dia em que conheceu Cesare no campo de lírios. Ninguém mais chamava Eileen de “Lily”. E ainda assim, Cesare pensava que ela era um lírio.
“O príncipe, sem dúvida, se tornará a luz do império.”
“Mamãe tem muito orgulho de ser babá de Sua Alteza.”
“Você também deve ajudar o Príncipe. Nós pertencemos ao Príncipe, Lily.”
Eileen fechou os olhos, lembrando-se da voz da mãe. Entrelaçados em sua mente estavam o Cesare que a beijara na noite passada e o Cesare que marchará na procissão triunfal hoje. Ela se lembrava claramente do que ele disse quando lhe dera o lírio.
“Tudo isso é por você.”
‘O que sua alteza quis dizer com isso?’
Eileen não conseguia ler as intenções de Cesare, mas se conhecia bem o suficiente. Ela queria se casar por amor, não por necessidade.
Para começar, eles eram muito diferentes. Cesare era capaz de beijar qualquer cônjuge em potencial, enquanto Eileen só podia beijar a pessoa que amava.
Em vez de se tornar uma duquesa neste casamento político, igual a Cesare em todos os aspectos, ela permaneceria uma “criança” aos olhos dele. Isso era imaturidade dela? A ansiedade que sentia sobre toda a situação não diminuiu.
‘Devo pedir para ele cancelar esse noivado quando eu o vir hoje? Para me salvar de alguma outra forma?’
Talvez ela devesse ser ousada e pedir abertamente que ele a ajudasse com sua pesquisa.
Mesmo que tivesse sido pega, ela já tinha completado metade do seu trabalho. Morpheu sem dúvida seria o suficiente para garantir um perdão por criar tal droga.
Eileen pode não ter experimentado o mundo, mas estava confiante em suas habilidades. Era um fato que ela tinha inclinação acadêmica, e tinha passado metade de sua vida cultivando essa característica.
‘Eu sempre fui aquela que precisou de ajuda. Então eu queria ser de alguma utilidade em troca.’
Parte dela queria admitir que havia pesquisado analgésicos poderosos só por Cesare. A tristeza tomou conta enquanto acariciava as pétalas brancas. Não importa o que dissesse no banquete, ela seria, sem dúvida, vista como uma pirralha.
‘Eu não vou fugir. Eu fiz uma promessa a ele.’
Eileen se levantou do sofá, murmurando para si mesma sobre os preparativos que precisava fazer. Ela arrumou cuidadosamente o lírio em um vaso antes de se concentrar nos preparativos para o banquete.
Continua….