Noite De Caça - Capítulo 194
Baek Doha fez café usando um gotejador manual e trouxe para mim sem dizer uma palavra. O aroma forte do café era incrivelmente gostoso, então eu segurei a xícara com ambas as mãos e tomei um gole, o café estava tão quente que queimou minha língua.
—Ah, está quente.
—Quem bebe café como se fosse água?
Doha sentou-se na cadeira ao meu lado e sorriu. Era tão cruel ele rir assim enquanto eu estava quase morrendo de dor. A ponta da minha língua estava vermelha e pinicava.
—Quer um remédio? Está doendo muito?
Como eu estava com a língua para fora, soltei alguns gemidos babados. Coloquei a xícara de café na mesa por um momento e comecei a fazer “fuu, fuu” para acalmar minha língua ardida, então de repente Baek Doha se aproximou do meu rosto e estendeu a língua e lambeu minha língua e os lábios.
—Ei!
Quando gritei irritado, Doha recuou um pouco rindo. Ele continuou rindo enquanto me entregava uma garrafa d’água para que eu pudesse molhar a boca e acalmar minha língua, estava com tanta sede por ter corrido desesperadamente à noite que acabei bebendo toda a garrafa de água em um instante. Enquanto bebia a água, o café esfriou adequadamente.
Só então me recostei confortavelmente na cadeira e tomei o café, enquanto apreciava as estrelas.
—Que tal colocar uma música?
—Não.
Eu simplesmente gostava desse silêncio.
Ao invés de colocar uma música, Baek Doha apagou todas as luzes para que as estrelas pudessem ser vistas melhor. Quando a escuridão chegou, o céu noturno cheio de estrelas brilhou como antes. Era tão bonito que até piscar os olhos era uma pena.
Foi bom não estar sozinho neste momento. Fiquei grato por Doha ter vindo até aqui e estar comigo, mas decidi não dizer isso a ele em voz alta. Não deveria encorajá-lo a ficar excitado e aprontar de novo.
—Aquelas três estrelas lá estão brilhando tão intensamente. Mas ouvi dizer que uma estrela tão brilhante é um satélite artificial.
—O que está no final é Júpiter, o do meio é Saturno, e aquele ali é Vênus.
Doha estendeu a mão e apontou para as três estrelas que mencionei, explicando uma por uma. Eu sabia que ele era inteligente, mas sempre ficava impressionado em momentos como este.
—Uau. Não tem nada que você não saiba?
—Não.
Baek Doha sempre foi assim, respondendo com confiança e ousadia.
—Você é inteligente, não te falta nada é bonito. Você é perfeito, não é assim?
—É claro.
—E esse ser perfeito é meu?
—Sim.
Até aqui era o mesmo padrão de sempre. Ele sempre sorria com orgulho e arrogância, dizendo que este seu eu perfeito, era meu. Mas desta vez, havia algo diferente em sua voz.
—Mas na sua frente eu não quero ser perfeito. Estou carente de muita coisa, então você tem que cuidar de mim.
—Então você não deveria mostrar que é inteligente. Não é todo mundo que consegue se passar por um tolo, sabe?
—Acho que o que eu disse antes estava errado. Aquelas três estrelas devem ser mesmo satélites, como você disse.
Um riso escapou da minha boca. Está de brincadeira. Graças a este homem, ri várias vezes esta noite. Depois de sorrir uma vez enquanto olhava para mim, Baek Doha tomou um gole do café.
—Você ri de um jeito fofo.
Foi isso que ele disse elegantemente, enquanto tomava seu café. Eu rapidamente me mexi na cadeira e me sentei mais longe.
—Por favor, não fuja. Você quer saber, quanto mais você foge assim, mais eu quero te atacar?
—Não pode.
—Por que? O que há de errado?
—Eu disse não. Se você fizer algo estúpido, eu vou morar aqui para sempre.
Sussurrei deliberadamente enquanto olhava para o céu. Ouvi Doha soltar uma risada irônica. Era uma ameaça tão ridícula, mas ele não disse mais nada, deve ter sido tão assustador quanto a ameaça de usar outro quarto. E agora, eu tinha mais uma carta na manga para ameaçá-lo no futuro.
—Ah, hoje um dos pais falou sobre a ilha de Hwangmok.
Só então me lembrei da história de Hwangmok que ouvi no ônibus. Eu relatei todas as conversas que tive com os pais e falei o quanto me diverti hoje. Enquanto eu falava, continuei olhando para o céu noturno, e Baek Doha só olhava para mim. Seu olhar fixo em mim era intenso.
Será que eu sou tão bonito? Fiquei me perguntando por que alguém como ele estava olhando tão fixamente para mim com uma paisagem tão incrível do céu noturno.
Se alguém lhe perguntasse por que ele estava me olhando assim, provavelmente diria que é porque eu sou bonito. E se eu lhe disser para olhar para as estrelas ele vai dizer: “prefiro continuar te olhando porque você é mais bonito”, ou algo parecido. Não era apenas meu pensamento, com certeza ele diria isso. Então eu simplesmente continuei olhando para as estrelas como se nada estivesse acontecendo.
Quando fiquei parado por um tempo, comecei a sentir frio e tremi. Já era hora de ir embora, mas eu queria ficar assim mais um pouco.
—Está frio. Venha aqui.
— Você não disse que não íamos fazer nada hoje?
—Apenas me abrace.
—Depois de me tratar como um cachorro, agora está me tratando como um aquecedor humano?
Mesmo resmungando, ele puxou uma cadeira para perto de mim sentou-se e tirou seu. Enquanto eu vestia seu casaco ele estendeu a mão e abraçou meu ombro. Eu também me aconcheguei nele em busca de calor.
Como sempre, Baek Doha estava quente, quase quente demais.
—Vamos para Hwangmok.
—Durante as férias de verão?
—É difícil no verão. Vamos antes do verão chegar.
—Nem pense em arrastar todo mundo de novo nas férias.
—Não vou fazer isso. Em outro momento vamos todos juntos.
Baek Doha acariciou meu ombro em silêncio por um momento.
—Na verdade, eu não gosto de Hwangmok.
Levantei a cabeça para olhá-lo e perguntei: —Por quê?
—Acha mesmo que eu deveria gostar do lugar para onde meu marido fugiu e se escondeu?
O que mais eu posso dizer? Sorrindo para mim mesmo, abaixei a cabeça novamente e coloquei meu rosto em seu peito, como antes.
—Esqueça, isso é passado. Viva o presente.
O riso de Baek Doha ecoou acima de mim.
—A vovó de Hwangmok disse que você parecia um mafioso, com o rosto chamativo.
—Ela parece enxergar muito bem.
Ele era tão indulgente consigo mesmo ao se depreciar.
—Quero ver os idosos lá e os gatos também. Mas será que Mickey e Minnie vão se dar bem?
—Pelo que o zelador disse, na verdade o campo é melhor para eles. Ele disse que os dois ainda têm instinto de caça e costumam pegar falcões e coelhos.
Imaginei os dois cães, de porte grande e pelagem escura, correndo pelas montanhas o dia todo, capturando animais selvagens. Deve ser divertido para eles. Para os dois, o jardim da casa em Seul era muito pequeno.
—Você não quer mais caçar?
—De jeito nenhum. Não penso mais nisso.
—Você costumava gostar. Era o seu único hobby.
—Era um hobby prejudicial. Achar prazer em perseguir e matar animais vivos… Eu não posso continuar fazendo as mesmas coisas que fazia quando era imaturo e ignorante. Agora não estou mais sozinho.
No passado, Baek Doha montava seu cavalo com uma arma na mão, vagando pela floresta. Lembro-me claramente do momento em que o vi pela primeira vez na Inglaterra. Seu olhar mudou quando segurou a arma. Eram olhos de caçador. Então ele me olhou com os mesmos olhos com os quais corria para as vastas florestas da Inglaterra, segurando sua arma, naquela época, eu era a presa que ele queria perseguir e capturar até o fim.
Agora, com o rosto apoiado no peito forte do homem que se tornou meu parceiro, levantei levemente a cabeça para olhá-lo. Ele também olhou diretamente para meus olhos.
Agora ele me olha com olhos gentis, calorosos e cheios de amor. Os olhos assustadores que me examinavam como um caçador, percorrendo todo o meu corpo, mudaram bastante ao longo dos anos. Decide dar um passo para trás de forma tolerante e compreensiva, influenciado pela firmeza, coragem e generosidade dele.
—Se você realmente quiser atirar com uma arma, porque não pratica tiro ao alvo?
—Se for fazer isso, faremos juntos. Com Doyun também. Não quero fazer nada sozinho.
—Huh.
Havia muito o que fazer antes do verão. Tínhamos que ir ao parque de diversões, visitar Hwangmok e também praticar tiro ao prato. Enquanto olhava brevemente para o céu novamente, vi uma estrela brilhando e se movendo lentamente.
—O que é aquilo? Está se movendo?
—É um satélite.
—Não brinque.
—É sério, está se movendo. As estrelas não se movem.
Mesmo duvidando, continuei observando a estrela que se movia lentamente. Mas fui interrompido por um telefonema da mãe do Sunwoo. Ela ficou surpresa ao perceber que eu não estava lá quando entraram.
Depois de dizer que tinha ido dar uma curta caminhada, desliguei o telefone e abracei o corpo dele, que parecia uma grande bolsa de água quente. Então Doha que até então estava calmo, de repente me abraçou firmemente, ele não queria me soltar.
—Eu tenho que ir.
—Vamos ficar assim só um pouco mais.
Seus braços ainda tinham a mesma força quando me abraçaram firmemente. Seus feromônios, suavemente perfumados, também não mudaram. Ele sempre os controla, mas na minha frente, seus feromônios fluíam levemente, de forma mais suave. No entanto, de alguma forma, senti que era diferente do habitual. E minha premonição ansiosa se confirmou.
—O que está acontecendo?
Não houve resposta. Com o breve silêncio, eu soube que com certeza. Algo estava errado.
—Minha mãe morreu?
As palavras saíram da minha boca com um tom surpreendentemente calmo. Não foi intencional, eu realmente não senti nada especial.
—Não.
Ele respondeu brevemente e beijou meus lábios fechados. Seus lábios frios se curvaram e seu hálito com cheiro de café penetrou em minha boca. Não foi um beijo desleixado como de costume. Eu fechei os olhos firmemente e saboreei o beijo suave e gentil. Ele manteve seus lábios contra os meus, sugando e lambendo levemente antes de se afastar.
—Volte amanhã. Não vá para outro lugar.
Seu sussurro era quente contra mim, e seus olhos brilhavam como Vênus no céu noturno.
—Tem a ver com Han Moonwoo?
Estando certo ou não, Baek Doha não disse nada. Seu silêncio era uma confirmação. Era evidente que o problema havia sido causado pelo desgraçado que esfaqueou minha mãe e fugiu com dinheiro. Além disso, o homem provavelmente estava com muita raiva nesse momento. Não acho que ele amasse minha mãe, na verdade parecia que ele tinha algo a ganhar estando do lado dela.
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Continua…