Noite De Caça - Capítulo 183
— Não tenho permissão para visitar meu filho quando quiser?
Mas ela não se intimidou. Não era nada fácil para um ômega não se intimidar na frente de um alfa real. Baek Doha riu secamente.
— Sogra. Você acha que eu estou brincando?
Sua expressão era severa, sem um pingo de riso. Era uma espécie de aviso para que não o provocasse mais. No entanto, minha mãe não recuou nem um pouco e o encarou com firmeza.
— Eu só estou aqui para ver meu filho e meu neto.
Baek Doha riu alto novamente, virando os olhos para mim. Eu ainda estava em frente à cafeteria onde havia conversado com minha mãe mais cedo. A expressão de Baek Doha distorceu ao ver meu rosto. Baek Doha imediatamente apontou o dedo para mim e xingou minha mãe.
— Mas que merda, uma mãe está defendendo o bastardo que fez o rosto do seu filho ficar assim?
— Isso foi o que Seolwoo merecia.
— É isso o que você tem a dizer!
No momento em que Baek Doha gritou, seus feromônios Alpha explodiram como uma bomba. Até mesmo minha mãe que estava firme até agora não conseguiu se conter dessa vez e tossiu violentamente. Mesmo o homem que ainda estava deitado no chão, tossiu e se contorceu de dor.
Ele gritou para minha mãe com uma voz furiosa, incapaz de controlar suas emoções.
— Eu te avisei, certo? Eu disse para a sogra manter distância, disse que se tocasse em Seolwoo eu não iria te deixar em paz. O que você disse quando recebeu dinheiro naquela época? ‘Entendi, nunca acontecerá.’ Você disse isso, não foi? Mas que porra, como se atreve a vir visitar meu filho, e incomodar meu Seolwoo. Com que cara vem procurar meu esposo agora, sua desgraçada? Agora que Seolwoo finalmente encontrou estabilidade e vive em paz, por que veio bagunçar as coisas?
Minha mãe não conseguiu dizer uma palavra porque estava tossindo. Lágrimas escorriam pelo seu rosto e todo o seu corpo tremia e balançava de um lado para o outro. Minha mãe assim como eu tinha uma constituição única, então mesmo sendo uma ômega, ela conseguia suportar os feromônios de um Alfa real até certo ponto, mas nunca tinha sido submetida a uma raiva tão evidente.
Quando ele não suportou mais e caiu de joelhos, Baek Doha se aproximou do homem que estava se contorcendo no chão como um inseto.
Doha agarrou a garganta dele, que chorava copiosamente, e desferiu um golpe impiedoso em seu rosto ensanguentado. O sangue espirrou e gemidos foram ouvidos. O homem não conseguiu revidar nenhuma vez, apenas respirou com dificuldade enquanto seu corpo continuava mole. Seu rosto vermelho foi esmagado a ponto de ficar irreconhecível.
Eu não o impedi. Fiquei à distância, cobri minha boca, parei de respirar e fiquei observando como se aquilo fosse assunto de outra pessoa. Eu me sentia incrivelmente vazio por dentro. Todas as minhas emoções pareciam ter desaparecido, deixando-me uma casca oca. A raiva que me consumia havia desaparecido, e só me restou o vazio.
— Pare com isso.
Minha mãe agarrou a perna de Baek Doha, pendurando-se enquanto implorava. Doha torceu a perna presa, para afastá-la. Mas a mãe não desistiu e se agarrou a ele mais uma vez.
— Pare com isso, seu bandido. Você acha que é um ser humano? Seu monstro. Pare com isso, seu desgraçado.
Enquanto ela implorava chorando, também o xingava. Doha, olhou para minha mãe e levantou o punho que havia batido impiedosamente no homem, mas logo o abaixou. Ele soltou o pescoço do homem, que segurava na outra mão, e o jogou para longe.
Só então a mulher soltou a perna de Baek Doha e correu até o homem caído.
Doha virou a cabeça e olhou para mim.
— Seolwoo. — Ele me chamou. Os feromônios alfa que queimavam como se fossem consumir tudo ao redor diminuíram instantaneamente, como se alguém tivesse derramado água sobre eles. — Venha aqui. Vamos para casa.
Minhas pernas se moveram por conta própria ao som de seu chamado. Contra minha vontade, minhas pernas se moveram e eu caminhei até Baek Doha. Quando cheguei perto, ele envolveu meus ombros com suas mãos vermelhas manchadas com o sangue do homem. Eu podia sentir o leve cheiro de sangue misturado com o cheiro do perfume e dos feromônios.
Fui até o carro com Baek Doha e entrei, tentando ao máximo ignorar os soluços da minha mãe. Quando subimos no banco de trás, e sentamos lado a lado, o motorista olhou pelo espelho retrovisor e perguntou: — Para onde estamos indo?
— Para o hospital.
Assim que Baek Doha deu a ordem, o carro começou a se mover. Eu não tinha energia para dizer que ir até o hospital não era necessário. Além disso, a parte da minha cabeça que bateu na borda da mesa antes estava estranha. Continuava doendo e latejando, e meu corpo estava longe de estar bem, certamente, haveria hematomas no meu rosto.
Talvez por ter inalado os feromônios de Doha do lado de fora antes, eu estava com um pouco de febre. Coloquei um neutralizador na boca, eu estava com sede, então bebi uma garrafa de água sem parar.
Baek Doha não disse uma palavra desde o momento em que entramos no carro. Ele apenas virou a cabeça para a janela e olhou para fora, eu também não olhei para ele nenhuma vez. Fiquei imaginando se ele estava com raiva, era compreensível. Afinal, saí sem pensar sozinho para encontrar minha mãe e acabei assim.
Uma mão repousava na coxa robusta de Baek Doha. Uma mão com sangue seco. Coloquei a garrafa de água vazia sobre a caixa do console e peguei o pacote de lenços umedecidos. Em seguida, tirei alguns lenços e limpei a mão de Baek Doha, os lenços branco logo ficaram tingidos de vermelho.
— Recebi uma ligação repentina da minha mãe e saí correndo porque ela disse que estava com o Doyun.
Mesmo que ninguém tivesse me perguntado, comecei a desabafar. O punho de Baek Doha, que tinha deixado o rosto exausto do homem vermelho, também estava inchado. Seus nós dos dedos estavam salientes por toda parte. A pedra de diamante no centro da aliança de casamento em seu quarto dedo também havia desaparecido em meio ao sangue. Pensei que não havia como o rosto da outra pessoa ficar ileso depois de receber tantos golpes com aquela pedra.
— Originalmente, eu ia me encontrar com ela em outra data. Ela me mandou uma mensagem há alguns dias, mas você também sabe, não é? Você monitora meu telefone. Por que minha mãe queria me ver? Por causa de dinheiro, é claro.
Limpei a mão de Baek Doha e, como havia uma caixa de band-aid na maleta de primeiros socorros, puxei alguns e a colei nos nós dos dedos feridos dele.
— Eu deveria ter simplesmente dado o dinheiro como ela queria e ido embora, mas estranhamente me senti péssimo. Mesmo quando encontrou o filho que não via a quase dez anos, a única coisa sobre a qual ela queria falar, era sobre dinheiro……
Fiz uma pausa e tomei fôlego para recuperar o fôlego antes de abrir a boca novamente.
— Então, eu fiquei um pouco irritado e gritei com a minha mãe. Aquele cara, marido dela que veio junto, começou a xingar o Doyun, e eu o encarei, eu não deveria tê-lo provocado.
Acariciei a mão branca de Doha, agora enfaixada. Meu coração doeu ao ver as cicatrizes em sua mão branca por minha causa.
— Sinto muito.
Soltei um suspiro e pedi desculpas. Baek Doha continuou com a cabeça virada para outro lado, olhando pela janela do carro. Ele geralmente me encarava tanto que me deixava desconfortável. Foi muito triste vê-lo daquele jeito hoje, olhei para a lateral de seu rosto que não me encarava, e perguntei cautelosamente.
— Por que não está olhando para mim? Está com raiva?
— Porque se eu olhar para o seu rosto, vou acabar voltando lá para matar aqueles bastardos.
Baek Doha murmurou baixinho. Então sorri fracamente.
— Por que você simplesmente não os matou? Eles parecem estar vivendo uma vida miserável, vão acabar morrendo de qualquer maneira.
— Você não podia ver sua mãe morrer bem na sua frente. Você é o tipo de pessoa que mesmo odiando alguém não quer ver sua morte.
Eu apenas ri. Ele estava certo. Eu havia implorado para que ela fosse para algum lugar e morresse em paz, mas sabia que não poderia vê-la morrer na minha frente.
— E mesmo que eu fale assim, não consigo levantar a mão contra sua mãe.
— Por quê? Porque ela é uma mulher?
— Ela se parecia com você.
— Eu pareço com a minha mãe.
— É por isso que eu não pude bater nela.
Ao ouvir as palavras de Baek Doha, eu sorri ironicamente e abaixei a cabeça. De repente, parecia que as lágrimas estavam prestes a explodir, então mordi os lábios com força para contê-las. Mesmo assim, as lágrimas caíram incessantemente dos meus olhos.
O mesmo aconteceu com meu pai, o Presidente Yoo. Ele disse que eu estava me tornando cada vez mais parecida com minha mãe à medida que crescia. Isso era natural. Afinal ela era minha mãe. A pessoa que mais se parecia comigo no mundo era a que mais me machucava também. A pessoa que me empurrou para as profundezas do inferno e que ainda me atormentava.
Outras pessoas que não se parecem comigo, que não têm uma só gota do meu sangue, me abraçam e tentam me consolar. Mas os pais que compartilham do meu sangue aparecem de vez em quando e me apunhalam no peito com uma faca afiada. Eles cutucam e cutucam a ferida fazendo com que ela sangre.
Eu estaria mentindo se dissesse que não estava esperando por isso. Ainda assim, eu me perguntava se ela não havia mudado um pouco com a idade. Após tantos anos, será que não ficaria pelo menos um pouco feliz em me ver? Talvez ela sentisse um pouco de culpa e se desculpasse.
Ainda assim, não perdi as esperanças em relação à minha mãe até o fim. Se ela tivesse se transformado em um ser humano como Baek Doha, chorado, se desculpado comigo e dito que iria fazer as coisas do jeito certo no futuro, eu poderia ter segurado a mão dela como um idiota e aceitado seu pedido de desculpas.
Porque eu precisava de uma mãe, eu sempre precisei desesperadamente dela.
Mesmo vivendo com um marido gentil, um filho amado e membros da família do meu marido que me amavam, sempre houve um vazio dentro de mim. Era um buraco que apenas minha mãe poderia preencher. Minha fome constante desapareceria se ela estivesse lá para mim.
Mamãe. Mamãe. Cuide de mim. Por favor, cuide de mim, está bem?
Na verdade, eu não havia deixado ir, a mulher que nunca olhava para mim, mesmo quando eu implorava por amor e atenção, a mãe que me abandonou friamente em um acesso de raiva. Eu continuei esperando como um tolo.
Mas eu fiz isso porque ela era minha mãe.
Eu era um tolo. Não satisfeito apenas com o amor do meu marido, meu filho e membros da família de Baek Doha, eu ansiava até pelo amor dos meus pais.
Mas, hoje, finalmente, desisti completamente dessa expectativa. Vou deixar minha mãe ir. Vou apagá-la para sempre do meu peito.
Minha mãe não me disse uma palavra de preocupação mesmo depois de ver seu filho, que se parecia com ela, ser espancado. Ela só pediu dinheiro. Para ela, eu não era uma criança, mas sim uma fonte de dinheiro.
Mas meu esposo, com toda a sua irritação, não ousou tocar num fio de cabelo dela. Ele suportou sua raiva só porque ela se parecia comigo. Ele não podia tocar em um rosto que se parecia com o meu.
Ficou claro quem me valorizava mais, quem me amava mais, isso ficou extremamente nítido.
— Hmph. Ugh. Me desculpe. Me desculpe. — Um novo soluço escapou de meus lábios mastigados. Sacudi os ombros e chorei, pedi desculpas de novo e de novo. Senti mágoa, tristeza, raiva, arrependimento, vergonha, uma variedade vertiginosa de emoções. — Sinto muito, Doha.
As mãos de Baek Doha envolveram os meus ombros trêmulos e me puxaram para seus braços. Enterrando meu rosto no peito firme do meu companheiro, eu chorei descontroladamente, enquanto meu corpo inteiro tremia. Doha não disse uma palavra, apenas acariciou delicadamente minhas costas. Abracei seu peito com força, me agarrei desesperadamente a Baek Doha, assim como Doyun fazia quando estava triste, buscando conforto em seus braços largos e calorosos.
Estou nos braços de um homem que estará ao meu lado pelo resto da minha vida, não importa o que aconteça. — Doha —, chamei baixinho, e o abraço do meu precioso marido, que virou a cabeça e sorriu para mim, me aconchegou com mais carinho.