Noite De Caça - Capítulo 163
— Vamos falar sobre a sua mãe.
No dia seguinte, na hora de sair para o trabalho pela manhã, Baek Doha trouxe à tona repentinamente o assunto sobre minha mãe. Meu coração afundou instantaneamente. Será que minha mãe foi procurar Baek Doha de novo?
— Por que? Minha mãe ligou para você outra vez?
— Não. Não é isso.
Baek Doha hesitou de maneira incomum, então eu o pressionei a falar rapidamente.
— É melhor evitá-la sempre que possível.
— O que você quer dizer com isso?
Ao perguntar, percebi que foi um erro. Ele devia saber que eu havia falado com minha mãe ao telefone no outro dia. Afinal, mesmo que eu não contasse, ele provavelmente estava monitorando todos os registros de chamadas do meu celular. Baek Doha era esse tipo de homem. Mesmo conhecendo a personalidade dele, conversei com a minha mãe ao telefone e até marquei um horário e local para um encontro.
— Você está monitorando meu celular?
— Só para o caso de algo perigoso acontecer.
— Você não colocou câmeras de vigilância nas minhas roupas ou bolsas, certo?
Baek Doha sorriu e levantou as sobrancelhas sem responder. Era verdade. Isso não era novidade.
— Eu já disse que não gosto disso, não disse? Se você continuar a se comportar assim, também vou começar a vasculhar sua lista de contatos e monitorá-lo diariamente como uma pessoa paranoica, você entendeu?
— Fique à vontade. Quer ver meu celular agora?
Ele não hesitou nem por um segundo e pegou o celular. Eu não tinha mais o que dizer “Uhhh…” Suspirei pesadamente e mudei de assunto.
— Está bem, mas por que você não quer que eu encontre minha mãe?
— Você ficaria chocado. — Estreitei os olhos. O que ele queria dizer com isso? Ele continuou a falar. — Ela não está nada bem. Não é mas a mãe que você se lembra.
— Bem, minha mãe está mais velha. Ela viveu uma vida depravada, então é natural que tenha envelhecido de forma ruim.
— Parece que ela se envolveu com drogas.
Fiquei sem palavras. Tudo o que consegui soltar foi risadas vazias. Álcool, jogos de azar, agora até drogas? Eu pensei que não poderia afundar mais, mas estava errado. Parece que havia um fundo ainda mais profundo. Eu fiquei atordoado e soltei algumas risadas secas.
— Ela fez de tudo, sério. Haha.
O gosto do riso era amargo.
— Está louca. Drogas? Como se minha vida já não fosse uma bagunça suficiente. Em vez de ajudar a vida do seu filho! Ter uma mãe só coloca mais obstáculos no meu caminho.
Misturando risos irônicos, murmurei com um sentimento de autodepreciação. De repente, senti meu peito apertar. Minha garganta ficou seca e meu nariz começou a formigar, eu só queria chorar. Mordi os lábios e contive a vontade repentina de gritar e xingar.
Minha vida mudou, mas as coisas que me fizeram passar pelo inferno ainda permaneciam as mesmas. O fato mais terrível é que a pessoa que me deu à luz, minha mãe, foi quem me fez passar por esse inferno. Ela me amaldiçoou por me dar à luz e arruinar sua própria vida ao criar alguém como eu, e agora ela está se agarrando aos meus tornozelos e se recusando a me deixar em paz.
O que diabos há de errado com você? Porque sempre faz isso? O que você espera de mim? Em vez de ficar feliz por eu ter mudado de vida, por está bem melhor, é mais preciso dizer que agora está se agarrando a mim porque encontrou uma fonte de dinheiro.
Por favor, apenas desapareça. Apenas morra silenciosamente em algum lugar. Mãe, eu te imploro, por favor, desapareça da minha vida.
Todos os tipos de emoções se agitaram dentro de mim. Incapaz de controlar minha expressão, abaixei a cabeça como um criminoso e finalmente consegui dizer:
— Está bem. Eu entendo. É melhor você ir trabalhar.
— Não ouse pensar em encontrá-la em segredo sozinho. — Eu não disse nada em resposta ao tom de advertência em suas palavras. — Um viciado em drogas é mais perigoso do que um viciado em jogos de azar. Não sabemos o que eles são capazes de fazer.
— Está bem.
Consegui dizer com uma voz trêmula.
— Eu vou lidar com isso, então fique tranquilo. Conheço bem sua personalidade. Isso é um assunto de família, e você provavelmente quer resolver. Certo?
— Eu já entendi. — Olhei para cima com impaciência. Minha voz se elevou um pouco. Com uma expressão trêmula e distorcida, olhei para Baek Doha e comecei a falar. — Pare com isso. Estou passando por momentos difíceis agora, então me dê um tempo para pensar. Você não precisa se preocupar com isso, apenas vá trabalhar.
Enquanto dizia isso, fiz um esforço para sorrir. Era uma expressão estranha, onde não estava claro se eu estava rindo ou chorando.
— Porque me sinto tão miserável agora que não consigo nem olhar para o seu rosto.
— Por que você se sente miserável?
Baek Doha perguntou, investigando. Como você poderia entender por que me sinto miserável?
Você não teve uma família como a minha. Como poderia entender como me sinto tendo uma mãe tóxica que me odeio só por ter me dado à luz?
Minha mãe era uma viciada em jogos de azar, uma vagabunda que estava tentando tirar vantagem não só de mim, mas também da minha sogra e marido rico, e como se não bastasse agora se tornou uma viciada em drogas que vivia no fundo do poço. A família de Baek Doha estava tentando me ajudar, enquanto meus parentes de sangue tentavam me puxar para um buraco profundo.
Se Doha não tivesse se casado comigo, ele nunca teria conhecido uma pessoa tão repugnante em sua vida. Teria sido melhor ser um órfão sem pais do que isso.
— Você não precisa se sentir infeliz.
— Me desculpe.
— Por que está pedindo desculpas? Não se desculpe. Por acaso é culpa sua que aquela mulher tenha se envolvido com drogas?
Ele tentou me confortar, mas agora eu não queria mais ouvir nada sobre a minha mãe, ou “aquela mulher”.
— Vá trabalhar.
Eu disse mais uma vez, mas Baek Doha não se mexeu. Eu me inclinei para frente na ponta dos pés e o beijei nos lábios.
— Você vai se atrasar.
Doha suspirou brevemente enquanto forçava um sorriso e ajeitava sua gravata ligeiramente desalinhada. Quando me sentei na sala depois de me despedir dele, o secretário Park se aproximou. Eu rapidamente interrompi a explicação dele sobre a aula de inglês e perguntei.
— Você tem alguma foto recente da minha mãe?
— O quê? Você deveria perguntar ao Chefe sobre isso.
— É porque quero saber sem que Doha saiba.
O secretário Park, perceptivo como era, enviou uma mensagem de texto para alguém sem fazer perguntas. Não consegui descobrir para quem ele estava mandando a mensagem. Mas logo, ele enviou uma foto para o meu número. Era uma foto recente da minha mãe. Nesse momento entendi porque Baek Doha havia dito que eu ficaria chocado.
A mãe na foto não se parecia com a que eu conhecia. Sua confiança e beleza haviam desaparecido, sendo substituídas por uma mulher magra e maltrapilha. Havia olheiras profundas sob seus olhos, e sua pele e cabelo estavam desgastados. Os olhos embaçados na órbita pareciam sem foco. Era o retrato típico de um viciado em drogas.
Não seria surpreendente se ela desmoronasse e morresse na rua.
O que diabos aconteceu? Ela pelo menos poderia continuar sendo bonita. A confiança da minha mãe vinha da sua aparência bonita. O Presidente Yoo também foi seduzido pela aparência dela. A razão pela qual o Presidente Yoo ainda não conseguia esquecê-la era sua beleza, mas se ele a visse assim, com certeza perderia o interesse por ela. Agora, ao ver a aparência da minha mãe, ele deve pensar que sua esposa é uma bênção dos céus. Sua esposa ficará muito feliz em vê-lo agora. Ela dirá que minha mãe finalmente está recebendo sua punição por se meter com os homem de outra pessoa, que a vida é uma questão de causa e efeito, e dirá isso sorrindo.
Não havia nada de digno na mulher maltrapilha da foto. Ela parecia uma árvore velha, seca e murcha. Quando falei com ela no telefone sua voz ainda estava boa. Não consegui olhar mais para a foto, então coloquei o celular de lado. O secretário Park esperou pacientemente e depois perguntou:
— Vamos continuar de onde paramos?
— Sim. Estávamos falando sobre aula de inglês, certo? Desculpe, mas não tenho base alguma, então gostaria de começar do básico.
Achei que seria melhor pensar em outra coisa, então mudei o assunto para aulas particulares de inglês. Foi bom porque, em momentos como esse, se eu estivesse sozinho, poderia acabar ligando para minha mãe e chorando enquanto a insulto, então isso pelo menos era um alívio.
O secretário Park mencionou que eu teria aulas particulares com um instrutor nativo e sugeriu que seria bom fazer passeios em museus para desenvolver o olhar para a arte. Eu fingi estar ouvindo enquanto na verdade não estava prestando atenção em nada do que ele dizia.
Independentemente de eu ter escutado ou não, ele disse que havia terminado o que tinha a dizer e pediu que eu descansasse um pouco.
— Secretário Park, quer ir ao museu de arte agora? Por onde acha que devemos começar?
— Não há pressa, senhor.
— Acontece que estou livre hoje.
— Nesse caso, que tal começarmos pelo Museu Nacional de Arte Contemporânea? Há uma exposição muito boa acontecendo lá.
Pedi ao secretário Park que esperasse um pouco e depois fui para o meu quarto me vestir. Escolhi um terno elegante e impecável adequado para um lugar formal, entre as muitas roupas que a Sra. Park e Baek Doha haviam comprado para mim. Coloquei um longo sobretudo que ia até o tornozelo e ajustei cuidadosamente o cachecol. Como era de se esperar, me olhei no espelho, arrumei o cabelo e examinei meu rosto, algo que geralmente não faço. Então coloquei até o caro relógio que Baek Doha havia me presenteado.
Dediquei tempo para cuidar da minha aparência, desde a roupa até o cabelo. Hoje eu queria isso. Mesmo que o conteúdo continue sendo lamentável, eu queria parecer um membro elegante e culto da alta sociedade. Felizmente, meu closet estava repleto de roupas sofisticadas que me fariam parecer um cavalheiro de bom gosto.
Após me vestir e sair de carro com o secretário Park, paramos brevemente no dojô de taekwondo onde Doyun estava treinando. No caminho, compramos bolos e pães em uma padaria e os entregamos a um jovem instrutor.
— São apenas crianças brigando, você sabe. Meninos brigam entre si o tempo todo. Mesmo que briguem como se fossem matar uns aos outros, logo se reconciliam. Não se preocupe muito, vamos ter cuidado com Doyun.
O jovem instrutor, de boa aparência, me tranquilizou, dizendo que isso era algo comum.
— O rosto do Doyun está bem? Ele estava com um pequeno corte na bochecha.
— Não acho que ele tenha se machucado muito, então provavelmente não vai deixar uma cicatriz.
— Graças a Deus. Tae-geon levou cinco pontos na testa.
— O quê?
Minha voz saltou de surpresa.
— Oh, Tae-geon está bem? Doyun não mencionou nada disso. Os pais do Tae-geon disseram que ele está bem? Devo considerar encontrá-los?
— Oh, não precisa. Fique tranquilo. Os pais do Tae-geon são conhecidos por criar os filhos de maneira durona, então, quando meninos brigam entre si, coisas assim podem acontecer. Eles têm quatro filhos em casa, todos eles brigam como se fossem se matar. Eu também cresci com meus irmãos e sei que em uma casa cheia de irmãos homens, é uma guerra todos os dias, uma grande bagunça.
O professor riu alto enquanto dizia isso. Era compreensível que o irmão mais velho batesse em Doyun quando seu irmão mais novo estava tão machucado.
— As crianças provavelmente vão se reconciliar hoje quando forem compartilhar os pães e os bolos que o senhor trouxe, não acha? Doyun, apesar de ser um Alfa Real, é muito atencioso e gentil, ao contrário do estereótipo de um Alfa Real. Francamente, no início eu estava um pouco preocupado, porque ouvi dizer que os Alfas Reais podem ser bem difíceis.
— Ah, sim. Obrigado por pensar bem do meu Doyun. Então, confio em você para cuidar bem dele.
Fiz uma reverência educada ao Sensei e saí da academia de taekwondo. Quando entrei no carro, dei risada. Ele estava agindo como se fosse morrer de frustração porque foi o único que levou uma surra. Era engraçado pensar nele chorando e batendo os pés, desabafando seu descontentamento.
Afinal de contas, ele era filho de Baek Doha, não havia como ele ter sido espancado unilateralmente. O secretário Park, que estava sentado ao meu lado, perguntou o que era tão engraçado, então contei a ele tudo o que tinha acontecido na noite anterior e o que eu tinha ouvido na academia de taekwondo.
— Está em seu sangue.
O secretário Park riu e disse a mesma coisa que eu pensei.
— Ah, falando nisso, parece que Doyun tem um talento para a arte. Vi os desenhos que ele fez na creche e ele tem um grande senso de cor e composição, é realmente muito bom. Não estou apenas dizendo por dizer. O que você acha de incentivar Doyun a desenhar?
— Bem, a tia dele já disse algo parecido.
Enquanto íamos em direção ao museu, continuei conversando com o secretário Park sobre Doyun. Não havia espaço em minha mente para pensar em minha mãe. Não queria manchar minha mente com pensamentos de uma mulher que era da família apenas no nome. Eu estava ocupado pensando na minha verdadeira família.
Como se estivesse preocupado comigo, enquanto almoçava com o Secretário Park depois de ver a exposição no museu, Baek Doha me ligou.
[Sinto sua falta, meu amor.]
Era a maneira de Baek Doha perguntar se eu estava bem, se tinha me acalmado. Foi um gesto gentil dele, omitindo perguntas desnecessárias.
Eu sorri.
— Você me viu de manhã e já está sentindo minha falta.
[Quero ver você de novo. Você chorou? Sua voz está rouca.]
— Não, não chorei. E agora estou fora de casa agora. Saí com o secretário Park para ver uma exposição no museu e estamos almoçando.
[Deveria ter visto você chorando.]
— Eu não chorei.
[Se quiser chorar, pode chorar a qualquer momento. Mas não chore sozinho, chore na minha frente. Nunca chore na frente das pessoas… porque sua cara de choro me deixa excitado.]
— Não estava chorando. Você acha que sou o tipo de pessoa que chora o tempo todo? E, por favor, não diga algo vulgar sem nem mesmo pensar.
[Sinto que meu pau pode explodir de tão duro que fica toda vez que ouço o som de sua voz irritada, Seolwoo.]
— Bastardo pervertido.
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Continua….