Noite De Caça - Capítulo 139
Larguei o telefone, peguei minha xícara de café, que já estava fria, e me virei para olhar pela janela da sala de estar. Lá fora ainda estava frio, mas dentro estava quente e agradável, com o sol da tarde brilhando. A casa estava silenciosa. O jardim além da janela também parecia desolado no inverno e tudo o que se via parecia seco e frio.
Eu nasci nesta estação fria e sombria. Devo ter me agarrado tenazmente ao ventre de minha mãe, depois ter nascido me contorcendo, e ter sido colocado no chão frio do quarto em seguida, chorando com força por estar vivo.
Mesmo depois dela ter feito o possível para que eu morresse, eu continuei vivo e nasci. Por que agora está tentando se aproveitar da criança que antes pensava ser tão terrível? Você é como um parasita, mãe. Eu mal consegui sobreviver e finalmente sou feliz. Por que você não consegue me ver vivendo feliz? Essa é a mãe que você é.
Para mim, a palavra “mãe” era um símbolo de aversão. Lembrar dela me causava ansiedade e tristeza.
— Mamãe!
A voz animada de Doyun quebrou o silêncio da casa. Já estava na hora de ele voltar da creche. Coloquei minha xícara de café no pires e virei a cabeça para ver meu filho, Doyoon jogou a mochila no sofá e veio correndo até mim com energia. Um sorriso involuntário surgiu no meu rosto que estava cheio de tristeza.
Abri os braços e abracei meu filho, que corria em minha direção. O pequeno se encolheu em meus braços e riu enquanto se esfregava contra mim.
— Você teve um bom dia hoje?
— Sim!
A criança que alegremente gritou enquanto deitava no meu colo, de repente, olhou para mim. Não importa por onde se olhe o rostinho dele, ele se parece exatamente como o Baek Doha. Onde você se parece comigo? Eu acariciei o rosto branco e rechonchudo de Doyun e afaguei seu cabelo fofo.
— Mamãe.
— Sim?
— Mamãeeeeee.
— O quê?
— Eu te amo!
Doyun levou as mãos à cabeça e fez um coração com os dedos, rindo enquanto revelava seus dentes. Meu coração se apertou.
— Eu te amo, Doyun. Você é a coisinha mais importante para a mamãe.
Seu sorriso era angelical. Como ele pode ser tão adorável? Como pode ter saído de mim? Eu o abracei e beijei suas bochechas redondas. Doyun deu uma risadinha, beijou meu rosto e se levantou. Em seguida, correu em direção à mochila que havia jogado antes, tirando algo de dentro dela.
Com um olhar animado, ele pegou de dentro de sua bolsa um pedaço de papel que havia sido cuidadosamente dobrado e mostrou para mim.
— O que é isso?
— Mamãe, feliz aniversário!
Parece que Doha havia dito isso para Doyun quando o levou para a escola esta manhã. Quando abri o papel, uma imagem colorida desenhada com lápis de cor e giz de cera se revelou. A imagem retratava eu, Baek Doha, Doyun, Mickey e Minnie, juntamente com o fundo de um céu azul. Era uma imagem de todos sorrindo, compartilhando uma cena de felicidade.
Na imagem estava escrito “Mamãe, papai. Mickey, Minnie” de maneira desajeitada.
— Que legal. Meu Doyun é muito talentoso, não é?
Enquanto eu o elogiava, Doyun, que estava de pé na minha frente, orgulhosamente empurrou o desenho para mim.
— Doyun trabalhou duro hoje.
— Obrigado, está muito bonito. Eu também amo muito o Doyun.
Doyun, risonho, exclamou: — Ah, tem mais isso! — e tirou algo da mochila novamente. — Hyung Hashini me deu isso, mas eu trouxe para a mamãe.
O que Doyun me ofereceu foi um chocolate artesanal em uma caixa. Quando abri, vi dez compartimentos, mas oito deles estavam vazios e apenas dois tinham chocolate. Sorri ao pensar na criança que se segurou para não comer todos e deixar o resto para sua mãe.
Diante de Doyun, peguei um dos chocolates, abri a embalagem e coloquei-o na boca. Coloquei suavemente o chocolate doce e macio na língua e saboreei enquanto derretia.
— É delicioso. E é ainda mais gostoso porque foi dado por Doyun.
Enquanto dizia isso, abri outro chocolate e coloquei na boca de Doyun. A criança abriu a boca com expectativa e mastigou o chocolate enquanto sorria, transmitindo sua felicidade radiante.
O desenho que Doyoon havia feito foi colocado na sala de estar. Quando a Sra. Park e Baek Yeonju vieram visitar à noite, Doyun exibiu o desenho para elas novamente.
— Oh, meu Deus. Ele vai se tornar um pintor. As cores, a composição… é tudo tão único. Ele vai ser um Matisse* coreano.
(n/MiMi: Ela se refere a Henri Matisse, um artista francês)
— Meu neto é um gênio. Um gênio!
Os elogios dos adultos encheram Doyun de orgulho.
Ao voltar para casa, Baek Doha trouxe um grande buquê de flores. Mesmo sendo uma pessoa de grande estatura, ele mal podia ser visto atrás do buquê enorme. Ele veio até mim segurando as flores e me abraçou, deixando um beijo suave na minha bochecha.
— Feliz aniversário.
Seu sorriso suave era mais radiante do que as próprias flores. Não era a primeira vez que eu recebia um buquê de flores como presente. Quando vivia na casa de Yoo Hyunseo, Baek Doha me deu um buquê de flores com um inibidor de feromônios. Pensei que talvez houvesse algo escondido nas flores desta vez também, e estava certo. Vi uma caixa escondida entre as flores.
— O que é isso?
— Um presente.
Pensei se ele poderia ter comprado um novo anel de casamento no caminho, mas quando abri a caixa, encontrei a chave de um carro. Uma chave com o logotipo de um carro importado. Não era um carro importado comum que você vê por aí. Era um presente tão exagerado que eu preferiria um anel. Fiquei olhando para a chave, sem saber o que fazer, até que Baek Yeonju e a Sra. Park apareceram e começaram a falar.
— Você fez bem. Eu estava pensando em comprar um carro para ele. Fiquei preocupado porque o carro que Seolwoo dirige sempre parece pronto para se despedaçar com o vento.
— Sim, eu também estava pensando nisso. Se alguém batesse nele, as portas se espatifariam. Por que você comprou um carro como esse para o seu marido antes?
Como as duas estavam culpando Baek Doha, eu entrei em cena para defendê-lo.
— Isso não é verdade. O carro que Doha comprou para mim era muito caro, então escolhi outro.
O carro que Baek Doha comprou para eu dirigir quando nos casamos era um carro esportivo estrangeiro e o carro que escolhi para mim foi um Sedã — que, na minha opinião, também era muito caro. Não era o tipo de carro que poderia ser criticado por se despedaçar com o vento ou por ter as portas amassadas se alguém batesse nele.
Quando eu estava pronto para esquecer o assunto, ela falou sobre o carro e usou meu aniversário como desculpa para comprar um novo para mim.
— Você trouxe o carro? Vamos sair e dar uma olhada nele. Afinal, precisamos sair para comer.
Empurrados pela Sra. Park, fomos até o estacionamento. Felizmente, não era um carro esportivo chamativo: a cor era um preto comum. O problema era o modelo do carro. Era um carro raro no país, daqueles que você tinha que encomendar e esperar muito tempo para receber. Yoo Hyunseo também queria comprar esse modelo, então eu conhecia bem. Era óbvio que Baek Doha o havia reservado há muito tempo sem que eu soubesse.
Ao virar a chave e ligar o motor, o som majestoso do motor encheu o estacionamento. Era um carro muito bom, mas eu estava preocupado com a atenção que atrairia se dirigisse um carro assim por aí.
— Meu carro funciona muito bem.
Eu disse baixinho para Baek Doha, que estava ao meu lado, para não ser ouvido pela Sra. Park e Baek Yeonju, que estavam olhando para o carro.
— Sempre que você sai com esse carro, fico tão preocupado que não consigo trabalhar. E se alguém bater no seu carro? E se alguém atirar em você?
Eu queria rebater, mas Baek Doha estava falando muito sério. Então rapidamente mudei meus pensamentos. A vida era imprevisível. Algo semelhante havia acontecido recentemente, quando um grupo de cinegrafistas entrou em minha casa. As preocupações de Baek Doha não eram infundadas.
— Tenho um dispositivo de rastreamento e uma câmera no seu carro para que eu possa ver sua localização e filmagem em tempo real, mas os acidentes acontecem em um instante.
— Quer dizer que você esteve me observando o tempo todo?
Eu não conseguia acreditar, e o encarei de volta. Como ele poderia ser tão descarado a ponto de dizer algo assim?
— É para sua própria segurança.
— Você continua grampeando meu telefone também?
Baek Doha não respondeu e apenas levantou uma sobrancelha. Era isso mesmo. Não pude deixar de rir.
— Você ficaria feliz se eu grampeasse seu telefone, colocasse um dispositivo de rastreamento no seu carro e monitorasse você, checando com quem você estava saindo e com quem estava falando o tempo todo?
— Você quer fazer isso?
Baek Doha sorriu genuinamente e seus olhos se iluminaram. Eu estava tentando provocá-lo, mas ele rapidamente desviou o assunto. Minha frustração desapareceu num instante. Virei a cabeça e fechei os lábios, não querendo mais falar sobre isso.
— Só pare com isso.
Finalmente, consegui murmurar.
— Eu me preocupo tanto com você que isso está me deixando louco.
— Eu não sou uma criança.
— Você é tão lindo que eu tenho medo de te deixar sair. Não posso passar o dia inteiro te seguindo e nem matar todos os bastardos que tentam se aproximar de você.
Ainda assim, mantive minha voz o mais baixo possível que consegui, considerando que minha família e Doyun estavam presentes. Suspirei pesadamente e disse:
— Ninguém está tentando se aproximar de mim.
— Até olhar para você soa como uma tentativa.
— Nunca vi ninguém olhando para mim.
Quando eu saía, usava um boné e até óculos para que ninguém me reconhecesse. Talvez na academia, onde passamos muito tempo juntos na aula, alguém como Choi Cheolmin pudesse me reconhecer.
— Não cubra o pescoço, use sua aliança de casamento e deixe óbvio que você é casado.
— Daqui a pouco você vai querer que eu escreva a frase ‘meu marido é Baek Doha’ na minha testa.
— Eu faria isso se pudesse. Gostaria que fosse como uma marca especial, invisível aos olhos de todos, exceto aos olhos dos alfas.
Dei uma risada, mesmo sabendo que ele estava falando sério. Baek Doha ainda era o mesmo. Ele continua me notando, pensando em mim e olhando só para mim. Assim como eu não gostava quando as pessoas olhavam para ele enquanto andávamos juntos, ele também não queria que os outros olhassem para mim. Ele disse que se sentia inseguro porque eu sou bonito demais, assim como eu me sentia inseguro por ele ser incrível.
Não consegui parar de sorrir ao perceber que Baek Doha se sentia exatamente como eu. Era admirável como duas pessoas que viviam em mundos completamente diferentes se tornaram um casal e ficaram tão parecidas.
Quando Baek Yeonju abriu a porta do carro e colocou Doyun no banco do motorista, Doyun resmungou um pouco e então o vi levantar as mãos até o volante enquanto se pulava feliz dentro do carro. Era um carro visivelmente grande e espaçoso. Um daqueles carros que não se danificaria mesmo se alguém batesse por trás ou se fosse atingido por uma bala.
— Obrigado. Vou cuidar bem do carro.
Nem sempre eu aceitava os presentes de Baek Doha. No entanto, como era um presente de aniversário, não podia recusar, mesmo que me sentisse um pouco pressionado.
— Se você está grato, me dê um beijo.
Ele disse isso olhando diretamente para mim, sem piscar. Sua expressão séria me fez rir.
— A refeição está pronta.
A equipe de bufê veio até a porta do estacionamento aberto e nos chamou. Ao ouvir o som, Doyun saiu rapidamente do carro.
— Doyun está com fome!
Baek Yeonju segurou a mão de Doyun e saiu do estacionamento primeiro, seguida pela Sra. Park. Baek Doha também estava prestes a sair, mas eu segurei levemente o braço dele e o puxei. Olhei para trás rapidamente e beijei seus lábios. Foi um beijo leve, como uma brincadeira infantil. Eu queria sentir mais da textura de seus lábios, mas não podia fazer isso. Afinal, todos estavam esperando lá fora.
°
°
Continua…
Tradução: Rize
Revisão: MiMi