Noite De Caça - Capítulo 118
Noite de Caça – 2º Temporada
Capítulo 01
Cap. 1: Casa.
Para mim, o lugar chamado casa era apenas um abrigo contra o vento e a chuva. Na verdade, era um lugar mais frio do que o frio congelante lá fora.
Um inferno com um demônio chamado mamãe.
Eu preferia estar na rua a estar no lugar que eu deveria chamar de minha casa. Por isso, depois da escola, eu passava o tempo no parquinho.
Era divertido brincar com as crianças do parquinho no frio do inverno, em um casaco velho que alguém havia me dado, sem luvas, cachecol ou gorro e congelando minhas mãos e pés. Mas quando chegava a hora, uma a uma, as crianças com quem eu estava brincando iam para casa: seus pais chegavam e as levavam.
Quando elas iam embora, o sol já estava começando a se pôr. Então, eu brincava sozinho no parquinho até o anoitecer e, enquanto me balançava nos balanços, os adultos que passavam diziam uma ou duas palavras.
— Está escurecendo. Você não vai para casa? Sua mãe deve está esperando por você.
A preocupação deles não era fingida. Era preocupante ver um menino de dez anos a essa hora da noite sozinho. Por fim, como que dominado pela preocupação deles, eu saía do balanço e me arrastava em direção à casa. Os cômodos no porão de uma casa eram sempre frios, mofados e mal iluminados mesmo durante o dia. Quando eu abri a porta e entrei, os gritos frenéticos de minha mãe vieram do quarto nos fundos.
— Até um cachorro volta para casa quando na hora da comida. Agora que estamos comendo ele volta correndo para casa.
— Quem é? Seu filho?
A mamãe não estava sozinha hoje. Um homem estranho que estava comendo com ela colocou a cabeça para fora da porta e olhou para mim.
— Olá.
Abaixei a cabeça em sinal de saudação. Fui ensinado a cumprimentar quando via um adulto. Mamãe riu alto.
— Essa é uma reverência e tanto, seu bastardo inútil.
— Por quê? É bom ser educado.
O homem deu uma risadinha. Ele fez um gesto para que eu me aproximasse. Eu me aproximei e ele tirou duas notas de 10.000 won de sua carteira. Meus olhos se arregalaram. A carteira do homem estava cheia de notas azuis. Pela sua aparência e pelo modo como estava vestido, ele parecia um tio com muito dinheiro. Fiquei imaginando por que um homem tão rico conheceria alguém como minha mãe.
— Compre algo delicioso com isso.
— Obrigado.
Peguei o dinheiro e agradeci, e o homem sorriu gentilmente e deu um tapinha na minha cabeça.
— Você é tão bonito… Se parece com a sua mãe.
— Esse ser? Parecido comigo? Não me pareço nem um pouco com ele. Se ele se parecesse comigo, teria que ter meu rosto, não o de um garoto magro e com olhos grandes.
— Nessa idade todas as crianças são magras.
— Mesmo que seja magro, não pode ser tão ruim assim. Uma criança dessa idade deve ser simpática e adorável e não arregalar os olhos grandes e ficar olhando envolta. Eu mencionei que ele é filho de um alfa real? Como alguém pode acreditar que o sangue de um alfa real corre nas veias de alguém magro e com essa aparência? Eu pensei que, na melhor das hipóteses, iria deixar essa vida tendo o filho de uma alfa real, mas foi isso que saiu. Se essa criança fosse um ômega real pelo menos, eu ainda estaria vivendo como uma concubina naquela casa. Que droga… Não suporto vê-lo! Só suma daqui e morra.
— Você também é uma mulher bastante tóxica. Por que está dizendo isso para a criança que você deu à luz?
— Então por que você está namorando uma vadia tóxica como eu?
— Porque você é bonita.
— Eu sei que sou bonita.
O homem riu, e minha mãe também. Eu permaneci ali, parado, sem saber o que fazer e segurando o dinheiro que o homem havia me dado. Minha mãe jogou um lenço em mim e gritou.
— O que você está fazendo aí parado? Você é muito irritante. Vá para o seu quarto!
— Sim. Volte para seu quarto.
O homem agiu como se fosse meu pai. O rosto sorridente do homem não parecia ruim. Ele parecia ser um cara legal. Mamãe estava sendo uma boa menina. O tio se virou, voltou para o quarto principal e a porta se fechou atrás dele. Eu podia ouvir mamãe e o homem rindo e conversando lá dentro.
Meu quarto, se é que se podia chamar de quarto, ficava ao lado do quarto principal: um depósito apertado e cheio de bagunça. O som da minha mãe e do estranho se relacionando vazou lá de dentro devido à parede fina. Tentei tapar os ouvidos, mas não adiantou e, por fim, tive que vestir meu casaco e sair novamente.
As ruas frias no inverno gélido estavam completamente escuras.
Quando todas as crianças deveriam estar dentro, fazendo o seu dever de casa, eu saí e perambulei pelas ruas. Por sorte, o tio havia me dado o dinheiro, então fui a um restaurante próximo e pedi uma grande tigela de ramen quente e uma costeleta de porco. Também fui ao supermercado e comprei alguns lanches. Ainda tinha dinheiro sobrando porque o tio simpático tinha me dado 20.000 won. Coloquei o resto do dinheiro no bolso, segurei o lanche nos braços e voltei para o parquinho. Agachei-me na base do escorregador e mastiguei os doces enquanto os adultos passavam, com medo do que poderiam dizer.
O lanche estava delicioso. Fazia um bom tempo desde que comi algo gostoso e não estava com muito frio.
Aquele pequeno espaço no escorregador parecia mais aconchegante do que minha casa. Se eu tivesse um cobertor, poderia ter dormido ali mesmo. Mas quando terminei de comer o saco de doces e a noite foi avançando, meu corpo começou a congelar devido ao frio insuportável.
Encolhi-me o máximo que pude, abraçando meu corpo.
— Não estou com frio. Não estou com frio. Não estou com frio de jeito nenhum.
Continuei murmurando isso pelo nariz entupido, como se para amenizar o frio.
— Não está frio. Nem um pouco frio. Eu não estou com frio.
Mas não. Estava frio, muito frio. Tão frio que lágrimas se formaram em meus olhos. E meu nariz começou a escorrer.
— Está frio. Estou com frio, mamãe.
Antes que eu percebesse, um soluço escapou de minha boca. Enquanto eu estava tremendo sozinho no parquinho vazio onde a noite havia caído, um sentimento triste tomou conta de mim. Ela nunca agiu como uma mãe, mas era minha única parente de sangue, então, quando abri a boca, a única palavra que saiu foi mamãe. Que tolice. Não havia nenhum adulto por perto para acariciar a criança tremendo de frio, então mordi meu lábio com força para não chorar. Chorar só me deixaria mais fraco. Chorar só me deixaria mais triste.
* * *
— Hmmm. Urg. Mamãe.
Meus olhos se abriram ao ouvir o som vindo da cabeceira da cama. Era a voz de Doyun. Era um gemido bem baixinho, mas era a voz do meu bebê, então como eu poderia não ouvi-la? Dei um pulo de surpresa. A criança que havia adormecido profundamente ao meu lado havia rolado para a minha cabeça.
Ele estava enrolado com a cabeça encostada na cabeceira da cama, com os cobertores arrancados, o pijama desgrenhado e a pele nua exposta. Qualquer um que visse pensaria que ele estava sendo maltratado. Eu me pergunto a quem essa criança puxou para ter hábitos de sono tão ruins?
Rindo para mim mesmo, peguei a criança adormecida e a deitei diretamente na cama, cobrindo-a com o cobertor. O rosto da criança se contorceu e seus lábios se franziram como se ela estivesse murmurando enquanto dormia. Talvez porque era meu filho, ele parecia extremamente fofo, então não aguentei e beijei suas bochechas rechonchudas. Enquanto acariciava seu corpo, percebi que o local ao meu lado estava vazio. Ele havia saído há tanto tempo que o espaço ao meu lado estava frio. A coberta também havia sido dobrada.
Ainda é cedo… onde Baek Doha está?
Senti uma estranha pontada no peito. Normalmente, ele acorda mais cedo do que eu e gosta de se exercitar pela manhã, mas quando vi o assento vazio ao meu lado, meu coração ficou gelado.
— Mãe. Mamãe ah, uh…
O som do gemido de Doyun me tirou de meus pensamentos. Doyun estava me chamando de mãe ultimamente. Na creche que voltou a frequentar há pouco tempo, as crianças lhe perguntaram: se o seu pai, Seolwoo, deu à luz você, por que não o chama de mamãe?
No início, o som da palavra mamãe era completamente estranho para mim, mas agora eu já estava acostumado. Não importava como meu filho me chamava.
Eu não tive escolha a não ser deitar novamente.
— Sim, Doyun. A mamãe está aqui.
Peguei a criança soluçando, dei um tapinha em suas costas, e ela se aninhou em meus braços, contorcendo-se. Não pude deixar de sorrir. A estranha inquietação que estava me incomodando havia desaparecido. Minha linda, linda e adorável criança. Meu tesouro.
Todas as crianças no mundo merecem ser amadas. Agora que tenho um filho, eu sei o quanto uma criança é frágil, amável e preciosa. Sempre gostei de crianças, mas meu bebê era tão fofo que queria permanecer com os olhos grudados nele vinte e quatro horas por dia. Não havia palavras suficientes para expressar o quão adorável era o meu bebê. Não sabia dizer quanto conforto essa criatura minúscula e frágil me trazia.
Então como uma mãe poderia odiar seu próprio filho, aquele que saiu de seu próprio ventre de forma tão dolorosa? Como ela pôde tão cruelmente deixar de lado uma pequena criatura que olhava apenas para ela e ansiava por amor?
Eu nunca havia sido abraçado por minha mãe. Se eu tremesse de frio, ela me xingava, perguntando por que eu estava tremendo. E se eu choramingasse por estar com fome, ela me atingia miseravelmente. Eu estava tão cansado, com tanto frio, com tanta fome, que só queria que minha mãe olhasse para mim pelo menos uma vez, que me abraçasse… e eu ficava olhando para ela enquanto ela me xingava.
— Por que olhar para mim com olhos irritantes? Por que você sempre me olha com olhos irritantes quando é óbvio que você não consegue nem ganhar sua própria comida e só come tudo como um cachorro? — ela dizia.
Porque você é minha mãe. Era a minha única guardiã e é por isso que eu ficava olhando para ela. E porque as crianças são incapazes de ganhar seu próprio sustento. As crianças são muito pequenas e frágeis para se manterem sozinhas e precisam ser protegidas por adultos.
Eu não queria muito da minha mãe. Só queria ser amado. Eu só queria ser abraçado por ela como as outras crianças que eu conhecia eram abraçadas por seus pais. Mas ver minha mãe me abraçando e consolando só era possível nos meus sonhos.
Quando estava com frio, eu me abraçava e tremia, e quando via outras crianças sendo mimadas por seus pais e ficava louco de inveja. Eu simplesmente abaixava a cabeça e desviava o olhar. Minha infância foi assim. Eu estava sempre com frio, com fome e solitário. Eu estava sempre sozinho, embora não fosse um órfão sem pais e tivesse uma mãe insensível e um pai fornecedor de esperma que estavam vivos e estavam bem.
Por isso, eu o dava generosamente o amor que nunca recebi. Eu sempre o abraçava, o acariciava, dava tapinhas em suas costas e sussurrava para ele que o amava. Doyun, meu filho, nunca deveria sentir a dor que eu sofri. Eu jamais o deixaria passar frio e fome como eu passei.
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Continua…
Tradução: Rize
Revisão: MiMi