Noite De Caça - Capítulo 104
Um homem como esse veio aqui à minha procura. Ele veio direto para mim, como um cão de caça farejando, correndo loucamente em direção à sua presa, mesmo estando de luto por seu pai.
Sim. Baek Doha. Você se tornou uma pessoa melhor enquanto me procurava, tendo tempo para se arrepender e refletir? Mas ao para aquele rosto frio, a sensação era de que o caminho para ele se tornar alguém consciente ainda seria longo. Ele parecia ainda menos humano do que antes.
Meu coração bateu forte. Curiosamente, meu corpo ficou quente. O calor do qual eu me lembrava ferveu em meu estômago. Baek Doha se virou e entrou no restaurante. Embora tivesse certeza de que ele não era o tipo de canalha que machucaria pessoas inocentes, eu ainda me sentia desconfortável.
— Com licença, posso pegar seu celular emprestado para fazer uma ligação?
Pedi a um funcionário e peguei um celular emprestado. Disquei o número do celular de Baek Doha, do qual eu ainda me lembrava.
[Alô]
No momento em que ouvi a voz grave e baixa de Baek Doha, percebi que o fato de eu estar preocupado com as senhoras era, na verdade, uma desculpa. Eu realmente queria ouvir essa voz.
— Pode andar por aí durante o funeral do seu pai?
[Yoo Seolwoo!]
O grito repentino quase me deixou surdo. Vi Baek Doha sair correndo do restaurante. Seu rosto não tinha expressão, seus olhos estavam arregalados e ele estava ansioso, andando de um lado para o outro. Como um animal enfurecido.
[Onde você está agora]
— Não machuque ninguém.
[Onde você está!]
— Não grite. Vai assustar o bebê.
Era para ser uma gargalhada, mas tudo o que saiu do receptor foi uma respiração irregular.
— Apenas cancele o alerta de pessoa procurando. Que crime eu cometi para me tornar um homem procurado?
[Que crime? Agressão usando drogas, tentativa de homicídio, furto. Quase tive um ataque cardíaco por causa das drogas!]
Eu não tinha nada a dizer porque fiz tudo isso. Baek Doha, que estava olhando ao redor freneticamente com os olhos arregalados, parou o que estava fazendo e pressionou a têmpora. Ele tirou algo do bolso. Pensei que fosse um cigarro, mas ele o colocou na boca e engoliu.
[Por que não consigo sentir o cheiro dos seus feromônios? Eu não lhe disse para não tomar o maldito inibidor?]
— Eu posso controlar isso.
[O quê?]
— Como você, eu posso controlar meus feromônios.
Ele sempre estava me chamando de você, você, então eu decidi que era hora de parar de ser respeitoso.
[Você é incrível.]
— Você também tende a me olhar de forma estranha.
Diante de meu comentário sarcástico, Baek Doha me perguntou novamente as mesmas palavras. Merda. Ouvi um som baixo de xingamento.
[Onde você está? Onde está? Em que lugar você está escondido que eu não consigo te ver?]
— Você não disse que não é divertido pegar seu alvo facilmente?
[Não brinca comigo.]
— Não estou brincando.
[Por que é tão difícil encontrar você? Por que tenho que sair por aí feito um lunático porque não consigo encontrar você, que fugiu depois de me apunhalar pelas costas? Porque você continua fugindo?!]
Ele usou uma forma de falar que só culpava o outro, sem demonstrar um sinal de remorso.
— Sou livre para ir aonde quiser. Se fosse fácil me encontrar, isso não se chamaria fuga. Estamos brincando de esconde-esconde.
[Caso tenha esquecido, você e eu somos legalmente casados. Você pertence a mim, Yoo Seolwoo.]
Esse bastardo ainda não se comporta como um ser humano. Os palavrões estavam prestes a sair.
— Então por que você não me mantém em uma coleira, como Mickey e Minnie, e apenas me alimenta?
Uhhhhh. Baek Doha soltou um longo suspiro.
[Volte agora. Se você aparecer implorando, eu perdoarei todos os seus erros]
Eu ri. Se fosse pra mim voltar implorando, por que teria me dado ao trabalho de fugir?
— Você é quem deveria estar de joelhos implorando por perdão.
[Você continua cruzando a linha?]
— Eu passei dos limites e vou continuar passando.
[Porra, Yoo Seolwoo! Até onde pretende ir só pra deixar as pessoas loucas assim!?]
— Não diga palavrões. Não grite. Não assuste a criança, seu desgraçado.
Os palavrões escapuliram, então eu me perguntei quanto tempo havia se passado desde que decidi dizer apenas palavras bonitas e sentir só coisas boas em nome do meu bebê.
— Se você vai continuar agindo como um idiota, apenas me mate. Eu posso acabar morrendo e com seu bebê na minha barriga. Sabe, não há nenhuma ômega além de mim que pode dar à luz ao seu filho.
Ele soltou uma breve bufada.
Pude ver Baek Doha bagunçando seu cabelo que havia sido penteado para trás. O hálito branco e fresco de seus lábios saiu vertiginosamente. A aparência que costumava ser impecável foi destruída em um instante.
Eu podia dizer isso mesmo sem ver. Que tipo de expressão Baek Doha deve estar carregando neste momento. Como seu rosto sem expressão estava distorto, como se ele estivesse usando uma máscara. E como seus olhos frios, que sempre olhavam para o mundo com despreocupação, estavam tremendo.
[Eu…]
Após um curto silêncio ele voltou a falar, seguido por mais alguns segundos de silêncio.
[Sou tão horrível assim?]
— Sim. Você é terrível.
Seus malditos métodos coercitivos de alfa real, seu jeito de pensar podre…
Novamente o silêncio. O som de um hálito úmido veio do outro lado do receptor.
— Qual é a sensação de ser esfaqueado pelas costas pela primeira vez em sua vida, filho da puta?
[…….]
— Aposto que você não sabe por que resolvi te dar uma rasteira não é? Não sabe o que fez de errado. Não entendeu nada e nem quer entender, sempre com essa visão estreita de merda, certo?
[Por que você foi para o hospital? Está doente?]
Fui atingido por uma flecha vinda de uma direção inesperada. A mão que segurava o celular tremeu.
[Seu corpo está muito fraco, você provavelmente não está conseguindo comer bem devido aos enjoos matinais.]
Essa gentileza. É o tipo de doçura que se aproxima e te acerta em cheio.
[Como está se sentindo? O bebê está bem?]
Foi um golpe certeiro porque eu sabia que ele não estava fazendo isso para tentar parecer bem, mas porque estava genuinamente preocupado comigo.
— Eu estou bem. O bebê está bem. Eu vi ele dentro do saco gestacional, está do tamanho de uma ervilha, e também ouvi os batimentos cardíacos do bebê.
Percebi que não deveria ter dito a última parte, mas era tarde demais.
[Que bom.]
— Sinto muito por seu pai.
Uma risada desanimada foi ouvida.
[Volte.]
— Não me dê ordens.
[Volte, Yoo Seolwoo.]
— Eu disse para não me dar ordens.
[Por favor.]
Ele acrescentou outra palavra imediatamente. Gostei do tom de sua voz quando ele acrescentou.
[Estou sofrendo. Estou cansado. É doloroso.]
Dessa vez, eu ri. Agora você está apenas sendo bobo e estúpido.
[Eu estava com tanta raiva que queria te matar quando te encontrasse, mas, depois de ouvir sua voz, eu só quero te ver. Porra… Quero ver você, quero sentir seu cheiro. Quero te abraçar, te beijar… estou ficando louco. Estou sentindo tanto sua falta que, se não tomar um remédio, não consigo dormir porque meu coração dispara como se fosse saltar do peito. Sou um alfa real, mas, se continuar assim, meu coração pode realmente parar e eu posso morrer. Vamos, pare de brincar e apareça. Deixa eu ver seu rosto. O que diabos está fazendo. O que pretende com isso?]
Foi exagerado. Gostei muito do tom choroso de suas reclamações, mas me senti mal. Era um ser humano que não faz ideia da identidade da coisa que o está atormentando. Parecia um robô tropeçando em um erro em seu código emocional.
— Isso são seus sentimentos. — eu disse docilmente. — É doloroso. Você acha que vai morrer, que está ficando louco. Então, quer me ver, me beijar, me abraçar… essas coisas são assim. É um sentimento.
Era hora de ficar irritado e me dizer para parar de falar bobagens. Mas ele ficou quieto.
— Você me ama.
Para Baek Doha, isso era um golpe direto: uma flecha pontiaguda que voou direto e perfurou seu coração.
[Que…]
— O amor, o sentimento que você mais detesta e odeia. Você o abriga em seu coração sem se dar conta. Por mim.
[De que diabos você está falando?]
Afinal, não seria Baek Doha se aceitasse isso facilmente.
[Pare de falar bobagens e volte. Volte e vamos sair dessa rotina diária conturbada e voltar ao normal.]
— Minha rotina não está conturbada de forma alguma.
[Não me interrompa!]
— Não me dê ordens! Não grite comigo!
[Este é meu último aviso, Yoo Seolwoo. Acho que já o perdoei o suficiente. Volte agora. Assim que o luto pela morte do meu pai terminar, vamos prosseguir com o casamento e viveremos com paz e tranquilidade em um país estrangeiro. Não fale sobre sentimentos. Não fale sobre amor. Não fale comigo sobre essas besteiras. Onde diabos você está?!!]
Pensei que meus tímpanos fossem se romper com o discurso. A visão de Baek Doha gritando, entrando em desespero e xingando enquanto falava ao telefone sozinho era psicótica. Era de se esperar até que ele estivesse sob efeito de drogas.
[Saia e me mostre seu belo rosto para mim, por favor.]
— Eu te amava, Baek Doha.
Deixei a segunda flecha voar. Os gritos de cortar meus tímpanos parou.
— Eu te amava, seu filho da puta.
Eu deveria estar tranquilo. Eu deveria cuspir essas palavras sem me importar com nada. Mas minha voz tremeu horrivelmente.
O que diabos você fez durante esse tempo? Você não refletiu nem um pouco sobre isso? Nem uma única coisa mudou. Não houve um único momento, enquanto você tomava essas drogas mastigando sua dor, em que tenha pensado sobre seus sentimentos? Você realmente não tem a menor ideia de qual é o problema?
[Por que…]
A primeira sílaba era algo que ele sempre cuspia como um hábito: por quê?
[Por que diabos falou isso no passado?]
Seguiu-se uma série de sons de dentes rangendo. Não era seu padrão habitual.
[Por que você está dizendo isso no passado? Eu já me tornei passado para você?]
Quando não respondi, ele reagiu nervosamente, como sempre. O mesmo velho bastardo. Depois de tudo o que aconteceu, você ainda não consegue entender o porquê? Uma risada seca escapou de minha boca.
Foi muito engraçado. Eu me senti como um idiota por esperar que o bastardo caísse em si e se tornasse um ser humano nesse curto espaço de tempo.
— Então tente usar o tempo presente para pensar nisso. Idiota.
[Yoo Seolwoo! Não desligue o telefone. Yoo Seolwoo!]
Ignorei os gritos e desliguei o telefone.
— Desculpe por ter ficado tanto tempo ao telefone. Eu estava falando com aquele bastardo alfa real no restaurante do outro lado da rua. Pode ser uma boa ideia desligar o telefone por um tempo para evitar dramas desnecessários.
Entreguei o telefone de volta ao proprietário e tirei outra nota de 50.000 won. Atônito, o homem pegou o telefone e quando o telefone tocou, imediatamente ele o desligou.
Pela janela, podia ver Baek Doha irritado, enquanto continuava tentando ligar, sem sucesso.
Eu quase podia sentir o cheiro dos feromônios que se espalhavam pelo ar como a fumaça de uma explosão.
Os clientes estavam entrando na cafeteria e os feromônios fortes estavam entrando pela porta aberta.
— Malditos alfas reais. Espero que morram todos.
Os clientes, que entravam com as bocas fechadas para escapar dos feromônios tão fortes quanto gás, murmuravam baixinho.
— Bastardos.
Em silêncio, saí pela porta dos fundos da cafeteria. Chamei um táxi e fui para o terminal mais longe possível. Eu ia correr o mais longe que pudesse neste país, até o fim do mundo se fosse preciso. A civilidade pública foi embrulhada e devorada por vermes. Todos os sons possíveis saíram.
E isso vai continuar até que venha até mim como um verdadeiro ser humano, Baek Doha, e não como um maldito alfa real.
N/MiMi: Faz tempo que eu não ria tanto…
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Continua…
Tradução: Rize
Revisão: MiMi