Noite De Caça - Capítulo 101
Baek Doha riu, mas sua expressão não era boa. Seu rosto estava vermelho e sua respiração estava irregular.
— Há limites para o quanto eu posso tolerar.
Ele mastigou e cuspiu uma palavra após a outra, mas logo seu corpo desabou e ele rapidamente caiu sobre um joelho. Seu corpo se recusou a se mover como ele queria. Dei um passo para trás e esperei que o homem caísse totalmente.
— Que porra você enfiou em mim?
— Injeções de inibidores.
Suas sobrancelhas escuras se uniram.
— Um inibidor fez isso comigo?
Ele ficou atônito, e com razão. Ele é um alfa real e estava assim porque lhe foi injetado um inibidor próprio para ômegas. Tenho certeza de que ele se sentiu ainda mais atordoado ao pensar nisso. Eu também me surpreendi, porque é algo de que ouvi falar no hospital e que tentei na hora do desespero, mas nunca pensei que realmente funcionaria.
— Merda. É isso que você vai fazer? Quer me derrubar indo tão longe?
Não. Você entendeu errado. Não estou tentando derrubá-lo e esmagá-lo. Não diga isso quando você conhece bem meus motivos. Fiquei olhando para o homem ofegante em silêncio. Os olhos de Baek Doha tremiam enquanto ele olhava para mim. Ele apertava o peito enquanto lutava para respirar. O efeito foi muito intenso, talvez tenha sido porque injetei três injeções de uma vez.
— Você está tentando fugir?
Fiquei em silêncio.
Os olhos que me encaravam estavam tão vermelhos que achei que sairia sangue deles. Seus feromônios aumentaram agressivamente, enchendo o grande quarto com seu cheiro venenoso.
— Você quer tanto assim fugir de mim?
Mais uma vez, eu não disse nada. Caminhei silenciosamente até a janela e a abri com força. As cortinas se agitaram com a entrada do vento frio. Em vez de lavar os feromônios que enchiam o quarto, o vento gelado soprou como uma lâmina.
Olhei para fora. A neve percorria o céu escuro da noite. O tempo poderia estar ruim, mas não seria impossível chegar ao carro.
— O que eu deveria fazer?
Afastei meu olhar da janela e virei a cabeça, não querendo falar nada.
Gritei tantas vezes antes. Eu lhe dei a resposta para essa pergunta tantas vezes. Mude. Mude. Remodele essa sua cabeça podre. Trate-me como um ser humano. Pare de me dar ordens. Mostre seus sentimentos. Sou uma pessoa, não um animal a ser caçado.
Eu lhe disse para encontrar suas próprias respostas. Não culpe os outros, encontre-as em você mesmo.
Quando não respondi, o rosto de Baek Doha se contorceu. Somente na minha frente esse rosto altivo desmoronava. Por minha causa, rachaduras e lacunas foram criadas e agora se rompiam.
Em contraste, eu estava inexpressivo. Não mostrei nem mesmo um sorriso. Meu rosto era tão estoico quanto o de um guerreiro antes de uma batalha.
— Você acha que eu vou desmoronar por causa de uma coisa tão trivial?
Baek Doha mordeu o lábio e se levantou. Mas seus joelhos se dobraram novamente. Dessa vez, os dois joelhos tocaram o chão.
Até Golias desabou diante da insignificante pedra de Davi. Quanto mais perfeitos pensamos que somos, mais vulneráveis ficamos à menor mudança inesperada.
Admita isso. Você não é perfeito. O fato de ser um alfa real não te torna um deus onipotente. Três seringas de um inibidor para ômegas fizeram você cair. Dessa vez, eu tinha certeza que ele não se levantaria mais.
Tudo o que eu tinha de fazer era observar.
Assim como Baek Doha havia me observado em silêncio se contorcendo em agonia enquanto passava por uma transformação física radical.
Seus olhos permaneceram grudados nos meus enquanto a fraqueza se espalhava pelo seu corpo, até que ele ofegou em agonia e finalmente caiu. Esperei calmamente até que seu grande corpo se esticasse no chão acarpetado como o de um animal abatido. Sua respiração irregular também diminuiu.
Só então finalmente desamarrei as cordas que prendiam as cortinas que balançavam loucamente e me aproximei da mesa. Peguei uma caixa de remédios em minha bolsa, retirei alguns comprimidos e os coloquei em uma garrafa de vinho. Eu havia contrabandeado alguns estimulantes e pílulas para dormir, por precaução.
— Continue sendo fofo.
Baek Doha se deitou, olhou para mim e riu. Ele não parecia feio, apesar de estar esparramada assim. Sua aparência desgrenhada era quase luxuriosa. Eu queria atacá-lo.
Sem dizer uma palavra, eu me abaixei e peguei um punhado do cabelo desgrenhado de Baek Doha. Então, tomei um gole do vinho batizado e pressionei meus lábios nos dele. Nossos lábios se entrelaçaram e as respirações se misturaram. O vinho doce borbulhava em sua boca.
Afastei nossos lábios, tomei mais um gole, então pressionei eles juntos de novo. Enquanto isso Baek Doha provocava minha língua lascivamente. Seu hálito doce e com aroma de vinho vazou pelo espaço entre nossos lábios. Ele continuou mordendo e sugando habilmente, tentando assumir o controle. Meu corpo tremeu com a sensação de prazer ardente.
Ele era maravilhoso beijando. Lutei para afastar meus lábios dos dele, com medo de ser pego pelo prazer novamente.
Baek Doha gemeu, passando a língua pelos lábios encharcados de vinho.
— Não seria bom brincar assim de vez em quando?
Limpei meus lábios com a testa franzida e virei o corpo flácido. Tentei amarrar suas mãos com o cordão que havia tirado da cortina, mas ele continuava se contorcendo, então tive que colocá-lo de costas para mim e pressioná-lo com o peso do meu corpo.
— Você realmente acha que pode fugir de mim?
Não havia razão para responder tal pergunta. Seu tom era confiante. E com razão. Era uma confiança bem fundamentada, mas essa confiança seria quebrada em um instante.
Com toda a força que consegui reunir, dei os nós nas cordas que uniam suas mãos. Com injeções de inibidores e vinho misturado com estimulantes e pílulas para dormir, ele não se rebelou muito. Fiquei pensando se deveria amarrar sua boca, mas ele cedeu e não se moveu mais, quando olhei para ele, havia desmaiado.
— CEO. Vocês estão prontos?
Bateram na porta e então um dos homens a abriu. Meus olhos e os do homem se encontraram enquanto eu estava montando Baek Doha.
— Oh, desculpe.
O homem se assustou e se escondeu atrás da porta. Ele só podia presumir que nós estávamos no meio de uma brincadeira sexual pervertida.
— Desculpe-me por interromper, mas o que o Srs gostariam de fazer?
— Vamos dormir aqui, e sugiro que você e os outros guarda-costas vão para seus quartos e descansem um pouco.
Respondi em vez de Baek Doha a pergunta do homem.
— Certo, descansem.
Suspirei ao ouvir a porta se fechar atrás de mim. Peguei Baek Doha e o levei para a cama, para não levantar suspeitas se alguém nos visse de novo. Seu rosto adormecido parecia pacífico. Procurei em seu bolso e tirei as chaves do carro. Depois, o cobri com um cobertor e fechei a janela.
Rapidamente, troquei minhas roupas rasgadas e molhadas e fiz uma pequena mala. Havia dinheiro na carteira de Baek Doha, então tirei tudo. Todo o resto estava em minha bolsa.
Antes de sair, olhei para Baek Doha deitado na cama. Seu belo rosto aparecia por entre o cobertor. A ideia de que eu não veria seu rosto por um tempo me encheu de uma emoção desconhecida.
Inclinei-me para mais perto e escovei uma mecha de cabelo em sua testa lisa. Beijei seus lábios ligeiramente entreabertos e confessei.
— Eu amo você.
Meu maldito alfa real. Meu bastardo lindo. O homem que foi meu primeiro amor e será o último.
Sussurrei a confissão que nunca poderia dizer na frente dele. Depois, afastei meus lábios e me virei. Abri a porta e fui embora. Sem olhar para trás.
Desci as escadas correndo velozmente. Não havia ninguém por perto para ver. Todos pareciam estar amontoados no saguão do primeiro andar. Havia uma festa sexual acontecendo, a julgar pelos sons de risadas, palavrões e gemidos ásperos. Yoo Hyunseo, que estava em um ciclo de calor, deve ser o personagem principal da festa.
Eu conhecia bem a estrutura da casa, então sabia que havia uma porta nos fundos que levava diretamente ao estacionamento.
Mesmo que eu não saísse de fininho, eles não me veriam porque estavam muito distraídos com Hyunseo. Os alfas reais que vieram a este lugar estavam procurando por ele de qualquer forma.
Dei um passo rápido em direção à porta dos fundos.
— Onde você está indo?
Eu me virei surpreso ao ver um dos funcionários parado ali.
— Ah, estou indo comprar uma coisa.
— Se precisar de alguma coisa, é só me pedir.
Mesmo ao dizer isso, eu sabia que era uma desculpa esfarrapada que não funcionaria. O que eu vou fazer agora? Interrompi meus pensamentos e sorri para esconder meu desconforto.
— Desculpe por está te dando trabalho até tão tarde.
Tirei várias notas da carteira e as enfiei no bolso do funcionário. Um sorriso se espalhou pelo rosto de pedra do homem. Mesmo quando eu estava trabalhando como secretário de Hyunseo, receber uma gorjeta como essa costumava melhorar muito meu humor.
— Já é tarde da noite e há muita neve, então volte logo. Vou deixar as luzes acesas na entrada da garagem para facilitar para o senhor.
Ele sorriu e me cumprimentou educadament. Eu agradeci e me virei. Ele teve a gentileza de abrir a porta dos fundos para mim. Assim que saí, abandonei minha atitude casual e caminhei até o carro estacionado. Após varrer a neve do teto e do para-brisa, entrei e liguei o carro.
Uhhhh.
Respirei fundo, aliviado.
O caminho estava bem iluminado, graças ao funcionário que acendeu as luzes do estacionamento e da entrada da garagem.
Eu dirigi o carro em meio à neve, através das luzes cintilantes como uma árvore de Natal.
Era um dia lindo para comemorar uma fuga bem-sucedida. E para comemorar o primeiro fracasso de um Baek Doha.
Baek Doha vai ter que engolir o gosto do fracasso e do arrependimento. O gosto de seu primeiro fracasso e arrependimento será muito amargo, muito doloroso. Persiga-me como uma besta atrás do seu objetivo. Use suas habilidades de caça. Persiga-me e me capture.
Como um humano, e não como ium animal.
Descubra por si mesmo o que são as emoções e como elas agem. Perceba que seus instintos são, na verdade, sentimentos, amor, e mude seu jeito de pensar. Desfaça-se dessa mente podre.
Porque se você não mudar, nunca vai me pegar.
No momento em que saí da propriedade, suprimi meus feromônios. Tirei o anel do meu dedo anelar, abri a janela do carro e o joguei fora.
Estava livre.
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Continua…
Tradução: Rize
Revisão: MiMi