Noite De Caça - Capítulo 096
Quando saímos do prédio onde ficamos pouco tempo, um homem veio em nossa direção. Era o Sr Han. Ele inclinou a cabeça e cumprimentou Baek Doha.
— O Sr. conseguiu um novo assistente?
Sem sequer olhar para mim, ele falou com Baek Doha como se eu não existisse. Foi um descaso óbvio.
— Por que isso te interessa? — Baek Doha respondeu de forma direta com outra pergunta.
— Talvez tenha dificuldade em encontrar um assistente que se encaixe com temperamento exigente do CEO.
As palavras de Han ressoaram profundamente em mim. Assim como Yoo Hyunseo não conseguiu encontrar um secretário e escravo como eu, seria difícil para Baek Doha encontrar alguém como Han.
— Ouvi dizer que está planejando ir para o exterior depois de se casar.
— Então, o que você quer dizer?
— Eu só espero que seja feliz.
Seu tom era tão rígido e profissional quanto seu rosto sem expressão. Então, o olhar do homem recaiu sobre mim.
— E, por favor, esqueça o erro que cometi outro dia com o Sr. Yoo Seolwoo. Eu sinto muito.
Não foi nem mesmo um verdadeiro pedido de desculpas. Você bate em alguém e pede desculpas porque foi um erro e ponto final? Seu olhar foi direcionado para minha barriga. Sem aviso, uma súbita onda de enjôo me atingiu, então apertei a mão sobre minha boca, que latejava.
— Espero que a criança em sua barriga não seja um mutante como você.
Os insultos lançados em meu rosto não pareciam me incomodar. O que antes era como um soco no estômago, agora parecia somente engraçado. Era engraçado porque pareciam ser palavras forçadas para me ferir de propósito.
Talvez eu seja um ser ridículo para eles, mas para mim eles são o mesmo. Sou diferente deles. Sou um mutante. E daí? O que quer que eu faça quanto a isso?
Eu nasci assim. Assim como Baek Doha também nasceu. Eles não podem mais me ferir com palavras. Não tive tempo nem para observar as costas do assistente Han enquanto ele se afastava. Não consegui suportar o enjôo e me agarrei ao braço de Baek Doha que estava ao meu lado.
— Não preste atenção no que ele fala.
Baek Doha murmurou e estendeu um lenço. Ele levou o lenço com o cheiro de feromônios misturado ao seu perfume até a minha boca.
— O que ele quis dizer com você estar indo morar no exterior?
Eu já tinha ouvido isso antes e sabia de tudo, mas perguntei como se não soubesse.
— É literalmente isso. Estou indo morar no exterior.
— Naquela ilha mediterrânea que você estava falando? Você vai me trancar em algum tipo de fortaleza com mar por todos os lados?
Ele virou a cabeça e olhou para mim. Seu rosto sorridente me irritou.
— Tudo é sempre como você quer, não é, seu bastardo? Desgraçado.
Ele me abraçou com força. Seu peito, era como uma parede de pedra que parecia poder me proteger, não importa a tempestade que estivesse se formando. Braços fortes que nunca me deixariam ir. Lutei para me soltar, mas os braços que me abraçavam não se moviam.
— Ninguém pode tocar em você. Eu o protegerei.
‘Vou empalhar esse pássaro e dar a você.’ Fiquei arrepiado porque era a mesma voz que sussurrou isso para mim em meus sonhos.
*
Os enjoos matinais não foram embora, mas pioraram. Com o passar do tempo, a vida em minha barriga se tornou presente. Ela ainda não havia assumido a forma de um feto e não conseguia nem respirar.
O lado bom de ter sido descoberto por Baek Doha era que eu podia ir ao hospital sempre que precisasse e chamar um médico imediatamente. Se estivesse muito ruim, eu poderia ligar para o médico, tomar soro, ir direto para o hospital, fazer exames estomacais e tomar remédios para aliviar meus enjoos matinais. Mesmo que eu não estivesse me sentindo bem, ainda conseguia comer.
Graças aos suplementos caros que Baek Doha comprava para mim, eu não me sentia completamente doente.
Naquela tarde, o enjoo havia passado e eu estava me sentindo estranhamente bem. Enquanto estava sentado no sofá da sala de estar, olhando para o jardim e tomando sol, Baek Doha voltou de seu passeio.
— Fui à exposição do artista Ha Sungho. Era o último dia da exposição, então corri para ver..
Fiquei um pouco surpreso ao ouvir um nome que eu não havia pensado sair de sua boca.
— Ha Sungho?
— Ele é um pintor famoso, um jovem artista que está em ascensão atualmente. Acompanho o trabalho dele, então sempre vou às suas exposições.
É claro que eu o conheço. Independentemente da personalidade ruim de Ha Sungho, seu trabalho é incrível, mesmo para mim, que não conheço muito sobre arte.
— Você chegou cedo então. Geralmente há uma festa depois da exposição.
— As pessoas não parecem se sentir confortáveis na minha presença.
Não é de se admirar. Não havia como sua reputação ser boa após o tiroteio no outro dia. Ele era um homem com uma reputação ruim para começar e isso só piorou as coisas.
— Havia um quadro que me fez lembrar de você assim que o vi.
Com isso, Baek Doha pegou um folheto de exposição. Ele folheou as páginas e apontou para a fotografia de uma das obras. O título da obra era “Rain Trapped in Snow”(Chuva Presa na Neve).
Uma sonhadora floresta de bétulas brancas com neve caindo. Uma figura azulada se escondia na neve. A pintura toda era branca e azul. As bétulas eram excepcionalmente grandes, como as barras de uma cela de prisão, e o homem azul olhando para frente com um rosto severo era muito pequeno.
Esse sou eu.
Eu a reconheci imediatamente. Eu sabia que era eu. Seolwoo. Neve e chuva. O nome foi dado com os caracteres mais simples. Senti uma pontada no estômago porque era uma representação direta da minha situação atual.
— O tamanho da pintura é bem maior. Ela é ainda mais impressionante pessoalmente.
— Você comprou?
Você pagou por essa pintura idiota? Eu não deveria dizer isso de jeito nenhum, então economizei minhas palavras o máximo que pude.
— Não. Ele disse que soube que iríamos nos casar e nos deu como presente de casamento.
Baek Doha ficou atrás do sofá, acariciando meu pescoço enquanto eu folheava o panfleto, então beijou meu cabelo.
— Gostaria que você pudesse ter ido à exposição.
Quando ele perguntou se eu queria sair, eu me enterrei no edredom e fingi que estava dormindo. Foi bom ter feito isso. Não consigo imaginar o que eu teria visto se tivesse sido arrastado até lá. É claro que Yoo Hyunseo estaria lá, junto de todas as esposas da alta classe que devem ter comparecido.
— É incrível que tenha te dado isso de presente quando o preço de uma única peça é tão alto.
— É um pequeno investimento em seu futuro. Ele sabe que não perde ao se associar a mim.
Sim. É claro que deve haver algum motivo oculto atrás disso. Por que Ha Sungho daria esse quadro? Joguei o panfleto fora e coloquei as mãos em volta da barriga.
— O enjoo continua forte?
Ele perguntou carinhosamente, passando a mão pelo meu cabelo.
— O enjoo não vai embora fácil assim.
— Unmyeong (destino), pare de incomodar o papai. Eu me preocupo mais com seu pai do que com você e, se continuar fazendo isso, posso acabar odiando você.
Mas que diabos. Levantei a cabeça e olhei para Baek Doha, com os olhos cheios de descrença. Foi assustador. Além de repreender a criança, havia algo naquela voz. Parecia mais suave que o normal.
— Mas que diabos foi isso? Não diga algo assim, é estranho.
— Muitas coisas são estranhas. Acostume-se com isso. Só estou tentando ser um bom pai e um bom marido.
Ele riu, tocou minha bochecha com a ponta do dedo e saiu do sofá.
Se você quer ser um bom pai e um bom marido, não mude apenas o tom de voz, mude sua cabeça podre. Em vez de discutir, o que seria um desperdício de energia, peguei o copo de água com gás à minha frente e bebi. A água ainda tinha um cheiro terrível, mas a água com gás era um pouco melhor.
— Ha Sungho me convidou para ir à sua casa. Parece que ele está organizando um torneio de caça.
Baek Doha disse enquanto tirava o terno. A imagem da oficina e da casa de Ha Sungho me veio à mente. Cercada de florestas por todos os lados, era um ótimo lugar para caçar. Era também um lugar onde um rato ou pássaro podia desaparecer sem que ninguém percebesse.
É um ótimo lugar para que algo acontecesse. É um ambiente mais aberto do que aqui, onde há câmeras de vigilância por toda parte.
Ninguém sabia quais eram os motivos ocultos de Ha Sungho. E como ninguém sabia, isso seria uma variável que até mesmo Baek Doha não poderia prever. Essa variável poderia ser um avanço. Seria melhor do que agora, quando todos os lados estão bloqueados e não posso conduzir nenhuma tentativa.
Era hora de mudanças e variáveis eram necessárias. No momento certo, Ha Sungho fez uma ótima sugestão.
— Faz um tempo que não caço, então estou considerando ir. Já faz tempo desde a competição de caça, então estou ansioso por isso.
Baek Doha não conseguia esconder sua pura empolgação. Seus olhos brilhavam como se ele estivesse participando já do torneio de caça e segurasse uma arma.
— Quer que eu vá também?
Baek Doha olhou para mim como se eu estivesse perguntando o óbvio. Eu não sabia o que ele estava pensando. Ele costumava ser tão super protetor comigo, por que iria querer me levar para um lugar tão perigoso? É uma reunião de alfas reais, é claro, e não há como eu conseguir caçar no frio estando nesse estado.
Acho que ele não parou para pensar nisso. Ele estava completamente concentrado na competição de caça da qual não participava há muito tempo.
Ele é o tipo de pessoa que não consegue pensar em mais nada quando está obcecado por uma coisa. Ele é um homem muito simples.
— Eu não quero ir. Eu não vou.
— Não posso te deixar sozinho. Sei bem o que você fará eu te deixar sozinho.
— Então o Sr. Doha também não vai poder ir até lá.
Se ele realmente não fosse, isso seria outro problema, mas eu sabia que ele ficaria desconfiado se eu mudasse repentinamente de atitude e dissesse que sim, por isso continuei insistindo em não ir.
— Vai ser divertido.
E Baek Doha caiu como um patinho.
— Vou aproveitar essa oportunidade para ensinar você a caçar. Ah, você sabe atirar com uma arma? Não, né? Terei que ensiná-lo a atirar primeiro.
— Está bem, me ensine a atirar. Então poderei atirar na sua perna.
Eu estava sério, mas ele caiu na gargalhada. Foi uma gargalhada meio desanimada, meio idiota.
— Que merda. — praguejando para que todos ouvissem, me levantei.
Peguei meu copo de água com gás e fui para a cozinha. Mastiguei as uvas verdes que estavam na cesta e pisquei os olhos.
De volta ao planejamento. Uma fuga na floresta. Dessa vez, eu estava confiante de que não falharia.
* * *
[Não é fácil marcar um alfa real. Se vincular a um dessa forma não é recomendado porque é uma questão de orgulho para os alfas reais… mas se você realmente quiser tentar, tente marcar seu parceiro durante o sexo, bem naquele momento em que ele estivesse prestes a chegar ao clímax, mordendo-o no pescoço. Quando isso acontecer, ele vai soltar seus feromônios ferozes, mas não desista de morder o pescoço com medo e morda até sangrar. Tem que morder até deixar uma marca. Você só tem uma chance, porque pode ter certeza que seu parceiro alfa real não vai te dar uma segunda oportunidade.]
Pelo que consegui encontrar, a gravação diz para tentar quando o alfa real estiver atingido o orgasmo.
Foi exatamente o que ouvi do jovem ômega que estava no hospital. Ele também avisou para nem tentar com um alfa real.
O mundo estava cheio de coisas irracionais. Os alfas reais podiam marcar seus companheiros com tanta facilidade, mas os ômegas tinham que arriscar a própria vida para morder suas gargantas.
Fiz uma mala simples para a viagem de dois dias e uma noite. Levei uma pequena bolsa com um cartão de crédito, alguns medicamentos urgentes e as injeções de inibidores que recebi de Kim Binwoo.
Eu ia tirar todas as minhas joias da gaveta da cômoda, mas decidi levar apenas algumas peças escondidas. Se eu colocasse todas aquelas coisas, minha bolsa ficaria muito pesada. Mantive a bolsa o mais simples possível e a pendurei no ombro. Em seguida, arrumei a outra bolsa com roupas e outros itens que achei necessários.
— Vou levar os inibidores e neutralizadores, porque prefiro tê-los à mão.
Quando levei a bolsa para o estacionamento, insisti que queria duas bolsas. Sem dizer uma palavra, peguei a bolsa de roupas e a joguei no porta-malas do meu carro.
— Mesmo que eu não queira ir, você vai me arrastar junto, certo?
Dei uma última olhada na frente do carro. Baek Doha abriu a porta do passageiro sem dizer uma palavra. Franzi a testa diante de sua arrogância e entrei no carro. A porta se fechou e Baek Doha subiu no banco do motorista. O carro deu a partida e o calor emanou do aquecedor na parte inferior do assento.
— Tome o inibidor que trouxe com você. Você não o tomou hoje, não é? Os feromônios estão muito fortes.
Abri a bolsa em meu ombro, tirei um comprimido do frasco de remédios e o coloquei na boca. Não era um supressor, mas uma pílula para enjôo matinal: a mesma pílula branca e redonda que, à primeira vista, parecia um supressor.
— Muito melhor.
Engoli o comprimido e Baek Doha ligou o carro, satisfeito. Coloquei o cinto de segurança e me virei rumo a janela. Cobri os cantos do meu sorriso com as mãos e fingi olhar para a paisagem.
Eu podia controlar meus feromônios livremente agora.
Quando percebi como controlar meus feromônios, pratiquei, pratiquei e pratiquei. Agora, eu estava enganado descaradamente Baek Doha.
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Continua…
Tradução: Rize
Revisão: MiMi