No Jardim Das Rosas - Capítulo 33
—Klopp Bendyke está completamente louco.
Os rumores circulavam por todos os lados.
Normalmente, ele sorria gentilmente, elogiava vestidos e ternos, e era só sorrisos e palavras agradáveis. Mas, imediatamente após isso, começava a proferir ameaças e insultos diante da menor provocação. Era, literalmente, como uma besta selvagem. Um macaco furioso.
—Fiz algo errado, meu precioso anjo?
Não. Na verdade, ele não fez.
Agora ele era gentil e terrivelmente adorável, algo muito melhor considerando que a maior parte do tempo ele era um homem arrogante com uma vaidade que atravessava o céu. Contudo, para ser honesto, Arok não gostava disso. Mesmo sabendo que Klopp ainda continuava sendo Klopp.
Além disso, se havia algo a tirar da situação, era que admirava o fato de que, mesmo ferido, ele tinha uma personalidade forte e não se deixava intimidar pelo estado de sua falta de memória. Em vez disso, buscava soluções e tentava se adaptar e seguir com uma vida tão normal quanto possível. E isso, por si só, era notável.
Klopp já dormia bem, comia bem e já conseguia mover o pescoço em um círculo perfeito. Além disso, era muito galanteador.
—Lindo anjo. Por favor, me diga seu nome antes que eu morra.
Mas isso o deixava nervoso.
—Como você me chamou de ‘anjo’? Não me chame assim! Eu não gosto. Não quero ser um anjo.
—Então, por que você não me diz seu nome e resolvemos isso de uma vez?
A resposta era simples: porque estava zangado.
Depois de tudo. Afinal, como ele pôde esquecer? Como, mesmo que por um momento, ele decidiu não saber quem ele era ou qual era seu nome ou a história que aparentemente tinham juntos? Arok, infelizmente ou felizmente, não parou de pensar nele nem por um único segundo. Ele fez isso momentos antes de morrer, todos os momentos depois de sangrar até a morte na cama e também todas as horas que se seguiram, quando ele voltou à vida. Sofreu, chorou, desejou desaparecer, também desejou estar ao seu lado e o que ele fez?
Obviamente, pareceria divertido para alguém que não conhecesse a situação e até Hugo tentou não morrer de rir quando estava na frente dele. Mas não era nada engraçado.
Klopp, o verdadeiro Klopp, frequentemente gaguejava na frente de seu mordomo. Algo bastante compreensível, na verdade, considerando a quantidade de vezes que havia sido intimidado. Como um demônio que esperava torturar uma pobre alma, Hugo zombava dele de vez em quando, simplesmente fazendo coisas que poderiam parecer simples para os outros. Por exemplo, fazer com que ele acordasse cedo na manhã de um domingo para cuidar do jardim ou obrigá-lo a copiar teorias morais incrivelmente entediantes. E Klopp, como um verdadeiro cavalheiro, parecia ter que lidar com tudo isso se quisesse pedir a mão do conde.
—Claro. Eu farei, senhor Hugo. Adoro ter as mãos cheias de terra e trabalhar sob o sol o dia todo, apenas para cuidar de algumas plantas que vão morrer de qualquer forma… Hahaha.
Klopp não recuou nem mesmo quando Hugo mandou o jardineiro de férias, sem nenhum motivo especial, jogou-lhe uma tesoura de poda e disse que o jardim estava um desastre.
—Você não precisa fazer isso, Klopp,— disse Arok. —Não importa o que os outros digam, você é meu marido. Mesmo que seja extraoficialmente.
—Se eu não fizer isso, acho que não conseguirei mostrar que sou digno de você e também não poderei estar com você pelo resto da minha vida. Como planejei. Além disso, estou certo de que, se eu fizer algo errado, Hugo vai inventar qualquer desculpa para me expulsar da mansão. É um problema terrível! Espero que ele se aposente logo.
Claro que às vezes reclamava, mas era apenas para seguir em frente.
Agora não era tão diferente:
—Para ser honesto, o mordomo dá um pouco de medo. Quando ele aparece, meu coração acelera e começo a suar frio. Hahaha. Suponho que é porque devo ter cometido muitos erros no passado, não acha?
Ele sorriu e mostrou suas mãos suadas. Estava sob muito estresse. Pobre Klopp! E sem perceber o que estava fazendo, Arok pegou sua mão e soprou para tentar refrescar sua pele molhada.
—Que lindo é meu anjinho. Você é muito gentil comigo.
—Claro que sou gentil.
‘Porque você é meu Alfa.’ Tentou dizer isso, mas manteve a boca bem fechada e depois simplesmente mudou de assunto.
A verdade era que estava ferido e queria que ele voltasse ao normal apenas para dizer que “nunca poderia perdoá-lo por esquecer a pessoa que tanto diz amar”. A pessoa que o aguentou, não uma, mas duas vezes em duas vidas completamente diferentes. E mesmo que perdesse tudo de si mesmo, não conseguia entender como ele pode esquecer dele também.
Há cinco meses, um bebezinho começou a crescer dentro de sua barriga. Algo que fez com sua própria teimosia, dizendo que o amava mais do que tudo no mundo e que estava “extremamente feliz” em ver sua pequena família crescendo a cada dia. E ainda assim, o que ele estava fazendo hoje? Como podia esquecê-lo, logo ele que era seu ômega, e seu filho, que estava crescendo e ficando enorme? Como podia esquecer que estava grávido? Além disso, Klopp parecia estar confuso e certamente não lembrava que Arok era um ômega. E isso, por si só, fazia com que todo o tema do vínculo parecesse uma maldita mentira.
Como poderia um Alfa destinado esquecer seu parceiro em um momento em que ele precisava tanto do marido!?
Desgraçado.
—Meu anjo, você não vai me dizer seu nome de verdade? Sério mesmo?
—Lembre por conta própria.
—Eu nem consigo lembrar meu próprio nome direito!
—… Esquecer meu nome é um pecado imperdoável.
—Eu não fiz isso de propósito, lindo. Isso é muito complicado.
Klopp, ainda enfaixado como uma pequena múmia, vagava junto a Arok enquanto o via ler livro após livro relacionado à amnésia. Costumava não sair do quarto e, de fato, até que suas memórias retornassem, Arok pediu que ficasse deitado e só se preocupasse em se curar. No entanto, em algumas ocasiões (como agora) ele lhe dava livros de leis e pedia que lesse a primeira página em voz alta para ele. Talvez, para reavivar o advogado que vivia nele. Quem sabe?
—E então?
Observou-o em silêncio. No entanto, logo disse:
—Esses livros são bastante antigos e longos.
E então, como se tivesse perdido o interesse, passou para outra estante e os esqueceu.
No entanto, junto com a tristeza, também havia um pouco de alívio. Não teria gostado que ele lembrasse de toda a sua vida apenas por ler um estúpido livro de leis porque, afinal de contas, Arok deveria ser o primeiro a chegar à sua mente e deveria ser precisamente por causa dele que Klopp voltasse ao normal.
—Bem…
E finalmente, como resultado de procurar em vários livros relacionados à psiquiatria familiar, obteve uma pequena pista: em várias famílias, em situações em que o marido ou a esposa perdiam a memória, o sexo era sempre a melhor opção. Algo comprovado por especialistas, dizia a nota em letras pequenas ao final de cada bendita imagem.
No entanto, embora não fosse realmente uma ideia tão ruim, e mesmo tendo analisado os fundamentos e as hipóteses que diziam comprová-la, Arok não gostava de ter que se guiar por uma situação tão banal quanto o sexo para provar que aquele homem era seu destino. Também não era tão idiota e não estava tão desesperado. Muito menos iria tentar dizer ao Klopp respeitoso, bom e culto que tinha em casa que queria transar com ele! Isso faria o Alfa parecer um anjinho e ele próprio, um diabo.
Além disso, além de segurá-lo pela mão, Klopp nem sequer tentou beijá-lo, acariciá-lo ou mostrar-lhe o aroma de seus feromônios. No entanto, se ele não conseguisse lembrar de sua vida em um par de meses, antes que a barriga de Arok crescesse mais… Pensou que poderia fazer isso como último recurso.
Ocasiões desesperadas pedem medidas desesperadas.
Arok deixou o livro cair sobre a mesa e levantou-se. Klopp, que folheava um romance, levantou uma sobrancelha e disse:
—Para onde você vai, meu amado anjinho?
—… Vou sair. Há muitas, MUITAS coisas que quero comprar.
—Perfeito!
Não houve reação aos gastos não planejados.
—Vou comprar novas pinturas, dez pinturas na verdade. Repetidas e caras MUITO CARAS, e… Também dez estátuas. Não, vinte estátuas para colocar no quarto.
Mas Klopp apenas sorriu docemente.
—Wow, pinturas e estátuas. Como era de se esperar, é um passatempo nobre digno de um lindo anjinho como você!
—…
Mas que merda!? Este era o homem que sempre dizia que estátuas não serviam para nada? O homem que dizia que pinturas eram apenas lixo e que ele mesmo poderia fazê-las para não gastar?
—Ótimo, então…
—Posso ir também?
Na realidade, ele queria dizer “Não” e talvez adicionar um “foda-se”. Mas Arok estava estressado, cansado, triste, abatido, dolorido, sentindo-se culpado e grávido. Ele precisava… Ah, maldito desgraçado. Como um cara como ele poderia se chamar de “pai” quando havia se transformado em um idiota?
—Você pode ir. Vamos.
Enquanto caminhava pela rua principal em direção à exposição de arte, Klopp sorria para todos os transeuntes que faziam contato visual com ele. CADA UM DELES. Claro, não havia ninguém que não gostasse de ser tratado de forma “gentil” por um jovem Alfa bonito, alto e bem vestido como ele. Não, se havia uma só pessoa que ficava de mau humor:
Era que toda vez que via seu sorriso inocente e brilhante, Arok ficava irritado a ponto de querer dar-lhe um soco enorme. Esse é mesmo o Klopp Bendyke? Disse que estávamos vinculados! Mas por que ele não se sentia assim de jeito nenhum? Se você lesiona a cabeça, o efeito desaparece? O médico disse que não poderia ser possível e até, talvez para tranquilizá-lo, disse que ele não seria capaz de olhar para outras pessoas e até mesmo se tivesse uma lesão na cabeça, estar com outro homem ou mulher lhe causaria uma reação de repulsa fisiológica o que tornaria mais fácil não ter que ficar cuidando dele o tempo todo.
Mas Arok estava agora olhando a maneira como o estúpido Alfa flertava com uma vendedora de flores à beira da estrada!
—Oi, bela dama.
—Oi, hahaha.
Ela corou quando viu o Alfa se inclinando cortesmente, com uma atitude perfeita e digna. Ela era pequena, magrinha e tinha cabelos loiros desbotados. Não era tão jovem, mas era uma ômega cheia de expressões ternas e inocentes e, como era de se esperar, seu coração afundou rapidamente até o chão quando pensou que a mulher poderia ser mais o estilo dele.
‘Não olhe para o Alfa de outra pessoa.’ Queria dizer a ela. ‘Ele é meu.’
Apertando os punhos, Arok rapidamente ficou ao lado deles. Ele até sorriu e a cumprimentou de maneira bastante educada, mas de qualquer forma percebeu que seus olhos estavam completamente fixos nos de Klopp.
—Você pode me vender isso?
—Sim! Vou te dar um desconto!
Ela pegou o buquê mais lindo de uma cesta de flores que não estava muito vazia (como se suas vendas não estivessem indo bem naquele dia) e sorriu abertamente como se estivesse tendo uma manhã muito feliz de qualquer maneira. Klopp aceitou, depois procurou calmamente nos bolsos para tirar as moedas com as quais poderia pagar e ainda assim.
—Oh, desculpe.
Ele não tinha dinheiro. E a verdade era que Arok também estava quebrado, exceto talvez por algumas poucas moedas de prata que havia economizado em segredo. Todos os gastos na mansão eram calculados por fatura e depois processados em lotes durante um certo período de tempo para garantir uma fonte de economia segura e eficaz. Além disso, os gastos menores eram sempre tratados por Hugo e alguns por um par de lacaios de confiança. No entanto, se Klopp, que era seu advogado, continuasse com a memória perdida, ele poderia ter que abrir o cofre para não passar fome nos próximos meses.
Quando Arok, que ficou pobre por causa de Klopp, zombou dele, o homem o olhou como se estivesse envergonhado e coçou a cabeça como se não soubesse o que dizer. Ele poderia ter lhe dado uma moeda de prata, mas simplesmente não quis.
—Desculpe. Preciso pagar o custo da carruagem para voltar.
Na verdade, era para a carruagem do conde vir buscá-lo, mas ele estava deliberadamente irritado e respondeu que não podia gastar em rosas quando voltar para casa era mais importante.
—Ah, claro. Você está certo.
Com muito pesar, Klopp devolveu o buquê à vendedora ambulante. Então, ao perceber a situação, soltou um suspiro de arrependimento.
—Voltarei na próxima vez. Espero que tenha um bom dia.
Mas ela agarrou Klopp, que se inclinou cortesmente, e disse:
—Espere um minuto, pegue pelo menos isso. É um presente para… Um belo cavalheiro.
—Está tudo bem mesmo? Muito obrigado.
Klopp sorriu radiante, como se estivesse mais do que satisfeito. Então a vendedora ambulante o olhou completamente encantada.
Ele poderia ter dito que as flores não passavam de lixo e que acabariam no chão. No entanto, como era uma ômega loira e pequena, apenas piscou os olhos e não disse mais nada.
Mas isso não significava que Arok não estivesse no seu limite ou cansado de continuar descobrindo que o vínculo era uma completa mentira.
—… Eu vou na frente.
E isso o fazia sentir-se muito mal.
Como o homem pôde agir assim quando só havia machucado a cabeça? Idiota, maldito idiota. Ele basicamente o engravidou e o abandonou! Não houve tal coisa como um vínculo desde o início, apenas um plano para que Arok não pudesse ficar com mais ninguém enquanto estivesse livre. Estava tão irritado que não parava de reclamar uma vez e outra, até o ponto em que, se Hugo estivesse vendo, com certeza o repreenderia severamente e lhe daria uma lição sobre como controlar as emoções.
Arok caminhou mais alguns passos e de repente seu estômago se retorceu e ele sentiu uma pontada na barriga. Afinal, a pequena pessoa em seu ventre parecia bastante irritada com o repentino mau humor da mãe:
—Umm…
Sem se dar conta, ele abraçou a barriga, curvou as costas e se apoiou na parede enquanto percebia que não conseguia parar de suar frio. A verdade é que precisava sentar por um momento…
—Está tudo bem? —Mas o playboy, que estava obcecado em flertar com os outros sem prestar atenção nele, se aproximou e acariciou suas costas com uma expressão cheia de preocupação. —Você está muito pálido.
Ele tinha uma expressão muito séria. Bem, já era hora! Deveria ter estado preocupado desde o início e olhando apenas para ele! Seu filho queria a atenção do pai e onde merda você estava enquanto isso?! Comprando flores!
—Senti uma pontada na barriga.
Com a testa franzida, ele mostrou sua barriga envolto em ambas as mãos. Já estava com 5 meses de gravidez, então ao trocá-la podia-se ver claramente que estava muito grande. Algo que não era perceptível com roupa.
—O que eu faço? Chamo a carruagem?
—Não, não. Me toque…
—O que?
Normalmente, quando sentia dor, Klopp aparecia imediatamente e acariciava sua barriga, usando toda a mão para formar um círculo perfeito. Então, o bebê se acalmava tão rapidamente que o Alfa ficava bobo falando sobre “o quanto amava que o bebê precisasse dele, mesmo que ainda não tivesse nascido”. Agora, o homem estava tão surpreso com o pedido que sentiu vontade de chorar.
—Me toque.
Arok o agarrou pelo braço e o puxou até conseguir colocar sua mão sobre seu ventre.
—Passe a mão nesta parte. Ah… Faça um círculo de cima para baixo.
Uma coisa boa era que esse idiota era bom no que lhe diziam para fazer. A tensão logo se acalmou e o bebê parou de se mexer. No entanto, enquanto o acariciava, Klopp moveu um pouco a cabeça e disse:
—Sua barriga…
—…
Já havia lembrado de algo? Bem, afinal o instinto de um Alfa era ter filhos e ele estava enlouquecendo com a ideia de ser pai. Arok ficou com um pouco de ciúme, mas tentou ficar aliviado por Klopp ter voltado ao normal.
—Está…
—O que você está sentindo?
—Mmm. —Klopp de repente colocou as mãos nos ombros de Arok e sorriu: — Ao contrário do que parece, você tem uma barriga grande. Será que a comida que você acabou de comer já está sendo digerida? vamos para casa para que você possa… Ah, por que seu rosto está tão vermelho? Aí!
Com raiva, ele chutou sua canela com toda a força que conseguiu reunir em tão pouco tempo. Klopp, que estava pulando em um pé só, reclamou de dor e disse:
—Por que você fez isso assim do nada!!?
—Estou indo pelo outro lado!
E depois de gritar, ele saiu caminhando de volta ao museu de arte, que na verdade não estava muito longe de onde estavam agora.
O homem alto, mancando e o seguindo à distância, ainda segurava a rosa vermelha que haviam lhe dado e não parava de dizer para esperar ou ir mais devagar. No entanto, o humor de Arok não estava mais obedecendo sua cabeça.
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Continua…