No Jardim Das Rosas - Capítulo 31
Quando abriu os olhos na manhã seguinte, percebeu que Arok já havia se levantado há um bom tempo e que inclusive estava amamentando seu bebê. Klopp piscou e perguntou:
—Você dormiu bem?
Então Arok, com o rosto terrivelmente inchado, sorriu de maneira bastante bonita e assentiu.
—Sim. Bom dia.
Seu filho estava sugando o peito dele com muita fome. De alguma forma, parecia tão delicioso que, sem conseguir conter a curiosidade, ele colocou a boca no outro peito e tentou sugar, então Arok lhe deu um tapa que o fez esfregar a cabeça para aliviar a intensa dor.
—Ei!
Ao longe, ouvia-se Marta na cozinha, também o barulho da louça e o murmúrio da água.
—Você não está com fome?
—Um pouco.
Klopp se espreguiçou com um grunhido, levantou-se da cama e vestiu seu robe felpudo e suas pantufas. No entanto, antes de sair, voltou a se inclinar sobre o colchão e beijou cuidadosamente a cabeça do bebê. Depois, ergueu o queixo e fez o mesmo com a pessoa mais bela do mundo inteiro.
Arok, que fechou os olhos para saborear seus lábios, sorriu novamente quando seus olhares se encontraram e, em seguida, começou a rir. Supostamente, deveria ser a mesma expressão de sempre, mas, de certa forma, parecia completamente diferente após sua confissão na noite anterior. Klopp não sabia como explicar, era como se a luz tivesse começado a irradiar de cada poro de sua pele, transformando-o em uma pequena estrela. E Klopp, um tanto fascinado por sua expressão atual, segurou suas bochechas com ambas as mãos e o beijou de uma maneira um pouco mais profunda do que antes. Uma e outra vez, até que dois minutos depois, tiveram que se separar devido à falta de oxigênio.
Arok disse: —Eu te amo.
—Eu sei.
Respondendo de uma maneira brincalhona, Klopp ouviu o ronco do estômago de seu esposo, levantou-se definitivamente e dirigiu-se à cozinha para lhe trazer o café da manhã. Agora que havia se tornado pai de família e esposo, pensou que precisava trabalhar arduamente para cuidar diligentemente de sua pequena família. No entanto, mesmo tendo acabado de abrir a porta, olhou para trás e começou a lamentar não poder ver as duas pessoas que amava, ainda que por apenas alguns segundos. E quando Arok levantou a cabeça e seus olhares se encontraram novamente, a cena terminou com Klopp voltando à cama apenas para passar a mão pelo cabelo de seu Omega.
—Arok Taywind.
Ao ouvir seu nome completo de repente, Arok levantou a cabeça e olhou para ele: —Diga…
—Amo muito vocês. Tanto a você quanto ao filho que você deu à luz, os dois são minha vida.
Ao ouvir sua confissão, a expressão de Arok ficou em branco e, em seguida, ele desabrochou em um sorriso radiante.
—Eu sei.
Com a mesma resposta que a sua, Klopp sentiu-se aliviado. Quase como se agora estivesse seguro de que não seria esquecido. Deu um pequeno beijo no topo de sua cabeça, beijou novamente seu bebê e desta vez, saiu do quarto para buscar a comida.
Quando voltou a olhar para trás, percebeu que Arok estava beijando o narizinho do filho com tanta ternura que pensou que isso era suficiente para que pudesse sair em paz.
Ele desceu as escadas com passos leves. Era como se a luz do sol entrasse a jorros por cada janela.
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Arok de repente despertou.
Ao seu redor, só se ouviam o vento e os grilos, então, incrivelmente assustado, levantou-se apenas para descobrir que estava no jardim de sua casa, fora de uma cabana.
—A cabana…
Nesse momento, ficou paralisado.
O vento que soprava momentos antes havia cessado, e as sombras pareceram se transformar em densas trevas que apertavam seus tornozelos constantemente. Ele realmente queria gritar, mas parecia que, por mais que tentasse, não conseguia emitir um mise som.
Então, quando olhou para cima, confuso, e avistou o jardim de rosas ao longe, também notou que havia um homem alto, vestido com um terno, e duas crianças pequenas que vinham em sua direção, gritando:
—É o papai!
Ah, aquele era seu Klopp.
Arok estendeu os braços em sua direção, mas o medo parecia impedi-lo de se aproximar e, mesmo que tentasse gritar para pedir que ele viesse, percebeu que seu corpo não respondia. Não conseguia explicar. Era como se tivesse ficado mudo e se transformado em uma estátua inútil bem no meio do jardim.
Então, uma pessoa bela, um homem de cabelos louros que ele reconheceu imediatamente como Rafiel, aproximou-se, sorriu para ele, estendeu as mãos e lhe deu um abraço carregado de imensa ternura.
—…
E naquele momento, sentiu o seu coração despencar.
Será que tudo antes, toda a sua nova e feliz vida, tinha sido um sonho?
Involuntariamente, ele voltou a abrir a boca, mesmo que fosse inútil.
Não deveria olhar para baixo.
Meu Deus, que não lhe ocorresse baixar a cabeça, pois certamente estaria cheio de sangue.
Ele provavelmente estava prestes a morrer.
E, pensando nisso, começou a desejar ver Klopp e as crianças mais uma vez antes que a escuridão, que vinha de todos os lados, o engolisse, levando-o ao inferno por todos os males que havia causado em sua vida.
Mas, enquanto chorava como uma criança pequena, descobriu que Klopp na verdade tinha virado a cabeça em sua direção para olhá-lo dos pés à cabeça.
E ele o amava tanto que isso parecia ser suficiente.
Mesmo que a vida ao seu lado tivesse sido apenas um sonho ou uma fantasia, estava realmente feliz por tê-la compartilhado, mesmo que por um breve momento.
—Arok…?
Mas sua expressão indiferente, que tinha um segundo antes, mudou lentamente para uma de pura surpresa. Klopp arregalou os olhos e pareceu assustado ao vê-lo deitado na grama. Então disse — AROK! — Com mais força e correu em sua direção com os braços estendidos.
—…
E antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, Klopp se apressou e abraçou seu corpo com o dele.
—O que aconteceu, meu amor? Por que você está chorando? Você caiu? O que houve?
—Ah, Klopp…
Estava surpreso de que suas cordas vocais, que tinham sido congeladas há um segundo, se movessem novamente apenas para lhe fazer dizer seu nome. E quando olhou para frente, descobriu que Rafiel, que ele pensava estar seguindo Klopp, na verdade tinha as mãos bem entrelaçadas entre os dedos do visconde Wolflake, um homem alto que não parecia querer se separar dele nem por um segundo. E embora não tivesse notado antes, ambos estavam olhando em sua direção de uma maneira incrivelmente preocupada.
—Arok?
—Você está se sentindo mal, querido?
—Quer que chamemos um médico? Você precisa dealgo?
—Não, está tudo bem…
Klopp então se inclinou para frente, segurou-o um pouco melhor entre os braços e se dedicou a beijar suavemente os cantos de seus olhos, como se com isso pudesse medir sua temperatura.
Fez com que voltasse a respirar.
—Por que você está chorando, querido? Achei que íamos começar a plantar os girassóis, mas então eu te vi aqui e, ah! Meu coração está batendo como louco. Você me assustou!
—Klopp…
—Venha, vamos voltar para casa. Está bem?
—Mamãe!
—Mama!
Foi então que duas crianças pequenas, exatamente aquelas que ele tinha visto brincando no jardim, correram em sua direção gritando: “Mamãe! Mamãe!” antes de se lançarem em um imenso abraço a Arok.
O menino de cabelos castanhos também parecia preocupado ao vê-lo chorar:
—Você está se sentindo mal, mamãe? Papai disse coisas feias para você? Vou dar uma bronca nele por ser rude!
Ele balançou a cabeça, mas a verdade é que ainda estava confuso.
—A mamãe já estava chorando quando eu cheguei. Por que sempre tenho que ser eu o culpado de tudo?
—Porque mamãe diz que papai é um demônio!
—Nio!
A menina repetiu.
Nesse momento Klopp os repreendeu e disse: — Vão pegar seus brinquedos! — ambos fizeram um som semelhante a um “Aaaaagh!” e saíram correndo em direção à fonte. Não, para ser mais preciso, o menino correu, carregando um bebê loiro que não parava de chupar as mãos o tempo todo. Arok gritou sem perceber:
—Cuidado, Lennok! Não vá deixar a Uri cair!
—Sim, mamãe!
Lennok.
Ah, claro. O nome daquela criança era Lennok. O primeiro filho dele e de Klopp. E Uri, a pequena bebê loira, era a primeira menina e também a primeira ômega.
Arok sorriu ao sentir que agora podia diferenciar os sonhos da realidade, mas o homem à sua frente ainda parecia terrivelmente ansioso. Até mesmo seus convidados pareciam assustados.
—Por que você estava chorando? Está tudo bem? Alguma coisa está te incomodando?
—… Me sinto um pouco mal. Estou enjoado, desculpe.
—Idiota, eu te disse para ter cuidado! Você está apenas nos primeiros meses de gravidez, não pode sair por aí plantando flores como se fosse uma fada!
—Você está certo. Eu sinto muito.
E então, inclinando-se para frente, ele enterrou o rosto no peito de Klopp e permitiu que seu marido acariciasse suas costas até que ele começasse a chorar novamente.
Klopp que estava morrendo de medo, olhou para cima, pediu a Wolflake para chamar Hugo e deu-lhe um breve beijo na testa enquanto dizia que possivelmente ele tinha sofrido uma insolação devido ao clima. No entanto, as lágrimas continuaram a fluir como uma cascata por suas bochechas, mesmo quando Rafiel se aproximou para tentar abaná-lo com a mão.
—Venha, querido, fique calmo. Vamos te dar um pouco de água, tudo bem? Não se preocupe.
Um braço forte envolveu sua cintura para levá-lo do sol radiante do jardim de rosas para a sombra proporcionada pelos cedros. Na verdade, a cada passo, podia-se ouvir o leve estalo do caminho de pedras que eles haviam colocado sob suas ordens, e também podiam-se ver as belas e enormes margaridas que ele plantara como presente para seus bebês.
Tudo estava ali.
E era real.
Arok riu enquanto se apoiava na pessoa que o envolvia contra o peito.
—Não se assuste, Klopp. Eu estou bem.
E ele falava a verdade.
Agora, a escuridão tinha ido embora e, em seu lugar, havia uma luz radiante.
{Fim do volume 3.}
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Continua…