No Jardim Das Rosas - Capítulo 21
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- Capítulo 21 - DESCOBRINDO FLORES SECRETAS NO AMANHECER
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Para ser sincero, ele não gostou que Arok saísse do quarto. No entanto, era impossível continuar esse “sequestro improvisado”, então Klopp decidiu que o levaria para sua mansão para que ele pudesse descansar adequadamente em sua própria cama. No entanto, Marta pareceu um pouco desapontada ao vê-los descer do segundo andar, com as roupas e o casaco, prontos para partir.
— Você já vai embora? Eu estava preparando a comida!
— … Da próxima vez que surgir uma oportunidade, prometo que irei comer.
Antes que Klopp pudesse dizer qualquer coisa, Arok falou com Marta e a cumprimentou com uma leve reverência. A mulher, emocionada com doce cumprimento, observou os dois com um largo sorriso no rosto. Acompanhou-os até a carruagem e disse:
— Por favor, nos visite novamente! Vou cozinhar meu prato especial de salmão só para você!
Ao vê-la acenando, Arok assentiu desajeitadamente.
— Ela não era… uma criada de Westport?
— Marta? Eu contratei Marta há bastante tempo. Antes disso, ela era uma dona de casa com uma família bem numerosa. Por que a pergunta?
— Nada, curiosidade apenas.
— Eu não tenho contato com os Westport, então não se preocupe com isso.
Klopp estava ligeiramente irritado com a menção constante de seu ex, então respondeu com um grunhido. Arok assentiu rapidamente, com um sorriso fino.
Ele havia planejado passar algum tempo sozinho com Arok, mas a carruagem parecia seguir rapidamente pela estrada, o que o chateou ainda mais. Após passar pelos subúrbios, passaram por várias áreas residenciais, pequenas casas, árvores e, finalmente, em um local ladeado por luxuosas mansões. Arok olhou pela janela por um instante, observando o cenário familiar, quando de repente comentou:
— Ninguém sabe.
— O quê?
— Que eu sou um ômega.
Klopp, que estava sentado em frente a ele, olhando pela janela, finalmente o encarou:
— Nem mesmo o mordomo?
— Eu nunca disse a ele, então acho que ele provavelmente também não sabe.
Sentiu uma satisfação ímpar em ser o único a saber o segredo de Arok, algo que nem mesmo o mordomo sabia. Ele achou prudente não sorrir, mas estava tão feliz que tapou boca com a mão, pigarreando. Em seguida, cruzou as pernas e perguntou:
— Eu não entendo como não contou isso para ele. Ele é o seu amigo mais próximo, certo?
— Não faz muito tempo desde que mudei… Eu realmente não queria contar a ninguém nem deixá-lo saber.
— Espere… Não faz tanto tempo? Como assim?
Quando Klopp olhou para ele, com as sobrancelhas franzidas, Arok suspirou e sorriu, envergonhado. Ele demonstrava não saber como explicar algo tão complexo, então Klopp esperou em silêncio enquanto Arok escolhia as palavras certas. Quando a carruagem chegou à entrada da rua de Taywind e eles esperavam que o enorme portão de ferro se abrisse, a boca de Arok se abriu novamente.
— Eu era originalmente um alfa. Faz alguns meses desde que mudei para um ômega, por isso que… nem mesmo o mordomo sabe.
— Isso é possível? Um alfa se tornar ômega?
Por mais que Klopp estivesse feliz por ter agora um ômega e estivesse satisfeito por se sentir atraído por Arok, era inimaginável, não conseguia acreditar que aquele homem havia mudado de alfa para ômega. No entanto, a expressão séria de Arok confirmava o que ele acabara de falar, fazendo com que Klopp o encarasse incrédulo, como resposta.
— Eu já disse isso antes, mas é tudo por sua causa.
— Mas eu não fiz nada.
— Claro que fez. Meu corpo mudou depois de te conhecer… mesmo antes… você me fez assim.
Como se fosse um demônio que viesse à terra para atormentá-lo, as acusações voaram em sua direção através de olhares frios. Porém, naquele momento, a única coisa que ocupava a mente de Klopp era o fato de não saber o que ele realmente tinha feito para poder ouvir palavras tão deliciosas. Não importava se ele era originalmente um alfa e depois mudou, ou se ele era um ômega desde o início. Ouvir que Arok havia trocado magicamente o corpo dele por causa do homem foi divino.
Tudo isso por mim!
Klopp puxou o braço do conde para perto de seu corpo e o sentou em seu colo. O beijou, embora Arok demonstrasse raiva devido ao ato. Com uma mão segurou os dedos que pressionavam seu ombro e, com a outra, envolveu a nuca do outro para trazê-lo perto o suficiente e beijá-lo novamente.
Embora Arok tenha tentado evitar o toque a princípio, não recusou quando ele o beijou como se estivesse em busca de ar para sobreviver. Ele gostava de tocá-lo, de senti-lo. Klopp exalou um hálito quente entre os lábios e então deslizou os lábios como se quisesse acariciá-lo por todos os cantos de seu corpo. Passou por suas bochechas e queixo, e encostou-se nele várias vezes, como se tentasse pegar todo aquele calor que deslizava por baixo de suas roupas. Então ele finalmente se ajustou no colo do maior, cedendo a tentação. Passou os braços em volta do pescoço de Klopp, apertou sua testa, respirou fundo e plantou um beijo suave em sua boca. Klopp sussurrou enquanto encarava aqueles doces lábios como se fosse viciado em senti-los.
— Você não gosta de ter mudado por minha causa?
— …
Arok não disse nada. Ele parecia confuso. Se fosse o contrário e Klopp tivesse se tornado um ômega por causa dele, ele teria enlouquecido. Esse foi um grande evento, algo que mudou toda a vida de Arok, e ele não sabia como isso estaria abalando a autoestima do conde. Seria difícil aceitar a situação facilmente. Se fosse com ele, ia desejar que ninguém descobrisse. Guardaria esse segredo pelo resto da vida. É por isso que, nos últimos dois meses, ele me evitava e, em vez disso, se arriscava dentro dos confins da periferia para comprar remédios que pudessem controlar o estro. Ainda assim, Arok não se recusou a fazer sexo por três dias. Por mais despreparado e doloroso que tenha sido, ele me aceitou no final. Klopp o amava tanto que não podia se controlar. Mesmo quando a carruagem parou junto da varanda da mansão, ele não conseguiu deixá-lo ir. O abraçou e enterrou o rosto em seu peito.
— …Klopp…
— Estou tão feliz… só tenho a agradecer a Deus.
Além de seu odor corporal, uma incrível fragrância doce começou a encher todo o interior da carruagem. Eu não posso fazer isso agora… Mesmo que eu não goste da ideia… Ele já havia se tornado um ômega completo e Klopp havia verificado inúmeras vezes nos últimos três dias. Mas, ao mesmo tempo, ele não tinha intenção de deixá-lo ir assim. Ele levantou a cabeça, olhando fixamente para aqueles olhos azuis em seus braços, e o beijou carinhosamente mais uma vez. Mas dessa vez, Arok não recusou.
Se beijaram por bastante tempo até que, de repente, ouviram uma batida do lado de fora da janela. Assustado, Arok interrompeu o momento e olhou para fora. Estava escuro dentro da carruagem, então era difícil ver do lado de fora, mas ao perceber que eles estavam se beijando de cortinas abertas, ele escapou dos braços de Klopp. O homem tentou não perdê-lo, mas Arok foi sagaz e escapuliu rapidamente. Limpou os lábios com as costas da mão e desceu da carruagem sem pestanejar, deixando Klopp atônito pela tristeza de estar com os braços vazios.
O lacaio, que sorria educadamente, ficou surpreso quando o conde saiu da carruagem. A serva que estava ao lado do mordomo, imediatamente correu para dentro da casa.
— Bem-vindo, Conde.
— Está tudo bem?
— Sim, senhor.
Após responder a esta simples pergunta, Arok entrou na mansão sem sequer tirar o casaco. Klopp, como era de se esperar, estava atrás dele como se fosse um cachorrinho que perdeu o dono.
O lacaio lançou-lhe um olhar perplexo, mas não fez perguntas desnecessárias. Ele era um criado experiente que já servia há muitos anos família de seu senhor. Ao passar pela porta da frente e entrar no corredor, o mordomo se apressou, posicionando-se ao lado de seu mestre com passos pesados.
— Jovem mestre, que bom que voltou. Eu estava preocupado por não conseguir me comunicar com o senhor.
— Sinto muito, Hugo… algo inesperado aconteceu.
O mordomo, que aceitou educadamente a capa que estava lhe sendo entregue, olhou para Klopp e o cumprimentou educadamente. No entanto, Klopp imediatamente percebeu que aqueles olhos que estavam escondidos atrás do monóculo brilhavam como lâminas afiadas. Aquele senhor era como uma raposa velha, preparada para o ataque. Ele percebeu que o “inesperado” tinha a ver com Klopp e estava determinado a proteger seu amo com unhas e dentes.
Esse mordomo é muito duro e metódico. Mas ele vai ter que mudar sua postura comigo no futuro.
— A viagem foi agradável, senhor?
— Hum… eu tenho algum trabalho para fazer. Conversamos mais tarde. Estou cansado agora, quero descansar um pouco.
— Claro, senhor. Durma primeiro.
O mordomo seguiu Arok até o quarto. Klopp os seguiu como se fosse completamente natural.
Enquanto um ômega, que acabara de sair do cio, descansava, seu alfa sempre ficava ao seu lado para conferir se estava tudo bem. Claro, ele não iria engravidar agora porque havia tomado remédios, mas era um instinto difícil de resistir.
No entanto, à medida que Klopp os seguia, o mordomo o encarou. Abriu a porta para seu mestre, que quando estava prestes a entrar no cômodo, virou e disse:
— Até quando vai me seguir?
Klopp ficou surpreso com a pergunta simples, mas incisiva do conde.
— Isso é… normal, ora. É claro que vou te seguir.
— Eu já disse que ninguém sabe.
— O quê?
— Vá para casa. Entro em contato com você mais tarde.
— Mas que absurdo!
Apesar dos fortes protestos, Arok não cedeu. Com um sorriso quase inexpressivo, ele gesticulou para o mordomo. Compreendendo o recado, o servo chamou um par de lacaios que Klopp nunca tinha visto. Dois Alfas musculosos, com cerca de dois metros de altura, se aproximaram e ofereceram a Klopp uma escolta para fora com uma expressão bastante educada. Klopp se assustou e tentou agarrar o braço de Arok, mas o mordomo rapidamente o bloqueou, dizendo:
— Por favor, vá para casa. O conde precisa descansar.
— Não! Eu não quero… eu não quero ir! Arok!
Arok, que estava prestes a fechar a porta, voltou-se para Klopp:
— Eu não vou fugir nem nada, então volte para casa. Você está com serviço acumulado e atrasado.
— Eu não quero te deixar! E sobre o que conversamos? O que aconteceu com tudo isso o que dissemos? Deixe-me entrar! Eu… você…
Depois de tanto falar, Klopp percebeu que, se continuasse, poderia acabar falando demais. Além do mordomo ser como um pai para Arok, ele não queria revelar que o conde era um ômega na presença de outros lacaios. Era seu desejo de monopólio se manifestando e, ao mesmo tempo, uma manifestação de vigilância.
Quando Klopp se calou, Arok sorriu e entrou novamente no quarto, dessa vez seguido pelo mordomo, e a porta se fechou por completo. E o alfa, que acabara de se despedir de seu ômega, foi expulso da mansão sem a menor piedade.
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Já fazia uma semana.
As mãos de Klopp tremiam o tempo todo devido à pressão mental. Ele não conseguia olhar para os documentos e até segurar uma caneta decentemente era impossível em seu estado atual.
Ele foi à mansão várias vezes, sem se importar com seu orgulho. Mas toda vez que chegava à porta, o mordomo dizia apenas que Arok estava cansado, dormindo, e que precisava de um pouco de paz. Em particular, a atitude do mordomo era mais fria e feroz do que antes. Além disso, agora, ele sempre estava acompanhado daqueles enormes lacaios que deixavam claro que o mordomo não toleraria a livre movimentação de Klopp dentro da mansão, não importa quão boas fossem suas intenções.
— O Conde precisa descansar. Por favor, venha mais tarde.
— Que tipo de pessoa descansa por 6 dias seguidos!!?
— Nobres tendem a descansar muito. É por isso que o Sr. Bendyke não compreende.
— …
Ele sabia muito bem que o mordomo não gostava dele, mas agora estava mostrando abertamente sua antipatia. E agora ele fez isso enfatizando, particularmente, a baixa posição social de Klopp.
Ele queria revelar ao mordomo que Arok era seu ômega, mas sabia que isso poderia ferir o orgulho do conde. Além disso, a julgar pela atitude do mordomo, estava claro que ele não iria acreditar em nada do que dissesse… e mesmo que acreditasse, provavelmente o trataria da forma mais desagradável possível.
— Não há nada de diferente em como era nosso relacionamento antes!
Quando ele jogou a bolsa na mesa, com raiva, a secretária olhou para ele rapidamente, abaixou a cabeça e voltou a se concentrar nos documentos que preenchia em silêncio. Preferiu não vacilar com o súbito flash de loucura em seu chefe. Klopp, por outro lado, colocou a mão no parapeito da janela, irritado.
Estava preocupado com ele. Ele não achava que Arok faria algo perigoso novamente sem seu conhecimento e imaginou que, se fosse verdade que seu cérebro era tão grande quanto parecia, ele nem pensaria em ir a um lugar como aquele depois do que aconteceu com aqueles homens. Além disso, como havia desaparecido por dias, o mordomo com certeza não o deixaria vagar por aí sem escolta. Ainda sim, não podia evitar a sensação de ansiosidade, pois não conseguia parar de pensar nas palavras de Arok. Não posso deixar que ele compre essas coisas de novo.
Não tinha como saber como Arok teve conhecimento desse tipo de droga, algo que nem mesmo ele sabia existir. Mas ele sabia muito bem que o conde era alguém incrivelmente impulsivo e frenético. Além disso, ele estava tão desesperado pelo remédio que ignorou todos os riscos e se enfiou nos breus do subúrbio. Pela primeira vez, o pensamento de Arok estar em risco novamente o aterrorizou. Não apenas isso, mas o sentimento vindo da sensação de que seu ômega poderia se recusar a ter seus filhos lhe causava certo nível de ódio.
Ele se perguntou se a atitude do mordomo era realmente a resposta de Arok: uma maneira de dizer que ele o rejeitou.
— Eu realmente estou ficando louco…
Se Arok fosse um ômega comum, ele definitivamente não precisaria se preocupar com tópicos chatos, como posição social ou status. No entanto, seu “oponente” era um aristocrata popular de alto escalão conhecido por todos como um alfa dominante. E se até então nunca se sentira particularmente mal por não ter uma posição que se assemelhasse à do conde, agora era verdade que não parava de pensar em como seria bom se pudesse estar à altura dele. Talvez, se herdasse um título ou conseguisse fazer nome em um empreendimento verdadeiramente importante, não seria rejeitado tão facilmente. Se você não fosse um conde, eu não precisaria pensar sobre como colocar minhas mãos em um ômega tão desagradável!
— Sr. Bendyke. Em relação ao cargo de ‘assessor’ proposto pelo Ministro das Finanças outro dia, estou escrevendo uma resposta de rejeição. Gostaria que você revisasse as palavras que usei nesta parte. — a secretária se manifestou.
— Espere… é isso! Aqui, deixe-me ver isso.
— A carta que estou escrevendo ou a carta de candidatura para o cargo?
— Ambos.
A secretária lhe entregou as duas cartas.
O ministro das Finanças ofereceu-lhe recentemente o cargo de “assessor” em relação aos investimentos que eram geridos no “fundo do Estado”. Ele tentou recusar porque o conceito do trabalho era basicamente “servir” o país, sem grandes detalhes, além de um salário irrisório e uma grande responsabilidade. Ele não precisava disso, afinal, poderia ganhar bastante dinheiro apenas sendo advogado de nobres. Já esse cargo era simplesmente para conseguir uma posição honorária.
Mas não mais. Os planos mudaram. Qualquer coisa que o desse força para derrubar o conde, ele aceitaria de bom grado. Klopp, então, escreveu de próprio punho uma educada carta de aceitação para o cargo e ordenou à sua secretária que a enviasse com urgência.
Observou pela janela a secretária sair do escritório a toda velocidade.
— Bom, se você não tem status… pode compensar com poder, não é mesmo?
Ele estava absolutamente confiante. Decidiu que se esforçaria o máximo possível no fundo nacional e se tornaria um burocrata econômico que estava no coração das finanças do país. E após receber um título de honra, ele orgulhosamente faria de Arok Taywind seu consorte, tanto informal quanto oficialmente.
A raiva e impaciência de Klopp diminuíram significativamente enquanto ele observava seu plano tomar forma diante de seus olhos. Assim, decidiu se mover com firmeza para alcançá-lo.
O visconde de Derbyshire, que não havia se pronunciado muito desde que notou a atitude infinitamente estranha de Klopp, voltou a frequentar o escritório de Klopp depois de um longo tempo. Ao visitar a casa do visconde para o entregar um relatório regular, dessa vez Klopp foi enviado para a sala de estar, e não para o escritório. Vendo a xícara de chá à sua frente, Klopp suspirou e sentou-se no sofá, sentindo como se uma conversa interminável estivesse prestes a começar e, como esperado, o visconde começou a falar timidamente assim que o jovem mordomo lhes entregou uma bandeja cheia de bolinhos.
— Você sabe, um conhecido meu tem um sobrinho bastante bonito…
— Obrigado, mas está tudo bem.
— Mas você nem o viu.
— Eu não quero me casar com nenhum ômega.
O visconde de Derbyshire franziu a testa e colocou a xícara de volta na mesa.
— Não é hora de esquecer Westport?
— Eu já o esqueci. E como resultado de pensar seriamente sobre, percebi que não pareço me encaixar em uma família normal criada por um alfa e um ômega. Obrigado por sempre ter meu bem estar em mente, mas… não tenho intenção de me unir a ninguém no futuro.
— Tsk… isso é o seu coração partido falando.
— Não tem nada a ver com meu coração partido ou minha separação.
Ele sorriu calorosamente, mas o visconde de Derbyshire não pareceu acreditar em suas palavras. No fim, o visconde decidiu não comentar mais nada sobre o assunto e a conversa voltou a se focar em investimentos. Quando Klopp comentou estar interessado em se tornar um burocrata econômico, o visconde ouviu em silêncio e o incentivou, dizendo que o dinheiro era um bom amigo, mas um homem de verdade deve ter grandes ambições. E inesperadamente, por conhecer o atual Ministro das Finanças, o visconde decidiu escrever uma carta de recomendação para Klopp, expressando sua gratidão com o coração sincero.
— Se você subir na hierarquia e nos encontrarmos em uma festa, espero que não finja que não me conhece.
— Como isso seria possível?
— Ah, vou ser sincero… sempre que me encontro com você, sinto que seria ótimo se você fosse meu filho. Eu adoraria ter você, pelo menos, como genro. Por que minha esposa deu à luz dois alfas? A vida às vezes é injusta.
Derbyshire podia reclamar o quanto quisesse, mas cada um de seus dois filhos tinha uma reputação impecável na sociedade. Um como soldado do Exército de Salvação e outro como professor universitário. E embora ele disfarçasse suas palavras como “bajulação” lançada em seu caminho, Klopp sabia que essa também era sua maneira de se gabar. No entanto, isso também era uma extensão de seu trabalho, então Klopp ouviu pacientemente até que o chá esfriasse.
Klopp sempre acreditou firmemente que a perseverança era essencial para boas recompensas. E agora, impressionado com a paciência do rapaz ao escutá-lo por horas, o visconde de Derbyshire escreveu uma carta detalhada e a entregou naquela mesma tarde ao departamento financeiro.
Então, logo após conhecer o primeiro-ministro e ter uma conversa que poderia ser considerada “profunda”, Klopp assumiu um cargo significativo na empresa. Não apenas como voluntário, mas em um campo de investimento internacional/não doméstico: uma ótima oportunidade para quem, como ele, veio do campo e não teve o que aproveitar de imediato.
Pensando em como agradecer ao visconde o favor que lhe fizera, Klopp voltou ao escritório e começou a trabalhar em seu futuro. Ele estaria mais ocupado a partir de agora, então era melhor colocar as pequenas coisas em ordem, dividir o trabalho, ver o que ele podia e o que não podia fazer e passar tudo para outra pessoa. A secretária também trabalhava com ele até tarde da noite e, juntos, revisavam e arquivavam o máximo de folhas e arquivos que conseguiam.
Mas alguém começou a bater na porta.
Apesar do aborrecimento, saiu sozinho para ver quem era, Hugo, o mordomo do conde.
— Olá, Sr. Bendyke.
— Olá. Não posso atender no momento.
Apesar da resposta fria, o mordomo não mudou de expressão e perguntou:
— Posso entrar?
Klopp queria fechar a porta bem na cara do homem, como havia feito com ele antes. No entanto, ele só se afastou por medo de nunca mais ver Arok caso fizesse algo tão infantil.
O mordomo, então, olhou cuidadosamente ao redor do escritório e então traçou com desaprovação as prateleiras do armário no canto usando seus dedos. Ele tentou protestar que a poeira era inexistente, mas como Marta não aparecia por ali há muito tempo, as pontas das luvas brancas do mordomo logo ficaram marrons devido ao pó. O mordomo deu um tapinha nos dedos e virou-se para Klopp.
— … Eca. Tão sujo… E pensar que o jovem mestre veio a um lugar como este antes.
— Bem, ninguém morre por estar em contato com um pouco de poeira.
— Ele não vai morrer, mas fico preocupado que ele possa ficar doente por estar cercado por tanta sujeira.
— Então vá embora.
— Vou fingir que não ouvi isso.
Apesar do comando frio de Klopp, o mordomo não se importou e falou longamente sobre imundície, sujeira e como isso passava uma péssima impressão de sua pessoa. Klopp mal conteve a raiva que fazia seu sangue borbulhar, e finalmente disse:
— Por que diabos ele está aqui?
O mordomo respondeu, seco:
— Você não sabe servir uma xícara de chá aos seus convidados? Se bem que… não, de jeito nenhum. Eu não quero. Se eu beber aqui, além de um problema pulmonar, vou acabar pegando gastrite.
Ao dizer isso, ele tirou um lenço e cobriu o nariz e a boca.
— …
Este velho está aqui para arrumar briga, só pode.
Klopp cerrou os punhos, enfiando-os nos bolsos da calça. Arok não ficaria parado se soubesse que ele havia machucado o mordomo.
— Não desperdice seu tempo nem me faça perder o meu. Vamos, diga logo o que você quer.
— Como pode um homem da sua idade ser tão temperamental, violento e rude?
— … Você veio aqui só para me provocar?
Apesar da pergunta, o mordomo simplesmente ignorou e continuou com seu discurso.
— Não entendo porque chamam de tolo um homem que perde sua riqueza em incidentes violentos. A verdade é que seu status é insignificante, indigno até mesmo de ser intitulado dessa forma. Mas o meu senhor é um jovem com um futuro promissor… não posso aceitar que meu filho, que tem um status nobre e invejável, com dignidade, cultura, respeitado por todos… possa nutrir sentimentos por um alfa, e não por um ômega. Mas, pelo menos, isso acabou esclarecendo na mente desse velho mordomo o porquê da estranha intimidade entre vocês dois.
Klopp, que estava apenas pensando em como parar a fala do mordomo, ficou em branco quando as últimas palavras saíram.
— Espere. Você quer dizer…?
— Ele falou comigo ontem à noite… Meu pobre mestre… ele me explicou que o senhor Bendyke é quem, embaraçosamente, é nada além de meu genro.
As mãos do mordomo tremiam, como se ele estivesse realmente zangado. Seu olhar penetrante parecia queimar Klopp, mas ele não se importou. Se Arok disse isso ao mordomo, significava que agora ele sabia do relacionamento deles até certo ponto.
Ele tossiu, mal contendo uma risada incontrolável.
— Bom… hm… aconteceu.
— Certamente o senhor Bendyke atraiu esse homem ingênuo, puro e tão bem-comportado para fazer algo embaraçosamente estranho que o fez se sentir tão…
— Do que você está falando? Eu também não sabia de nada! Eu também sou vítima de não saber o segredo dele!
— E você ousa dizer que é uma vítima? Seu canalha miserável…
O mordomo levantou-se e voltou a tremer, mas Klopp nada disse a respeito. Em vez disso, ele apenas manteve a boca fechada enquanto desviava o olhar, evitando comentar algo inútil.
Hugo, que por muito tempo encarou Klopp como se fosse matá-lo apenas com os olhos, finalmente abriu a boca levemente dolorida e disse:
— Falei com os médicos assim que soube. Já confirmei por meio deles que o estado dele é irreversível.
— Eu estava prestes a fazer o mesmo. Obrigado por fazer isso em meu nome.
Após agradecer descaradamente, o mordomo cerrou os dentes e então ergueu a mão, arrumando o cabelo. Sua postura era muito parecida com a de Arok. Ele respirou fundo e depois voltou à sua expressão educada e inexpressiva. Klopp franziu as sobrancelhas. Ele é realmente igual ao seu mestre.
— Como alfa, o conde tem a obrigação de proteger a família e herdar a linhagem. Meu dever sempre foi ajudá-lo a conseguir isso. Mas…
— Mas…?
— Se você fosse um ômega, saberia, mas agora que o corpo dele mudou, ele vai ser ridicularizado não apenas pelo público, como pelos nobres em geral. Além disso, haverá um problema com o direito da sucessão de seu título familiar. Embora seja o único filho da família Taywind, ele tem diversos primos e tios ambiciosos que podem tentar usurpar isso, então julgamentos sujos podem ir e vir a qualquer momento. E é esse tipo de situação que preciso evitar. Só de pensar em algo tão detestável me deixa… desnorteado. Não quero que nada de ruim aconteça com ele.
Ele estava tão feliz por Arok ter se tornado seu ômega que não teve a chance de pensar nessas probabilidades. Ele estava envolto em um mundo cor-de-rosa que girava apenas em torno de seus ciúmes, ideias de casamento, gravidez e fazê-lo dar à luz seus bebês. No entanto, aos olhos do mordomo, a questão da sucessão familiar era algo sério. Além disso, como advogado, Klopp não podia negar que os problemas referentes à herança da linhagem eram graves. Então, encostou-se na mesa com os braços cruzados e esperou que o mordomo terminasse de falar.
— Por isso, receio que tudo isso precisa ser levado em consideração.
Eu sabia que, uma hora ou outra, isso iria acontecer.
— Eu não aprovo essa relação.
Klopp nunca quis que isso acontecesse. Mas, a essa altura, não importava o que o mordomo fizesse ou o quanto Arok fosse persuadido a recusá-lo, ele não tinha intenção de desistir. Quando ele se levantou e o encarou com uma atitude agressiva, o mordomo apenas bufou.
— Eu sei.
Hugo encarou Klopp com uma atitude resoluta que não demonstrava qualquer intimidação. Aqueles velhos olhos ainda brilhavam intensamente.
— Eu não quero que meu mestre, ainda tão jovem, viva uma vida com você em um lugar imundo como este. Também não tenho o menor dos desejos em divulgar a situação de meu mestre… então só me resta uma opção. Sinceramente, eu não gosto nada disso, mas se esse é o arranjo de Deus, então não tenho como evitar.
Klopp ainda estava ouvindo, franzindo a testa.
— Atualmente, você não se encaixa na família do conde Taywind em diversos aspectos e, infelizmente, tenho certeza de que não se encaixará no futuro. Mas se é isso que o jovem mestre deseja, não me resta escolha.
— Do que você está falando? O que o Arok disse?
— Venha para a mansão amanhã de manhã. Vou reservar meu tempo livre para você.
Era uma chamada de boas-vindas para ir à mansão, mas ele não conseguia entender por que o mordomo queria fazer isso. O mordomo estalou a língua ao ver que o cérebro de Klopp parecia não ser capaz de processar o que estava acontecendo.
— Eu já disse, quero o bem-estar do mestre. Sinceramente, achei que você não seria tão ruim, mas após ver esse muquifo, terei que reconsiderar se posso transformá-lo em um humano decente em pouco tempo. Me retiro por hoje. Boa noite.
Dito isso, o mordomo saiu do escritório sem olhar para trás. Até então, Klopp não entendia nada. Sentiu que uma declaração de guerra foi feita, mas não tinha ideia do que realmente aconteceria, mas tinha certeza que descobriria do que realmente se tratava ao ir até a mansão no dia seguinte. Mas a ansiedade que invadiu a mente de Klopp quando o assunto era o mordomo foi tão grande, que mesmo após a morte de Hugo, Klopp sentia arrepios na espinha sempre que pensava sobre o assunto.
°
°
Continua…
Tradução: MiMi
Revisão: Rize