No Jardim Das Rosas - Capítulo 18
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- Capítulo 18 - QUANDO O HOMEM PERFEITO FOGE
Arok estava calmo, como se o aviso de que ele “anularia o contrato se ele fizesse mais um espetáculo” tivesse sido efetivo.
Enquanto sua história de amor terminava e seus antigos clientes pareciam desaparecer, Klopp continuou a supervisionar e entregar previsões bastante precisa sobre as ações e dívidas do conde. Na verdade, ele estava tão imerso no trabalho como nunca. Quase como se ele nem soubesse que o tempo e as datas estavam passando ao seu redor desde o momento em que terminou com Rafiel.
O visconde de Derbyshire estava preocupado com ele e até trouxe diversas propostas novas de casamento que seriam de seu interesse, mas Klopp apenas olhou para o visconde com uma expressão solitária, como se não tivesse superado ainda o coração partido. Mesmo um nobre excêntrico como o visconde logo desistiu. Não imaginava que Klopp seria do tipo romântico.
A questão é que, à medida que Klopp trabalhara com intensidade, sua riqueza aumentou tão rapidamente quanto ele a havia perdido. Ele tinha certeza de que poderia comprar uma casa melhor antes mesmo do fim do ano. Marta, que o perseguia como uma “mãe raivosa”, também pareceu não ter escolha senão calar a boca e deixá-lo trabalhar. Ela se chateou ao saber da separação, mas logo se envolveu na decoração de sua nova casa e parou de se preocupar muito com assuntos que obviamente não estavam em suas mãos. A eficiência e economia da governanta também contribuíram para o acúmulo de bens de Klopp. Tudo indicava que, mais cedo ou mais tarde, ele conquistaria nada menos do que uma bela mansão.
No entanto, o conde, que não tinha noção de espaço pessoal, invadiu seu escritório como se fosse arrombar a porta e questionou Klopp como se ele tivesse cometido um erro gravíssimo:
— É verdade que você rompeu o noivado!!?
Como se não pudesse ouvir as reclamações do conde, Klopp apenas depositou mais um frasco de tinta de sua mesa e continuou a preencher o que parecia ser um documento importante. Arok encostou-se na mesa, sacudindo várias pastas com o impacto. Com medo de manchar algo importante, Klopp rapidamente fechou a tampa do tinteiro, lacrando o frasco. Arok perguntou novamente:
— Você terminou com ele!? É verdade que terminaram?
— Sim, rompemos o noivado. Mas por que se importa tanto?
Ele não gostou do fato de Arok vir e ficar bravo com algo que ele quis resolver discretamente. Gostou menos ainda por ver que quem estava mostrando tanto interesse nesse assunto era justamente Arok. Realmente friamente, como se quisesse encerrar o assunto que mal havia iniciado. Porém, Arok insistiu no tema, como se o mundo estivesse desabando. Seu rosto estava pálido e visivelmente cansado.
— Você ama o Rafael! Amou o suficiente para dedicar a ele uma vida inteira!
— …
Klopp estava surpreso. A pessoa ao qual Klopp tinha sentimentos desesperados, mas não conseguia compreender o porquê era Arok, e não Rafiel. Encarou o conde com uma expressão vazia, incapaz de dizer qualquer coisa.
Houve um silêncio constrangedor.
Arok, que percebeu que estava exageradamente agitado, se calou, envergonhado e saiu urgente da mesa, se afastando. Mesmo assim, seu rosto, agora pálido, não mudou. Não conseguiu emoldurar em seu rosto o sorriso de sempre. Em vez disso, encarou Klopp com olhos que pareciam ansiosos. Era como uma criança perdida, jogada em um lugar desconhecido. Klopp perguntou, em tom leve, com a impressão de que se o silêncio permanecesse, não haveria chance das coisas entre eles voltarem ao normal.
— Não lembro de o amar tanto assim. Quem te disse isso?
— Mas…!
Arok ficou sem palavras. Ele piscou algumas vezes, abriu e fechou a boca, então abaixou a cabeça. Seus ombros tremeram um pouco. Ele fechou e abriu os punhos, como se estivesse processando algo dentro de sua mente.
— Entendi.
Klopp não entendeu nada da atitude dele e, a verdade é que, ele também não quis saber. Se fosse o homem de antes, o de algumas semanas atrás, ele teria ficado com raiva e o enxotado com um pequeno insulto, mas agora ele se sentia… Conformado. Era como se todo o fogo dentro dele tivesse se transformado em um par de brasas depois que ele o liberou de maneira tão destrutiva.
Arok, deve ter notado que Klopp o observava, então, imediatamente, ergueu o olhar, que antes parecia cabisbaixo, e corrigiu sua postura: endireitou as costas, ergueu a cabeça, retificou os ombros e finalmente sorriu como sempre. Não havia nada de errado em fingir estar tudo bem, certo? No fim, Klopp acabou achando fofo vê-lo terminar o assunto assim, apesar do entusiasmo inicial.
Arok arrumou as mechas que desceram do cabelo com as próprias mãos e se pronunciou com uma voz calma:
— Peço desculpas pela grosseria repentina.
Mas Klopp apenas riu, pensando o quão ridícula era a situação. Ao se levantar de sua mesa, Arok se assustou e tentou sair do escritório tão rápido quanto havia entrado.
Porém, Klopp não pôde deixá-lo ir facilmente. Não, você tem que pagar o preço por invadir meu espaço e tocar em um assunto tão delicado como este.
Quando Arok estava para abrir a porta, Klopp, usando um de seus longos braços, empurrou-a e novamente a empurrou até que um “clique” foi ouvido. Mas, mesmo preso entre a porta e o homem, Arok continuou girando a maçaneta repetidamente sem olhar para trás. Klopp sussurrou com sarcasmo:
— Por que você está com tanta pressa? Vamos conversar…
— Você pode ir até a mansão para conversarmos depois.
— Eu quero conversar agora.
Sua nuca branca chamou sua atenção, talvez porque ele o respondeu com uma voz incrivelmente trêmula. Seu cabelo lindamente aparado parecia muito macio e suas orelhas pareciam mais do que lindas desse ângulo. Klopp agarrou Arok pela cintura, com a mão que não estava na porta, e gentilmente o virou para que pudesse olhá-lo de frente. Então, quando seu corpo estava sendo meio forçado a mudar de posição, Arok olhou para Klopp com uma expressão que claramente demonstrava que ele estava apavorado. E, no mesmo instante em que os olhos azuis se agitaram, um cheiro delicioso emanou de seu corpo, se espalhando pelo ambiente. Era um perfume único: uma mescla entre o orgulho de um alfa e a doçura de um ômega… era uma essência estimulante.
Na época, Klopp tentou muito, uma e outra vez, não fazer bagunça com a pessoa que ele secretamente desejava. Além disso, por mais que cobiçasse aquele homem anteriormente, o comportamento do nobre conde tinha sido tão estranho que era difícil de lidar. Desde o fato de ter convidado Rafiel repentinamente para participar dos eventos em sua mansão, dizendo ter algum contato com a família Westport, até o fato de ter realizado aquela performance de forma tão extravagante e nada razoável… Não fazia sentido. Além disso, ele sabia muito sobre o relacionamento de Klopp e lembrar que ele o encontrou chorando desoladamente na noite do pedido de casamento após a situação do anel… Talvez Arok teria desabafado seus ciúmes no corpo de outro ômega. Era compreensível que o conde havia pegado o anel de noivado de outra pessoa ali por uma questão de boas maneiras. Mas ser educado daquela forma antes, depois chorar, e agora criar essa situação desconfortável ao alfa que acabou de terminar o noivado? É estranho. Tudo isso… é estranho.
[N/ MiMi: e é por isso, crianças, que não devemos ficar remoendo os paranauês. O bicho fica misturando lé com cré e o resultado é isso aí…]
Arok olhou para Klopp, congelado, mas rapidamente se virou. Sua cabeça estava erguida e seus ombros retos. Mesmo assim, a mão que segurava a maçaneta não parava de tremer. Klopp, então, bufou e perguntou:
— Você se apaixonou por Rafiel?
[N/ MiMi: 🙄]
Confinado e em uma situação, no mínimo, peculiar, Arok o encarou, em choque. Começou a franzir as sobrancelhas, com uma expressão amarga. … Não?
— Não.
Como esperado, Arok respondeu friamente.
— Então, como você explica esse seu comportamento estranho a essa altura?
— O que há de errado com o meu comportamento?
Klopp apontou cada detalhe, mostrando certa irritação. Os olhares e movimentos de Arok demonstravam nervosismo. Buscou manter a voz o mais baixa possível para não demonstrar empolgação. No entanto, mesmo enquanto ele falava calmamente e com infinita paciência, a tez de Arok ficou cada vez mais pálida.
— E não é normal buscar saber se a notícia da separação de outra pessoa é verdade?
Respondendo sarcasticamente as estranhas acusações, Arok encarou Klopp com um olhar extraordinariamente penetrante. Porém, ao contrário do esperado, parecia que agora ele estava prestes a chorar, como quando ele o encontrou sob o cedro na outra noite.
— Reagir de forma fora do comum é tão ruim assim?
— Quero clientes com o máximo de bom senso possível.
— Não acho que as palavras ‘bom senso’ estavam no contrato, mas se você se sentiu tão desconfortável comigo, pode cancelá-lo.
Logo, a paciência que ele estava tentando mostrar para o conde se esgotou. Klopp rosnou, agarrando o braço do homem que continuava dando respostas sem sentido.
— O que você está escondendo de mim?
— Não estou escondendo nada! Qual é o seu problema?
Arok agarrou o pulso de Klopp e puxou seu braço, tentando se soltar do agarre.
— Acha correto um agente de investimentos tratar os clientes assim? Você está indo longe demais! — Arok, então, acrescentou com uma voz ligeiramente trêmula. — Você deveria recuar para manter ao menos um pouco da sua dignidade como alfa e aristocrata.
O desconforto era evidente. Klopp, que sentiu o desejo de se aproximar ainda mais, em vez de recuar silenciosamente, aproximou seu corpo, mostrando que ele faria o que queria, quando queria.
— O que… Não… — protestou com uma voz trêmula, quase inaudível.
Klopp riu e abaixou a cabeça, sussurrando no ouvido de Arok:
— Sabe, eu descobri isso recentemente… Mas, hoje em dia, existem muitos casais de alfas por aí, sabia? Como você é um aristocrata próspero, deve conhecer essa moda do mundo social, certo?
Arok o encarou, confuso. Com os olhos azuis bem abertos e os lábios trêmulos incapazes de fechar, ele estava tão preso na armadilha do alfa alto que começou a parecer um ômega ansioso, prestes a entrar em seu período de calor.
Após romper o noivado, Klopp sentiu que suas necessidades nunca eram supridas, não importa o que fizesse. Tanto que, ali estava ele, sendo estimulado por um alfa se comportando como um ômega. Achava Arok nojento, mas algo nele parecia mexer com seu âmago. O cheiro fresco e doce do homem era estranhamente familiar. A cintura magra, fina demais para um alfa, parecia se encaixar perfeitamente em seus braços.
Muito magro para ser um alfa…
Muito forte para ser um ômega…
Klopp o puxou, apertando-o ainda mais.
Quando a excitação de Klopp tocou a lateral do quadril do conde, Arok se surpreendeu, empurrando-o. No entanto, a ação foi tão fraca, que Klopp duvidou que ele estivesse sendo sincero.
Klopp abaixou a cabeça e, sem hesitar, enterrou o nariz no pescoço de Arok, que tanto o perturbou antes. Sua cabeça ficou tonta com o forte odor corporal. A excitação não dava sinais de que cessaria, não importa quantas vezes ele tentasse.
Ele moveu os lábios lentamente, fechou os olhos e mordeu de leve o longo pescoço. Seu adversário, que estava tentando fugir todo esse tempo, enrijeceu, tenso, e voltou a tremer. Aos poucos, Klopp moveu a mão, acariciando a parte inferior das costas de Arok, descendo em seguida. Pôde sentir seus quadris e nádegas macios apertando e contraindo sob o tecido fino de suas calças.
Enquanto sua grande mão descia a um nível inaceitável, Arok respirou fundo, contraindo os quadris, torcendo o corpo para tentar novamente se libertar… mas isso só fez com que o aperto de Klopp aumentasse. Klopp percebeu que Arok também parecia excitado pelo calor de seu corpo.
— O quê? Você não gosta?
Ao perguntar, rindo, para o conde, que parecia pálido, ele imediatamente corou. Ficou constrangido e, obviamente, um pouco zangado, mas não pareceu estar enojado. Mesmo o endurecer de seu corpo poderia ser interpretado como uma tensão devido à excitação.
Em sua cabeça, Klopp não gostava da ideia de abraçar o corpo de um alfa… porém, o de Arok, era divino. Com músculos marcados, mas macios, não sabia explicar, mas existia ali uma atração natural. Talvez porque a personalidade de Arok fazia com que um desejo de derrotá-lo possuísse mente e corpo de Klopp. Seja qual for o motivo, a conclusão era a mesma… Klopp sorriu e deslizou os lábios para trás das orelhas quentes. Arok ofegou, ansioso, até que prendeu a respiração e protestou:
— Você é quem nocauteou os outros alfas por serem sujos…
— Você não é como eles.
A respiração rasa e ofegante parou.
A mão que empurrava Klopp perdeu a força. O conde desviou o olhar e mordeu o lábio. Parecia ter desistido.
Confirmando que o outro não tinha intenção de fugir, Klopp removeu a mão da porta e envolveu a nuca branca. Após acariciar o pescoço rígido de Arok, ele estendeu a mão e mergulhou os dedos em seus cabelos.
— Espera…
— Hmm…
— Tem certeza que não amava Rafiel?
— Tenho.
Ele baixou a mão para a parte de trás do pescoço e inclinou a cabeça ligeiramente, esfregando testa contra testa. O ângulo mudou e os cílios de ambos se tocaram, fazendo cócegas um no outro. Momentos depois, a respiração da outra pessoa explodiu em seus ouvidos. Eu não pensei que fosse tão cego… Por que não percebi nada? Não, eu não percebi porque estava negando isso deliberadamente.
— Não acredita em mim mesmo com o que está acontecendo aqui?
— Não sei do que está falando…
— Heh… Você tem um gosto bem peculiar, sabia? Negar mesmo estando assim…
Enquanto Klopp falava com os lábios tocando em suas orelhas avermelhadas, Arok encolheu os ombros como se estivesse ansioso, até que respirou fundo antes de responder.
— Quer dizer que agora vamos seguir a moda? É isso?
— Você é engraçado… continue a falar sobre o que estava comentando há pouco, quero ouvir a sua voz.
— Essa não é a forma correta de tratar um cliente… Você…
Tentou demitir o corretor abusado, mas não conseguiu. Com um braço em volta de sua cintura, a outra mão de Klopp segurou firmemente sua nuca para impedi-lo de virar sua cabeça e, finalmente, engoliu seus lábios.
Quando o som de sua respiração finalmente diminuiu, um som úmido começou a emergir.
É como eu imaginei… não, é bem mais que isso.
Os lábios de Arok eram macios e carnudos. Ao primeiro toque, ele se distanciou levemente dos lábios que havia pressionado por um instante e, então, os sobrepôs novamente, se aproveitando do choque do outro e introduzindo sua língua. Forçou o beijo e, finalmente, acabou explorando a boca do conde. Ao contrário do que havia imaginado, conforme o beijo se aprofundava, Arok acabou mostrando ousadia ao começar a mover sua língua. Ele estendeu a mão desajeitada no braço de Klopp, se aproximando. Ele é sarcástico e direto, mas me faz sentir bem, e beija como ninguém.
Os braços de Klopp se apertaram enquanto segurava o corpo que cabia perfeitamente em seu peito. Curvou os joelhos e deslizou uma perna entre as dele. Enquanto esfregava seu pênis endurecido contra a coxa do homem, Arok, que tinha estado absorto em beijos até o momento, de repente respirou fundo e o empurrou com força. Por um instante, o medo tomou conta de seu rosto, que antes parecia absorto pelo beijo.
— Para!
— Por quê?
Klopp, que tateava seu corpo gracioso, ficou confuso quando de repente o beijo foi interrompido. Arok enxugou os lábios com as costas da mão, em pânico. Klopp se sentiu um pouco ofendido, mas ignorou e tentou abraçá-lo, mas Arok o empurrou novamente.
Quando o maior perdeu o equilíbrio pela repulsa repentina e deu um passo para trás, Arok aproveitou, escancarando a porta, e saiu correndo.
Klopp olhou em sua direção estupidamente, ele voltou a si ao som dos sapatos se afastando e o seguiu, mas já era tarde demais.
— Arok!
Arok, que saiu correndo do escritório, rapidamente entrou na carruagem que o aguardava e, antes que Klopp pudesse alcançá-lo, o veículo partiu, deixando para trás o ar frio e pesado da noite. Mas que absurdo… O calor de seus lábios ainda não o havia deixado.
— Merda… O que você está fazendo? Você está me deixando louco!
Klopp imediatamente correu atrás dele, mas percebeu que seria uma estupidez e desistiu da ideia.
Finalmente, voltou para o escritório, blasfemando. Bateu a porta do escritório e trancou-se lá dentro. Por fim, foi até sua escrivaninha e sentou-se, mas nem sequer reparou na papelada.
— Por que você fugiu de repente?
Relembrando o último olhar assustado de Arok, pareceu uma rejeição tardia ao desvio biológico que estavam cometendo. Era óbvio que se ele corresse para a mansão agora, não o deixariam entrar. Além disso, machucava seu orgulho porque nunca havia sido rejeitado assim por alguém, especialmente no meio de um beijo.
Fazia um tempo desde que ele cancelou o noivado, mas há anos que não tinha experiências sexuais com ninguém. Tentou voltar ao trabalho, mas seus pensamentos o impediram. Ele estava tão excitado que não teve escolha a não ser se masturbar sentindo o resíduo do sabor deixado por um bandido que apareceu de repente, gritou com ele, brincou com ele, deixou seu pênis ereto e desapareceu repentinamente.
Merda.
Talvez eu tenha ido mais longe do que devia.
Klopp, que estava sentado na cadeira em frente à sua mesa após a limpeza, olhou para o teto.
Agora que isso aconteceu, tenho que admitir o que sinto… seguir meus instintos e não desistir desta vez. E o que tiver que ser, será.
━━━━━━ ◦ ❖ ◦ ━━━━━━
Era um quarto escuro e frio.
A cama estava coberta por lençóis manchados, ásperos e duros. No entanto, por alguma estranha razão, isso não importava. Junto a cama dura, um homem com um perfume maravilhoso estava deitado de lado, ofegante. Como se fosse demais para ele, agarrou o lençol com as mãos ossudas e abraçou-se ao velho travesseiro. Fazia um leve barulho de vez em quando, como um suspiro. No entanto, apenas ouvir aquela voz fina e seca, mesmo que por um breve instante, o estimulava ainda mais.
Sua camisola estava enrolada para mostrar metade de seu peito. No entanto, o busto, que deveria ser completamente masculina, agora estava tão inchado e vermelho que o homem não pôde deixar de segurar os seios e esfregar os mamilos com a palma da mão. O gemido daquele homem ficou mais alto.
— Hmmm…!
Ele fechou os olhos e mordeu os lábios, com dor.
Contusões azuis eram visíveis nos ombros magros que se projetavam através de sua roupa e marcas de alguns dentes podiam ser vistas em seu pescoço. Era uma cena lamentável. Mas, em vez de acariciá-lo ou perguntar se estava tudo bem, a mão do maior levantou uma das pernas magras e então, o golpeou ainda mais fundo e com força. A cabeça do rapaz pendeu para trás e , de sua garganta, saiu um grito tão fraco que parecia que iria se romper a qualquer momento.
Eu o odiava demais.
Eu não conseguia lembrar o porquê….
Porque é um sonho. Isso definitivamente é um sonho.
O agarrou grosseiramente, apenas pelo prazer de lhe causar dor. A perna pendurada em seu ombro estava cheia de cicatrizes azuis e pretas que ele não suportava olhar e haviam velhas feridas que estavam tão amarelas provavelmente infeccionadas. Sentiu o desejo de estender a mão e esculpir outro arranhão vermelho ali. O outro pareceu notar isso e o observou com olhos temerosos.
Esses olhos azuis… Eu os conheço bem.
O cabelo loiro e crespo, o rosto manchado e os lábios esbranquiçados tingidos de sangue eram como uma fotografia que ele já havia revisto milhões de vezes. Ao vê-lo tremer de medo, riu cruelmente, sussurrando em seguida em um tom doce:
— Você sabe… Eu quero que você sofra tanto quanto eu sofri e possa ter uma morte tão miserável quanto a dele…
Os olhos azuis estremeceram. As pupilas, que se abriam como cavidades infinitas no mar, sugavam toda a umidade daqueles globos oculares. A medida que as córneas brilhantes eram drenadas, se tornaram turvas como as de um moribundo. A respiração tornou-se superficial e, por um momento, pensou que o diafragma do homem havia se rompido.
Eu não conseguia entender por que tinha que sofrer com as palavras cruéis lançadas por mim mesmo contra alguém que eu tanto odiava. Algo ali deu errado e, agora, estava fora de controle.
No entanto, a dor incompreensível em seu coração apenas alimentou o impulso sádico que tinha, o levando a maltratá-lo ainda mais.
Eu o assediava e ofendia mais e mais.
Ele foi derrotado sem uma única tentativa de resistência. Como se não devesse. Como se não merecesse.
Ele era completamente diferente daquele homem que um dia eu conheci.
O sexo atingiu seu clímax de maneira miserável. Ao invés de prazer, havia apenas escuridão, ódio e muita dor preenchendo cada parte de seu corpo. No final, ele o abraçou com toda a força que pôde colocar em seus braços e o cobriu com seu próprio corpo. E quando ele finalmente caiu sobre o homem frágil, com um suspiro pesado saindo de sua boca, aquele que havia sofrido todo tipo de violência durante todo o ato finalmente lançou um olhar desfocado e disse:
— Não… Machuque meu bebê…
Ao ouvir isso, nem ficou surpreso em ouvir que o alfa estava grávido. Ele mexeu um pouco o corpo e tocou a barriga exposta com a mão inteira. Seu estômago, que era fino o suficiente para que suas juntas se projetassem, estava anormalmente inchado, e podia-se ver que certamente havia algo ali embaixo que não parava de se contorcer.
Sorri.
— Ele está seguro.
Os olhos que haviam perdido a luz olharam para cima.
— Olhe para mim. Não se atreva a desmaiar agora. Olhe para mim! Você está feliz agora que tem meu filho? Não era o que você queria?
— …
— Me responde, Arok!
━━━━━━ ◦ ❖ ◦ ━━━━━━
Abriu os olhos, assustado, e, ao mesmo tempo, ergueu o corpo inteiro como se estivesse se engasgando com a própria saliva. Ele respirou fundo e tateou o lado da cama. Não era uma cama dura, nem um lençol áspero, e ele era o único naquele colchão. Ele olhou em volta e percebeu estar em um quarto, naquela casa nova para a qual havia se mudado recentemente.
— Mas que diabos… Esse tipo de sonho de novo…
Klopp esfregou o rosto com as duas mãos. Demorou um pouco para seu coração voltar ao normal. Os músculos de seu pescoço estavam tão rígidos que ele mal conseguia se mover.
Ele desceu, esfregando os ombros com as mãos. Olhou pela janela e observou o amanhecer profundo, antes do nascer do sol. Ele bebeu da água que havia deixado na mesa de cabeceira e, em seguida, voltou para a cama e sentou-se por um momento.
Por que continuo tendo esses sonhos malucos? Não aguento mais…
Dizem que, quando você dorme, pode ver seu subconsciente, mas ele não odiava Arok ou queria destruí-lo. Além disso, os sonhos eram aterrorizantes e brutais. Até o imaginara grávido. Refletindo melhor, a raiva por Arok e seu desejo pareciam crescer em conjunto até então. Mas os sonhos excediam em muito as explosões motivadas pelo desejo oculto de Klopp. Será que fiquei louco?
A parte mais dolorosa desses sonhos aterrorizantes eram as maldições que Klopp lançava contra Arok enquanto o espancava, enquanto o loiro protegia a barriga inchada com todo o coração. Essas cenas faziam seu próprio espírito congelar sempre que ele recordava.
Não que minha vida tenha sido fácil, mas isso não significa que tenha sido difícil o suficiente para sonhar com uma violência tão brutal. Também não havia razão para odiar tanto Arok, já que, salvo algumas dores de cabeça, o conde nunca lhe fizera nenhum mal. Às vezes ele me deixa louco, mas isso é algo um tanto trivial.
Além disso, ele é um alfa. Estou sonhando em engravidar um alfa! De jeito nenhum isso é possível.
Klopp decidiu que, assim que o sol nascesse, ele iria até a mansão, o encontraria e lhe contaria tudo o que sentia. Palavra por palavra.
Ele fez essa promessa a si mesmo e voltou para a cama… Mas a cama era desconfortável. Os lençóis eram duros. O travesseiro machucava seu pescoço, não importava a posição que ele deitasse. Então, pensou em Arok, o verdadeiro, e passou um longo tempo relembrando o quão maravilhoso ele beijava e quão fascinante era seu corpo quando se uniu ao dele. Seu desejo era tão intenso que começou a praguejar, enquanto recitava uma lei estadual que há muito não revisava para não ferir seu orgulho como homem e se masturbar novamente pensando em Arok. Era embaraçoso admitir que seu corpo reagia de maneira tão enérgica só de pensar no conde.
Não foi até depois de algum tempo que sua mente ficou nebulosa e Klopp conseguiu se deitar em uma posição confortável até adormecer profundamente. No entanto, ele tinha um compromisso com outro cliente logo cedo, então não teve escolha a não ser se dirigir até o cliente após uma hora de descanso. Ao retornar ao escritório e terminar a papelada, percebeu que já era fim de tarde e seus planos haviam ido por água abaixo.
Depois de pensar bem sobre o que fazer, Klopp vasculhou os arquivos relacionados a Taywind. Pegou papel e caneta e começou a fazer um diagrama: ultimamente, os gastos excessivos de Arok quase desapareceram. Ainda assim, quer o conde seguisse as normas ou não, a comissão que recebia do conde era escandalosamente alta, e visitas regulares estavam inclusas no pacote de serviços. Antes, Klopp evitaria ao máximo ir até a casa dele, mas hoje saiu de maneira livre e voluntária. Pegou os papéis, a mala, o casaco e saiu do escritório, indo de carruagem. Ao chegar, a porta foi aberta pelo mesmo mordomo que sempre o tratou com uma atitude condescendente.
— Arok está?
— O conde Taywind está ocupado no momento.
— Nós precisamos discutir algumas questões financeiras. Por favor, diga a ele para arrumar tempo para mim. É importante.
Ao ouvir suas palavras, o mordomo franziu ligeiramente a testa. Em seguida, fez uma reverência e se virou, sem dizer mais nada. Klopp o seguiu, sendo conduzido até o escritório. Ao entrar no cômodo, colocou os papéis sobre a mesa e voltou a refletir enquanto observava o Early Summer*, um quadro que fazia parte de uma das séries de pinturas que vira antes.
(*Early Summer = início do verão, ou fim da primavera)
Após o primeiro beijo, Klopp tentou ver Arok várias vezes. Porém, sempre que ele vinha, o conde não estava. Diziam ter saído de viagem. A princípio, ele pensou ser coincidência, mas depois percebeu que as viagens eram mais frequentes do que o aceitável. Em outras palavras, Arok claramente não queria vê-lo e não estava fazendo o menor esforço para explicar o porquê. Quando Klopp percebeu isso, a primeira coisa que lhe veio à mente foi “Talvez insistir nisso seja um erro” e ele lutou por um longo tempo antes de compreender que não era. No entanto, assim como não era fácil para ele admitir que estava apaixonado, ele podia entender completamente a relutância de Arok em amar outro alfa. E mais ainda, alguém como ele.
Mas compreender seus próprios sentimentos não tornou nada mais fácil.
A relação entre os dois já havia deixado de ser apenas a de patrão e empregado e era impossível retroceder e fingir que nada tinha acontecido por puro medo e evitá-lo assim não iria resolver nada. Os dois precisavam ter uma conversa clara sobre o que fariam a partir dali.
Depois de muito esperar, Arok apareceu quando já estava na 50ª página de um livro qualquer. Quando Klopp, que não tinha mais forças para se irritar, o viu entrar, o conde lançou-lhe um breve olhar e sentou-se em uma cadeirinha bem distante do sofá em que Klopp estava.
— Boa tarde.
— Eu disse estar ocupado. Por que você veio?
— Eu não vou comer você. Chegue mais perto.
— Eu posso ouvir perfeitamente você daqui. Além disso, quem está te evitando? Eu só gosto desta cadeira.
Arok era ridiculamente teimoso, mas isso não era uma novidade. Klopp fechou o livro, colocou-o sobre a mesa e se levantou. Se ele o evitasse pela direita, bastaria aproximar-se pela esquerda. Era muito simples. Mas, como esperado, Arok se assustou e rapidamente se mudou para outro local.
— … Você está me evitando.
— Não, eu só acabei de lembrar que preciso levar um livro comigo.
Arok franziu a testa e procurou em uma estante próxima.
Klopp riu discretamente quando viu que ele fingia agir com naturalidade, mas mantendo sua atenção completamente fixa nele.
Antes que Arok pudesse pegar qualquer livro, Klopp colocou uma mão nas costas do conde e colocou a outra em cima dos graciosos dedos que seguravam o livro.
— Hmm… <Lei de Educação Infantil>. Claro que você precisa. Imagine como será o herdeiro dessa família.
— Ah… Não é esse livro… Quer dizer, é o livro ao lado.
— <Método de Educação Pré-Natal da Nobreza>. Você está grávido?
Quando Klopp olhou para baixo, Arok franziu os lábios.
— Não! Digo… Uma prima muito distante está grávida! Fique longe, seu pervertido!
Quando Arok o atingiu no ombro para tentar afastá-lo, Klopp estava tão mal-humorado que agarrou a mão de Arok com força. Primeiro, ele congelou. Depois, agarrou seu pulso e o puxou, tentando afastá-lo. No entanto, Klopp usou sua altura, o que era uma grande vantagem para ele, para prendê-lo entre os livros e seu próprio corpo. Klopp percebeu que olhos safiras o evitavam o tempo inteiro. Os cílios dourados tremiam…
Naquele momento, o sonho da noite anterior lhe veio à mente. Mas Klopp não queria que seu subconsciente o lembrasse disso. Ele desejava que aquelas cenas terríveis permanecessem apenas como um sonho ruim para sempre. Ele não gostou quando tentou fazer contato visual com ele, mas Arok simplesmente o evitou. Não queria que ele tivesse medo. Ele não queria forçá-lo ou ameaçá-lo. Nada disso. Ele queria se unir com alguém por livre arbítrio, e não alguém acuado por sua força como Alfa.
Tê-lo privado de sua liberdade, confinado e maltratado não o faria feliz… Não, esse desejo era exclusivamente do homem em seus sonhos, e não dele. Além disso, toda a pequena alegria que tinha em provocar Arok quando ele franzia a testa e mordia os lábios havia desaparecido. Ele não queria mais ser esse tipo de homem. Por isso, soltou o conde e deu alguns passos para trás.
— Perdão.
— Você é um selvagem, sabia?
— Eu admito. Me desculpe por isso.
Ele nunca havia sido tão simpático antes, então, quando aceitou suas palavras de bom grado e se desculpou, Arok olhou para Klopp com um pouco de surpresa. Então, olhando em seus olhos azuis cheios de descrença, pensou em fazer o possível para sorrir sinceramente e mostrar que suas intenções eram as mais puras do mundo. Mas a descrença na expressão da outra pessoa só aumentou.
— Tenho minhas razões para evitá-lo.
— E pode me dizer quais são?
— … Acho que posso começar destacando que sua graduação com honras não o torna realmente inteligente.
— Bom, na faculdade não me ensinaram o que fazer ao amar alguém.
Quando a palavra ‘amar’’ saiu, Arok arregalou os olhos novamente em espanto. Eu não sabia que ele podia fazer essa cara, com beicinho, surpreso. Para Klopp, o homem acabou mostrando uma expressão tão rica e fofa, que o tornou terrivelmente atraente. Sim, ele era lindo quando estava sendo honesto.
— Amar? Calma… Há quanto tempo você terminou com Rafiel? Além disso, não sei se seus olhos não estão funcionando muito bem, mas olha! Eu sou um alfa!
— Meus olhos estão bem. Eu sei que você é um alfa.
— Por que você disse isso, então?
Na verdade, Klopp também não sabia explicar.
Até aquele momento, ele nunca havia sentido desejo por um alfa, e a prova disso é que as pessoas com quem ele namorou sempre foram ômegas. Ele não se importava se eles eram altos ou baixos, bonitos ou feios, homens ou mulheres. Portanto, era o próprio Klopp quem tinha vergonha de sentir um impulso sexual por alguém que estava fora de seu gosto. Mas eu precisava dele. O desejo de rolar nu junto de Arok se tornava cada vez mais insuportável, e, sinceramente, todo esse fogo não parecia ajudar muito nessa situação.
— Mas, embora meus olhos estejam bem, meu olfato tem me enganado todos os dias. Talvez seja algo com o meu cérebro. Estranhamente… eu reconheço você como meu ômega.
Era algo que ele achava que precisava dizer, mas Arok simplesmente congelou completamente ao ouvir isso. Era como se tivesse visto um fantasma. Ele cambaleou um pouco para trás e se segurou na estante como se suas pernas tivessem perdido toda a força.
— Arok?
Mas quando ele o chamou, com as sobrancelhas franzidas, Arok fez uma careta como se estivesse prestes a chorar e, com uma voz um tanto trêmula e disse:
— … Eu não posso fazer isso de novo… Ah, eu… eu não sou tão forte assim. Eu não quero passar por tudo isso de novo…
— Ei…
No final, embora Klopp não pudesse entender exatamente que coisas terríveis ele não queria que acontecesse de novo, a condição de Arok parecia tão ruim que ele se sentou no chão tentando respirar, como se estivesse tendo um ataque de pânico. Klopp se agachou e passou os braços ao redor de seu corpo, acariciando lentamente suas costas, tentando envolvê-lo. No entanto, Arok ficou com medo e fugiu dele, se acuando em um canto. A recusa intensa pareceu como se facas perfurassem suas entranhas. Ver Arok com tanto medo tornou tudo estranhamente doloroso e ele foi compelido a ir embora em vez recorrer à violência.
— … O plano de investimento deste mês e os documentos relacionados estão na mesa. Veja, assine as folhas individualmente e traga para mim no escritório.
— …
Arok continuou a desviar o olhar. O ar do escritório, que estava bom até um momento atrás, pareceu começar a corroer seus pulmões, de modo que a cada inspiração era como se o oxigênio estivesse misturado com puro veneno. Era sufocante. Klopp saiu daquele inferno o mais rápido que pôde, cambaleando um pouco devido a cabeça latejando e a visão estonteante.
Passando pelos criados, que o olhavam de maneira estranha, saiu correndo pela porta da frente da mansão. Assim que conseguiu respirar ar fresco, afrouxou a gravata e respirou pesadamente. Seu corpo ficou tenso e ele começou a se sentir muito, muito mal do estômago. Klopp caminhou apressadamente até uma árvore e, embora não tivesse comido nada, imediatamente começou a vomitar algo que era de uma consistência negra incrivelmente espessa. Sua boca estava molhada, então pegou um lenço e se limpou antes de voltar para a porta da frente. Um dos lacaios, que o viu correr agora há pouco, preparou a carroça para levá-lo para casa.
— Obrigado.
— …Senhor Bendyke? Você tem sangue na boca.
O lacaio, surpreso, esqueceu sua grosseria e apontou o dedo na direção de sua boca. Só então Klopp olhou para o lenço: o pano, que antes deveria ser branco, agora estava coberto de muito sangue. Ele não pôde conter seu espanto, mas naturalmente dobrou o lenço na direção oposta e enxugou os lábios casualmente.
— Parece que bati minha boca quando caí. Estou bem, obrigado.
Estava prestes a entrar, quando levantou a cabeça e olhou para a janela que estava mais iluminada. Alí estava Arok, olhando pela janela em lágrimas. A rejeição anterior havia desaparecido e o conde apenas o observou com os olhos cheios de dor e tristeza.
Isso vai levar um bom tempo…
Klopp agarrou o lenço ensanguentado com força e subiu na carruagem, que saiu rapidamente da mansão.
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Foi a primeira vez que tossiu sangue dessa forma. E mesmo sendo um aristocrata, na verdade sabia que não poderia esperar apoio deles, pois desde o momento que veio para a cidade estudar, seu maior trunfo era um corpo saudável e poderoso e por isso sempre trabalhava em uma velocidade razoável. Mas de repente ele estava doente. Seu olfato estava estranho e seu cérebro parecia tão alterado que ele ainda tinha dificuldade em se concentrar no serviço. Ele realmente achava que deveria consultar um médico o mais rápido possível, mas o diagnóstico que lhe deu não fazia sentido: não tinha nenhuma doença em particular e, segundo o doutor suspeitava, que ele estava sendo afetado por pressões psicológicas que causavam sangramento em seu estômago. O tratamento indicado foi reduzir a carga de trabalho e descansar um pouco. Ele disse que seria ainda melhor se Klopp saísse de férias.
Mas o diagnóstico está errado. Não foi porque trabalhei muito ou porque não consegui descansar… nem foi pressão psicológica ou excesso de trabalho. A culpa é de Arok Taywind.
Ele nem sabia que havia se apaixonado tanto por Arok ao ponto de chegar nesse estado. Afinal, quanto tempo se passou desde que ele terminou seu casamento até vomitar sangue e sentir tanta saudade? Honestamente, ele estava desapontado consigo mesmo por ter uma mente tão superficial. Ele deveria ter percebido o que sentia desde o momento em que começou a ter aqueles sonhos todas as noites ou no momento em que se viu revirando por conta de cada ação e palavra de Arok. E ele sabia que se o homem o rejeitasse novamente daquela forma, vomitaria tanto que morreria aos seus pés… então Klopp tentou ser o mais cauteloso possível.
Mas tudo ia de mal a pior.
Arok parecia bastante zangado, então Klopp realmente não sabia o que o conde havia entendido errado quando ele foi tão honesto com seus sentimentos. Tanto foi que, na verdade, agora, parecia que a única vez que ele se sentiu realmente bem na presença de Arok foi quando eles se beijaram. Se não fosse por aquele beijo, Klopp teria o largado de mão agora mesmo.
Mas o estopim da situação foi quando Klopp foi até a mansão para discutir assuntos financeiros e descobriu que Arok basicamente o proibiu de entrar e negou-lhe qualquer contato, a menos que fosse para o trabalho. O único que cumprimentou Klopp foi o mordomo.
Entre os documentos que lhe entregava diariamente, ele escrevia notas que diziam: “Nunca mais vamos nos ver?” Ou “Podemos pelo menos conversar por um segundo?” mas não houve uma única resposta.
Ele então pensou que talvez isso fosse devido ao coração partido sobre o qual eles conversaram anteriormente.
O último parceiro de Arok provavelmente o machucou de forma tão intensa que, agora, ele deve ter medo de arriscar novamente… Vou queimá-lo vivo assim que descobrir quem foi! ( N/Rize adoraria ver isso.)
Provavelmente foi um ômega, mas ele não conseguia adivinhar o nome.
Teria sido a mulher de vestido verde? Ou quem sabe foi algum homem?
Klopp, sem saber, cutucou com a pena o documento que estava preenchendo e, quando finalmente percebeu, estalou a língua. Ele não queria incomodar ou provocar Arok, mas acabava muitas vezes usando seus negócios como desculpa para ir até a mansão e ter pelo menos uma pequena chance de estar com ele. Sentia que, se não o encontrasse, iria morrer de tanta hemorragia.
Na carruagem, Klopp culpou Arok por suas lamúrias. Ele se sentia um cachorro privado da comida que tanto amava, mas se negava a estar louco para se deitar com o conde.
Bem, isso é obviamente uma mentira… Ok. Eu admito. Vou enlouquecer se não tocá-lo. Eu quero abraçá-lo até que as doces lágrimas que tanto anseio escorram de seus olhos, enquanto eu as consumo como a mais deliciosa das sobremesas.
Ele estava apaixonado e louco. Afinal, era um alfa, e sentia que não poderia ficar mais um segundo sem fazer amor com ele. No entanto, não importa o quanto ele sonhasse acordado em sua cabeça ou quantas palavras doces, bonitas ou gentis ele quisesse dizer a ele, Arok nunca apareceu.
Em um ato impulsivo, Klopp imaginou que o conde estaria dentro da casa. Ludibriou os servos e buscou pela mansão, mas não conseguia sentir sua presença em nenhum dos cômodos. Vasculhou toda a mansão, ignorando os criados que fizeram o possível para bloquear seus avanços, chegando até naqueles cômodos que, com certeza, muitos dos funcionários nem sabiam existir… Mas ele não estava ali.
— Onde está aquele desgraçado? — perguntou ao mordomo, descarregando em sua voz uma raiva mortal.
O mordomo pareceu um pouco surpreso com a rudeza do homem, mas respondeu como sempre:
— O Conde saiu em uma viagem.
— Viagem?
— Sim. O conde às vezes vai para a vila de origem de sua família por uma semana ou mais.
— Onde?
— Não sei dizer.
Klopp agarrou o mordomo pelo colarinho e o sacudiu, mas o mordomo o afastou dizendo que realmente não sabia. Mesmo que fosse questionado, ele parecia realmente não saber nada sobre. No entanto, Klopp não se esqueceu de avisá-lo sobre o que aconteceria com ele se ele percebesse que estavam escondendo o conde, mostrando a todos os presentes aquela imagem que explicava perfeitamente por que algumas pessoas o chamavam de “o demônio dos alfas”. O mordomo o respondeu com um olhar frio:
— O conde não vai voltar por um tempo. Por favor, evite entrar na mansão de agora em diante.
— Estarei aqui amanhã… voltarei dia após dia até ele voltar!
E não importa o que o mordomo dissesse, Klopp não se importou. O cocheiro, que acabara de contratar, abriu-lhe a porta. Ao subir na carruagem, olhou pela janela para o mordomo, que levantou a mão o saudando em zombaria. Mas uma coisa é certa: se eles soubessem onde o conde estava e o escondessem, dois corpos poderiam perecer ali hoje: um por agressão e outro por estupro.
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Continua…