No c* da Cobra - Capítulo 03
O diretor não era um bom homem. Se fosse, não a teria ignorado quando foi condenada ao ostracismo por ser uma das gêmeas amaldiçoadas, ou quando suas escassas refeições diárias foram roubadas, quando foi cercada e chutada sem motivo.
Ele fingiu que não viu mesmo quando sua irmã gêmea deu seu último suspiro, nem mesmo providenciou uma pequena sepultura… Uma pontada repentina de tristeza tomou conta do peito de Hilde.
Ela agarrou o pingente familiar sob o vestido, e só então conseguiu respirar novamente. Enquanto ela se recompunha, o diretor falou.
— Você em breve será maior de idade.
— … Sim.
Hilde conseguiu responder. Dali a uma semana, marcariam exatamente vinte anos desde que ela e sua irmã gêmea foram deixadas nos portões do orfanato, enroladas em um único cobertor.
Ao atingir a idade adulta, os órfãos tinham que sair, quisessem ou não. A maioria encontrava trabalho antes. Exceto Hilde.
Ofertas de emprego eram raras, e mesmo quando ela conseguia uma posição temporária, algum infortúnio sempre a levava à demissão. A situação de Hilde era terrível. Ela estava agonizando sobre se deveria implorar ao diretor para deixá-la ficar e fazer tarefas, pelo menos por um tempo. Estava prestes a perguntar quando o diretor disse:
— Uma boa oportunidade de emprego surgiu para você.
— O quê?
Os olhos de Hilde se arregalaram de surpresa. “
— Um trabalho para mim? Sério?
— Sim. Uma posição de empregada doméstica na estimada casa do Conde Berg.
Hilde cobriu a boca com as mãos, sobrepujada por esse incrível golpe de sorte.
— A camareira chefe viu você ajudando aqui e ficou bem impressionada.
— O-obrigada…
Hilde gaguejou, a gratidão a inundando. Seu futuro sombrio estava pesando muito em sua mente, e por um momento, lágrimas brotaram.
Ela ficou tão emocionada que não percebeu o olhar significativo trocado entre o diretor e a professora.
Uma única carroça puxada por cavalos viajava por uma estrada escura.
— Dessa vez, não vou cometer erros, — Hilde murmurou para si mesma.
Ela ficou inicialmente surpresa quando lhe disseram que tinha que ir embora imediatamente, mas a explicação sobre um grande banquete que estava por vir e a consequente escassez de funcionários fazia sentido. Além disso, não estava em posição de ser exigente.
— Vai ficar tudo bem…
Hilde brincou com o pingente gasto escondido sob a gola, um hábito que ela desenvolveu para acalmar suas ansiedades.
A carroça finalmente parou. Na escuridão, Hilde se assustou ao ver uma mulher segurando uma lanterna. Era a mesma mulher que ela havia encontrado no orfanato.
— Oh… olá!
Apesar da surpresa, Hilde curvou a cabeça em saudação. A resposta foi fria.
— Pare de enrolar e saia.
O tom gelado deixou Hilde tensa enquanto ela descia.
— E minha bagagem…?
— Nós vamos levar. Agora venha e se lave.
— Sim, Chefe das Empregadas.
Antes que ela pudesse terminar, mãos agarraram seus braços de ambos os lados. Hilde foi arrastada em direção ao balneário.
— O-o que você está fazendo?
— Cale a boca.
Eles arrancaram suas roupas e a encharcaram com água. Então, trocaram sorrisos silenciosos e cúmplices.
— Devo estar muito suja.
Ela provavelmente era uma visão, inapta para trabalhar em uma casa nobre. Especialmente após trabalhar na lavanderia o dia todo sem chance de tomar banho.
Hilde permaneceu em silêncio, suportando o tratamento rude. A esfregação era tão dura que sua pele queimava, mas ela cerrou os dentes e suportou.
A esfregação diminuiu um pouco quando eles finalmente começaram a ensaboá-la. Conforme a sujeira e a fuligem eram lavadas, sua pele clara e lisa emergia.
— Agora você está apresentável.
Quando Hilde saiu do banho, a chefe das empregadas a avaliou com um olhar crítico e então gesticulou.
— Prepare-a.
As empregadas derramaram óleos perfumados sobre Hilde. Ela estremeceu com o toque frio contra sua pele.
Continua….
Tradução Elisa Erzet