No c* da Cobra - Capítulo 02
Nos arredores da capital real de Crozeta, onde pobreza e impotência convergiam, havia uma favela. Escondido em suas profundezas, tinha um orfanato, construído para abrigar o número esmagador de crianças abandonadas por toda a cidade.
Cada criança chegou com sua própria história, inicialmente grata por um teto sobre suas cabeças e pela promessa de comida. Elas sabiam por experiência que o mundo lá fora era muito mais cruel.
Mas o orfanato era um inferno por si só. O desespero para evitar ser expulso levou as crianças à violência. O diretor governava como um tirano, explorando os órfãos, que por sua vez pisoteavam mutualmente para sobreviver. E o golpe final sempre caía sobre o mais fraco, o alvo mais fácil.
Hilde era uma dessas. Hoje, uma montanha de roupa para lavar estava ao lado dela, o suficiente para duas ou três pessoas. No entanto, todos os outros tinham desaparecido da área.
— Aconteceu algo urgente, desculpe, —disseram. — Só dessa vez, por favor.
Acontecia com tanta frequência que Hilde não se importava. Ela simplesmente suspirou.
— Pelo menos a primavera chegou.
A água fria havia deixado sua pele naturalmente clara, avermelhada e inchada, mas comparada ao inverno rigoroso, isso parecia o paraíso. Nas profundezas do inverno, suas mãos rachadas frequentemente sangravam.
Hilde mergulhou as mãos de volta na água e esfregou silenciosamente. Era uma tarefa assustadora, uma que ela não tinha certeza se conseguiria terminar mesmo se trabalhasse o dia todo, mas escolheu não pensar muito nisso. Pensando positivamente — era assim que a gentil Hilde sobrevivia na selva que era o orfanato.
No final da tarde, Hilde finalmente terminou sua parte da roupa e empilhou cuidadosamente em uma cesta. Os outros já tinham pegado suas roupas lavadas anteriormente, felizmente deixando uma carga administrável para ela. Mas quando se levantou, uma dor aguda percorreu suas pernas de tanto ficar agachada.
— Aí…
Enquanto Hilde massageava suas pernas dormentes, esperando a dor diminuir, ela ouviu uma conversa.
— Você ouviu? O Exército Imperial…
Os ouvidos de Hilde se animaram. Outra voz silenciou rapidamente a primeira.
— Você não sabe que será punido por espalhar rumores não confirmados?
— Mas ouvi dizer que as fortalezas da fronteira já caíram…
— Bobagem. É só o inimigo tentando nos assustar de novo. Você não sab- . O que você está fazendo?
Eles notaram Hilde e a encararam ameaçadoramente. Antes que ela pudesse responder, eles pegaram suas roupas e saíram correndo.
— Espero que não haja nada de errado…
Talvez influenciada pelo que ela ouviu, os rostos ao redor dela pareciam sombrios. A atmosfera parecia ameaçadora.
Uma sensação de desconforto tomou conta de Hilde quando ela chegou ao orfanato.
— Hilde! Por que você está tão atrasada?
Uma professora a esperava no portão da frente.
— O diretor quer ver você.
— Eu?
— Sim. Depressa.
Lentidão significava uma surra. Hilde depositou rapidamente o cesto de roupa suja, limpou as mãos no avental e a seguiu. Quando ela entrou no corredor que levava ao escritório do diretor, alguém surgiu. Era uma mulher de aparência severa com o cabelo preso firmemente em um coque. Ela examinou Hilde com um olhar penetrante e então assentiu bruscamente.
— Você certamente parece melhor do que da última vez.
— Ele ficará satisfeito desta vez.
— Certifique-se de não se atrasar.
Uma troca enigmática de olhares ocorreu entre eles. Enquanto Hilde permanecia intrigada, a porta do escritório do diretor se abriu.
— O que você está esperando parada aí? Entre logo!
Um empurrão em suas costas quase a fez cair. Hilde se firmou.
O som de metal tilintando chegou a seus ouvidos quando o diretor trancou o cofre.
— Hum, diretor?
Hilde começou hesitante.
— O senhor me chamou…
O diretor se virou, com um chaveiro tilintando no bolso, e a cumprimentou com um sorriso surpreendentemente caloroso.
— Ah, sim. Hilde, você está aqui.
Hilde ficou surpresa. Este não era o diretor que ela conhecia. Tendo sido abandonada ao nascer e criada no orfanato, ela o conhecia melhor do que ninguém.
Continua….
Tradução Elisa Erzet