No c* da Cobra - Capítulo 00
Prólogo:
Tic-tac. O som fraco de um ponteiro de segundos ecoou na sala profundamente silenciosa.
O quarto em si era estranhamente peculiar. A única mobília uma cama sem pilares e um tapete felpudo ao redor. As cortinas, bem fechadas para bloquear qualquer luz do dia, mesmo ao meio-dia, aumentavam a natureza sombria. Mas a coisa mais estranha de todas eram as duas pessoas lá dentro — uma mulher submersa em um sono aparentemente interminável e um homem cuidando dela.
O homem, cujo rosto era tão perfeito como se esculpido por um deus, há muito havia perdido qualquer traço de expressão. Uma sombra escura jazia sobre suas feições impassíveis.
Benedict olhou para a mulher dormindo pacificamente — ou melhor, ele esperou por um momento que estava a apenas alguns minutos de acontecer.
Tic-tac. O relógio de bolso dourado que ele segurava na mão brilhava comumente sobrenatural no quarto escuro. Entre os ponteiros se movendo em velocidades diferentes, o ponteiro dos segundos, o mais diligente de todos, criava um tique-taque sinistro.
‘É irritante. Esse som regular. Está me deixando louco.’
Mas Benedict não estava bravo. Ele não podia estar. Se ficasse, seria mais fácil, mas sua mente surpreendentemente clara não permitiria.
‘Não posso enlouquecer. Não até que eu acabe com essa punição com minhas próprias mãos.’
Ele repetiu esse mantra infinitamente várias vezes.
Seus olhos profundos e mortos piscaram para o relógio. O ponteiro dos segundos estava passando pelo número 6.
— Hilde.
Benedict chamou o nome da mulher ainda ‘viva’ uma última vez, sua voz uma concha oca.
— Hilde.
Sua voz rachada estava desprovida de qualquer umidade, seca demais para sequer saborear a dor.
Tic-tac. Quando o ponteiro dos segundos passou do 10, Benedict silenciosamente colocou os dedos sob o nariz de Hilde.
E finalmente, no momento em que o ponteiro dos segundos bateu doze horas…
— Morreu de novo.
Sua voz era monótona e seca, como se perguntasse a alguém que tinha acabado de acordar se havia dormido bem, sem nenhuma emoção perceptível.
Benedict se levantou e beijou gentilmente a testa da mulher que não respirava mais. Sua pele, ainda quente, tornava difícil acreditar que ela realmente tinha partido.
‘Talvez ela esteja apenas dormindo, sob a influência do sonífero. Eu usei um muito potente…’
— Ha.
O trem frenético e delirante de pensamento se despedaçou em risadas autodepreciativas quando ele percebeu sua própria tolice.
— Ela não sentiu dor, pelo menos. Ela estava em um sono muito, muito profundo.
Ele colocou uma mecha de seu lindo cabelo prateado, que caía sobre sua bochecha, atrás de sua orelha, sussurrando em um tom ao mesmo tempo terno e ameaçador.
— Está tudo bem, Hilde.
A tampa do relógio de bolso, que estava tiquetaqueando diligentemente, fechou-se com um estalo. O clique agudo na sala silenciosa soou como a batida de uma tampa de caixão.
— Eu posso simplesmente voltar no tempo.
Não importa o custo.
***
De novo. Parecia que cacos de gelo glacial estavam sendo enfiados em seu crânio, esmagando e derramando seu cérebro. Benedict abriu os olhos, uma dor de cabeça latejante.
Ele estava em sua tenda. Podia ver o teto, tingido de cinza-azulado pela luz fraca do amanhecer.
— Ainda não amanheceu.
Benedict sentou-se em seu catre e pressionou os dedos contra as têmporas, apático. Mas, em vez de diminuir, a dor latejante se intensificou, rasgando seus nervos.
Era sempre assim. Toda vez que ele tinha esse sonho. Já se tornou familiar, se repetido inúmeras vezes, mas ele nunca conseguiu se acostumar com essa sensação horrível.
Ele brevemente se lembrou do pesadelo da noite passada. O sonho em si era simples, quase desprovido de conteúdo. Esperando pela morte de alguém cujo rosto ele não conseguia ver.
Foi tudo o que Benedict fez no sonho. Ele não sabia quem estava morrendo, por que estava, ou por que ele estava lá. Simplesmente repetiu o mesmo sonho várias e várias vezes.
— Tão irritante.
Continua…