Lavanda Lullaby - Capítulo 12
Lavender Lullaby
Capítulo 12: Uma boa pessoa
Quando Joseph abriu os olhos, ele estava deitado do seu lado esquerdo. A primeira coisa que ele viu foi sua mesinha de cabeceira e, por cima, todas as roupas que ele havia usado anteriormente na escola estavam precárias e dobradas.
Estou… em casa?
A casa estava escura, exceto pelo brilho laranja da lareira. Havia o cheiro de cenouras e batatas, então havia alguém cozinhando, também.
Quem?
Ele tomou conhecimento de seus cobertores, lençóis e travesseiros ao seu redor. Movendo um pouco a cabeça e empurrando suas capas para o lado, ele também viu que estava vestindo seu pijama. Em suas pernas nuas, ele notou, perto do calcanhar direito, uma feia ferida vermelha e roxa. Havia uma espécie de curativo sobre ele, a pomada molhando seus lençóis.
“Muito obrigado, Mabel. Diga ao pai que eu cuidarei de tudo”.
Aquela voz… Por que ele está aqui?
E quem é Mabel?
Era um nome feminino, com certeza.
Sua namorada? Ele me levou para casa, me colocou na cama e depois sua namorada ajudou a cuidar de mim?
Quando o jovem médico levantou a cabeça, ele foi dominado por outra onda de vertigens. Ele quase caiu da cama.
“Ei! Não se mexa”. O príncipe segurou Joseph, ajudando-o a sentar-se um pouco e encostar-se aos travesseiros. Ele estava usando apenas calças, e uma camisa desgrenhada com decote profundo, revelando seu peito e músculos abdominais.
Não havia sinal de nenhuma “Mabel”, então talvez ela já tivesse ido embora.
“Beba isto”. O príncipe ofereceu a Joseph uma tigela com uma bebida quente verde escura. Tinha um sabor incrivelmente amargo, semelhante ao chá de berinjela escarlate.
Mas o que quer que fosse, o médico logo notou que sua cabeça não estava tão embaçada e que a onda de náusea havia desaparecido. Ele esfregou seus olhos.
“O que aconteceu?”
“Você desmaiou na floresta, então eu o trouxe aqui e lhe dei ajuda”.
“E sobre… aquela criatura?”
O príncipe permaneceu em silêncio por alguns instantes, virando seu rosto para longe.
“Desapareceu”.
“Como?”
“Acabou de acordar e já está sendo idiota?”
“Que lesão é essa na minha perna?” disse o menino loiro, movendo o cobertor e expondo a ferida.
“Parece uma mordida e dói como uma mordida”.
O príncipe permaneceu em silêncio, evitando os olhos de Joseph.
“Foi aquela coisa que fez isto?”
Ainda não havia resposta.
“PELO AMOR DE DEUS, DIGA ALGUMA COISA!
“Ei, acalme-se!” O príncipe segurou os braços de Joseph, descansando suas mãos sobre seus ombros e olhando-o nos olhos novamente.
O médico voltou aos seus sentidos, lembrando que o outro era um herdeiro real.
“Peço desculpas… Vossa Alteza…”
O príncipe sentou-se na cama, perto de Joseph. Ele estendeu a mão e tocou seu rosto, passando lentamente os dedos sobre sua bochecha e encontrando seu queixo.
“Às vezes, Doutor… o simples fato de saber de algo já é suficiente para colocá-lo em perigo…”.
“O que você quer dizer com isso?”
“Quero dizer.. você deve descansar por enquanto”. Joseph sentiu os dedos do príncipe mover-se do queixo para tocar seu peito, caminhando lentamente pela área nua revelada por sua camisa de noite. Seus olhos estavam fixos em Joseph.
O jovem médico engoliu, uma excitação que percorria seu corpo com o toque áspero mas suave da mão do príncipe em sua pele. Ele sentiu seus mamilos ficarem rígidos quando a ponta dos dedos do príncipe percorreu por dentro de seu pijama. Seu rosto estava queimando e ele tinha dificuldade para encontrar as palavras certas.
Controle-se! Ele nem sequer gosta de homens… E mesmo que gostasse… você não precisa se meter no mesmo problema novamente, pelo amor de Deus!
Ele notou o príncipe olhando para seu peito, e quis se afogar no lago congelado próximo, porque sabia que seus mamilos duros eram muito aparentes contra o tecido. O médico cruzou seus braços sobre seu peito, baixando sua cabeça, e o príncipe se levantou e limpou sua garganta.
“Você já vivenciou algum evento hoje que o deixou triste?”
Muitos, inclusive você me deixando de pé no salão.
“Hmm… Um velho paciente meu está morrendo, e seus parentes nem se preocupam em ficar ao seu lado”.
Tariq continuou olhando para ele, particularmente no topo de sua cabeça.
É como se estivesse procurando piolhos no meu cabelo…
“Proíbo-o de tomar o caminho da encruzilhada para chegar a sua casa, Dr. Selden”.
“O QUE?!”
“Eu não posso ser mais claro. Você está proibido de seguir por esse caminho”.
Joseph franziu o sobrolho e seu queixo caiu em descrença.
“Esse é o caminho mais rápido de volta da cidade! Você realmente quer que eu dê a volta ao penhasco perto do rio? Vai me levar horas com toda essa neve”!
“Não quero saber”.
“O QUE HÁ DE ERRADO COM VOCÊ, SEU IMBECIL?!”
Os vidros das janelas tremeram um pouco quando Joseph gritou. Os olhos do príncipe se alargaram e ele ficou com a boca aberta, suas sobrancelhas levantaram tanto que apareceram rugas em sua testa.
Oh, meu Deus! O que foi que eu fiz?!
Joseph cobriu sua boca, tremendo, mas já era tarde demais. O médico manteve os olhos em seus cobertores; ele não ousou olhar para o príncipe.
Mas ele logo sentiu algo tentando arranhar o seu peito. A sensação de medo se tornou, ao encontrar um rio com outro, uma sensação de raiva inexplorada.
Ele levantou sua cabeça e olhou diretamente nos olhos do príncipe.
Eu já estou morto, então…
“Como você se atreve…? Como ousa meter o nariz nos meus assuntos e exigir que eu ande por aí como um burro? QUEM VOCÊ PENSA QUE É?”!
Joseph notou que o príncipe engoliu com força, e isso o encorajou. Estava funcionando.
“Você não tem ideia do que está acontecendo na minha vida neste momento… Um amigo meu está morrendo, sozinho. Tenho que juntar os malditos trocados para pagar meus estudos e contar com a pena das pessoas para conseguir comida! E VOCÊ, UM MALDITO SLOANE QUE TEM TUDO O QUE QUER NUMA BANDEJA DE PRATA, QUER TER UMA PALAVRA A DIZER EM ALGO TÃO PEQUENO QUANTO O CAMINHO QUE TOMO PARA A CIDADE?!”
A garganta de Joseph estava seca e ele percebeu que estava ofegante, mas ele continuou.
“VOCÊ NEM SE DEU AO TRABALHO DE RECONHECER MINHA EXISTÊNCIA QUANDO SAIU COM AQUELE IMBECIL PARA IR AOS DORMITÓRIOS! Você realmente acha que ele quer ser amigo de você?! ELES NUNCA, NUNCA, RESPEITARÃO VOCÊ, NÃO IMPORTA O QUANTO VOCÊ JOGUE A CARTA DO ‘PAPAI’! VOCÊ VIU COMO ELES SÃO, CARAMBA!”
Fazia anos que Joseph não tinha tido uma tal explosão. Ele ainda era uma criança.
Seu corpo inteiro tremia.
A verdade… do que tinha desencadeado sua dor não era tanto a desgraça do Sr. Brenner, ou seus desafios materiais… ou a ideia de ter que tomar a estrada principal porque o príncipe tinha medo daquela coisa na encruzilhada… Ao contrário, foi a humilhação de ter sido substituído por um idiota como Filip Svoboda… E depois de tudo o que ele tinha feito.
“Naquele dia, na taverna… Eu pensei… você era uma boa pessoa… Vossa Alteza…”
O príncipe encostou-se à escrivaninha de Joseph, com as mãos pesadas enquanto sustentava seu peso sobre a madeira.
Foi quando Joseph o viu fazer algo que não tinha feito uma vez desde que se conheceram.
Ele baixou sua cabeça. A luz naqueles olhos de falcão desvaneceu-se enquanto procuravam o chão; eles se tornaram os olhos opacos de um velho lobo solitário, procurando uma caverna para descansar seus ossos durante o inverno.
“Estou muito consciente, Dr. Selden, de que eles nunca me respeitarão. Eu tenho espelhos em casa. Eu sei o que sou”. Ele levantou o pulso esquerdo, esfregando-o com seus dedos indicador direito e médio, chamando a atenção para a cor de sua pele. “Na verdade, essa foi a primeira coisa que meu pai disse quando me adotou: nunca espere que ninguém o respeite de graça”.
Joseph engoliu, ainda franzindo o sobrolho.
“Naquele dia, na noite de Ano Novo… pedi para compartilhar uma mesa com três homens. Todos recusaram, apesar de eu estar sangrando”. O príncipe engoliu, colocando suas mãos de volta na mesa. “Então…foi muito surpreendente para mim quando me aceitou tão prontamente…”
Joseph levantou a cabeça, olhando de volta para o príncipe.
“Não posso deixar de pensar… se eles teriam me tratado de maneira diferente se eu parecesse mais com um local… Mas no final, você estava lá, então… pensei…. este sujeito deve ser uma pessoa muito boa, porque ele foi o primeiro que me respeitou… de graça”.
O médico mordeu o interior de seu lábio, seu peito cresceu pesado enquanto o príncipe continuava.
“Peço desculpas por ter sido indelicado antes. Só não queria dar-lhes outro motivo para implicar com você”.
Joseph abriu a boca, mas novamente, não saiu nenhum som. Ele apenas observou enquanto o príncipe se vestia, jogando o manto preto da faculdade sobre seus ombros, e caminhou até a porta. Ele pousou as chaves da casa e um punhado de táleres.
“Isto é para você pagar uma carruagem enquanto tem aquele pé horrível”. Suponho que você saiba melhor do que eu como cuidar de suas feridas, portanto, tenha uma boa noite”.
Ele disse isto sem olhar para Joseph, e desta mesma forma, ele fechou a porta atrás dele.
Joseph se levantou, mancando para a meia porta, mas só conseguiu ouvir um “Caw!” e os sons de um trote de cavalo. O príncipe havia tomado outro caminho, já fora de sua vista.
Ainda havia algo cozinhando no fogão. Quando o menino se aproximou, viu que eram batatas, cenouras e ovos em uma sopa. Os legumes eram cortados em pedaços grandes e irregulares, típicos de mãos não acostumadas a trabalhos manuais delicados.
Mãos pesadas e ásperas… que também podem ser tão tenras…
A casa ficou em silêncio, exceto pelo tique do relógio, que mostrava 21h42. Joseph sentou-se na cadeira perto de sua mesa. Seu diário descansava num canto, o lápis desejoso de registrar o que ele não podia compartilhar com mais ninguém.
Entretanto, tudo o que ele podia fazer era deixar seu rosto cair em suas mãos, suas lágrimas lavando o veneno de seu remorso.
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Créditos:
Raws: Summer
Tradução: Secretária Kim
Revisão: Lola