Lavanda Lullaby - Capítulo 08
Lavender Lullaby
Capítulo 8: O Filho da Serpente Dragão
Joseph e o príncipe olharam um para o outro por um longo momento. Então o médico levantou.
Bem… Parece que ele está bem curado. Muito bem.
Uma onda de alívio caiu sobre Joseph. Mas, ao mesmo tempo, ele não podia esquecer o quanto lhe doía o fato de o príncipe ter estado tão ansioso para sair de sua casa, apesar de ter dado o melhor de si para fazer com que ele se sentisse bem-vindo.
O reverendo coçou sua cabeça, levantando uma sobrancelha.
“Vocês se conhecem?”
“NÃO”, os dois rapazes responderam ao mesmo tempo.
“Muito bem. Deixe-me apresentar-lhes, então”.
Limpando sua garganta, o padre se colocou entre os meninos. Ele gesticulou para Joseph com sua mão direita.
“Sua Alteza, este é Joseph Lee Selden. Ele é um cavalheiro inglês que começou a estudar conosco neste outono, mas já demonstrou o desempenho mais notável em seu curso”.
O príncipe olhou do reverendo para Joseph, levantando silenciosamente uma sobrancelha.
Joseph fez uma careta.
Será que ele está brincando?
“Joseph, este é Tariq Ali Bashir von Scwarzenberg-Schlanger, segundo príncipe da casa Schwarzenberg-Schlanger. Seu pai, nosso bom senhor Balthazar von Schwarzenberg-Schlanger, nos instruiu para recebê-lo com o nosso melhor”.
O jovem doutor empalideceu, engolindo com força.
Ele pensava que o príncipe era o herdeiro de alguma dinastia estrangeira, dado o tom mais escuro de sua pele. Mas…não. Ele era de uma dinastia alemã, e não de uma dinastia pequena e distante. Os Schwarzenberg-Schlanger eram os governantes daquela terra, os donos da Boêmia.
Joseph ouvira histórias sobre eles de colegas de classe na cantina e da Sra. Nováková na taberna e… como a grande maioria da realeza alemã, não pareciam ser histórias a serem levadas de ânimo leve.
Sua crista de braço era uma serpente dragão. Era preciso ter um tronco de aço para adotar tal mascote bem debaixo do nariz do Sacro Império Romano Germânico e simplesmente sair impune.
Disseram que uma vez, o patriarca, Balthazar Schlanger, pegou alguns homens caçando em território real e decapitou a todos com um machado, colocando suas cabeças em estacas ao longo das muralhas do castelo e enviando suas línguas e partes íntimas preservadas em sal para que suas viúvas e filhos comessem para aquele dia.
*Bem… as pe-pessoas costumam exa-exagerar nessas his-histórias, certo?!*
O menino engoliu, e sentiu um frio que corria pela espinha.
*O Rev. Eckhardt disse que me escolheu por eu ser estrangeiro. Mas sabe de uma coisa? Acho que todos os outros estavam apenas cagando nas calças e o inglês perdedor aqui foi pego no fogo cruzado.*
O príncipe Tariq olhou para Joseph um pouco, antes de oferecer lentamente sua mão.
“É um prazer conhecê-lo”.
Os olhos de Joseph se alargaram. Ele se lembrou que suas roupas ainda estavam cobertas de manchas de lama.
“I-igualmente, Vo-vossa Alteza”.
Franzido e trêmulo, ele olhou fixamente para o chão enquanto pegava a mão do príncipe. Ele sentiu o calor percorrer pelo seu braço. Quando finalmente reuniu a coragem de levantar a cabeça, viu aqueles olhos âmbar colados ao seu, um sorriso de satisfação tomando conta do rosto do príncipe.
***
Joseph e o príncipe Tariq caminharam por um corredor de arcos ogivais em estilo villa que rodeava a fonte com estátuas dos quatro arcanjos chefes: Michael, Raphael, Gabriel e Uriel.
(N/T: Arco ogival é um elemento estrutural formado por duas partes de círculo iguais que se cortam no ponto equidistante do centro, formando um ângulo agudo. Fortemente representado pela arquitetura gótica, foi criado para substituir o arco de volta perfeita muito usado na arquitetura românica.)
Joseph podia ver literalmente cada olhar no príncipe enquanto eles passavam, desde os estudantes até os professores, e até os funcionários. Mas ele sentiu os olhos do príncipe sobre si mesmo.
Ele foi lembrado de quando o príncipe havia dito que era muito bonito, de volta à sua casa. Mas certamente não poderia ter sido um elogio, e definitivamente não um flerte.
Foi apenas uma maneira irônica de dizer que ele não era um médico de confiança. O que ele realmente quis dizer foi: “Você é bonito demais para ser um médico”. Portanto, você não pode ser levado a sério.
Ele notou que o príncipe Tariq sempre manteve a cabeça erguida e o olhar para frente, quando não estava ocupado olhando para Joseph. Ambas as mãos estavam cruzadas atrás de suas costas, e ele parecia mais interessado no próprio edifício, seu plano arquitetônico e seus adornos, do que nas pessoas. Suas costas eram retas, e ele corajosamente andava com passos firmes e lentos. Ele era como um inquilino, verificando tudo em sua propriedade para ter certeza de que estava sendo bem cuidado.
“Este edifício mistura estilos romântico, gótico e neoclássico. Não é feio, por si só, mas há muita coisa acontecendo visualmente. Você sabe quando ele foi construído?”
Eles ficaram em silêncio desde que deixaram o quarto do reverendo. Joseph ainda estava em pânico, tentando descobrir como diabos ele deveria se comportar ao redor de um filho dos Schlangers. O príncipe, por outro lado, não tirava os olhos de Joseph.
Devia ser eu a começar uma conversa, não o contrário…
“Acho que… eles terminaram de construir no final do século XIV… Mas continuaram renovando e expandindo certas áreas… É por isso que existem inconsistências de estilo”.
“Estou vendo”.
Eles chegaram ao Salão Comum, com suas escadas triplas que os levariam para suas salas de aula. Joseph parou, respirando fundo.
“Vossa Alteza, nossas aulas estão prestes a começar. Depois lhe mostrarei todo o resto”.
“É claro”.
“Eles… lhe deram seu horário?”
O príncipe ergueu as sobrancelhas e se enganchou nos bolsos internos do casaco, puxando um pedaço de papel.
“Aqui”.
Joseph pegou o papel com a sobrancelha levantada.
Sério? Será que ele nem se deu ao trabalho de lê-lo?
Depois de ler um pouco, o médico coçou sua cabeça.
“Oh… Parece que ambos estamos matriculados na primeira classe hoje. Retórica I”.
O príncipe se curvou em uma caricatura de reverência, movendo-se no corredor. Ele estava sorrindo, olhando para Joseph com os olhos pesados.
“Por favor, depois de você, Mestre”.
Os olhos do médico se alargaram e sua boca caiu aberta em choque, horrorizado com tal atitude zombeteira.
Ele não se parece nada com aquele garoto que disse que eu era um herói. Acho que a humildade é uma virtude difícil de sustentar, uma vez que você recupere sua saúde.
***
Eles foram os últimos a entrar na sala de aula. O primeiro rosto que Joseph viu foi o de Filip Svoboda. Ele colocou seu nojento queixo no ar, fazendo um gesto de garganta decepada para Joseph com seu polegar. O jovem médico franziu o sobrolho, ignorando-o e procurando um lugar na primeira fila. Mas Svoboda era o único que lhe prestava atenção.
Todos os outros rostos se voltaram para o príncipe. Joseph notou expressões ultrajantes de descrença, que rapidamente se voltaram para sussurros nos ouvidos um do outro. Ele sabia o porquê. O príncipe tinha um tom de pele mais escuro, uma vez que lembrava Joseph das pessoas do Oriente Médio.
Joseph notou algumas vozes particulares entre todo o barulho. Uma delas, arrastada e com o dedo em pé, pertencia a Honza Dvorák, filho do reitor do colégio e também magistrado do distrito. Ele tinha cabelos castanhos claros, quase loiros, e olhos cinzentos e azuis sem vida.
“Eles estão deixando os negros estudarem aqui agora?”
“SHIII! Ele é o filho do velho Schlanger”! O médico ouviu a voz de Filip Svoboda, rindo em desdém. Os dois eram amigos muito próximos. Diga-me com quem tu andas que lhe direi quem és, afinal de contas.
É claro que estes pedaços de lixo fariam uma grande confusão sobre um assunto tão insignificante.
Joseph encontrou dois assentos vazios, perto da plataforma. Ele tomou seu lugar, acompanhado pelo príncipe. Depois, esperaram a chegada do professor da Retórica.
O citado professor Schebek era um homem enorme, com a cara vermelha. Ele usava uma peruca sobre sua cabeça sem pescoço, e estava sempre suando, mesmo no inverno. Ele entrou na sala, estourando através da porta. Ele foi até sua mesa, abriu uma gaveta e tirou uma enorme raquete amassada. Joseph tremeu, escondendo as mãos debaixo dos braços.
“Tirem seus cadernos de anotações, suas pestes! É bom que vocês tenham feito tudo o que eu lhes designei”! Ele caminhou em direção aos alunos, acenando a raquete, e Joseph notou que estava começando da fila oposta.
“Este sujeito parece um donut vencido, você não acha?” perguntou-lhe o príncipe.
Os olhos de Joseph se arregalaram, e ele cobriu a boca do príncipe reflexivamente.
“P-pelo amor de Deus, p-por favor, abaixe sua voz!”
O jovem médico ouviu as vozes dos estudantes sussurrando atrás dele. Honza Dvořák e Filip Svoboda estavam olhando diretamente para ele, rindo. Olharam um para o outro e acenaram com a cabeça.
*Merda, eles ouviram…*
Joseph se afastou deles.
Então ele sentiu alguns chutes nas costas e encontrou botas sujas apoiadas em seus ombros.
“Ah, este tapete já parece tão desgastado…” Era a voz de Dvorák. “Devo mudar de posição?”
Ele continuou chutando Joseph violentamente. O menino permaneceu em silêncio, olhando para seu caderno, com o corpo sacudindo para frente e para trás.
O príncipe franziu o sobrolho, seus olhos se arregalaram quando ele se virou para trás, olhando diretamente para Dvorák.
“Posso ajudá-lo, Vossa Alteza?”
Logo depois, notaram o professor em pé à sua frente, a vara cruzou sobre seu peito.
“Mostre-me seu trabalho de casa, Selden”.
O rapaz fez, tentando esconder o fato de que suas mãos estavam tremendo. Sua caligrafia era elegante, embelezando um latim perfeito. As respostas eram longas, e diligentemente escritas.
Ainda assim, enquanto o professor verificava suas anotações, o rapaz estava suando.
“Por que você está tão nervoso? Você é como um gênio”.
O príncipe sorriu, olhando para Joseph. Ele quis dizer aquelas palavras de uma maneira lúdica e amigável. No entanto… o médico não pareceu dar por ele. Ele estava pálido, ofegante e trêmulo.
“Você está bem?”
O professor terminou de ler o caderno de Joseph, fechando-o e atirando-o ao rapaz, quase batendo no rosto dele.
“Está incompleto”.
O menino olhou para ele com olhos lacrimejantes, uma expressão dolorosa no rosto.
“P-P-Professor, p-por favor… Eu… fiz-fiz tudo o que você pediu, e muito mais!”
“VOCÊ ESTÁ FALANDO COMIGO, SUA PESTE? SE EU DIGO QUE ESTÁ INCOMPLETO, É PORQUE ESTÁ INCOMPLETO!”
O cuspe voou da boca do homem enquanto ele gritava, e Joseph tremia a cada palavra.
O príncipe, franziu o sobrolho, sua boca se abrindo.
O jovem médico teve dificuldade em encontrar as palavras para falar.
“Sinto muito, o que eu quero di-dizer f-foi…”.
“Temos algo a lhe dizer, Professor Schebek”, disse Dvorák, levantando sua mão.
“O que é isso?”
“Selden estava dizendo ao recém-chegado que você parecia um donut vencido, e que você cheira a porco”.
O rosto do homem ficou vermelho. Ele abriu sua boca, seu rosto contorcendo-se de raiva. Ele se estendeu, agarrando Joseph pelos braços.
“P-por favor, Professor! Eles estão mentindo! Eu juro!” Joseph fez o melhor para manter sua voz firme, pois recusou-se a deixar Dvorák, Svoboda, e os outros o vissem chorar.
Entretanto, aquela sensação fria e apertada já estava se espalhando por todo o seu corpo. Sua boca ficou seca.
O homem o arrastou para o meio da sala de aula e jogou o menino no chão.
Era inútil implorar por misericórdia naquele momento.
“TIRE SUAS LUVAS, SUA PRAGA MANHOSA! AGORA!”
Retendo suas lágrimas, Joseph levantou a cabeça e tirou suas luvas. Ele estava visivelmente tremendo. Ele removeu os curativos, revelando os hematomas e as feridas irritadas.
“ESTENDA SUAS MÃOS!”
Sentado de joelhos, Joseph as estendeu. Ele manteve o queixo erguido, olhando fixamente para o homem. Todos os outros meninos da classe estavam rindo alto.
O professor levantou a vara acima de sua cabeça, reunindo forças para bater nele com todas as suas forças.
Antes de fechar os olhos, respirou fundo e esperou a onda de dor que estava por vir, Joseph olhou para o príncipe, que estava em completa consternação.
Agora você sabe o que aconteceu, Vossa Alteza…
(N/T: Nossa fiquei tão triste com esse final que traduzi chorando)
Tradução: Secretária Kim
Revisão: Nana