Lavanda Lullaby - Capitulo 06
Lavender Lullaby
Capítulo 6: Despedida
BUMP! BUMP! BUMP!
Joseph estava dormindo profundamente quando notou a janela mais próxima do príncipe sendo atingida.
“Oh não!”
Ele foi para a cozinha, segurando uma faca. O príncipe estava imóvel, apesar do barulho. O médico se aproximou, sua adrenalina se elevou.
BUMP! BUMP! BUMP!
Quando ele se aproximou da janela, notou algum tipo de bola preta esfregando no vidro. Não havia sinal de ninguém.
CAW!
N/T: Em português o termo seria grasnar (que é o som emitido pelos pássaros), mas preferi deixar assim mesmo
Era um corvo. Um enorme e insistente. A criatura continuava se atirando contra a janela.
*A pobre criatura pode estar procurando abrigo do frio.*
“Muito bem! Vou deixar você entrar! Pare com este drama ou você também vai se machucar. Já tenho muita coisa no meu prato”! Joseph disse enquanto abria a janela.
O pássaro voou em círculo três vezes e pousou na cabeceira da cama do príncipe. Joseph notou que o olho esquerdo do corvo tinha desaparecido, restando apenas uma enorme cicatriz em seu lugar.
*É certamente um velho menino problemático! Não posso deixá-lo defecar na minha cama, apesar de…*
“Você não pode ficar aí! Xô! Xô!” O médico se aproximou, tentando assustar o pássaro com um pequeno travesseiro.
“CAW! CAW! QUACK! CAW!” O corvo voou até Joseph e bateu suas asas violentamente, tentando morder seu nariz.
“Ei! Nada de violência, bom garoto!” Joseph esquivou-se do corvo, protegendo seu rosto.
“Munin… pare…”
Os olhos de Joseph se alargaram. O príncipe falava durante o sono. E por qualquer razão, o corvo voltou para sua cabeceira e permaneceu quieto, olhando para ele. A boca do príncipe estava meio aberta e ele murmurou um pouco mais. O pássaro continuava olhando para ele, inclinando sua cabeça como se estivesse considerando as palavras do rapaz adormecido.
*Senhor… Ele estava falando… para o… PÁSSARO? Não… isso é impossível. Foi apenas uma coincidência.*
O médico balançou a cabeça. Ele colocou um pouco de milho seco em um pires rachado e um pouco de água em sua mesa, caso o pássaro estivesse com fome ou sede. Ele decidiu deixá-lo em paz já que agora estava tão quieto; ele estava com sono demais de qualquer maneira. Ele deitou em sua rede e logo a casa ficou em silêncio, exceto pelo som do crepitar da lenha no fogo.
***
Joseph abriu seus olhos quando o sol lhe beijou o rosto. Seu relógio dizia que era por volta das 8 horas. Olhando para a cama do príncipe, ele notou que o pássaro havia desaparecido. O prato com o milho também estava vazio.
“Eu disse para ele sair…” O príncipe estava sentado no meio da cama, tentando empurrar os cobertores para o lado. Suas feridas ainda estavam inflamadas, mas… ele parecia tão enérgico… “Há algo que eu quero lhe perguntar, Doutor…”
*Uou! Ele está se curando tão rápido! *
“Claro, Vossa Alteza”. Joseph foi ajudá-lo a afastar os cobertores quando sentiu um aperto no punho de sua camisa.
O príncipe moveu suas mãos para segurar os cotovelos de Joseph. Seus braços eram como pedra, recusando-se a soltar o médico.
Joseph engoliu e olhou para baixo. Ele ainda estava em sua camisola, com seus longos cabelos loiros para baixo, e estava completamente nu debaixo de sua camisa.
As mãos do príncipe foram dos cotovelos até a cintura, e ele apertou seu
dedos ao seu redor.
“Aah! S-Sua Alteza!” O rosto de Joseph queimou novamente e seus olhos quase caíram de sua cabeça.
“Sente-se aqui comigo, Dr. Selden”. O príncipe gentilmente o convidou a sentar-se, puxando para baixo a cintura do menino loiro.
O corpo do príncipe estava completamente exposto, exceto pelos curativos em seu ombro e cabeça. Seu corpo brilhava, se tornando dourado pela luz do sol. Seus lábios haviam recuperado a suavidade e a cor havia voltado quase completamente ao seu rosto. Seus mamilos estavam duros, as elevações eram inconfundíveis contra a luz matinal. Joseph evitou olhar para sua virilidade, ao invés disso, engoliu e virou seus olhos para o rosto do príncipe.
“Você alimentou aquele corvo?” perguntou o príncipe.
“Ah… sim”.
“Por quê?”
Joseph permaneceu em silêncio por um momento, depois encolheu os ombros.
“Bem… é inverno… É difícil para os animais. Então se eu posso ajudar… por que não?”
O médico olhou pela janela, o sol banhando a neve em pequenas gotas de pérola.
“Afinal de contas, somos todos criaturas de Deus”.
O príncipe sorriu, sua testa enrugando curiosamente.
“Você é sempre assim para todos?”
“Ãn….?”
O rapaz de cabelos escuros o olhava novamente. Seus olhos agora eram de ouro puro. Seus lábios estavam ligeiramente abertos e se coravam em um vermelho profundo.
Como um pouso de falcão para agarrar sua presa, a mão direita do príncipe tocou o rosto de Joseph bem debaixo de seu olho. Seu olhar percorreu o rosto do médico, desceu pelo peito e finalmente parou na virilha, que mal estava coberta por sua camisa. O jovem médico tremeu, deixando sua mandíbula cair em descrença.
*M-Meu D-Deus… Será que ele não percebe… que está tocando outro homem… nu?*
Joseph de repente lembrou-se que um monarca era normalmente vestido e banhado por seus servos, e até mesmo recebia os convidados em suas câmaras de banho. Eles estão acostumados a ficar nus na frente de outras pessoas.
*Ainda assim… Não tenho certeza se eles também são tão delicados…*
O príncipe continuava acariciando seu rosto, seus olhos ainda nas pernas nuas de Joseph. Joseph fechou os olhos, sentindo que sua cabeça poderia explodir de calor em suas bochechas. As mãos do príncipe eram pesadas, com uma textura áspera. O médico podia sentir os calos em seu dedo indicador e médio.
*Aulas de palavras… Todos os meninos nobres têm…*
Seu polegar se movia em pequenos círculos na bochecha, fazendo Joseph tremer.
*Como poderiam mãos tão masculinas ser tão… ternas?*
Cada vez que mãos assim o tocavam… era para bater nele. Mãos como as de seu pai.
O menino sentiu seus olhos lacrimejando novamente. Ele os manteve fechados, sua boca torcendo-se em um franzido.
“Quem fez isso com seu rosto? Aqueles guardas?”
*Maldição! Esqueci-me do hematoma… Hoje deve ser bem evidente.*
“S-sim, Vossa Alteza…”
“E suas mãos, também?”
Os olhos de Joseph abriram. Engolindo, ele sentiu uma onda de vergonha pelo estado de suas mãos, e tentou, novamente, escondê-los debaixo de seus braços. O médico virou seu rosto para longe, sacudindo a cabeça.
Ele sentiu a mão do príncipe segurar seu queixo, inclinando suavemente a cabeça, e Joseph encontrou os olhos do príncipe. Sua mão soltou o queixo de Joseph e encontrou seu cabelo, movendo-o de seu rosto e colocando-o atrás de sua orelha. O menino tremeu.
“Quem fez isso?”
Joseph abriu um pouco a boca, mas novamente, ele não fez nenhum som.
Ele abaixou os olhos, o peito dele estava apertado.
Uma parte dele queria tanto deixar tudo sair. Para que outra pessoa soubesse sobre… isso. Mesmo que fosse apenas para compartilhar o fardo por alguns minutos.
Mas um homem digno deveria fazer pressão e tratar ele mesmo de seus próprios assuntos. Ele nunca deveria ser um fardo para ninguém, como seu pai já havia dito tantas vezes.
Esta foi uma batalha perdida, de qualquer forma. Ninguém nunca teve nem daria crédito a Joseph em tal briga.
*Se eu lhe disser… ele vai pensar que sou um delinquente, ou um covarde, e a situação vai sair pela culatra.*
Joseph permaneceu em silêncio por alguns momentos, recusando-se a encontrar os olhos do príncipe, embora ele pudesse sentir examinando-o.
“Está tudo bem, você não tem que falar sobre isso se não quiser”. O príncipe virou o rosto para longe do jovem médico e agarrou suas roupas, que estavam descansando na mesinha de cabeceira, com pressa. Então ele se levantou. “O senhor poderia me ajudar, doutor?”
Joseph pestanejou, confuso.
Ele percebeu que o príncipe estava se preparando para partir.
*Já?*
“Sua Alteza! Você precisa descansar por um pouco mais de tempo! Suas feridas…”
O jovem já havia vestido sua roupa de baixo e agora, com uma careta, estava tentando vestir sua camisa.
“Estou me sentindo melhor o suficiente para andar. Vou terminar de descansar em casa”.
“Por favor, ao menos aceite um café da manhã. Eu só preciso ir à cidade e…”
“Não há tempo. Além disso, estamos em 1º de janeiro. Tudo está fechado”.
Joseph engoliu, olhando para baixo e acenando com a cabeça resignada. Ele se levantou e prosseguiu para ajudar o príncipe.
Quando ele terminou, seu peito estava pesado. Claro que o príncipe queria ir para casa, em vez de ficar em um casebre podre no meio do nada, na companhia de um estudante de medicina falido. Sua família poderia estar preocupada com ele; afinal, ele tinha estado desaparecido durante todo o Ano Novo.
Ele estava certo… Seria difícil para Joseph conseguir comida em um feriado. Na casa do príncipe, ele certamente tinha tudo.
*Bem, foi bom ter outra pessoa por perto, pelo menos por um tempo…*
Ele acompanhou o príncipe até a meia porta, ainda vestido com sua bata de noite. O príncipe reteve uma careta de dor, mas Joseph não insistiu para que ele ficasse.
De repente, suas gentis palavras se sentiram tão vazias. Ele o chamou de herói, só por cortesia. Seu verdadeiro desejo era fugir desta barraca assim que pudesse andar.
O vento frio envolveu as pernas de Joseph, gemendo através da abertura da porta. Respirando fundo, o príncipe cruzou o limiar, caminhando alguns passos.
Depois ele parou, voltando-se para o jovem médico. Ele olhou para ele por um tempo antes de voltar a andar. Lentamente, ele descansou sua mão sobre o ombro direito de Joseph e sorriu.
“Você fez um belo trabalho, Dr. Selden, e eu não poderia estar mais grato. Nos encontraremos novamente e lhe pagarei um preço justo por sua gentileza. Você tem minha palavra”.
Os olhos de Joseph estavam vagos enquanto ele olhava fixamente para o príncipe.
*Besteira. Poupe-me de suas amabilidades. Você não aguenta nem aqui… Você vai esquecer tudo antes de chegar ao lago*.
“Você não precisa me pagar, meu príncipe. Basta devolver o favor a outra pessoa quando você encontrar alguém que precise dele”.
O sorriso no rosto do príncipe tinha desaparecido. O médico sabia que era por causa de sua resposta de cortesia. O outro rapaz o encarou seriamente por um longo tempo. Então, acenando com a cabeça, ele virou as costas para José e retomou sua partida.
Joseph não esperou que ele desaparecesse no horizonte branco, fechando logo a porta de sua casa. Ele tinha que encontrar algo para comer hoje, pois suas últimas provisões tinham sido o milho seco que ele deu ao corvo.
Raws:
Tradução: Secretária Kim
Revisão: Nana
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