Lavanda Lullaby - Capitulo 03
Lavender Lullaby
Capítulo 3: O Principe Capturado
Um coro de vozes encheu a taverna.
Sentado em um canto perto das janelas da taberna, Joseph se perguntava onde estes homens haviam aprendido tal canção. Era um belo poema sobre um menino solitário que foi criado para controlar o farol de uma pequena cidade. Na véspera de um Ano Novo como este, ele desceu à cidade, conheceu uma garota, e sua vida mudou para sempre.
*Será esta uma canção popular? Mas de onde é?*
Não havia ninguém para ele perguntar, pois estava sozinho em sua mesa.
Foi a primeira passagem de ano desde que ele se mudou de sua terra natal, na Cornualha, Inglaterra, para estudar Medicina e Ciências Naturais na Saint Legions School University, na região tcheca da Boêmia.
Foi também o primeiro Ano Novo após o “escândalo” – a vergonha de sua família, de acordo com seu pai e seus irmãos mais velhos. O rapaz balançou a cabeça, tentando esquecer toda a dor e constrangimento que o incidente causou em seu coração, mesmo meses depois.
Que bastardo sortudo ele era por ter conseguido uma mesa perto tanto de uma tocha quanto da lareira em uma noite branca de inverno como esta!
A taberna, que era propriedade da Sra. Nováková, tinha um relógio de cuco que marcava 21:34. Joseph sabia que agora, em casa, sua mãe já estaria servindo ervilhas e arroz, nozes e doces de amêndoas e sua incrível torta Stargazy. Sua boca de repente começou a salivar com o pensamento sentimental sobre a comida de sua mãe. Isto diminuiu o apetite de Joseph pela comida da Sra. Nováková.
N/T: A Torta Stargazy é tipo uma torta de sardinha, onde é feita com o peixe inteiro, vou mostrar um exemplo de como pode ser a torta.
O remorso veio logo em seguida, estourando a bolha de seus pensamentos sobre sua família.
“E-eu… estou um pouco sem dinheiro este mês, Sra. Novakova. Eu vou ficar só com a cerveja”.
“É por conta da casa, preciosa criança! Você está sempre aqui, Joseph, e você é um médico tão bom, mesmo tendo apenas 17 anos! Seus pais devem estar tão orgulhosos de você! Por favor, celebre conosco esta noite”, disse ela, espremendo suas bochechas como se ele fosse uma criança pequena e abandonada. Ela tinha uma figura corpulenta e madura, porém bela, e mãos fortes cujo toque fazia Joseph se sentir compreendido em uma terra rural que evitava particularmente os estrangeiros.
A taberna, depois da igreja, é o coração social de cada cidade rural, e ser amigo de seu proprietário significa ser amigo de todos os clientes. Logo, Joseph ficou conhecido como o jovem médico inglês, estudando para obter seu diploma. As pessoas vinham até ele para tratamentos pequenos e moderados, tanto para ferimentos como para acidentes. Foi assim que ele conseguiu cobrir suas mensalidades depois que seu pai suspendeu os pagamentos durante o segundo mês de estudos de Joseph.
*Eu basicamente devo tudo à Sra. Nováková…* Joseph pensou.
Ela ofereceu tudo de tão boa vontade e foi bom, também. Duas salsichas picantes, batatas esmagadas, sardinhas, e algumas ervilhas e cenouras fatiadas com molho tártaro.
Ele comeu lentamente, saboreando a refeição. Depois ele se deixou levar pelas canções dos homens. As luzes laranja das tochas e da lareira pintou seu canto com a esperança de um melhor amanhã.
Era véspera de Ano Novo!
Uma sombra de nostalgia o pegou, perfurando seu peito como o vento do norte do inverno. Sua mãe teria sentido saudades? Seu pai? Seus irmãos e sua irmã mais nova?
*Sinto tanto a falta deles.*
Havia enviado tantas cartas… mas não recebeu nenhuma resposta. Era possível que nenhum deles tivesse chegado de fato à Inglaterra? Foi a única explicação. Sua família voltaria para ele assim que possível.
Certo?
Era só uma questão de tempo até esquecerem o que tinha acontecido… Afinal, eles eram sua família, e o tempo podia curar qualquer coisa.
*Eu implorei por perdão muitas vezes…*
Certamente, seu pai o enviou para estudar no exterior apenas para amadurecer, tornar-se um homem, e experimentar a vida, só até a cidade esquecer sobre aquele incidente “feio”…
*Vou voltar triunfante, como médico, com meu diploma para mostrar e muitas aventuras para contar.*
As cartas enviadas sem resposta eram provavelmente porque sua família estava muito ocupada, e seus irmãos mais novos eram muito jovens para escrever corretamente. Seu pai provavelmente ainda não enviou nenhum dinheiro porque os negócios estavam um pouco lentos devido ao inverno.
*Está tudo bem. Não tenho motivos para me preocupar.*
O tilintar dos copos das pessoas enquanto brindavam trouxe Joseph de volta ao momento presente.
**Venha conosco,
E não olhe para trás,
estamos juntos até o final.
Nós somos o que fazemos,
Não peça perdão,
Que o vento sopre a seu favor.
Nós somos da pele do diabo, do horror,
E de esqueleto foi meu amor,
Que seja propício para você,
Sorte e Amor,
Que o vento sopre a seu favor. **
Os homens riram, desejando a si mesmos um 1769 feliz. Eles eram comerciantes, marinheiros, maçons e artistas de toda a Europa e fora dela. Mas eles tinham duas coisas em comum: sem casa e sem vergonha de se divertir.
Joseph olhou pela janela. Havia as fracas luzes de fogos de artifício, muito além das árvores, talvez na casa do Magistrado. Fizeram um estrondo distante e tímido, com cores de lavanda e turquesa. O relógio dizia que não eram nem 22 horas; estes fogos de artifício eram apenas um ensaio para quando chegasse a meia-noite.
*Devo apenas aproveitar a noite e me deixar relaxar. Vou economizar algum dinheiro e vou para casa nas férias de verão. Tenho apenas 17 anos, uma véspera de Ano Novo longe de casa não é o fim do mundo.*
Joseph desviou seu olhar da janela, se preparando para levantar e levar seus pratos à Sra. Nováková.
Ele saltou da cadeira e a deixou cair com uma pancada forte.
Havia um fantasma ao seu lado.
“Peço de-desculpas… se o assustei, senhor”, disse o fantasma.
Bem… não é um fantasma, à segunda vista. Mas dado o estado miserável de suas roupas, ele poderia facilmente se passar por um.
“Está tudo bem. Sinto muito pela… minha reação”. Joseph estranhamente colocou sua cadeira de volta à mesa, agradecendo a Deus que ninguém parecia notar sua falta de jeito.
O desconhecido era um jovem alto, uma figura robusta e cinzenta, vestida em um manto de pele. Debaixo do capuz, Joseph podia distinguir um tom de pele caramelizado, olhos âmbar olhando cautelosamente para o seu, e longos cabelos encaracolados, tão escuros quanto as asas de um corvo. Ele não era muito mais velho que o próprio Joseph.
Seu semblante era como uma colher cheia de mel aos olhos de Joseph. Que contraste quente com aquelas roupas cinzentas! E com esta noite cinzenta de inverno… e as nuvens escuras no coração de Joseph.
Ele estava se aproximando de uma cadeira na mesa de Joseph com uma mão tímida e trêmula, olhando para o jovem médico com olhos implorantes.
“P-posso sentar aqui?”
“Sim, é claro.”
Joseph sentou-se novamente. A noite tinha acabado para ele, mas parecia rude demais para abandonar a mesa quando um recém-chegado tinha apenas pediu para compartilhá-la.
O jovem ficou olhando para ele cautelosamente, sentando logo após o médico. Então, ele puxou o capuz de volta.
Joseph não podia acreditar no que via.
Seus olhos dourados e seu tom de pele quente… Seus brincos de ouro…
Ele era o Sol encarnado como um homem jovem, chegando no meio do inverno para assegurar a Joseph que, não importa o que aconteça, a primavera sempre viria.
Joseph baixou a cabeça para olhar para seu prato vazio, escondendo um vestígio de rubor. Era bastante indelicado olhar alguém assim, especialmente um homem.
Ele era grande. E se ele ficasse com raiva? A última coisa que Joseph precisava era que aquela noite tivesse uma briga por ele olhar intimamente para outro homem. Ele já havia escapado de uma situação semelhante em sua cidade natal, e perdeu a bondade de sua família como um resultado. Não há necessidade de fazer isso acontecer novamente.
Seus pensamentos foram cortados pela gritaria de uma cadeira deslizando contra o chão.
“Ugh… Ah…”
Joseph levantou instintivamente os olhos quando o outro garoto gemeu. Foi um gemido doloroso. Ele viu o outro garoto sentado diante dele, ofegando miseravelmente, sua fronte ensopada de suor. E aquele belo tom dourado para sua pele deu lugar a um deletério ocre. O estranho limpou seu suor com uma mão trêmula.
N/T: Ocre é a variação de tons variando do laranja ao marrom.
“Você está bem?” Joseph começou a ficar de pé, mas o jovem levantou a mão, pedindo-lhe que ficasse em seu lugar. Ele permaneceu em silêncio, evitando o olhar do jovem médico, mas Joseph sabia onde estava o problema. Seus olhos passaram do rosto do jovem para seu tronco.
Perturbado, mas não surpreso, ele viu a outra mão do jovem banhada em sangue, pressionando contra uma ferida escarlate perto de seu diafragma.
*Ele foi baleado!*